7.31.2007

conversa 314

Ela – Quando é que podemos fazer isso? (passar uma cassete de VHS para DVD)
Eu – Quando quiseres... dás-me a cassete e eu passo.
Ela – Mas eu preciso estar aí...
Eu – Para quê?
Ela – Porque há algumas partes que não são para passar.
Eu – Mas... eu não estava a contar ver três horas do casamento da tua irmã... Eu deixo a passar tudo para DVD e pronto, vou ler um livro.
Ela – Mas é que há lá partes que são uma seca, e é melhor não ficarem no DVD.
Eu – Aquilo é um casamento, portanto, ou alguém bebeu muito e se fartou de fazer asneiras, ou a cassete é toda uma seca. Eu faço secções de dez minutos para a tua irmã ir passando à frente ou atrás quando quiser...
Ela – Mas isso não é a mesma coisa.
Eu – Olha... eu não vou ver um casamento de três horas... a sério que não. Não é má vontade. Não consigo mesmo.
Ela – Eu acho que é mesmo má vontade.
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

how to save a life



Esta música é bonita. O vídeo também e a letra também. Já toda a gente conhece isto mas apetece-me pôr aqui na mesma. Há quem não tenha o mp3, por exemplo.

O síndrome de Werther

Acabei de ler o Werther, de Goethe, um livro escrito quando o autor tinha apenas 25 anos de idade e que, então, deu origem ao síndrome de Werther. O livro é uma sucessão de cartas escritas por um homem que sofre dum amor impossível, e que acaba por suicidar-se com um tiro duma pistola pertencente ao companheiro da mulher que ama.
Ela é, precisamente, uma das últimas a tocar na arma, quando a empresta ao criado de Werther (através de quem a pede para uma suposta viagem). O criado percebe o lapsus facies dela, e descreve-o ao patrão antes dele se matar. É com essa branda sensação de que até existia uma ligação entre ambos que ele dá um tiro na cabeça.
O livro é um clássico da literatura alemã, e foi um sucesso de vendas no final do século 18. Deu também origem a uma série de suicídios por toda a Europa, de homens que sofriam de amores impossíveis.
Eu não sei... tenho quatro ou cinco livros na calha para ler nestas férias, mas acho que vou escolher qualquer coisa mais feliz, tipo um manual de criação de tartarugas.

pensamentos catatónicos (90)

Não gosto desta sensação em que a vida é uma indecisão constante. Só que às vezes gosto.

conversa 313

[ela a conduzir, eu no lugar do morto]

Ela - Epá, este pessoal pensa que é tudo deles. Estacionam em segunda fila e vão-se embora...
Eu - Pois, eu também não curto. Mas como neste caso é uma ambulância... que por acaso tem a porta de trás aberta e está com a luz da sirene ligada, dou um desconto.

7.30.2007

conversa 312

[ao telefone]

Ela - Onde é que estás?
Eu - Em Lisboa.
Ela - Vais a Lisboa e nem dizes nada...
Eu - Porque é que te havia de dizer? Estou em trabalho e já volto para Aveiro...
Ela - É que assim trazias-me umas coisas da FNAC.
Eu - Eu não tenho tempo para ir À FNAC, mas amanhã vou à do Gaiashopping. Se quiseres trago-te...
Ela - Ah! Já não é preciso.
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

conversa 311

[com uma mulher sentada ao volante dum audi amarelo]

Ela - Onde é que fica a rotunda de Santa Joana?
Eu - É esta.
Ela - Foda-se, a gaja não está aqui...
Eu - Pois...
Ela - É esta de certeza?
Eu - É, mas olhe, é melhor não parar aqui porque está ali um carro da polícia e isto é uma rotunda...
Ela - Eu quero que a polícia se foda. O meu marido opois trata disso.
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

só de passagem...

1] Hoje dei um pulinho a Lisboa. Saí de Aveiro de manhãzinha e voltei agora mesmo. Estavam 40 graus e eu passei-me um bocado. Não sei como é aquele pessoal aguenta o trânsito interminável debaixo daquele calor todos os dias, mas pronto. Eu já tinha emigrado. Fixe, fixe foi o almoço, num restaurante que se chama “David da Buraca”. O nome assusta mas meia dose de qualquer prato dá para dois gajos como eu e ainda sobra uma folha de alface. Incrível.
2] Estou aqui meio morto, e ainda por cima é hoje que vou sair com a flor da conversa 304. Tenho que ir tomar um banho e fazer um jantar decente. Já cá não ponho mais os pés hoje, até porque amanhã vou passar o fim da tarde e a noite em frente ao computador. Estou cansado...
3] Cheguei de Lisboa e fui comprar água. Montes de água, para ser sincero. Comprei tanta água que não devo comprar mais nenhuma este Verão. Passei na secção de plantas e comprei também terra, para mudar de vaso as plantas que me deram quando fiz anos. Agora estou aqui sentado no cybercafé a pensar que comprei dois elementos naturais da Terra, daqueles que deviam pertencer a todos: água e terra. Qualquer dia compro também um bocadinho de fogo e um bocadinho de ar. É verdade que já não somos geocentristas, a não ser um padreco ou outro, mas também é que estes quatro elementos deviam ser mesmo de todos.
4] Estou ansioso para ler o livro da Zita Seabra, “Foi Assim”, em que ela explica como é que passou do PCP para o PSD em dois dias. Mas não vou ler porque ela não diz a verdade. Estive a folheá-lo... se ela dissesse qualquer coisa como “estava farta dos gajos que vestem sempre camisas de pescador, estava a precisar de dinheiro para pagar as prestações da casa e nunca mais me saía o totoloto”, eu juro que ela subia na minha consideração. Mas não diz...
5] Aveiro fica descaracterizada nesta altura. O melhor bar do mundo está de férias e os meus melhores amigos e amigas estão fora. Sinto-me um cadito órfão. É só durante mais duas ou três semanas.

7.29.2007

sapatos...

Já não tenho só um par de sapatos. Agora tenho dois. Hoje comprei uns na Bata em promoção, por vinte euros (custavam quarenta e nove). As miúdas que trabalham nas Batas são giras. Pronto, agora vou dormir. Amanhã, segunda, vou almoçar a Lisboa. Só volto aqui à noitita.

conversa 310

Ela – Quando começares a andar a sério com uma gaja, o que é fazes com o teu blog?
Eu – O que é faço? Sei lá...
Ela – Achas que alguma mulher vai aceitar andar contigo se tu escreveres tudo o que ela te diz no blog?
Eu – E tu achas que eu faço isso?
Ela – (risos) Já sem blog, ser tua namorada durante mais de uma semana deve ser fodido. Quanto mais com o blog...
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

nunca mais...

Estive a pensar na minha vida. Trinta e seis anos é uma meta psicológica muito forte, e como eu sou uma pessoa muito psicológica, sei lá... prometi a mim mesmo nunca mais fazer algumas coisas...

1] Nunca mais comprar creme hidratante em vez de champô
2] Nunca mais ouvir Roberto Carlos em altos berros depois das onze da noite e acordar a vizinha de cima, que ainda por cima se cruza comigo no elevador na manhã seguinte.
3] Nunca mais me distrair a olhar fixamente para o decote duma tipa gira que está a jantar mesmo na mesa ao lado da minha, durante mais ou menos dez minutos, até reparar que o namorado dela também está a olhar fixamente para mim.
4] Nunca mais beber cerveja, vinho e vermute no mesmo dia, e depois levar uma chapada porque, sem querer (desequilibro-me), apalpo o rabo a uma miúda que está a pedir uma cuba livre no balcão do clandestino.
5] Nunca mais ir fazer chá para a cozinha, em cuecas, com a luz acesa.
6] Nunca mais trocar sexta-feira com sábado e deixar uma amiga sozinha no restaurante montes de tempo, porque entretanto desligo o telefone para ir ao cinema.
7] Nunca mais dizer caralhadas, tipo foda-se, merda ou caralho, quando estiver perto de crianças.
8] Nunca mais oferecer o mesmo livro à mesma amiga, primeiro no aniversário e depois no Natal.
9] Nunca mais me casar, pelo menos numa festa com um rancho folclórico da freguesia da Amorosa em Viana do Castelo, e um cantor pimba com óculos escuros que tem uma versão do “apita o comboio” com vinte e dois minutos e meio.
10] Nunca mais adormecer no comboio, no ombro da desconhecida que está ao meu lado.
11] Nunca mais beber a cerveja que está em cima do balcão da cozinha duma amiga minha, e que era a última, e era para temperar não sei o quê para o jantar.
12] Nunca mais fazer directas a jogar Civilization IV e depois andar o dia todos aborrecido com os colegas de trabalho que estão sempre a falar.
13] Nunca mais dizer chamar filho da puta a um árbitro que inventa um penalty mesmo no fim do Beira-Mar- Benfica e por causa disso o Beira-Mar não ganha, e por causa disso desce de divisão, e por causa disso este ano o estádio de 35 000 lugares vai ter uma lotação média de 2532 espectadores. Filho da puta, o gajo (pronto, esta foi mesmo a última).
14] Nunca mais chamar boazona a uma miúda que parece ser uma amiga minha, e depois quando ela olha para mim eu vejo que afinal não é, e depois fico mais vermelho que um pimento (um pimento vermelho).

7.28.2007

agradecimento

O Bagaço Amarelo agradece a todos os que contribuíram para que estes dois últimos dias tenham sido inesquecíveis. Ao amigos e amigas que apareceram, aos que telefonaram e mandaram mensagens, à família, ao Riff bar, ao Clandestino bar, à Su Casa Real e também ao colchão ortopédico.
O colchão ortopédico permitiu que, apesar de me ter deitado às oito da manhã e me ter levantado às onze e pouco, ainda esteja aqui vivinho da silva (pronto, é verdade que adormeci hoje a meio do almoço) e pronto para outra. Os telefonemas vieram de locais tão variados como Hong-Kong, Jamaica, Sintra, Barcelona, Sines, Freixo de Espada à Cinta e França. Obrigado mesmo.

7.27.2007

sejam felizes ou então...

1] Não estou assim com muito tempo para a internet, hoje. Vim só aqui dizer-vos para serem felizes. Ou então... do Beira-Mar, que também não é mau. :)
2] Comprei o selo do carro, no valor de dezasseis euros e alguns cêntimos, agora vou almoçar com a minha filha e a minha ex, comprar uma prenda à mais pequena e... depois ... vou passar a tarde com ela.
3] Recebi alguns esseemiesses de aniversário muito bons. Um deles era da Ok Tele Seguro mas, infelizmente, não vinha assinado pela Marta.
4] Em 10 minutos, logo de manhã, fiz quase 800 steps no meu stepper, enquanto ouvia Ildo Lobo. É um recorde...

