1.29.2016
1.28.2016
coisas que fascinam (202)
Publicada por Ivar C à(s) 12:21 2 comentários
Etiquetas: coisas que fascinam
1.27.2016
Um pente, um secador e um frasco quase vazio de champô
Só há duas ocasiões em que falo com ela. Quando estou com ela e quando estou sozinho. Na verdade, como quando estamos juntos deixo-a falar a maior parte do tempo e limito-me a ouvi-la, é mais quando estou só que lhe dirijo a palavra. É por isso que termino sempre as nossas conversas a concluir que ando louco. Falo sozinho e ela não me ouve. Claro.
Quando penso que estou louco, levanto o olhar e lanço-o para longe como se fosse uma rede. Quero apanhar pessoas. Se estiver na rua, pesco transeuntes; se estiver num bar, pesco bêbados e grupos de amigos; se estiver no estádio, pesco adeptos. Se estiver em casa, não pesco nada que não seja a minha solidão. E então o meu olhar cai na garrafa de uísque que um amigo me ofereceu num jantar. Bebo e continuo a conversar com ela.
Apanhar pessoas com o meu olhar faz-me sentir melhor. Pelo menos, menos louco (passe a redundância do menos). A minha loucura dilui-se na diferença que há entre cada um de nós, na individualidade de cada olhar e forma de andar, e torna-me apenas mais um. É óptimo. Sinto-me um falhado na mesma, mas democratiza o falhanço que é a vida.
A Sandra é a culpada da minha solidão. Não por me ter deixado, mas por ter gostado de mim antes disso e por me ter permitido Amá-la. Ao contrário das outras coisas essenciais à vida, como a comida a água e o sexo, o Amor só nos faz falta quando já o tivemos antes. É por isso que o Amor é a pior das boas notícias que podemos ter. Quando nos bate à porta nunca vem por bem.
Passei uma grande parte do tempo que já passou por mim a ver filmes pornográficos. Não voluntariamente, mas por ser essa a minha profissão. Era projeccionista num cinema improvisado numa garagem da cidade que vivia da solidão sexual alheia. Várias vezes me perguntei se teria clientes num mundo perfeito, onde toda a gente tivesse alguém para Amar, mas nunca me consegui responder.
Os meus clientes eram quase sempre pessoas sós, mas às vezes apareciam grupos de jovens estudantes que vinham mais numa lógica de diversão do que de solidão. Passavam a sessão toda a rir e a contar piadas, estragando a intimidade que qualquer solitário precisa de ter com uma película pornográfica. As únicas mulheres que apareciam vinham incluídas nesse tipo de grupos. De resto, novos ou velhos, eram sempre homens.
Foi por isso que reparei facilmente na Sandra. Era mulher e estava sozinha. Sentou-se na última fila, bem perto de toda a maquinaria que eu montara durante vários anos para poder exercer a minha actividade com regularidade, pensei eu que para se sentir protegida dos olhares dos homens solitários que iam fazendo sons orgásmicos durante o filme. Aos cinquenta minutos já todos se tinham ido embora, depois de terem colocado um guardanapo sujo no cesto de papéis na entrada. Menos ela. Virou-se para trás e disse-me que, se eu quisesse, podia parar o filme e acender a luz.
Era jornalista e queria fazer uma reportagem sobre mim, mas acima de tudo era bonita. Aceitei. Com medo, mas aceitei.
Em duas ou três perguntas, a Sandra já sabia mais de mim e da minha vida do que qualquer um dos meus amigos habituais. Na verdade já sabia tudo. Que eu era um homem de meia idade deprimido, solitário e sem qualquer tipo de ambição que não fosse viver em paz e sossego. Fizemos sexo logo ali, nas cadeiras de veludo gasto do meu cinema improvisado, debaixo da luz dum filme pornográfico que eu me tinha esquecido de parar. Viemo-nos ao mesmo tempo que os actores e depois começou a ficha técnica.
Ela disse "que bom!".
