1.23.2008

eu pensava que as pessoas eram mais importantes que as coisas


[foto jornal público]

Estão a ser repatriados os marroquinos que deram à costa na ilha algarvia de Culatra, no passado mês de Dezembro. No mesmo mês Lisboa foi palco da Cimeira Europa-África que custou ao estado português dez milhões de euros não contemplados no orçamento da presidência portuguesa da União Europeia.
Os europeus aceitam bem que se gaste esse dinheiro a receber políticos africanos que, para além de darem um novo significado à palavra corrupção, nunca perceberam a expressão "direitos humanos". É que através deles é possível estabelecer acordos para a livre circulação de mercadorias entre os dois continentes.
O que não percebo é porque é que se espolia um continente através dessa livre circulação de mercadorias e depois, quando algumas vítimas desses acordos dão à costa numa praia portuguesa, nem se ousa falar em livre circulação de pessoas. Eu pensava que as pessoas eram mais importantes que as coisas. Afinal parece que não.
O que falta perceber aqui é muito simples: se vinte e dois jovens marroquinos atravessam o mar num barquito de brincar, não é por quererem roubar pessoas à noite nas ruas de Lisboa. É porque têm fome.
Às vezes tenho orgulho em ser português, noutras tenho vergonha. Este é um dos casos em que tenho vergonha.

20 comentários:

Anónimo disse...

vergonha de ser português, vergonha de ser europeu, vergonha de ser ocidental...

Ivar C disse...

pois berta... isto também me enerva...

Anónimo disse...

já agora, e se me permites :) quando li este post lembrei-me deste texto:
"(...) davam-me muito que pensar sobretudo porque tomava consciência da minha situação de priveligiado em relação a quase tudo o que acontece na terra. Mas não era só eu, somos todos os que vivemos neste Ocidente que se tornou a ambição do resto do mundo. No entanto, olho à minha volta, vejo tudo insatisfeito. Porquê? Conheci um velho juiz que estava quase completamente surdo, no tempo em que os aparelhos de surdez ainda não eram comuns. Ele continuava a frequentar cafés e tertúlias e uma vez perguntei-lhe como é que ele entrava nas conversas. Ele dizia-me: «É muito fácil. Eles falam, falam, eu não os percebo, mas digo-lhes sempre: "Ó homem, não faça caso, deixe lá, não faça caso..." É que eles estão-se sempre a queixar!» (...) Pergunto-me porque será que o homem, à medida que melhor vive, mais tem que assumir esta sua condição queixosa, sem se dar conta dos privilégios que tem."
in O Tecido do Outono - António Alçada Baptista

;)
(e desculpa o abuso :P)

Ivar C disse...

obrigado berta, não foi um abuso. foi até oportuno. :)

CCF disse...

Logo nós, que já fizémos o mesmo que eles, correndo mundo para encontrar lugares onde a fome não fosse tanta. É curta a memória. No entanto, acho que a maioria deve estar com estas medidas, temendo que atrás destes venham mais e mais. Tocaste num problema complexo, mas o teu título é bem bonito e devia bastar.
~CC~

Anónimo disse...

pois é mas não são! ao que parece as pessoas só valiam o mesmo que as coisas quando eram consideradas coisas, ou seja no tempo da escravatura... que ainda continua a existir, diga-se e por isso continua a ser vantajoso 2 coisas: repatriar pessoas ou mantê-las ilegais... à custa disso já se construiu o parque das nações e foi possível uma expo 98 a acontecer em 98... mas talvez sócrates só esteja a ser solidário com o seu melhor amigo zapatero, seguindo-lhe os passos neste sentido...

Anónimo disse...

Boas,

Antes demais MUITOS Parabens pelo teu blog, leio-o frequentemente apesar de nunca ter comentado...
E continuarei a ler sem qualquer duvida!

Em relação ao tema, posso dizer que ao contrário do que pensas não considero isso uma vergonha... Pelo contrário apenas e tão somente uma atitude tomada como deve ser!