7.26.2007

almost

27 de Julho Riff bar Aveiro 22:34 às 04:00

Almost Total Bagaço Amarelo's Friends

[almost porque alguns dos friends foram passar o fim de semana fora]

conversa 309

[ouvi esta conversa entre duas gajas, daquelas que votam de certezinha nos parolos do PSD ou do CDS, há bocadinho numa loja do Glícinias. Se a minha filha algum dia me tratar por você, juro que começo a chorar]

Ela 1 - Estou farta de saldos.
Ela 2 - Ai menina e eu?! Não se pode entrar numa loja...
Ela 1 - É só gentinha...
Ela 2 - Mas a mãe tem um estilo clássico. Não precisa vir a estas lojas populares.
Ela 1 - Venho por si filha, venho por si...

vinte escudos


Amanhã passa a faltar um ano para fazer 37 anos. Vinte escudos, é quanto vale exactamente o dia em que nasci: 27 de Julho de 1971.
Lembro-me de a minha mãe me dar uma nota destas quando eu tinha uns doze anos, e eu beber uma sumol de laranja e comer uma bola de berlim com ela, por nove escudos. Ainda ficava com onze escudos para outras coisas, como jogar videogames ou andar nos carrinhos de choque da Feira de Março.

bolachas

Não sei... de repente há quem nos leve bolachas com chocolate a casa a meio da noite, um bocadinho antes das quatro da manhã. O índice ivariano sobe dois valores. Está na dúzia.

conversa 308

Ela - Jantas cá em casa?
Eu - Epá... obrigado. Hoje não vai dar.
Ela - Não?
Eu - Estou cheio de trabalho e amanhã tenho que entregar uma merda. Nem tenho ido a Espinho...
Ela - E na sexta?
Eu - Sexta faço anos... Vou almoçar e jantar com a minha filha, a sós. Depois vou pró Riff bar. Aparece lá.
Ela - Estás-te a armar em difícil.
Eu - Em difícil porque faço anos? não fui eu que escolhi a data...
Ela - Pois, mas se não fosse anos era outra coisa qualquer. Nem penses que vou ao Riff.
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

7.25.2007

conversa 307

Ela - Eu sei que sou feia, pronto, podes dizer...
Eu - Posso dizer o quê?
Ela - Que sou feia e ninguém olha para mim.
Eu - Em primeiro lugar, se eu te achasse feia não te ia dizer. Mas nem sequer és feia. És bonita.
Ela - Nah!
Eu - Normalmente não me dou muito bem com auto-estimas em baixo. Não gosto, pá.
Ela - Não é uma questão de auto-estima.
Eu - É, é. E ser feia ou bonita não é assim tão importante. Aliás, muito raramente acho que uma mulher é feia. Normalmente acho que têm sempre qualquer coisa de bonito.
Ela - Estás a ver? É por isso, então, que não me achas feia. És pouco exigente.
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

conversa 306

(ao telefone)

Ela - Vais sair hoje?
Eu - Não, tenho um trabalho para acabar. Vou passar no Clandestino só para deixar lá uma coisa e vou logo embora.
Ela - Não vais sair com ninguém?
Eu - Não... em princípio não. Porquê?
Ela - Ainda bem.
Eu - Ainda bem porquê?
Ela - Porque sim.

cuecas ao poder

Ontem fui fotografado pela minha vizinha da frente, em cuecas na janela da cozinha, enquanto fazia chá na chaleira eléctrica. Olhei pela janela e vi-a com uma máquina fotográfica na minha direcção. Depois ela disse-me adeus com a mão e um gajo veio por trás, agarrou-a pela cinta, olhou para mim e fechou a cortina do quarto. Hum... só espero não aparecer por aí em cuecas num blog qualquer da internet.

coisas

Passei a tarde em casa em limpezas. Pus no lixo qualquer coisa como cinco sacos de supermercado cheios de papelada. Cartas do banco, contas de casa pagas com o talão multibanco agrafado, desdobráveis sobre tudo e mais alguma coisa, textos soltos escritos em cafés, etc, etc. É incrível a quantidade de pequenos nadas que se acumula durante um ano. Organizei tudo o que não pus fora, burocracias por tratar, contas por pagar, IRS dos últimos anos, etc, etc. Gostava de ser um gajo mais metódico mas, definitivamente, não sou. Nem vou ser.
Na garagem, encontrei a réplica da chave do meu carro, perdida há anos; encontrei uma colecção de moedas em que algumas têm mais de duzentos anos; encontrei uma colecção de revistas de banda desenhada a que ainda não sei muito bem o que fazer; encontrei prendas de casamento ainda por abrir, o que é giro tendo em conta que já me divorciei. É incrível o que se acumula numa garagem durante alguns anos.
Pus alguma roupa perto do contentor do lixo que não esteve lá mais do que cinco minutos, assim como alguns brinquedos antigos da minha filha. Não gosto nada desta bondade asquerosa em que se dá o que não se quer, ou seja, não se dá, põe-se noutras pessoas em vez de se pôr no lixo. Mas faço-o porque, de facto, as coisas desaparecem. É incrível como o mundo continua a andar a velocidades diferentes. Em tudo. Em todos.

crónicas da cidade que sopra | sandálias pretas

Amanhã, por ser quinta-feira, é publicada mais uma crónica no Diário de Aveiro.

É nos dentes que lhe ficam as palavras. Na porcaria dos dentes, pensa. Há tanto tempo que lhe quer dizer que a ama, e que é por isso que talvez alguma coisa tenha que mudar. Nunca consegue. Todos os dias se repete a sensação: vai falar, mas as palavras tropeçam na faringe e na laringe, estendendo-se na língua até baterem nos dentes cerrados. Nunca passam saí. Nunca conseguem. Agora ela passa a ferro uma peça de roupa qualquer e ele tem pena dela. Deles, aliás. Dela e dele. Tem que fugir àquela sensação de que a vida lhe está a escapar por entre os dedos das mãos como areia fina da praia, e liga a televisão com o som alto para se conseguir abstrair. Hoje não vai dizer nada. Talvez amanhã.

7.24.2007

conversa 305

Ela – Eu escrevi um sms para mandar a um gajo bom que não me ligava nada e, por engano, mandei-o a ele.
Ele – Iá. Eu fiquei todo feliz quando o recebi e respondi logo.
Ela – Quando eu recebi a resposta meti as mãos à cabeça. Fiquei fodida... mas depois comecei a pensar: epá vou comer este gajo.
Eu – Mas... como é que eram as mensagens?
Ela – Eu escrevi qualquer coisa tipo: quando penso em ti fico toda húmida.
Ele – Pois... e eu respondi: se quiseres vou aí secar-te. (risos)
Eu – Muito romântico, portanto. (risos)
Ela – Nunca me deu para ser romântica com ninguém. Mas quando recebi a resposta dele fiquei fodida... Fui à cozinha beber um copo de água, acalmei e... que se foda, respondi-lhe: já cá devia estar.
Ele – O outro gajo nem sabe o que perdeu por ter um nome a começar pela mesma letra que o meu.
Ela – Pois... enganei-me porque estava nervosa e, na letra P, dei mais um toque ou assim... e mandei a mensagem ao gajo errado. (risos)
Eu – Mas... gostavas do outro gajo e nunca mais lhe ligaste nada?
Ela – Não. Correu tão bem com este aqui que... olha. Já vamos em quase dois anos de namoro.
Eu – Que história incrível.
Ele – É boa para o teu blog, não?
Eu – É, é...
Ela – E para ti é uma boa. Quando mandares uma mensagem qualquer a uma mulher, manda a mais do que uma. Manda a todas as tuas amigas... depois podes sempre dizer que foi por engano, se ela não gostarem.
Eu – Não me estou a ver a fazer isso. Ainda por cima uma das coisas que eu já descobri é que as gajas contam tudo umas às outras. São fodidas. Um tipo está uma noite com uma, na semana seguinte todas sabem... foda-se.
Ele – Não é tanto assim.
Eu – Opá.. infelizmente é mesmo assim. Tenho a certeza... ou então é só aqui em Aveiro.
Ela – Não... é assim em todo o lado. Claro que contamos tudo umas às outras. Nem que seja para as ver fodidas de inveja. Se eu hoje fosse para a cama contigo amanhã há pelo menos uma gaja que ia saber. Só para ela ficar fodida. (risos)
Eu – Quem?
Ela – Isso querias tu que eu te dissesse... já lhe disse que por ser tão conas vai acabar por te perder. E vai ser bem feita. Não curto a gaja...
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

conversa 304

Ela - Tenho que ir a tua casa para me gravares alguns discos.
Eu - Dizes o que queres que eu vou gravando...
Ela - Não, tem que ser lá. Quero ir ouvindo e escolhendo.
Eu - Ok... quando quiseres. Mas eu não sei se tenho paciência para estar contigo enquanto escolhes discos...
Ela - Não faz mal. Vais embora fazer o que quiseres e eu fico lá.
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

o homem que frequentemente anda de barrete preto mas hoje não porque está calor

Das quatro alcunhas que tive até hoje, a saber: labucala, soviético, bagaço amarelo e o homem que frequentemente anda de barrete preto mas hoje não porque está calor, apenas a última foi criada por uma mulher, por acaso aquela com quem tive a maior relação da minha vida. Tinha que ser a mais complexa.

coisas que fascinam (56)

Hum... ontem acho que foi a noite mais fixe de sempre do dj Bagaço Amarelo no melhor bar do mundo. A partir da uma da manhã o bar encheu e até houve pessoas a dançar. Nada mau para uma segunda-feira. No fim algum pessoal disse-me que devia passar música mais vezes ali. Foi cool! Foi, foi...

conversa 304

Eu - Queres ir ao cinema comigo?
Ela - Sim. Ver que filme?
Eu - Um qualquer. Telefonas-me quando chegares?
Ela - Sim.
Eu (só em pensamento) - Fixe!

conversa 303

Ela - Olá... podias dizer-me o que é que estamos a ouvir?
Eu - Maria Callas...
Ela - Queria comprar este disco. Mostras-me?
Eu (passo-lhe a caixa do cd para a mão)
Ela - Que giro, não conhecia. Ainda por cima é portuguesa.
Eu - Já morreu, mas não era portuguesa. Era americana, acho eu, mas de descendência grega.
Ela - Ah! Como se chama Maria...
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

7.23.2007

conversa 302

Eu - Um café... por favor.
Ela - É para levar?
Eu - Um café, é um café que quero.
Ela - Sim, mas é para levar?
Eu - Não... como é que?... é para beber aqui.
Ela - Ah! Então é para levar também, só que na barriga.
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

telefonemas, cartas e emails...

telefonema 1 [da Ok Teleseguro]
A avisar que eu não paguei o seguro automóvel e que este expirou no dia 12. Altamente... fui logo pagá-lo ao multibanco e agora estou à espera que me enviem por email um certfificado provisório para poder conduzir. A voz era dum homem. Não sei onde se terá metido a Marta que aparecia na publicidade da seguradora, mas pronto.

telefonema 2 [duma amiga]
A avisar que deixou uma pulseira na minha casa. Altamente... cheguei à conclusão que a pulseira que deixou em minha casa, e que tem uma enorme valor emocional enorme, era uma coisa de plástico preto com uma bolinhas brilhantes que pus na reciclagem há uns dias atrás. Na altura pensei: “Foda-se a mãe da minha filha compra-lhe mesmo todo o tipo de lixo da lojas dos trezentos”. Afinal não.

telefonema 3 [duma outra amiga]
A avisar que logo à noite não vai ao melhor bar do mundo ouvir o melhor dj do mundo a passar a melhor música do mundo, porque está não sei aonde a fazer não sei o quê. Altamente..

email 1 [dum ex-colega dos tempos de estudante]
A avisar que se está a divorciar e que, como lê este blog, quer saber se os primeiros dias são mesmo difíceis ou é só ele que se está a passar. Hum... os primeiros dias são mesmo difíceis. Aliás, talvez os primeiros meses.... hum.. hummm.... força, pá! O tempo faz milagres.

email 2 [duma leitora deste blog]
A avisar que me costuma ver mas nunca teve coragem de falar comigo. Altamente... é o que me acontece todas as manhãs. Vejo-me ao espelho e não tenho coragem de falar comigo, tal é a cara de “foda-se, queria ficar na cama mais tempo”.

Carta 1 [da Paróquia de S. André]
A convidar-me para ser um habitual contribuinte da paróquia, já que essa contribuição é a certeza que quero ser um membro activo da comunidade. Hum... hum... hum... esta coisa do membro activo é vocabulário decente para uma carta paroquial? Hum... acho que não.

sol

O mundo seria enorme se eu o limitasse ao café do teatro do outro lado da rua, aquele onde às vezes surges luzindo por trás da sombra duma máquina de café.E é tão pequeno, o mundo, quando tu dobras a esquina rasgada por cartazes velhos exibindo ainda sorrisos amarelos, e eu me confino à janela embaciada do quarto da frente. Como esta manhã, em que a noite passada ainda é um cadáver decompondo-se na berma do passeio, ora numa garrafa de whisky vazia ondulando ao vento, ora num suspiro vão da iluminação pública que só agora adormece. Também há um vagabundo sorrindo sentado num contentor do lixo. O lixo é dele. Tu dobraste a esquina, talvez para ir comprar pão, e eu fui desenhando com o olhar os cabos dos postes de electricidade, que me parecem desembocar em lugar nenhum e me pareciam seguir-te os passos. Talvez até uma janela como esta, em que alguém se confina a olhar para o café do teatro em frente.O mundo será enorme, quando algum dia te puseres definitivamente do outro lado da máquina de café, e todo o lixo da rua for meu.