A segunda vez foi uma hora e duas cervejas depois, no meu apartamento minúsculo num subúrbio da cidade. Não disse "que bom!", mas disse que até parecia que eu nunca tinha tido sexo com uma mulher antes dela. Sorri-lhe. Ainda bem que ela nem desconfiou que eu ainda era virgem aos quarenta anos.
A maior parte das mulheres não sabe, ou finge não saber, que os homens são o sexo frágil. Eu acho que é mais fingimento, porque assim aproveitam-se do facto de termos que parecer fortes. Fazemos tudo por isso, desde transportar sacos de compras pesados enquanto encolhemos a barriga até escondermos as lágrimas quando elas nos deixam. E eu, homem que frágil me confesso, chorei assim que a senti sair para sempre.
Quando uma mulher se despede de um homem pela última vez torna-se o pretérito mais que perfeito, um passado anterior ao nosso próprio passado. Foi assim quando ela se despediu de mim, porque o nosso Amor já tinha morrido, mas o meu Amor por ela não.
Que mau!
Mais que perfeita, lembro-me dela com o vento. Os cabelos negros e longos a dançarem no meu peito nu e os seios firmes a voarem num céu à distância dos meus braços. Depois mandava-me estar quieto e algemava-me as mãos com um beijo para se poder concentrar no cata-vento vertical. Às vezes sorria, outras vezes não. Às vezes vinha-se, outras vezes não.
Depois foi-se embora. Para sempre, disse ela abanando um saco de plástico com o logótipo de um supermercado que ia enchendo com as coisas dela. Não muitas. Um pente, um secador e um frasco quase vazio de champô. Passámos os dois cerca de meia hora à procura do resto das coisas dela, mas por muito que nos custasse acreditar não havia resto. Só isso, em dois duma relação intensa. Um pente, um secador e um frasco quase vazio de champô. E eu a querer que aquela meia hora durasse toda a minha vida.
Não durou. Deu-me dois beijos na face e bateu a porta com determinação.
As mulheres não deviam beijar na face um homem com quem já fizeram Amor. É o que eu lhe estou a dizer agora, mesmo que ela não me ouça. Beijos assim são como balas no coração. Um homem vai sangrando devagar até morrer de Amor, se tiver azar, ou de uma bebedeira fatal se tiver sorte. Os beijos na face duma mulher que já nos Amou são o crime capital.
Peço mais um uísque. Lá fora, alguém verteu no céu uma imensa aguarela negra. Lanço a minha rede e pesco um casal apaixonado numa das mesas do canto do bar. Reparo nas mãos dadas, nos copos vazios e nas vidas cheias. Falam um com ou outro apenas com os olhos e acreditam que vai ser sempre assim. Ao meu lado, no balcão de madeira marcado pelo tempo, um homem fala com uma mulher que também não está presente. É a Sandra dele, provavelmente, e canta-lhe uma música desafinada com uma letra que não entendo. Para além da mulher que agora me traz a bebida, não há mais ninguém aqui. Dou um gole suave e sorrio. Sinto-me mais só do que se estivesse apenas sozinho.
2 | Um homem não devia ficar indiferente aos beijos duma mulher que já Amou
Estou há mais de meia hora na casa de banho, sentada na sanita com o portátil nas mãos a jogar um jogo estúpido do Facebook. Já plantei vários tipos de legumes e alimentei animais duma quinta virtual da qual me tornei escrava e agora penso no tempo que gastei a fazê-lo. O que é que cabe em meia hora?
Foi o tempo, por exemplo, que gastei à procura das minhas coisas na casa dele. Ele, com aquela sua presença absurda, a espreitar para baixo da cama e para os livros do armário da sala. Eu, desesperada, a abrir todas as gavetas e compartimentos da casa. Aquela meia hora demorou muito mais tempo do que esta em que não fiz mais nada do que alimentar vaquinhas, ovelhas e cavalos. Tudo para trazer um pente, um secador e um frasco quase vazio de champô. Mais valia ter deixado lá tudo, só para não ter que o ver a chorar sem chorar.