Ao ponto de que, se pensarmos bem estes homens e mulheres estão ilegais e como o próprio nome indica, ilegal é ilegal... É uma entrada ilegal...

Lamento, mas é a minha opinião e se seguirmos a ordens ideias daquelas pessoas que estavam na manif e mesmo tu que achas uma vergonha, daqui há mais, ora se eu for ali tipo roubar uma velhinha e a espancar ate à morte, opá nao consideremos isso ilegal... Porque os outros bacanos tambem podem entrar no meu país de uma forma ilegal...
E afinal de contas antes roubar uma velhinha e mata-la que pronto já ta velhinha mais cedo ou mais tarde ha-de se ir... Se calhar até tem aquelas doenças do reumatico e entao ate fica aliviada das dores constantes duma vez...

Não podemos também esquecer que a entrada apenas para ferias em marrocos é bastante rigida...

Depois esquecemo-nos de um outro pormenor da notícia que achei muita piada não ser referida pelos manifestantes (manifestantes sempre contra o governo seja ele qual for LOL) os bacanos que vieram la dos marrocos, nao queriam ficar em Portugal, queriam desembarcar em Portugal para irem para os seus contactos em Espanha, ora como os Espanhois não deixam que uma coisa ilegal passe como sendo legal, eles veem aqui a portugal passar, e nos portugueses até alugamos um autocarro e ajuda-mos-os a entrar ilegalmente em Espanha... O Governo pode sempre fornecer uma companhia folclorica para mostrar o que bom de musica folclorica se faz no nosso país, eu aposto que eles iam gostar...

Sim Senhor, toda esta perspectiva de deixa la vir os bacanos, e o que é ilegal, (aqui e em todos os outros paises de todos os outros continentes) parece-me um claro motivo de orgulho!!!

Ivar C disse...

ccf, sim. o título devia bastar. :)

that's all folks, "as pessoas só valiam o mesmo que as coisas quando eram consideradas coisas", interessante esta frase. :)

luis, obrigado por seres leitor deste blogue, então.

1] Sobre a questão da ilegalidade, não faz sentido pensar nela assim. Até há pouco tempo era legal fumar em centros comerciais e agora já é ilegal. Portanto, ou uma pessoa aceita discutir um assunto com base nos seus valores ou princípios, duma forma inteligente, ou então...
não é inteligente.

2] a metáfora da velhinha é tão absurda que nem vou falar sobre ela.

3] sobre a dificuldade da entrada em marrocos para férias, não sei nem me interessa. Não é a mesma coisa ir passar férias a um sítio e tentar emigrar para ter uma vida melhor. Nem faz sentido fazer desta questão uma espécie de jogo entre dois países para ver quem se torna mais difícil.

4] a perspectiva não é de "deixa lá vir os bacanos". Essa é uma opinião redutora sobre o assunto. A perspectiva é: os bacanos são pessoas como eu e tu e, por isso, tem direito a uma vida condigna e a olhar de manhã para os filhos com um sorriso na cara. Se não os querem cá não os lhes lixem a vida através de políticas maliciosas.

5] Esta noção do "eles" e do "nós" é um dos problemas do mundo actual. Eu não me sinto representante dum grupo social formado por brancos portugueses e, na verdade, aqueles vinte e dois marroquinos que tentaram em vão melhorar a vida dizem-me exactamente o mesmo que tu ,Luiz: nada para além de serem pessoas, e isso é muito.

Abraço

L u i s P e s t a n a disse...

Luiz,

pena que tenhas uma ideia principal bem formada, mas depois escrevas tantos disparates.

Ivar,

1) Não gostei do teu exemplo do tabaco, pois não é comparável. Um país tem de ter regras e não pode haver excepções, embora as haja sempre com os mesmos, os ricos e poderosos.

O mudar as regras é outra coisa. Chama-se evolução e é recomendável.