[escrito em agosto de 2005]

conversa 301

Ela – Tu já te viste ao espelho hoje?
Eu – Não, por acaso não.
Ela – Opá... trata de ti. Pareces... sei lá o quê.
Eu – Pareço o quê?
Ela - Andas com a mesma t-shirt há não sei quantos dias, estás todo despenteado e com o cabelo oleoso, tens ramela nos olhos. Ainda nem lavaste a cara de certeza...
Eu – Agora que falas nisso não, não lavei... mas sinto-me bem.
Ela – É assim que queres arranjar uma miúda? Olha que ela dão importância estas coisas.
Eu – Está bem, mas eu neste momento não quero arranjar ninguém. Quero só comer uma tripa com ovos moles. Queres vir comigo?
Ela – Vou... mas com esse aspecto considera que estou a ser condescendente contigo.
Eu – Não faz mal. Já estou por tudo.
Ela (risos)
Eu – Estás a rir porquê?
Ela – Tu não existes.
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

queimaduras

É uma das desvantagens de estar divorciado. Tenho uma queimadura nas costas, em forma de perfil de pato Donald, porque ontem não tive ninguém para me pôr o protector. Apesar de tudo, isso deu-me uma ideia excelente: em vez duma tatuagem, vou começar a fazer desenhos com queimaduras solares.

7.22.2007

a dor que deveras sente

Passei o dia na praia. Não tenho nada de jeito para dizer a não ser, talvez, que me apetece bolachas com recheio de frutos do bosque. Por isso aproveito para dizer, por causa de algum feedback que vou tendo de leitores deste blog, que gosto muito destes versos de Pessoa.

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente

Agora vou jantar e talvez ainda aqui passe antes da meia-noite. :)

7.21.2007

conversa 300

Ela - Diz-me qualquer coisa bonita.
Eu - Pedes-me isso tantas vezes que já só consigo pensar em banalidades para te dizer, pá. E isso cansa, para ser sincero.
Ela - Diz-me uma banalidade, então.
Eu - As nódoas dos diospiros são difíceis de limpar.
Ela - Oh! isso não é uma banalidade.
Eu - Porque é que estás sempre a pedir para te dizer coisas?
Ela - Porque senão é só sexo.
Eu - Sexo?! Mas nós nem sexo temos.
Ela - Porque eu ainda não deixei. Por ti já estava há que tempos.
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

cabosverd..aspir tatuad... ahn?! sei lá

1] Não se esqueçam que segunda-feira é noite de dj Bagaço Amarelo no Clandestino bar, das vinte e duas horas e seis minutos até quase às três da manhã.
2] Hoje vou a uma festita e amanhã à praia, por isso só volto aqui amanhã à noitita. Fiquem todos bem e divirtam-se, a não ser que sejam aquele tipo que acabou de fazer a rotunda oval da variante, que dá para a Avenida que leva ao túnel por baixo da estação de Aveiro, muito devagarinho pela faixa de fora.
3] Estou neste momento a escrever com um ar sério esta merdice que não interessa a ninguém, mas mesmo duas cadeiras depois da minha, está sentada no cyber café uma mulher caboverdiana que me faz o cérebro girar 180 graus. Pena que tenho que ir embora.
4] Se eu tivesse coragem agora dizia-lhe que... epá... sei lá o que é que lhe dizia. É melhor ir embora. Ufa!...
5] Vou fazer uma tatuagem muito pequenina, dum aspirador dos anos cinquenta, até ao fim do mês, numa zona íntima.

pensamentos catatónicos (89)

O princípio do fim duma relação é quando às perguntas do outro se responde com um ligeiro encolher de ombros. Chega-sea casa e põe-se um música a tocar no leitor de cd's. Pergunta-se se está muito alto ou se lhe apetece outro disco qualquer. Resposta: encolher de ombros.

conversa 299

Ela - Tu não transmites segurança nenhuma às mulheres. O teu problema é esse.
Eu - Eu?! Elas é que não me transmitem nenhuma segurança a mim. Num dia gostam muito dum gajo, no dia a seguir detestam-no, depois já gostam outra vez. Foda-se...
Ela - Quando uma mulher te diz não, está na maioria das vezes a dizer sim. Quando diz logo que sim, em princípio está a dizer não.
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

7.20.2007

veio da garantia

O ivarianómetro regressou hoje da garantia. Já trabalha e está com um aspecto novinho em folha. Liguei-o agora mesmo e mostra o valor dez. O relatório diz que estou indeciso.
Por isso mesmo é que hoje vou ter um jantar calminho, com três ou quatro amigas e um amigo. O cozinheiro sou eu. Prometo não abusar do sal.

conversa 298

Ela – Na altura não estavas propriamente disponível.
Eu – Eu sei...
Ela – Se eu soubesse que te ias divorciar tinha esperado por ti. A sério que tinha.
Eu – Hum... pois. Eu sei.
Ela – Ninguém acreditava que tu e a XXXXX se podiam separar um dia...
Eu – Pois... nem eu acreditava.
Ela – Agora sou eu que não estou propriamente disponível. É uma merda porque parece que há alguma força do mal a afastar-nos um do outro.
Eu – Pois, só que eu não acredito em forças do mal. Nem do bem, aliás. Também não vou estar à tua espera, não é? Pelo menos sentado.
Ela (risos) – Espero que não. Mas espero que acredites na reencarnação.
Eu – Na reencarnação?
Ela – Sim.. por este andar só temos hipóteses numa próxima vida qualquer...
Eu (risos) – Eu não conto morrer antes dos setenta e oito. Vou agora fazer trinta e seis, por isso tenho... ahn... quarenta e dois anos de vida. Pode ser que dê.
Ela – Mas velho eu não te quero para nada. Queria agora.
Eu – Bem... espero que a tua relação dê o berro depressinha.
Ela (risos) – Olha, vai dar de certeza, que ele não é o homem da minha vida. Mas mesmo que depois tenha alguma coisa contigo, também não me parece que sejas o homem da minha vida.
Eu – Mas eu só quero que a tua relação acabe porque isso quer dizer que, provavelmente, eu comecei uma com outra pessoa na na semana anterior. Não é por tua causa.
Ela (risos) – Vamos acabar com a garrafa, não vamos?
Eu – Vamos.

conversa 297

Ela - Queres fazer uns dias de férias comigo?
Eu - Quando?
Ela - Tem que ser em Agosto.
Eu - Quero... mas em Agosto já nem sei... No primeiro fim de semana vou para Sintra. Depois volto a Aveiro e vou com a minha filha e a minha ex não sei para onde, ou Bragança ou Castelo Branco. Depois ainda vou acampar uns dias com uma amiga, em princípio. Mas querer, quero.
Ela - Eu também vou acampar com o meu ex-namorado. Depois vou para Madrid ter com um gajo lá que conheci na net. Era fixe lá pró fim de Agosto. Assim eras o último gajo das minhas férias.
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

deve estar para me acontecer qualquer coisa muito boa

1] Ontem cheguei à estação de Aveiro no último comboio urbano, à 1:09 da noite, e andei mais ou menos meia hora à procura do meu carro. Só depois é que me lembrei que o meu carro está na oficina e ando com um emprestado. Por causa disso atrasei-me a um encontro com uma amiga, e quando cheguei a casa dela eram quase duas da manhã.

2] Hoje de manhã, na estação de Aveiro, uma cliente entornou o café dela em cima de mim. Por causa disso voltei a casa para trocar a t-shirt e apanhei o comboio uma hora depois. Já em Espinho, quando passava no jardim central para ir para o trabalho, um pombo defecou uma espécie de bola de ténis também em cima de mim, que me acertou no cabelo e se desfez na t-shirt lavadinha.

3] Recebi uma multa das Finanças, no valor de 25 euros, por ter entregado o IRS atrasado.

4] Enquanto mudava de t-shirt recebi um telefonema e ainda fui entregar uma carta a um amigo meu, porque ele se esqueceu dela na minha casa há uns dias atrás. Ao passar na Avenida de Sá Carneiro ultrapassei um gajo que, por qualquer motivo, se ofendeu e começou a perseguir-me enquanto buzinava freneticamente. Parou atrás de mim nos primeiros semáforos da Avenida 25 de Abril, saiu do carro e veio ter comigo. Pontapeou a porta do meu carro e começou aos gritos para eu sair. Eu sai e perguntei-lhe o que é que se passava, e tentei explicar-lhe que não tinha feito nada, pelo menos de propósito. Ele disse que eu estava com sorte e que para a próxima me fodia. Não cheguei a perceber nada do que se passou mas estar a ouvir um gajo com o cabelo em pé, óculos espelhados e uma corrente com um loquete ao pesçoco, a gritar connosco, não é uma boa forma de começar o dia.

5] Há bocado pedi um éclair num café e dei uma grande dentada inicial. O creme estava totalmente estragado. Abri-o e vi uma espécie de bolor verde escuro pelo bolo todo. Acho que vou ter dores de barriga daqui a nada.

Deve estar para me acontecer qualquer coisa muito boa. Foda-se!

7.19.2007

tanto mar



Em 1975 Chico Buarque compôs uma música sobre a revolução dos cravos, com uma letra magnífica mas que foi censurada no Brasil. Por isso mesmo a sua primeira edição foi apenas uma versão instrumental. Em 1978, quando finalmente a pôde editar com a letra, já o seu sentimento de euforia em relação ao 25 de Abril tinha murchado um pouco, e por isso mudou o poema.
Sou um adepto nostálgico desta música, que os meus pais ouviam quando eu era pequenino, e agora, para além do seu significado político, atribuo-lhe também o valor emocional que é a assunção duma certa desilusão que o tempo traz sempre. Como numa relação, o princípio é sempre eufórico, mas depois vai dando lugar a uma acomodada sensação de lassidão. Para Chico Buarque, no entanto, vale sempre a pena pedir novamente algum cheirinho de alecrim.Para mim também...

(letra de 1975)

Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim

(letra de 1978)

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim

baixar as versões de 1975 e 1978 no rapidshare

conversa 296

Ela - Minha irmã tá namorando pela internet com um cara de Lisboa.
Eu - Eu estou a namorar com uma marciana, pela internet também.
Ela - Tá gostando?
Eu - Sim... a gaja é boazona. Só é pena ser verde e ter escamas. De resto, tem um cu jeitoso e gosta muito de Henry Miller, o que é sempre bom sinal.
Ela - Você tá zoando com a minha cara.
Eu - Não...

mais ou menos

1] + Ganhei um prémio, momentus de excelência, atribuído pelo Sagher, a quem agradeço. Muito provavelmente não foi por causa do post anterior mas... tá-se bem.
2] - Passei a merda da manhã a tratar de papelada, entre bancos e a conservatória não sei quantos de Aveiro. Ainda não está tudo... foda-se (só em pensamento)
3] + Pá... conheci uma mulher tão bonita ontem à noite, mas mesmo tão bonita, que hoje de manhã já confundi não sei quantas pessoas na rua com ela. Ainda por cima... sei lá, consegui ter uma conversa normal, durante mais ou menos duas horas, com ela.
4] - Deixei hoje o meu calhambeque na oficina. Este mês ainda tenho que o levar à inspecção, comprar o selo e pagar o seguro. às vezes um gajo olha pró carrito que tem e confunde-o com um espremedor de salários.
5] + Ontem comecei a curtir Travian.
6] - O meu objecto cardíaco pede-me que descanse. Diz ele para me afastar um bocado disto e pensar mais em mim mesmo. Não sei se consigo.

pensamentos catatónicos (88)

[aviso: este post pode conter linguagem inapropriada para menores]

Foda-se, caralho lá para a merda da burocracia do banco Bpi com os divorciados. Agora querem que faça um aditamento à escritura para desvincular a minha ex-mulher do empréstimo do banco anterior, e depois ainda é preciso pedir a certidão de divórcio para uma segunda escritura em que ela tem que ir assinar mas a casa fica só no meu nome. Entretanto, no banco anterior, a desvinculação tem que ir ao grupo de decisão ou lá o que é essa merda.Isto já com a transferência de crédito aprovado só comigo. Caralho!
Tudo porque o nível de confiança entre nós era elevado e não fizemos um contrato de partilha nem de promessa...