Os homens são estranhos. Só se sentem sós quando ficam fisicamente sozinhos. As mulheres sentem-se sós quando simplesmente não são ouvidas, mesmo que estejam acompanhadas todos os dias. É uma das coisas que eles não entendem. Disse-lhe tantas vezes para parar de organizar a sua colecção de filmes pornográficos por ordem alfabética e ano de produção e para me ouvir. Mas ele não ligava. Limitava-se a sorrir e a acreditar que eu lhe achava piada.
O Mário era o culpado da minha solidão. Não por não me ouvir, mas sim por ter começado por fazê-lo. Ao contrário das outras coisas essenciais à vida, como a comida, a água e o ar, o Amor só nos faz falta quando alguém que nos dá atenção deixa de o fazer.
Depois de um dia de silêncio era a rotina do sexo. Comecei a prender-lhe as mãos à cama no dia em que deixei de gostar do seu toque no meu corpo. Ainda bem que ele pensava que era um jogo erótico. Meu Deus! Tanto filme pornográfico e tão pouca sabedoria. Às vezes fingia que me vinha, outras vezes não.
Cheguei a pensar que estava louca por me deixar andar naquele Amor, como um peixe quase morto que se deixa ir na corrente do rio. Saía à rua só para, por um momento que fosse, sentir que o mundo era maior do que a minha vida miserável. Procurava qualquer sinal positivo no olhar dos transeuntes e às vezes encontrava um sorriso anónimo que me salvava o dia. Sabia-me bem, mas depois voltava ao mesmo.
Depois aconteceu aquele sorriso diferente de todos os outros, de um homem que parou e me convidou para um café. Primeiro escondi a cara por vergonha, mas depois aceitei por desespero. Acabei a fazer Amor nos bancos de trás do carro dele, num parque de estacionamento de um supermercado onde acabei por comprar apenas um saco de plástico para poder trazer tudo o que era meu. Um pente, um secador e um frasco quase vazio de champô.
Dei-lhe dois beijos e ele nem se mexeu. Tinha a pele fria e o olhar mais ausente do mundo. Um homem não devia ficar indiferente aos beijos duma mulher que já Amou. É como se ela não valesse nada, afinal. Como se a sua importância se resumisse à condição de companheira sexual.
Que mau!
Fecho o computador e levanto-me. Aposto que tenho a marca da sanita no rabo. Ele dizia-me sempre isso quando eu passava muito tempo na casa de banho. Lá fora, o fim da tarde adquiriu vários tons de um cinzento triste. Se bem o conheço, perdeu-se por aí num bar qualquer e está a tentar embebedar-se duma saudade que não tem. É a terapia dele, sentir-se triste e só. Por falar nisso, sinto-me menos só do que quando estava com ele.
Publicada por Ivar C à(s) 05:16 4 comentários
Etiquetas: ser divorciado
1.26.2016
conversa 2182
Ela - Se dizes um dia destes, nunca mais é. Ou dizes um dia concreto, ou nem vale a pena estares com essas coisas...
Eu - Sexta-feira, então...
Ela - Sexta não posso. Já combinei...
Eu - Sábado...
Ela - Sábado também não estou cá. Deixa-me ver a minha disponibilidade e um dia destes telefono-te.
Publicada por Ivar C à(s) 06:02 6 comentários
Etiquetas: conversas
visita
Publicada por Ivar C à(s) 05:57 2 comentários
Etiquetas: ser divorciado
1.21.2016
se não morrer até lá
Isto é bom e é mau ao mesmo tempo. Quer dizer que a vida profissional me tem corrido um bocado mal nos últimos anos e que, no seguimento, a minha vida emocional também. Abri uma empresa de produção de filmes, formação em audiovisual e venda de equipamento que ainda está no princípio. É a minha área de formação e espero que até lá a coisa entre nos eixos e eu comece a fazer dinheiro suficiente para viver sem grandes preocupações. Não tem ajudado muito o facto de eu ter tornado a ficar sozinho, o que me surpreendeu e me deixou um bocado abalado. Tudo bem. Como sempre, as coisas recompor-se-ão.
Nem tudo é mau. Neste momento estou a escrever este texto com umas meias grossas calçadas que a minha filha me deu e acabei de receber uma mensagem a desejar-me um bom dia, com um sorriso à frente como aqueles que faço quase sempre nos comentários. Alguns amigos e a família têm sido um bom apoio nesta fase menos boa. Acho que no fim é sempre o que se mantém.