2) NonSense...

3) Concordo, e vimos uma coisa parecida com as cartas de condução Angola/Portugal;

4/5) Ao cedermos numa situação destas, Portugal poderia-se tornar AINDA mais um país onde constantemente tentavam entrar imigrantes, pois a informação ia-se transmitir entre eles.

Não são más pessoas, a maioria só quer sobreviver, merecem a felicidade também, valem o mesmo que nós, etc, etc, etc, mas tal como em tudo, quando há uma fuga ao equilíbrio a estrada derrapa.

Deve haver regras e limites.

Pior que esta situação é quando há imigrantes que estão cá a trabalhar, com uma vida de apoio ao país, e esperam anos para se conseguírem legalizar (os que conseguem).

Agora estas situações de barcos cheios de gente são muito complicadas...por muito mal que fique afirmá-lo.

Ivar C disse...

pestana, o exemplo de tabaco é mesmo para mostrar que um país tem de ter regras, mas que essas regras não são dfinitivas e devem ser constantemente discutidas. :)

elisa disse...

Pois é, os imigrantes, até neste país de emigrantes, hão de ser sempre vistos como praga ou até com algum paternalismo.
Parece que neste rectângulo à beir-mar plantado, reina a satisfacção e o conformismo por se estar deste lado da fronteira (seja ela geográfica,moral ou legal). Tenho realmente pena que se valorizem mais as coisas do que as pessoas e haja quem divida o mundo entre nós e os outros e veja tudo em preto ou em branco:(
Desculpa o testamento mas sendo filha de emigrantes (e um ser humano, claro;)), este assunto toca-me de forma mais particular.
Beijinhos

Ivar C disse...

elisa, "Tenho realmente pena que haja quem divida o mundo entre nós e os outros". é isso mesmo... :)

Anónimo disse...

isto é vergonhoso para o nosso país...
quem está sentado no seu gabinete, com salários absurdos e viagens constantes, hotéis de 5 estrelas... esquece-se que há pessoas a morrer à fome, que não têm o que dar de comer aos seus filhos! Já nem se fala em brinquedos, mas em comida!
Estes cidadãos marroquinos nem souberam dos direitos que lhes assistiam... E com certeza que irão tentar novamente e arriscar as suas vidas!

Realmente é muito fácil tomar decisões quando se está num gabinete com aquecimento central e se vai á noite para casa e se telefona aos filhos que estão a estudar em Nova Iorque!!!


:(

Bia

Ivar C disse...

bia, pois é bia... de repente parece que o maior perigo do mundo são vinte e dois tristes que nem têm onde cair mortos. :)

Anónimo disse...

É bonita a ideia mas não pode ser como desejas. A entrada de "ilegais" num país é uma questão muito séria. Se entram magotes de gente sem recursos e sem qualquer garantia de emprego será uma desgraça social, arrastando também os "legais" que nessa sociedade habitam. Nem os países ricos o aceitam, quanto mais o nosso que é pobre e não pode suportar os custos com estas pessoas. Nem para os que cá vivem há condições.
Faltava nesse "post" teres colocado o video "imagine" do John Lennon;)
Manel

Maria Arvore disse...

Se pensavas isso... não compreendes o funcionamento das democracias europeias. ;) (estou a brincar, não me leias literalmente sff)

O funcionamento é como a bomba de neutrões: as coisas é que são importantes de valorizar e manter que as pessoas podem morrer à vontade.