Ufa! já tou mais calmo...

conversa 295

Eu (para o empregado) - Uma Super Bock green, por favor.
Ele (para o empregado) - Duas Super Bocks. Não traga a green.
Eu - Qual é a tua? Eu quero uma green.
Ele - Essa merda não é cerveja. Bebe uma cerveja de homem.
Eu - A água também não é cerveja e eu bebo. Apetece-me uma green e por isso bebo uma green.
Ele - Eu pago, caralho.
Eu - Quero lá saber se pagas ou não.
Eu (para o empregado) - Uma green e uma normal.
Ele - Foda-se! pareces uma gaja a beber essa merda.
Eu - Vai pró caralho. Quem decide o que bebe sou eu.
Ele - Por isso é que só bebes merda.
Eu - Foda-se! és chato como o caralho, tu!
Ele (para o empregado) - Vá lá, uma cerveja de homem e uma de menina, aqui pró rapaz.
Eu - Tou fodido contigo.

(o empregado traz as cervejas... e dá-se o primeiro gole)

Ele - Mas és um gajo porreiro.
Eu - Tu também. Burro mas porreiro.
Ele - Tu também. Burro mas porreiro.

7.18.2007

uma noite sem chaves

Vou sozinho ao cinema, ver The Dead Girl. O filme acaba já passa da uma e meia da manhã. Fico indeciso se ainda passo no melhor bar do mundo para beber um copo ou se vou para casa. Entro no carro e decido: nem uma coisa nem outra. Vou beber uma copo mas a um sítio onde ninguém me conheça, e conduzo sem saber muito bem para onde. Entro num bar e reparo que só há mesas grandes, no mínimo para quatro pessoas.
Bebo duas cervejas enquanto escrevo no moleskine nomes ao acaso, nomes verdadeiros de homens e mulheres. Escrevo o nome de todos os que me lembro, desde colegas da escola primária e amigos de infância, até pessoas que nunca vi mas só conheço pela internet. Alguns até já morreram, outros nem sei.
Saio do bar e vou pra casa. Foda-se! Esqueci-me da chave. Agora ou durmo no carro ou telefono a alguém que me dê um tecto por uma noite. São quase três da manhã. Um dos meus melhores amigos vive em Lisboa, o outro vive em Aveiro mas está no Porto, a última mulher com quem dormi nem sequer me fala, a penúltima não me pode dar um tecto por falta de condições. Foda-se, só me resta uma hipótese. E ligo-lhe.
Ligo-lhe mas não me atende. Mando uma mensagem: “preciso de falar contigo urgentemente”, e vou para o carro ouvir música. Tenho mais hipóteses mas a esta hora não consigo ser oportuno. Ela telefona-me e pergunta qual é a urgência. Explico que não tenho onde dormir, que a sério que não é para retomar uma coisa que morreu há meses, que é só um tecto e por uma noite. Que posso ir, diz ela, mas avisa-me que está lá o namorado dela. Fixe.
Esqueci-me qual é a campaínha, por isso dou um toque para o telemóvel. Ela abre a porta e eu subo. O namorado afinal não está. Saiu quando ela lhe disse que eu ia lá dormir e, pelo que percebo, zangaram-se por minha causa. Que merda. Amanhã falo com ele e explico tudo. Tenho que ser eu, ou talvez até não. Se ele se zanga por causa disto é um problema dele. Não é meu.
Ela pergunta-me se quero beber alguma coisa. Vermute, se ainda costuma ter. Que sim, diz. E eu bebo dois. Conversamos sobre tudo. Que nunca mais nos falámos. Que eu gostei do filme. Que ainda não tive nenhuma relação a sério desde ela, só a brincar. Que, aliás, ela também não foi assim muito a sério. Rimo-nos. A zanga do namorado já não é importante. Que precisa de mudar a torneira da cozinha. Que eu mudo se ela a comprar. Que eu sou sempre prestável. Que nem por isso, digo.
Ela aproxima-se e senta-se ao meu lado. Que é melhor não, explico-lhe. Que só queria mesmo um tecto e não era um truque. Ela parece que se vai zangar também comigo mas depois acalma-se. Eu durmo no chão, digo-lhe. Que tem algumas saudades minhas, diz. Eu também tenho, respondo, mas eu é só porque estou sozinho. Senão não tinha. Senão não tinhas? Não, não tinha. Além disso ela tem um namorado. Que não sabe se ainda tem e a culpa é minha.
A culpa é minha, repete. Que no chão não me deixa dormir. E deita-me no sofá com um empurrão. Diz que dorme comigo no sofá. Que não, que é uma estupidez. Dormimos os dois na cama, então. Eu levanto a voz controladamente, que não quero dormir na cama onde acaba de estar com o namorado. Ela percebe. Dormimos os dois no sofá. Só dormir.
É manhã e agradeço. Vou para o carro. Na despedida não sei se a beijo nos lábios ou na face. É um beijo trapalhão por isso. São os melhores até, porque são indecisos. Entro no carro e abro o porta-luvas. As chaves de casa estão ali,brilhantes e a gozar comigo. Foda-se (só em pensamento).

conversa 294

Ela – Dava tudo para que passasse aqui alguém e me raptasse.
Eu – A sério?
Ela – Podes crer.
Eu – Se quiseres paro o carro e sais. Assim em andamento não vai ser fácil.
Ela – Às vezes não sei se és mesmo burro ou se estás só a fingir.
Eu – Pois... nem eu.

crónicas da cidade que sopra | coisas que não interessam

Amanhã, no Diário de Aveiro, mais uma crónica da cidade que sopra.

O filme não interessa. Uma mulher senta-se numa cadeira duma sala de cinema vazia enchendo-a de solidão. Poucos minutos antes interrompeu, com uma voz calculadamente branda, um rapaz gordo que varria o chão do lado interior do balcão, pontilhado por inúmeras pipocas que mais pareciam os despojos dum fogo de artifício recente. A festa está a acabar, o dia também, e por isso pediu um bilhete para o filme que começasse a seguir. Ele encostou a vassoura cansada à parede, e nem ligou quando ela caiu provocando um tímido estrépito. Com um ar genuinamente condescendente, perguntou-lhe se era mesmo só um. Que sim, só um, respondeu escondendo os olhos nas próprias mãos que guardavam a quantia certa para o pagamento. Agora senta-se na última fila da última sessão, na última sala dum corredor que parece ser o último da vida de alguém. O filme não interessa

7.17.2007

conversa 293

Ele – Vou fazer cinquenta anos. Isso chega para eu te servir de experiência?
Eu – Mais ou menos.
Ele – Caga nessa gaja. Tu não precisas de expectativas, precisas de certezas.
Eu – Epá. Quando eu tiver cinquenta anos não vou, de certeza, dizer a um amigo meu de trinta e cinco para cagar numa gaja que ele pensa que gosta.
Ele – Pior para ti.
Eu – Além disso, certezas tinha eu aos vinte anos. Quem tem certezas aos cinquenta não me serve de experiência para nada, pá.

pensamentos catatónicos (87)

Há uns dias uma miúda que eu não conheço de lado nenhum deu-me o número de telefone dela, e eu dei-lhe o meu, sem mais nem menos. Não foi bem sem mais nem menos... acho que foi por causa duma amiga que temos em comum, mas que eu só vejo de tempos a tempos quando vem a Aveiro. Foi aí às quatro da manhã, com o Clandestino bar já a fechar. Não me lembro muito bem dela porque já estava, a essa hora, no planeta Bagaço Amarelo, mas lembro-me que era gira à brava. Acho que a vi no dia seguinte com um namorado qualquer, mas não tenho a certeza.
Hoje estava a limpar a lista telefónica do meu telemóvel e, ao passar pelo número dela, fiquei na dúvida se devia apagar ou não. Foi uma sensação catatónica. Foi, foi...

conversa 292

Eu - Queres jantar com um gajo giro hoje, ou então comigo?
Ela - Não. Vou jantar com uma amiga.

conversa 291

Ela - Pai, eu tenho sorte.
Eu - Porquê?
Ela - Tenho visto por aí outros pais e acho que tu és melhor.
Eu - A sério?
Ela - Nem imaginas.

7.16.2007

estátuas

Entro no carro e ponho a chave na ignição. Não ligo o motor, mas mantenho a mão direita em posição. A mão esquerda amarrota o papel do parcómetro. Deixei passar quase dez minutos depois da hora limite. Petrifico-me nesta posição e, como uma estátua, não reajo a nada.
Acredito que as estátuas respiram. Acredito que ouvem os segredos dos casais que se encostam a elas por momentos para dar um beijo, que ouvem os gritos das vendedoras de peixe e de tremoços, que sentem a picada fria das caganitas de pomba. Que sentem o frio e o calor. Acredito até que pensam. Só não se mexem.
À minha direita, como se fosse um peixe num aquário, uma mulher veste alguns manequins de rosto cansado num pronto-a-vestir vazio. A expressão dos manequins é igual à dos rostos dum casal que passa de mãos que não sabem porque é que se dão. Uma à outra e um ao outro. O homem que vai mendigando vida nos semáforos parece-me mais feliz do que eles. Se calhar é mesmo.
Tenho a mão na chave. Não sei se ligo ou não o motor. Também não sei se me ligo ou não a mim. A outra pessoa. Estou petrificado e penso, e sinto, e ouço. Mas não sei.

conversa 290

Ela - É muito melhor casar do que viver em união de facto.
Eu - Porquê?
Ela - Porque tu agora tens DIV no bilhete de identidade. Eu continuo com SOL... parece que não tenho um passado.
Eu - Ah!... deixa lá... eu para renovar o BI gastei 29 euros... e agora, cada vez que faço qualquer coisita lá tenho que ir pedir uma certidão de divórcio. Tu, pelo menos, não tens que fazer isso.
Ela (risos) - Mas é como se não tivesse tido nada.
Eu - Às vezes é melhor assim. Como se não tivesse sido nada...

conversa 289

Ela – Queres vir comigo?
Eu – Não posso.
Ela – Não podes ou não queres?
Eu – Não posso. Não tenho dinheiro para ir agora ao Japão...
Ela – E se tivesses... ias?
Eu – A única vantagem de não poder ir é nem sequer ter que pensar se queria ou não.

avarias...

O ivarianómetro (instrumento usado para medir o índice ivariano) está avariado. Neste momento, em vez de números e da escala, mostra duas cruzes. Está para arranjar. Não sei, por isso, como ando...

este governo é estúpido

Há governos estúpidos. O actual governo português é estúpido. E para o caso de alguém do ministério público passar por aqui, e achar que tem matéria suficiente para fazer a Polícia Judiciária chatear-me a cabeça, estúpido quer dizer o seguinte:

do Lat. stupidu, admirado
adj. e s. m.,
falto de inteligência, de juízo ou discernimento;
que está sob a impressão de estupor;
atónito;
ant.,
entorpecido, insensível.


Felizmente há quem não seja estúpido, nem abdique do que considero ser um direito fundamental dos cidadãos e que, por acaso, até está consagrado na Constituição Portuguesa. Um jornalista foi notificado para se apresentar na PJ, por causa dum artigo em que criticava a actual directora do Museu Grão Vasco. O artigo todo aqui, no InApto. Eu acho que este governo é estúpido, e como acho que é posso dizê-lo aqui sem ter medo de ninguém.

7.15.2007

conversa 288

(com uma miúda que nem sei como se chama)

Ela - Ele a dizer-me que não queria andar mais comigo. Eu é que não quero andar mais com ele.
Eu - Pois...
Ela - Só estava comigo quando queria queca...
Eu - Pois...
Ela - Eu preciso de alguém que me dê valor.
Eu - Pois...
Ela - Homens é o que mais há por aí...
Eu - Pois...
Ela - Eu ia acabar com ele mesmo quando ela acabou comigo. Já estava decidida.
Eu - Pois...