Lembro-me de quando comecei a escrever aqui. Andava triste por causa do fim da mais longa relação Amorosa que tive até hoje e usei a escrita como terapia. Fez-me bem. Foi através deste blogue que conheci, entretanto, algumas das pessoas que me são próximas, outras que já foram e já não são e também a minha mais recente companheira.
Tudo o que eu escrevo aqui é verdade, apesar de ser quase tudo mentira. A escrever tem que ser assim mesmo. Mente-se para dizer a verdade. Sei que quando leio textos antigos me lembro de como me sentia nessa altura ou momento e, por aí, nunca me minto.
Estou a dizer isto tudo por um motivo muito simples. No próximo dia quatro de Setembro voltarei aqui, a este texto, para me lembrar do que estou a sentir hoje. Se não morrer até lá, espero estar bem melhor.
Publicada por Ivar C à(s) 09:05 14 comentários
Etiquetas: diversos
1.20.2016
conversa 2181
Eu - A sério?! E quando eras mais nova?
Ela - Quando era mais nova cheguei a estar dois anos em jejum, por minha opção.
Eu - Que estranho. E quando é que fizeste quarenta e oito anos?
Ela - Ontem.
Publicada por Ivar C à(s) 16:27 7 comentários
Etiquetas: conversas
1.19.2016
Porque é que os homens têm sempre que foder?
- Tira o casaco! - ordena. Talvez não pense mesmo.
Põe uma torrada no prato e dá-mo. Não me apetece comê-la, apesar da fome. Sei que assim que a trincar vou cortar o silêncio que se veio esconder com a luz. Começo por dar um gole no sumo e espero que seja ela trinque primeiro a sua.
- Onde é que ias com tanta pressa? - Pergunta.
- Para casa, acho.
Foi uma noite mais ou menos difícil, passada num sofá que não é cama. Quase não dormi e, assim que amanheceu, vesti o casaco para sair. Ela apanhou-me já com a mão na porta e pediu-me para tomarmos o pequeno-almoço juntos. Depois leu o bilhete que eu deixara em cima da mesa.
Obrigado pelo abrigo e pelo vinho. Beijo.
Não está nada preocupada em disfarçar o ruído que faz quando trinca a torrada. As migalhas chovem-lhe na camisa de dormir, mas ela não liga. Está a olhar para mim e para um pequeno bibelot translúcido que me parece ser um golfinho de vidro. Também o olho e reparo que ele reflecte a nossa imagem, ou seja, mesmo quando ela desvia os olhos de mim continua a ver-me.
- Nunca dormes com uma mulher na noite em que a conheces?
- Às vezes sim, outras vezes não.
- E quando é que é sim e quando é que é não?
Sorrio com a pergunta e como a torrada toda de uma só vez. É o meu momento de libertação. A questão dela não tem a ver com ter passado a noite sozinha, mas sim em saber se eu a considero suficientemente boa para mim. Ou não, claro.
- Sim é quando me apetece, não é quando não me apetece. Mas isso tem só a ver comigo e não contigo. Quando não gosto duma mulher nem sequer subo cinco andares a pé para entrar na casa dela.
Ela levanta-se, junta os pratos e os copos e desaparece em passo apressado. Os tornozelos dela estalam. Ouço-a pousar a louça na banca da cozinha e acender um cigarro. Depois, enquanto expele uma quantidade controlada de fumo, aproxima-se e diz-me para ir embora.
- Vai-te embora, então...
Visto o casaco propositadamente devagar, para não parecer que quero fugir. Há na voz dela uma agressividade qualquer que me incomoda. Lá fora, nas escadas do prédio, ouço algum movimento do que me parece ser uma família numerosa, talvez com um carrinho de bebé e muita pressa de sair. Tenho saudades de ter uma vida normal, penso.
Tenho a mão novamente na maçaneta da porta, mas ainda não a abri. Dou alguns passos atrás e fito a silhueta dela em contraluz na janela da cozinha. Talvez já vá no segundo cigarro. Não sei.