E Portugal, agora tão europeu, resolve dar o exemplo de que a solidariedade não existe e que existem fronteiras bem definidas entre os europeus e os outros. Os outros, mais desprotegidos, não podem vir cá agora querer ficar com um quinhão daquilo que nos custou tanto a ganhar-lhes. ;)))

Ivar C disse...

manel, eu não sou ingénuo, e não sei onde é que leste que eu acho que, dum momento para o outro devemos receber 250 000 desempregados estrangeiros em Portugal.
Mas acho, definitivamente, que um país é melhor com muitos estrangeiros do que poucos, pela riqueza inerente a essa multiculturalidade, e acho que é possível receber melhor 22 tipos desesperados que atravessam um oceano para vir aqui ter, e acho que a política internacional não fosse o que é, nem haveria tipos a atravessar oceanos em barquitos.


maria árvore, exacto...e não compreendo mesmo o funcionamento das democracias europeias. :)

Ivar C disse...

manel, eu não sou ingénuo, e não sei onde é que leste que eu acho que, dum momento para o outro devemos receber 250 000 desempregados estrangeiros em Portugal.
Mas acho, definitivamente, que um país é melhor com muitos estrangeiros do que poucos, pela riqueza inerente a essa multiculturalidade, e acho que é possível receber melhor 22 tipos desesperados que atravessam um oceano para vir aqui ter, e acho que a política internacional não fosse o que é, nem haveria tipos a atravessar oceanos em barquitos.


maria árvore, exacto...e não compreendo mesmo o funcionamento das democracias europeias. :)

Anónimo disse...

Só algumas coisas que tenho mesmo de dizer:

1) Ao caríssimo leito Luispestana

"pena que tenhas uma ideia principal bem formada, mas depois escrevas tantos disparates."

Os disparates que referes chamam-se ironia e levar as situações ao exagero...

Agora o que posso dizer é que disparate, é que tu digas q so escrevo disparates, nao respeitando uma coisa que se chama opinião, ponto de vista, ou maneira de explanar uma situação de outra pessoa que não tu...

Mas por mim tudo óptimo...

2) Os meus pais também foram emigrantes em Angola, e na altura em que aquilo rebentou e apesar de os meus pais terem bastantes coisas lá, tiveram de deixar tudo para trás e vir com a roupa do corpo e o meu querido Pai esteve internado 2meses no hospital por espancamento...
Mas atenção, só estou a mostrar que houve uma falha, não tenho nada contra os angolanos e gostava muito de ir lá passar uns tempos pelo menos em férias...

3) Quanto ao não quererem saber de como é dificil entrar em Marrocos, estava a dizer precisamente isso em Marrocos se quiseres ir viver para lá, nao pensem que é so chegar, ver e vencer porque não é! E também nos metem numa prisão se entrarmos ilegais e nos encaminham novamente para o nosso país...
Ahh isto se nao fores mulher, porque se o fores tás sujeita a lá ficar...

4) Quanto a probeza destes jovens que vieram parar a Portugal, não é que não tenha pena da situação em si... Mas digamos que aqui aquilo que vejo é pessoas a falarem apenas e tão somente por aquilo que eu costumo designar por falso moralismo...
Pessoal, temos 18% de pobreza em Portugal, o que fazemos por eles todos os dias?!?!
Quantos dos que aqui falam e quantos do que defendem esse ponto de vista fazem realmente alguma coisa válida por a probeza existente no nosso país?!
Falar é muito bonito e todos falamos, agora num país em que todos nós criticamos que temos 18% de pobreza (e em q se culpa sempre o governo por ser o alvo mais fácil) mas vamos deixar entrar mais estes 25. Pronto concordo vamos deixar...
Alguém tem noção aqui realmente que uma excepção à regra neste caso iria trazer muitos mas muitos mais não só de marrocos como de muitos outros paises?!
Ou acham que alguem gosta de viver na pobreza que vivem lá?!

L u i s P e s t a n a disse...

Luiz,

"...o que posso dizer é que disparate, é que tu digas q so escrevo disparates, nao respeitando uma coisa que se chama opinião..."

Isto foi mais um disparate, pois o facto de eu achar que

"...roubar uma velhinha e mata-la que pronto já ta velhinha mais cedo ou mais tarde ha-de se ir[...]deixa la vir os bacanos..."

são disparates, é uma...pois...isso mesmo, é uma opinião:)