Summer Interior



Sem querer, o meu ombro beija o ombro dela. Estamos num sofá qualquer, duma casa qualquer, dum gajo qualquer que trabalha num país africano qualquer. É um beijo tão curto e tão brando que não percebo aquele impacto que sinto, de ser um porto abandonado onde ancora um navio. E tudo se distancia de nós e é uma coisa qualquer.
Sem querer, os gestos silenciam os corpos e os lábios dela ainda sabem à sobremesa de morango, cujos restos nos espreitam do chaisse-long. Acho que o pé dela vai acabar por derrubar as taças mas o movimento dos corpos não me deixa falar. O petroleiro atira as amarras ao cais e no porto inicia-se um incêndio. De mim, só os seus olhos se tentam defender, flutuando prudentemente pelo fogo. Talvez tenha medo de se queimar e ir ao fundo, penso, e pergunto-lhe se quer parar. Que sim.
Sem querer deito-me ao longo do sofá, e ela aninha-se nua em mim. Há um quadro de Hooper na parede vomitando solidão: Summer Interior, e já é uma coisa qualquer. Cabe tanta solidão num quadro, penso. Os dedos dela caminham-me pelo corpo, como num anúncio antigo das páginas amarelas, e caminhando-me descobrem alguns segredos.
Sem querer fecho os olhos e os segredos revelam-se devagar. Ouço as taças com sobremesa de morango a cair no chão e a partirem-se. Os cabelos dela são uma chuva miudinha e passageira, irrigando-me primeiro os pés, depois as pernas, depois o peito, depois a face. Depois prende-me a cara entra as pernas. O petroleiro parte as amarras e perde-se num dilúvio.
Sem querer somos peças dormentes do mesmo puzzle, tapadas pelo mesmo fino lençol noctívago. Cuspo dois ou três pêlos púbicos. Ela passa o dedo indicador pelo doce de morango que jaz no chão e depois pelos meus lábios. Adormecemos. É uma noite qualquer, dum ano qualquer, dum século qualquer.

este diz que percebe...

O Quentin Tarantino diz hoje, na Notícias Magazine que percebe bastante bem as mulheres. Foda-se (só em pensamento), com homens assim por aí, gajos como eu não têm hipótese.

conversa 287

Ela - Em Linda-A-Velha há a zona velha, a zona nova e a zona semi-nova.
Eu - Nunca estive em Linda-A-Velha... não sei.
Ela - Eu vivo na zona semi-nova que tem trinta e tal anos.
Eu - Olha, acabo de descobrir que não sou novo mas sim semi-novo.
Ela - Porquê?
Eu - Tenho trinta e tal anos...
Ela - A caminhar prós quarenta, não é?
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

conversa 286

Eu - Dorme comigo hoje...
Ela - É um convite tentador mas que tem que amadurecer...

bombeiros

Pouco depois das três da manhã, mesmo em frente ao clandestino bar, chamei uma ambulância por causa dum rapaz que tinha bebido tanto que já não se aguentava em pé. Olhei para os olhos dele fora das órbitas e disse, aos dois amigos que o apoiavam, para o deitarem no chão que ele tinha que ir para o hospital. Entre o meu telefonema e a chegada dos bombeiros passaram exactamente seis minutos. Há coisas que funcionam bem em Portugal.

7.14.2007

conversa 285

Ela - Não aceitavas mesmo jantar comigo num Mac Donald's?
Eu - Não.
Ela - Mas nunca foste a um Mac Donald's na vida?
Eu - Não vou a nenhum desde Julho de 1995, nem bebo aquela água de esgoto a que chamam Coca-Cola.
Ela - Somos mesmo incompatíveis.
Eu - Pois...

conversa 284

Eu – Estou a passar um período abstémio.
Ela - Desde quando?
Eu – Desde que saí da casa de banho agora mesmo.
Ela (olha para a porta da casa de banho)
Eu – Estou a brincar. Dãaaaaaaa....
Ela – Eu devia ter-te comido mais vezes enquanto dava. Se eu soubesse o que sei hoje...
Eu - Mas nós nem sequer... chegámos a... mesmo, mesmo...
Ela - É o que eu estou a dizer.
Eu - Estás triste com alguma coisa?
Ela - Triste?! Não. Estou cheia de teias de aranha.
Eu - Olha... vou lá para baixo. É melhor.
Ela - Vai e não voltes.
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

oito sim, oitenta não

oito coisas que ouvi ontem, de oito mulheres diferentes, entre copos e música retro no melhor bar do mundo:

1] Que tenho charme. Aí está uma cena que nunca pensei ouvir na minha vida mas que me soube bem.
2] Que de repente passei a fingir que não a conhecia. Aí está uma cena que nunca pensei ouvir na minha vida e que tentei refutar dizendo que se isso aconteceu foi sem querer. É uma explicação parva mas é verdadeira e não tenho outra.
3] Que gosta muito de me ler. Aí está uma coisa que (quase) nunca sei se me dizem a sério ou a brincar.
4] Que está arrependida de não ter aproveitado mais o tempo em que fomos íntimos. Aí está uma coisa que não percebi lá muito bem e nem quero perceber. Vou tentar esquecer que ouvi.
5] Que tenho a mania que sou melhor que os outros. Aí esta uma coisa que não é verdade. A sério que não é, mas de facto sei que há muito pessoal a pensar isso de mim. Paciência.
6] Que estava bêbado. Aí está uma coisa que não pude contrariar. Não estava muito, muito, muito... mas estava um cadito...
7] Que sou tímido. Aí está uma coisa que às vezes é verdade. Outras vezes não. Sei lá...
8] Que se fosse minha namorada não podia confiar em mim. Poder podia mas, como não é, não pode.

7.13.2007

Lobo Antunes

Hoje era o último dia da pequena feira do livro que a CP tinha na estação dos Caminhos de Ferro de Aveiro. Comprei "A Morte de Carlos Gardel", do Lobo Antunes; "Werther" do Goethe, "O Terceiro Homem", do Graham Green e "Poemas de Fernando Pessoa". Já tinha lido o do Lobo Antunes mas apeteceu-me reler. À minha frente no comboio, logo no início da viagem, sentou-se uma mulher que também ia a ler o mesmo autor mas “Memória de Elefante”. Trocámos olhares entre nós e depois entre os livros. Pensámos coisas parecidas mas não dissemos uma única palavra. Eu saí em Espinho, ela continuou...

conversa 283

Eu - Olha...
Ela - Sim.
Eu - Estou com saudades tuas. Quando é que vamos jantar ou beber um copo?
Ela - Vou ver se consigo hoje.

a agilização do processo de divórcio

A agilização do processo de divórcio é a desgraça total, segundo o reformado bispo de Aveiro, António Marcelino, numa crónica que escreveu na Rádio Terranova. Hum... hum... hum... não sei porquê mas não considero alguém que nunca casou nem quis casar, não constituiu nem quis constituir família, um líder de opinião nesta matéria. De resto, este parágrafo é elucidativo sobre os perigos que uma forma caduca de pensar pode gerar.

Dos tribunais passou-se às conservatórias, destas à loja do cidadão... Tudo aponta, dado que em cada dia se promete mais, a que o processo vá terminar em barraca de feira uma vez que se anuncia e pretende que tudo seja rápido e mais barato. Uma vergonha!

A cegueira secular a que a igreja católica nos habituou está aqui bem patente.
Rapidez não é com eles, já que, por exemplo, demoraram séculos a perceber que a Terra é redonda e Galileu tinha razão; anos a perceber que se Adão e Eva realmente existiram, eram macacos e Darwin tinha razão. Agora não percebem que o que está em causa não é o fim da família mas sim uma nova noção do que ela é. Vida mais barata também não é com eles, até porque se habituaram a não pagar impostos e a ter caixas de esmolas em todo o lado que ninguém sabe muito bem para onde vão.

agradeço ao Nelson o artigo.


Esta é provavelmente a cena mais importante que já escrevi neste blog: tenho uma camisola do Tintin. O Tintin tem um cão chamado Milu e não se preocupa nada com mulheres.

7.12.2007

e porque o homem é um animal de vícios...

1] vou agora ao melhor bar do mundo beber uma cerveja
2] vou tirar um chocolate na máquina do cybercafé onde estou para ir comendo pelo caminho.
3] amanhã de manhã vou à praia dar um mergulho antes de ir trabalhar.
4] Amanhã estarei aqui de novo. :)

apollo 17

Depois duma separação não se come à mesa. Nunca, a não ser que alguém tenha aceitado o nosso convite para jantar. Cozinha-se temperando o melhor que se sabe a comida, depois escolhe-se cuidadosamente um cd para ouvir, e senta-se sempre no sofá de lugar único. Nunca se senta no sofá de dois lugares. Aliás, no autocarro nunca se viaja num sozinho num banco duplo, numa sala de espera nunca se senta ao lado duma cadeira vazia, e na cama de casal dorme-se sempre na diagonal, ocupando a maior área possível do colchão. Falando em camas, o primeiro encontro sexual, casual ou não, não deve ser feito na própria cama mas noutro sítio qualquer, nem que seja no chão da sala da casa dum amigo.
Falando em amigos, os amigos são o mais importante. São eles que servem como saco de boxe quando é preciso. Em palavras, digo. Bater mesmo, é melhor não. E depois há o café. É o único momento em que se deve sentar a uma mesa com cadeiras vazias, porque beber café e ler o jornal ocupa muito espaço à nossa volta. Enquanto se folheiam notícias e se mergulha no bom sabor azedo da bebida, lança-se o olhar pelo espaço, como se fosse um satélite orbitando as mulheres que passam, se sentam, se levantam, sorriem e o que mais fizerem. Os satélites não falam nem tocam, orbitam só, discretamente, planetas onde um dia se gostaria de aterrar.

respostas a perguntas inexistentes (8)



Tinha pintado uma abelha na garagem dela, em resposta ao smile que ela me tinha enviado pela internet antes da ligação cair. Telefonei-lhe e disse-lhe que lhe devolvia o mesmo smile mas em forma de abelha, tudo porque ela era doce como mel. Ela zangou-se. Disse-me que eu tinha um dia para limpar aquilo. Foi nesse dia que senti a primeira picada de abelha da minha vida.

euromilhões

Uma mulher acha que lhe saiu o euromilhões porque, depois de levar um tiro na boca, apenas perdeu alguns dentes e inchou o maxilar e os lábios. O tiro foi dado pelo ex-companheiro que invadiu a casa onde ela estava a dormir. A notícia vem no Jn de hoje.
Ela diz que se separou dele porque estava farta de ser agredida e controlada por ele. Acredito que sim. Ele diz que está arrependido e não torna a fazer-lhe mal. Hum... hum... não sei porquê não acredito. Talvez o estado também não devesse acreditar.

conversa 282

Eu – O que eu não percebo é como é que duas pessoas que mantêm um relação íntima durante anos, depois não conseguem ficar sequer amigos quando essa relação acaba.
Ela – Mas isso é o que acontece normalmente.
Eu – Eu já verifiquei que é o que acontece normalmente. Mas não percebo. As pessoas dormem juntas, trocam carícias e experiências e, de repente, tornam-se super agresivas uma com a outra.
Ela – Pareces eu a falar aqui há uns meses. É como se amor só desse lugar ao ódio, normalmente, não é?
Eu – É...