- Explica-me uma coisa! - peço.
- Diz...
- Porque é que os homens têm sempre que foder?
Ela não responde. Saio.
Publicada por Ivar C à(s) 07:43 13 comentários
Etiquetas: crónicas de engate
1.18.2016
conversa 2180
Eu - E se for durante o dia?
Ela - Fecho a persiana.
Eu - Não percebo. Não queres que ele veja exactamente o quê?
Ela - Não o quero é ver a ele.
Publicada por Ivar C à(s) 17:58 8 comentários
Etiquetas: conversas
coisas que fascinam (201)
Publicada por Ivar C à(s) 09:45 2 comentários
Etiquetas: coisas que fascinam
1.15.2016
respostas a perguntas inexistentes (361)
Publicada por Ivar C à(s) 19:18 4 comentários
Etiquetas: respostas a perguntas inexistentes
1.13.2016
coisas que fascinam (200)
Em contraluz, as pessoas que passeiam na praia são apenas sombras. Como tal, perdem a identidade. Cada uma delas podia ser outra. Deixa de me interessar quem são, a mim que me estendi sobre a areia invernosa e as vejo num trânsito constante à frente do Sol. Passa-me a interessar apenas a sua silhueta. Já fiz o mesmo com Vénus, ficar sentado a vê-lo passar lentamente à frente do Sol, sem motivo aparente.
Acompanho as sombras de um homem e de uma mulher de mãos dadas. Ele pára por um momento e baixa-se para apertar os atacadores dos sapatos enquanto ela, dois metros à frente, espera por ele e admira o Pôr do Sol. Depois ele levanta-se e continuam a caminhada, novamente de mãos dadas.
Por um momento apercebo-me que o Amor é apenas isso: ter alguém cuja mão nos espera quando paramos por um momento e, nessa espera, nunca se desespera. Aproveita-se a vida de uma forma qualquer. A olhar para um Pôr do Sol pela enésima vez, por exemplo, igualzinho ao que já vimos em postais foleiros para turistas e ao que se repete há tanto tempo quanto o trânsito de Vénus.
Quando um homem se apaixona de forma incondicional perde a noção desse tempo. Passa a acreditar que tudo parou e que vai ser sempre assim. Cada vez que se baixar para atar os atacadores terá uma mão à espera, numa cena. Até ao dia em que percebe que afinal nada parou e, sem ele dar conta, tudo se transformou.
A Lei da Amor é um pouco como a Lei da Conservação da Massa. Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. A mulher que lhe estendia a mão perdeu a brandura no olhar e a doçura na voz, mas essas características não desapareceram. Andam por aí, entre as silhuetas que passam.
Publicada por Ivar C à(s) 20:21 2 comentários
Etiquetas: coisas que fascinam
1.12.2016
pensamentos catatónicos (343)
Publicada por Ivar C à(s) 10:04 8 comentários
Etiquetas: pensamentos catatónicos
1.11.2016
Para adopção
Confio-te a minha solidão. Guarda-a bem em tua casa e dá-lhe de comer todos os dias. Algumas festas também. Ela não é muito diferente da maior parte das solidões, mas é contigo que quer ficar quando eu vou de viagem. És só tu que a fazes sentir quem realmente ela é...
Entretanto eu vou sair um bocado. Andar por aí e tentar conhecer alguém que a queira adoptar. Pode ser que num café ou numa cerveja isso aconteça. Se não acontecer, assim que eu voltar levo-a comigo para casa.
Sabes... hoje em dia as solidões andam muito abandonadas. É uma tristeza, vê-las por aí a abanar a cauda em busca de um dono. Ainda ontem alguém me disse que dantes não era nada disto. Havia mais respeito pela solidão de cada um.
Ela come duas a três vezes por dia e não precisa de trela. Normalmente nem dás por ela, aliás. É uma solidão de trato fácil. Adormece num canto da casa e só acorda se te sentir passar.
Obrigado.
Publicada por Ivar C à(s) 02:38 7 comentários
Etiquetas: sei lá onde é que hei-de meter isto
1.08.2016
E é assim que parto...