7.11.2007

melhor que nada

Encontra-se uma amiga. Bebe-se um copo e depois outro. A conversa abre-se como as pétalas duma flor, e forma uma coroa só nossa. As palavras vão correndo sem se gastarem. Algumas esvoaçam à nossa volta, outras mergulham e afogam-se nas bebidas, outras sentam-se ao nosso lado e dão-nos o ombro.
O amor é um egoísta. Quando nos bate à porta entra e quer tudo para ele. Às vezes até cola um papel na porta da entrada a dizer "não chatear". Consome-nos como o fogo consome um fósforo, o cabrão, e depois só restam cinzas. Vivemos das cinzas, e esquecemo-nos que ainda temos o papel na porta. Ninguém bate.
Vou falando. Vou ouvindo. O copo deixou algumas marcas de líquido na mesa e, com os dedos, vou desenhando sorrisos que se desfazem em segundos. Vou falando e vou ouvindo. A última vez que a encontrei foi assim também. Depois fomos a minha casa, fizemos um chá vermelho que não chegámos a beber, mas cujas canecas cheias ficaram três dias na estante dos cd's. Abraçámo-nos e fiz-lhe um minete. Talvez o minete mais lento da minha vida. Acho que no último e suave gemido ela já estava a dormir. Levei-a para a cama ao colo, tirei-lhe as botas de cano alto e tapei-a com com um cobertor fino. Adormeci vestido ao lado dela, depois dum copo de uísque.
Vou falando. Vou ouvindo. Os olhos dela abrem-se às vezes, e parecem corais abrindo-se debaixo dum mar revolto. Apetece-me nadar para ali. Abrigar-me. Depois deixo de falar e já só ouço. A voz dela enrola-me com um cachecol no Inverno. Ela tem a mão esquerda em cima da mesa, e eu aproximo a minha até lhe tocar com a ponta dos dedos. Já sei porque é que as formigas gostam de tocar com as antenas, digo-lhe. Porque é bom.
Vou falando. Vou ouvindo. Não se chega a esta idade sem ter chorado, pois não? Não faz mal, também não se chega sem querer mais. Que não, dizem agora algumas palavras que saltam na mesa como peixes fora de água: que não gostamos assim tanto um do outro. Mas, e há sempre um mas, talvez hoje seja melhor que nada. O amor é um egoísta, sim, menos hoje. Outra vez.

três tipos

Disseram-me há bocado, a propósito de relações humanas, que há três tipos de pessoas: as que fazem com que aconteçam, as que esperam que acontençam, e as que perguntam se aconteceu alguma coisa.

crónicas da cidade que sopra | ontem houve um acidente qualquer

Amanhã, no Diário de Aveiro.

Ontem houve um acidente qualquer. O autocarro que a trazia a casa, depois de mais um dia a transformar oxigénio em dióxido de carbono num escritório silencioso, parou e desligou o motor. Helena manteve a cabeça encostada ao vidro da janela, onde um autocolante pede que o partam em caso de emergência, sem se importar minimamente com os vãos protestos de alguns passageiros. A verdade é que, naquele constante estado de solidão e de ausência de si mesma em que se encontra, tanto faz estar em casa como num transporte público estagnado pela hora de ponta da cidade. Não se importa.

7.10.2007

pensamentos catatónicos (86)

Numa Tv Guia antiga, li esta frase dita por um actor brasileiro que se chama Marcos Pasquim:

Corno ou você é, ou foi, ou será. Seria hipócrita se dissesse o contrário.

conversa 281

Ela1 - Sou lésbica sabes porquê? Os homens portugueses são mesmo muuuuuito desinteressantes.
Eu - Ena... ainda bem que as mulheres não são desinteressantes.
Ela1 - Porquê?
Eu - Ainda acabavas a foder com animais, tipo cães ou assim...
Ela1 - Que piadinha.
Eu - Não é piadinha. Podes ser lésbica à vontade mas esse motivo é estúpido. E, pronto, se és lésbica porque é que te envolveste comigo? Foi só uma vez, é certo...
Ela1 - Estava à espera que me desses umas palmadas no rabo mas nem isso sabes fazer.
Eu - Como português desinteressante que sou, é natural que nem isso saiba fazer...
Ela2 - Vocês querem estar calados? Parecem putos.
Ela1 - É este gajo....
Ela2 (virando-se para Ela1) - Chiu!
Ela1 - Foda-se!
Ela2 - Querem mais cerveja?
Eu - Não me vais deixar aqui sozinho com ela, pois não?
Ela2 - Porquê? Tens medo?
Eu - Tenho. Muito medo, até. Ainda me pede para lhe bater no rabo e estamos em público.
Ela1 - Percebes porque é os portugueses são todos uma cambada de idiotas?
Eu - Tu não és lésbica, és ressabiada.
Ela2 - Calem-se caralho, senão bato-vos eu aos dois no rabo.
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

que estou a sangrar, diz ela


desafio sobre o número cinquenta e dois, no ministério da soltura

Que estou a sangrar, diz ela, e pega-me na mão esquerda como se fosse uma criança com uma borboleta na palma da mão. Que não há problema, respondo, e é a primeira vez que o cheiro a maçã dos seus cabelos penetra no meu suor. Sou uma borboleta na mão dela, sim, com as asas cansadas e o pensamento esvoaçante numa voz acariciante. Apetece-me pousar nela, brandamente, até que o ar fresco da manhã seguinte me reabilite o corpo.
Que estou a sangrar, diz ela, e ampara-me o corpo até uma pizzaria próxima. Avisa o empregado que vamos os dois entrar na casa de banho das mulheres porque eu estou ferido. Ferido, fico a pensar em como essa palavra é tão forte e fraca ao mesmo tempo. Ferido é alguém trepassado por uma bala perdida, alguém atropelado por um carro desgovernado, alguém electrocutado num poste de alta de tensão. Eu não, que apenas raspei os nós dos dedos duma mão enquanto ajudava uma mulher a mudar a roda do automóvel. Ela abre a torneira e mergulha a minha mão na água abundante. Deixo-me estar na condição de ferido, então, que dever ser obrigatória para ser socorrido por uma mulher tão bonita.
Que estou a sangrar, diz ela, e tira da carteira alguns pensos que me vai pondo, um a um, nos dedos. Primeiro o indicador, depois o médio, depois o anelar. Que não tenho aliança, diz, e pergunta-me se é por não gostar de anéis. Quer saber a minha vida, e eu opto por lhe abrir a porta deixando-a encostada. Não gosto de portas escaqueiradas. Nunca gostei. Que não é por isso, sopro-lhe ao ouvido, e o cheiro a maçã intensifica-se. A cabeça dela encosta-se ao meu peito, só por um segundo, mas como se fosse um helicóptero desvasta a área provocando um mini-ciclone.
Que estou a sangrar, diz ela, e alguém bate à porta da casa de banho. É o empregado e diz que temos que sair. Saímos mesmo, serpenteando as mesas da pizzaria enquanto os clientes nos atingem com o canto do olho. Que me leva a casa, diz ela, e pergunta-me onde vivo. No cinquenta e dois, respondo enquanto me sento no lugar do morto. Pergunta-me em que rua. Tanto faz, que não podemos entrar apesar de eu não usar aliança. Estou no lugar do morto e já percebo porquê. Sinto-me mesmo morto, de repente, e é tão abrupta a forma como a morte substitui a vida.
Que estou a sangrar, diz ela, e se sangro não estou tão morto assim. Talvez esteja mesmo ferido, afinal. Ferido por tantos anos sem me aventurar num olhar, num abraço, num cheiro. Está ali uma porta número cinquenta e dois, diz ela, e conclui que com aquele ar abandonado ninguém deve estar à minha espera. Depois abraça-me. Que sim, pode ser naquele cinquenta e dois. Ali já ninguém mora.

seis coisas sobre mim que não interessam a ninguém

1] Já sei que no primeiro fim de semana de Agosto chego ao nó da auto-estrada A1 mais perto da minha casa e viro para sul. Vou até à zona de Sintra, a convite duma pessoa simpática.

2] Hoje fìz praia durante vinte e quatro minutos e, por isso, não pus protector solar. Acho que me lixei...

3] Na praia da Barra encontrei uma amiga minha do liceu. Já não a via desde 1992. Deu-me o número de telefone e disse-me para lhe telefonar na primeira semana de Agosto, para marcarmos um jantar. Está bem disse eu. Gostei de vê-la.

4] Faço a melhor mousse de chocolate do mundo, mas agora vou passar a fazer também a melhor mousse de manga do mundo.

5] Não vale a pena tentar não pensar numa mulher de que se gosta. Essa é a verdade. Mas vale a pena dosear a intensidade com que se pensa nela, que não é o mesmo que dosear a felicidade.

6] Estou a pensar se publico ou não uma conversa que tive. Vou tomar café e já decido.

cartaz

7.09.2007

pensamentos catatónicos (85)

Tento sempre escrever ou dizer algo a partir do nada. Não gosto nada de sentir que me estou a aproveitar de matéria incorpórea criada por outros, como o é, por exemplo, uma ideia. Nunca consigo.
Acho que este é um dos problemas nas minhas relações. Partindo do nada poucas vezes se chega a criar interesse, e quase nunca se estabelece um fio condutor entre duas pessoas. No fundo não gosto da verdade acção/reacção, e isso é um problema emocional criado por um método cognitivo que assumi há muitos anos.
Agora vou beber uma cerveja ao melhor bar do mundo.

conversa 280

Eu – Tu para mim, para ser sincero, tens muito a ver com a bandeira japonesa.
Ela – Explica-te lá. Agora não sais daqui sem te explicares muito bem.
Eu – Eu adoro a bandeira japonesa, percebes? Gosto mesmo da bandeira japonesa. É a bandeira mais bonita dos países todos do mundo. Mas eu não era capaz de viver no Japão...
Ela – E porque é que não eras capaz de viver no Japão?
Eu – Os japoneses, definitivamente, têm uma língua que eu não sou capaz de entender.
Ela – É isso que me queres dizer. Que não és capaz de comunicar comigo?
Eu – Não é só isso. Estou também a dizer que te adoro, mas não sou capaz de comunicar contigo.
Ela – Não foi isso que eu percebi.
Eu – Se não foi isso que percebeste estás a dar-me razão. Eu e tu não Communiqué.
Ela – Tu e eu não o quê?
Eu - Não Communiqué. É um álbum dos Dire Straits... deixa lá.
Ela – Dire Straits... eu conheço Dire Straits. Não gosto.
Eu – Eu tenho esse defeito, pronto. Ainda gosto de Dire Straits.
Ela – Sabes uma coisa? Tu, para mim, és como a bandeira da Arábia Saudita.
Eu – Explica-te lá...
Ela – Sei que tens uma espada afiada, mas não percebo nada do que tens escrito. E, foda-se, és bonito.
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

conversa 279

Eu – É evidente que a XXXXXX anda triste, e isso deixa-me um bocadinho triste também.
Ele – Pois. Andava demasiado feliz. A felicidade em excesso acaba sempre mal.
Eu – Não percebo mas pronto. Agora queres que o pessoal comece a dosear a felicidade, é?
Ele – Não é isso. Ela andava aí que parecia que tinha o mundo a seus pés.
Eu – E muito bem. Quer dizer, eu não me estou a ver a acordar de manhã e dizer: "Estou demasiado feliz. Vou fazer qualquer merda para ficar só um bocadinho triste".
Ele – Pois... mas é mesmo isso: dosear a felicidade.
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

conversa 278

Eu – Ficas já em casa ou queres ir a mais algum sítio?
Ela – Que sítio?
Eu – Sei lá... beber um copo.
Ela – Não. Vamos continuar a andar de carro, está bem?
Eu – Está bem.

maravilhoso coração maravilhoso...

Porque é que tenho a sensação que sou dos poucos que se está a marimbar completamente, mas mesmo completamente, para a eleição das sete maravilhas do terceiro calhau a contar do Sol? Ainda agora passeei pela praia em Espinho e vi umas dezenas de maravilhas que nem sequer foram a votos...

a alegria é soberana decisão

Às vezes é só isso que é preciso para ficar bem. Ir ver frigideiras à noite no céu com alguém que, só por estar a menos de trinta e dois centímetros de distância de nós, nos faz bem. No carro ouvia-se repetidamente A alegria é o alimento da alma / A alegria é nossa grande inspiração / A alegria recompensa os sacrifícios / A alegria é soberana decisão (Celso Fonseca). Ouçam também.

7.08.2007

conversa 277

Ela - Este pára-vento é tão grande... é maior do que o costume, não é?
Eu - Acho que sim. Comprei o maior que havia na loja...
Ela - Como o vi sozinho achei estranho. Uma pessoa sozinha ter um pára-vento tão grande...
Eu - Há coisas mais estranhas.
Ela - É verdade, mas isto também não é normal.
Eu - Quando a minha mulher vier dos Estados Unidos já tenho pára-vento para os dois...
Ela - Mas ela ainda vem antes do Verão acabar?
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

nas dunas...

tentou roubar-me e acusou-me de violação

Sei que é Domingo quando acordo. Normalmente tenho que pensar que dia é, quando acordo, mas hoje não. Sei que é Domingo. Quer dizer que ontem o meu corpo adormeceu ao mesmo tempo que a alma, e ambos descansaram bem. O corpo adormece normalmente antes, e depois acorda sempre com a alma a resmungar, a mendigar mais alguns minutos de sono e de sonho.
Como duas bananas, uma laranja e uma gelatina de morango. Não tomo banho porque decido ir à praia. Tomo, por isso, quando voltar. Visto a tanga, visto os calções, uma t-shirt e umas sandálias. No carro tenho, desde o ano passado, o pára-vento. Vou à gaveta do armário do quarto da minha filha e tiro uma toalha de praia. Numa carteira ponho o leitor mp3, o protector solar e uma nota de 5 euros. A ponte da Barra está em obras e a fila de trânsito é enorme. Ouço uma rádio local e abro os vidros para refrescar o interior do veículo. Naquele passo de caracol, e numa carrinha que segue ao meu lado direito, um casal discute duma forma exagerada qualquer coisa que se passou há uns dias, não percebo bem o quê. Ela diz que nem sei quem é uma ordinária e ele pede calma. Estou contente por ir à praia sozinho, sem discussões.
Bandeira amarela na Costa Nova e muito vento. Deito-me na toalha, abrigado pelo pára-vento às riscas brancas e amarelas, e ouço tinariwen de olhos fechados. Duas ou três músicas depois uma mulher toca-me no peito. Abro os olhos e tiro os auscultadores. Ela é muito bonita. Tem a pele mais branca do que eu e o cabelo encaracolado preto. Os olhos fogem-lhe para um azul marítimo e os lábios são tímidos. Pergunta-me se se pode abrigar ao meu lado, já que estou sozinho e está muito vento. Que sim, respondo. Sacudo a minha toalha, que estava paralela ao pára-vento e volto a colocá-la perpendicularmente ao mesmo. Ela deita-se ao meu lado depois de tirar as calças de ganga.
Deito-me de barriga para baixo e volto a colocar os auscultadores. Fecho os olhos. A voz dela continua por trás da música dos tinariwen mas eu não percebo o que diz. Merda, penso. Queria mesmo paz. Tiro os auscultadores e enrolo-os no leitor. Guardo tudo na carteira. Ela pergunta-me se seu sou dali. Não me apetece dizer-lhe a verdade e por isso digo que não, mas a conversa continua e a mentira aumenta. Acabo como um funcionário público da Câmara Municipal de Beja que está ali de férias, e sou casado com uma africana que está neste momento em Boston. A mentira é tão estúpida que me parece que ela acredita. Ao mesmo tempo dá para justificar porque é que estou sozinho e para lhe dizer que não ando no engate. Até tenho uma mulher em Boston e tudo.
Ela não se cala e eu não consigo descansar. Aproveito e passo-lhe os olhos pelo corpo, um pouco mais atentamente que no princípio. Sim, é mesmo bonita. É pena falar demais. Diz-me que é de Viseu mas, não sei porquê, não acredito. Diz-me que gosta muito de Aveiro e quer viver na cidade. Pergunta-me se sei de algum emprego. Não, não sei. Provavelmente, afinal, não acreditou que sou de Beja. Porreiro, penso, estou a ter uma conversa com uma mulher que não conheço de lado nenhum e estamos os dois a mentir um ao outro. Porreiro.
Tenho a pele quente. Interrompo-a quando me fala do irmão e digo que vou à água. Ela não vai, que o mar está muito agitado. Merda, penso, agora dá-me uma erecção espontânea. Viro-me de novo de barriga para baixo e começo a mexer na carteira, só para ganhar tempo. Tiro o telemóvel, tiro os óculos, tiro a nota de cinco euros, tiro o protector e tiro o leitor de mp3. Depois arrumo tudo de novo. Não sei se ela reparou que eu tive a erecção mas que se foda. Não a conheço de lado nenhum.
Já estou melhor. Já dá para me levantar e ir à água. Mesmo assim faço-o sem me virar de frente para ela. A água fria vai-me ajudar nesta questão. Aproximo-me do mar e dou um mergulho logo na primeira onda.
A água está mesmo fria e o mar um cadito perigoso. Torno a mergulhar mas não estou muito tempo no banho. Não dá. Volto para a toalha. Como sou míope tento guiar-me pelas riscas do pára-vento. Aproximo-me. Já não está lá a mulher. Nem ela nem a minha toalha, nem a minha carteira, nem a minha t-shirt nem sequer as minhas sandálias. Foda-se, para que é uma miúda com um metro e sessenta quer umas sandálias número 44? Foda-se, levou-me os óculos e o telemóvel. Foda-se, até a chave do carro estava na carteira. Olho em várias direcções atarantado mas não consigo distinguir quase nada à distância. Um homem pergunta-me se procuro a minha mulher. Que sim, digo-lhe sem me apetecer explicar o quer que seja. Acho que ele desconfiou de qualquer coisa e seguiu-a com o olhar. Deve ter sido um feeling. Distingo o vulto e começo a correr nessa direcção.
Corro, corro, corro. Correr na areia é difícil e eu não sabia que ainda era capaz de correr tanto. Já distingo melhor o vulto. É mesmo ela e leva as minhas coisas nas mãos. Ela começa a correr também, mas rapidamente percebo que a vou apanhar. Ela é lenta. Estou-me a aproximar e ela larga tudo, como um balão de hélio que quer subir rapidamente, mas eu estou zangado e nem ligo ao que ela largou. Apanho-a pelo braço já nas dunas.
Ela vira-se para mim e tenta dar-me uma chapada. Nem me deixa falar. Começa aos gritos que a estão a violar. Foda-se. É Domingo, passa levemente da uma tarde, e eu estou numa duna duma praia com uma desconhecida que me tentou roubar e ainda por cima grita que a estou a violar. Só a mim. Foda-se! É que só a mim. Dois gajos vêm na minha direcção a correr também. Ela aumenta os gritos e aponta na minha direcção. É ele! É ele! Eu não digo nada. Sei lá o que é que hei-de dizer. Foda-se! Está um pau na areia. Pelo sim pelo não pego nele. Eles chegam e param. Estão cansado e nem conseguem falar. Óptimo, falo eu então. Explico a história toda e justifico apontando para as minha merdas espalhadas na areia, que entretanto vou apanhar.
O Sol está aquecer e a minha pele branca a pedir repouso e sombra. Largo o pau e digo à gaja para se ir embora. Afasto-me devagarinho, para não parecer que estou em fuga. Ela fica a falar com eles. Eu vou é arrumar tudo e voltar pra casa. Só a mim, só a mim. Enrolo o pára-vento e agradeço ao tipo que me indicou a direcção dela. Explico-lhe tudo melhor e despeço-me.
Estou no carro. A fila para voltar é menor. Ainda bem. Ligo o rádio e a Rádio Clube de Aveiro está a entrevistar um gajo qualquer sobre como escrever textos cómicos. Não chego a saber quem é mas fico a ouvir. Vou parando e andando, parando e andando. Alguém me bate no vidro. É ela. Foda-se, outra vez ela. Abro o vidro e pergunto-lhe o que quer. Boleia para Aveiro, responde. E eu dou. Deixo-a no Alboi e vou para casa.
Tentou-me roubar, acusou-me de a tentar violar, mas era uma mulher e era bonita. Dei-lhe boleia e agradeço-lhe a existência. Mas, só em pensamento: Foda-se!

7.07.2007

conversa 276

Ela - Pai, tu nunca mais arranjas uma namorada?
Eu - Filha... sei lá... nem sei que te diga.
Ela - Opá, já estou a ficar farta. Vê lá mas é se te despachas.
Eu - Mas porque é que queres que eu me despache? Não achas que se tem que ter cuidado a arranjar uma namorada? Já viste se eu arranjo uma namorada e depois chego à conclusão que afinal não gosto dela? Já viste se é ela que chega à conclusão que não gosta de mim?
Ela - Se isso acontecer arranjas outra e pronto. Mas despacha-te que eu preciso de mais pessoas à minha volta.

conversa 275

Eu - Sou eu...
Ela - Então, como andas?
Eu - Estava aqui sozinho a pensar que me apetece estar contigo.
Ela - Mas tu... não te estavas a apaixonar por outra pessoa?
Eu - Sim, lentamente... só estou a dizer que me apetece estar contigo... ir tomar café, passear, conversar e essas merdas.
Ela - Ah! fixe... eu telefono-te lá para as onze para combinarmos.
Eu - Ok...

dei a minha toalha do rato Mickey

1] Passei a tarde a brincar às lojas com a minha filha. Comprei um livro do feiticeiro de Oz, um golfinho de peluche, uma tesoura partida, uma tartaruga de plástico, uma caneta de escrever em azulejo e um mealheiro do Noddy. Paguei um euro e oitenta por tudo. Depois ainda brinquei aos restaurantes, na cozinha.

2] Passei o dia a perguntar a mim mesmo como é que nos sentimos quando não nos sentimos tristes nem felizes, nem assim assim. Não consegui responder. Ao fim da tarde telefonei a uma amiga e disse-lhe que me apetecia estar com ela. Daqui a um cadito vamos dar uma volta. Só isso, dar uma volta. Tenho a certeza que no fim me vou sentir mais definido.

3] Dei a minha toalha do rato Mickey à minha filha. É uma toalha com um valor emocional enorme, mas nunca consigo dizer que não a um certo olhar e um certo timbre da voz da minha filha. Ela levou-a para casa da mãe.

4] Há mais duma semana que estou sem ler nada. Reli apenas o segundo conto do Dias Exemplares, do Cunningham, porque gosto mesmo muito dele. Decidi que amanhã vou à praia e depois vou passar numa livraria. É bom poder decidir estas coisas triviais, não é? É, é. Decidir estas coisas quer dizer que estamos equilibrados.

5] Ainda não sei onde vou de férias. Aliás, neste momento nem sei se vou de férias a algum sítio. Tanto me apetece voltar a Barcelona como escolher uma aldeola qualquer no interior do país e passar lá uns dias isolado. Talvez Almeida ou Marialva, por exemplo. Talvez vá às Asturias sozinho... não sei. Provavelmente vou decidir só no dia em que entrar no carro para sair daqui. Quando chegar ao primeiro nó da auto-estrada decido se viro para norte, este ou sul...

7.06.2007

pensamentos catatónicos (84)

É verdade que às vezes as pessoas não têm cuidado com outros. Digo, nas relações em que se metem. Acabam por não ter cuidado com elas próprias também, sejam homens ou mulheres.

vamos dançar a lambada

Em 2006, em Portugal, morreram 39 mulheres vítimas de violência doméstica e 43 foram vítimas de agressões graves ou tentativas de homicídio. O Jornal de Notícias publica hoje uma reportagem em que revela estes números.
Dos vários exemplos que se podem ler, há um sobre uma mulher de 44 anos, de Nelas, encontrada morta na sua casa. O marido admite publicamente que de vez em quando lhe dava umas lambadas, como se isso fosse a merda mais natural do mundo. Não me apetece perder tempo com um filho da puta que se acha no direito de dizer isto. Farto de parolos ando eu. Mas não consigo deixar de pensar na vã tentativa do Bloco de Esquerda em facilitar juridicamente o divórcio. Acho que a mesma não visava promover o divórcio, mas sim preservar a dignidade humana que se perde em casos como este.
A falta de vontade política é enervante. Os projectos de lei não são aprovados apenas porque são feitos por partidos da oposição, e entretanto promove-se a lambada como dança tradicional portuguesa. Vão-se foder!

maioridade

Tempo de qualidade é quando não damos por ele a passar. O índice ivariano sobe um valor, e está agora em 18.