Esses lugares não servem para nada, a não ser para me lembrar deles durante conversas com amigos ou para regressar a eles quando preciso de voltar a ser feliz ou triste. Na fase que atravesso, jamais regressaria a um lugar onde me senti assim assim, porque de coisas mornas está o mundo cheio e eu, por acaso, também. Além disso, não quero visitar lugares onde fui feliz na minha última história de Amor, porque é apenas a essa história que esses lugares pertencem.
Vou visitar um lugar fora de Portugal onde já fui imensamente feliz e imensamente triste ao mesmo tempo. Na verdade, acho que é o único lugar que neste momento compreende aquilo por que estou a passar e, por uma questão de sobrevivência emocional, preciso dele durante uns dias. Estou a falar de uma cidade onde vivi várias histórias de Amor, todas elas mais curtas do que um simples fim de semana.
As cidades são tão inconclusivas como o Amor. É nelas que nos perdemos até um dia as conhecermos tão bem que nos cansamos. Além disso, voltar a uma cidade dez anos depois da última vez quer dizer que também é possível voltar a um Amor que já terminou.
E é assim que parto...
Publicada por Ivar C à(s) 02:39 5 comentários
Etiquetas: diversos
1.06.2016
As avós sabem tanto como as árvores
Publicada por Ivar C à(s) 15:22 7 comentários
Etiquetas: diversos
1.05.2016
respostas a perguntas inexistentes (360)
Publicada por Ivar C à(s) 17:47 4 comentários
Etiquetas: respostas a perguntas inexistentes
conversa 2179
Eu - Eu tenho que ver se me desapaixono...
Ela - Para quê?
Eu - Para me poder apaixonar outra vez.
Ela - Ah! Nem sei se estou melhor ou pior do que tu...
Eu - Estás um passo à frente.
Ela - E atrás também...
Eu - Acho que sim...
Publicada por Ivar C à(s) 04:05 2 comentários
Etiquetas: conversas
1.03.2016
Só as mulheres é que se protegem da chuva
- Estás com um ar cansado.
Publicada por Ivar C à(s) 22:56 7 comentários
Etiquetas: crónicas de engate
1.02.2016
respostas a perguntas inexistentes (359)
Reparo nas paredes. Só o faço quando me sinto só. Quando não me sinto, mesmo que o esteja nunca reparo nelas.
Tu entraste e disseste-me olá ainda do lado de fora da porta, demoraste alguns segundos a mais do que o normal a limpar os sapatos no tapete da entrada e esperaste por mim com o longo casaco preto vestido. Eu tinha ido à casa de banho deitar algum cotão na sanita, com a perfeita consciência de que estava a subtrair provas do meu crime masculino que é preocupar-me mais com a organização dos discos de música do que com a sujidade que se acumula pelos cantos da casa.
Por isso é que tinha as mãos molhadas, ainda com resquícios do sabonete líquido, quando te vi. Dei-te dois beijos na face enquanto as sacudia como se os meus braços fossem as asas de um pássaro que quer levantar voo.
Estavas com uma mão numa das paredes da entrada. Percebi que, assim que te fosses embora, ia sentir a solidão de não te ter quando olhasse para ela. Para a parede, digo.
- Casa comigo só hoje, mas como se fosse para sempre! - pensei, mas não te disse, antes de sorrir.
- Tens planos para jantar? - Respondeste tu ao meu pedido inexistente.
Nessa noite quis Amar-te com a energia duma preguiça. Tu olhavas para mim no escuro e o meu braço demorava uma eternidade a aterrar na tua pele deserta. Era assim, num movimento tão longo quanto iminente, que eu perdia o medo de estar entre quatro paredes brancas, tão brancas como esta da entrada, para onde acabei de olhar assim que saíste.
Publicada por Ivar C à(s) 02:31 4 comentários
Etiquetas: respostas a perguntas inexistentes
1.01.2016
pensamentos catatónicos (342)
Publicada por Ivar C à(s) 14:32 4 comentários
Etiquetas: pensamentos catatónicos