7.05.2007

conversa 274

Ela - Há quanto tempo é que não jogas ao Verdade ou Consequência?
Eu - Desde puto...
Ela - Queres jogar comigo?
Eu - Não.
Ela - Porquê?
Eu - Tenho medo das consequências.
Ela - És um medricas.
Eu - Eu sei. Costumo pensar no medo como um sinal de alguma inteligência, para não me sentir mal.

no Woman no cry

Tenho um leitor de mp3 com 1Gb de espaço. Provavelmente foi a melhor compra que fiz este ano, já que me ajuda muito nas viagens de comboio entre Aveiro e Espinho, e também nas de carro, onde normalmente o ligo ao auto-rádio quando conduzo. A maior parte das vezes, quando ando com uma música no ouvido, ponho-a em repeat e ouço-a vezes e vezes sem fim, até me fartar.
Hoje, no comboio e a alguns metros de mim, ia uma mulher sentada a ler a crónica da cidade que sopra. Dobrou o jornal em quatro e começou a lê-la em Aveiro, com o comboio ainda parado. Em Avanca, ou seja, quase vinte minutos depois, ainda a ia a ler. Pensei para mim que, ou ela estava a gostar muito ou eu sou mesmo incompreensível. A música que eu ia a ouvir era “No Woman No Cry”, pelos Urban Love, e hoje a crónica é um cadito sobre a música.

restos

Aqueceu no micro-ondas restos do dia anterior, durante um minuto, e agora está sentado à mesa sem ter ainda tocado na comida. A mesa, apesar de ter apenas seis lugares, parece-lhe demasiado grande, ou talvez até seja ele que se tenha tornado demasiado pequeno. Demasiado pequeno para o silêncio que se sentou nas outras cinco cadeiras e não se quer levantar, demasiado pequeno para um minuto que demorou a aquecer a refeição, demasiado pequeno para a noite que se vai agigantando.
Aqueceu no micro-ondas restos do dia anterior, durante um minuto, e agora pensa na palavra restos. Porque é que que chama restos a tortellini de espinafres feitos no dia anterior? Todo ele é um resto também. Um resto duma vida sinuosa, um resto dum dia de trabalho, um resto dum regresso a casa entre anónimos peões e alguns semáforos vermelhos. Talvez até seja já um resto da noite que se vai agigantando.

conversa 273

Ela - É só para te dizer que gostei muito de estar contigo.
Eu - Só? Isso é muito...
Ela - É muito como?
Eu - É dizer muito...
Ela - Não é nada. É só uma frase...
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

7.04.2007

conversa 272

(num café em Espinho)

Ele - São dois euros e oitenta.
Eu (dou-lhe uma nota de 10)
Ele - Não tem trocadinho?
Eu - Sou capaz de ter moedas, sim. (dou-lhe três euros)
Ele - Ora... dois euros e oitenta... três. (dá-me vinte cêntimos e vira a cara)
Eu - Pronto. Agora só tem que me dar os dez euros que tem na carteira e que são meus.
Ele - Ah! Não foi por mal.
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

conversa 271

Ela – Não te vou dizer que és assim muito bonito. És um homem bonito mas não és assim muito, muito bonito, percebes? Não é por aí que as mulheres gostam de ti.
Eu – Ah! Então, é por onde?
Ela – Não sei... por alguma coisa há-se ser...
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

respostas a perguntas inexistentes (7)



Eram cinco a dar as mãos e a correr pelos campos. Depois, como na vida, as velocidades de cada um foram-se alterando. Uns corriam mais depressa, outros mais devagar. Só eu e ela é que nos mantivemos de mãos dadas até ao fim. Estávamos cansados e eu perguntei-lhe se queria deitar-se comigo naquele manto verde que se estendia ao horizonte. Que não, respondeu ela, que ali havia sempre muitos cagalhões caninos. Nunca mais demos as mãos e passámos, também nós, a viver em velocidades diferentes.

Os Azeitonas III

A única vez que fiz karaoke na minha vida foi em Hong Kong, onde é uma indústria gigantesca. Suponho que no Japão e na China também, mas não tenho a certeza. Em Hong Kong há edifícios com salas de vários tamanhos (para duas, quatro, seis ou mais pessoas) que se alugam só para fazer karaoke. É giro porque as pessoas passam noites inteiras a cantar umas para as outras. Por exemplo, quando um homem quer cantar uma música romântica à namorada pode alugar uma sala para duas pesoas durante vinte minutos. Eu estou ansioso por levar a mulher da minha vida a uma sala destas para lhe cantar o "A minha Sogra é um Boi", dos Mata-Ratos, mas isso é outra história.
Na única vez que fiz karaoke na minha vida, o pessoal ficou tão abismado com a minha capacidade de cantar em chinês que eu, em memória daquele momento único da minha vida, comprei o cd e vcd da música. Uma vez falei dela aqui e, passados uns dias, recebi um email duma banda do Porto a pedir-me informação sobre aquela fenomenal obra de arte porque queriam fazer uma versão.
No princípio resisti. Tinha medo que uma banda qualquer vulgarizasse aquela música fenomenal. Mas depois, quando soube que eram Os Azeitonas, acreditei que aquilo até podia resultar, e lá mandei o mp3. Agora o próximo disco daquela banda vai ter uma versão da música e, para já, podem-na ouvir nos seus concertos.
Pronto. Era só isto. Agora podem ver o vídeo [original] no youtube e visitar os sites todos da banda... que, diga-se de passagem, é espectacular. Mesmo espectacular.



links: my space dos azeitonas, site oficial, maria azeitola

dia da Independência

Hoje é o primeiro aniversário do Dia da Independência.

crónicas da cidade que sopra | estão a tentar

Amanhã, por ser quinta-feira, é publicada mais uma crónica da cidade que sopra no Diário de Aveiro.

Prende o cigarro da manhã brandamente entre os lábios, enquanto se vê nua no espelho do quarto acariciando lentamente o corpo com uma toalha verde. Algumas gotas de água saltam-lhe da ponta dos cabelos para a pele macia, e aceleram em direcção ao solo numa vã tentativa de suicídio colectivo. Vai repetindo para si mesma a frase que acaba de ler na na embalagem que atirou para cima da cama: fumar pode matar. Aquela toalha com que se limpa foi uma prenda dum casamento falhado, e o corpo dá sinais evidentes de envelhecimento: alguns cabelos cinzentos que rareiam entre os outros como ervas daninhas, os seios que vão perdendo a altivez, as rugas que começam a desenhar o contorno dos olhos. Ainda não acendeu o cigarro mas pensa que viver também pode matar. E repete: viver pode matar.

7.03.2007

os azeitonas II

Amanhã vou revelar tudo sobre uma música que vai sair no próximo disco d'Os Azeitonas, a melhor banda de sempre de Portugal e arredores, incluindo Burkina Fasso.

conversa 270

Eu - Estamos em Julho e ainda não faço a mínima ideia do que vou fazer nas férias.
Ele - Eu vou para Barcelona, queres vir?
Eu - Não, obrigado.
Ele - Arranjo-te lá casa...
Eu - Eu já trabalhei lá. Também tenho onde ficar. Mas não me apetece ir contigo...
Ele - Porquê?
Eu - Vais com a XXXXXX, e eu não gosto de me sentir um empecilho.
Ele - Falamos daqui a uns dias. Se isto continua assim não chego ao fim de Julho com ela.
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

conversa 269

Eu - Não me dou bem com isto, percebes?
Ela - Com quê?
Eu - Encontros clandestinos uma vez de vez em quando.
Ela - Esta vida são dois dias... temos que nos divertir também, não é?
Eu - Pois, eu percebo, mas também acho que se a vida são dois dias, não custa nada encontrar alguém para a vida toda.
Ela - Mas eu sempre achei que daqui a uns meses isto podia mudar...
Eu - Se a vida são dois dias, daqui a uns meses estou morto.
Ela - Então não tens que te preocupar, percebes?
Eu - Não, não percebo.
Ela - Eu estou farta de aturar canalha, percebes? Estar contigo faz-me bem, mas eu não posso fazer mais do que isso. Pelo menos agora.
Eu - Canalha? Estás a chamar canalha ao teu namorado?
Ela - É o que ele é.
Eu - Se eu tivesse começado uma relação contigo, daqui a uns tempos chamavas-me canalha a mim.
Ela - Tu não és canalha. Eu não acho que sejas. Além disso, daqui a uns tempos estás morto. Não foi o que disseste?
Eu - Mas quando começaste com o teu namorado já o achavas canalha?
Ela - Já, mas estava tão carente... percebes?
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

conversa 268

Ela - Telefonaste-me?
Eu - Telefonei. Era só para saber se querias boleia pra casa.
Ela - Estás muito solto.
Eu - Um bocadinho.

Jules, Jim e uma gaja com um sorriso parecido com um calhau esculpido



Ontem fui ao cinema ver um filme de 1962, do François Truffaut, chamado Jules e Jim. Uma história gira à volta dum triângulo amoroso cujos vértices são Jules, Jim e uma gaja que tem um sorriso parecido com um calhau esculpido.
Eles são muito amigos. Ela casa com Jules e mata Jim, atirando-se com ele dentro do carro de cima duma ponte. Acabei o filme a pensar que o François Truffaut, se na altura houvesse internet, teria criado um blog como este.
Bem, logo no princípio, quando eles a conhecem, ela atira-se ao rio Sena só para chamar a atenção. Eu, com o que sei hoje, deixava-a lá a alimentar os peixinhos. Eles não, foram a correr salvá-la. Depois tramaram-se.

7.02.2007

olha que te fodo todo

Pus o sono em dia. Acordei às 14:28, tomei um banho rápido ao som do cd Boss'n'Marley, tomei um pequeno-almoço rápido na cozinha, sem me afastar da porta do frigorífico, e fui tomar café. Na mesa ao lado da minha estava uma mulher bonita, mas mesmo muito bonita. Tinha um vestido verde escuro daqueles de praia (eu não sei o que é um vestido daqueles de praia mas não encontro outra forma melhor de o explicar), olhos mais ou menos da mesma cor e uns cabelos pretos e compridos. Uma criança, provavelmente o filho, com uns seis anos de idade, brincava com um avião de plástico entre uma garrafa de compal manga/laranja, dois copos, uma garrafa de água das Pedras e uma chávena de café. Provavelmente estavam a fazer de edifícios, aqueles cadáveres de bebidas. A mulher fumava um cigarro que aparentava alguma má disposição, e eu contemplava aquela agressividade latente com a sua beleza exterior. Estava a achar alguma graça. O avião bateu na garrafa de compal que tombou sobre a mesa e rolou até cair e partir-se em cacos no chão. Olha que te fodo todo, gritou ela. De repente deixou de ser bonita.

conversa 267

(pelo intercomunicador do prédio)

Ela – Boa tarde, ando a fazer uma demostração dum produto inovador que só vai entrar no mercado daqui a alguns meses.
Eu – Que produto é que é?
Ela – É um produto inovador que visa facilitar o dia-a-dia de todos.
Eu – Hum...
Ela – Tem dez minutos que me dispense?
Eu – Não.
Ela – Não?
Eu – Não. O meu dia-a-dia é muito fácil... não preciso de nada disso, está bem?
Ela - Muito bem. Pedia-lhe só que me abrisse a porta do prédio.
Eu - Eu prefiro que um vizinho qualquer que aceite falar consigo lhe abra.
Ela - Muito obrigado.
Eu - Muito obrigado, eu.

7.01.2007

conversa 266

Ela - Já me disseram que disseste mal dos meus amendoins no teu blog.
Eu - Eu?! Só disse bem...

conversa 265

Ela - Estou sem som...
Eu (só em pensamento) - Liga o microfone.
Ela - O técnico está a ouvir? Estou sem som.
Eu (só em pensamento) - Liga o microfone.
Ela - Mas o técnico está a dormir?
Eu (só em pensamento) - Liga o microfone.
Ela - Bem, vou ter que gritar.
Eu (aos gritos) - Ligue o microfone, pá!
Ela - Ah! esqueci-me...
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

coisas que fascinam (55)

hoje acordei às 07:12 da manhã. Em dois dias dormi perto de seis horas. Mesmo assim estou bem disposto. Estou, estou... vou beber uma água tónica com limão.

pensamentos catatónicos (83)

Quando enviamos um sms e não obtemos resposta é como se algum amor nos morresse lentamente nos dedos.