1.31.2010

conversa 1413

(num bar perto da praia)

Ela - Faz-me bem estar aqui. Ultimamente tenho andado tão tensa...
Eu - Tens andado tensa, porquê?
Ela - Sei lá... hoje de manhã tive uma discussão com o meu marido por causa da forma como ele abre os pacotes de leite.
Eu - E como é que ele abre os pacotes de leite? Fiquei curioso...
Ela - Com uma faca. Faz um buraco demasiado grande. Quando sou eu a abrir, faço-o com uma tesoura e fica melhor.
Eu - Acredito que sim mas, muito sinceramente, acho que a forma como se abre um pacote de leite não deve ser motivo de discussão.
Ela - Eu sei. O que tu não sabes, porque já te divorciaste há quase quatro anos, é que quando uma mulher discute por causa dum pacote de leite é porque quer discutir sobre outra coisa qualquer.
Eu - E porque é que não discutiste sobre essa outra coisa qualquer?
Ela - Porque sinceramente nem sei bem qual é essa outra coisa.
Eu - Ou seja, se calhar essa outra coisa é a vossa vida quase toda...
Ela - Claro que é. Só que irrita-me ele não chegar lá.
Eu - Deixa-me dizer-te uma coisa: eu acho que ele chega lá, não está é para se chatear.
Ela - Isso ainda me irrita mais.

1.30.2010

e agora?

Acabou o sexo e o candeeiro do quarto está quieto. Ele também e ela também. De barriga para cima, ele estranha que depois de tanta agitação o candeeiro do tecto esteja parado. Parece que os esteve a observar aquele tempo todo. De barriga para baixo, ela estranha todo o silêncio que se instalou entre as quatro paredes depois do último gemido. Aquele ambiente hermético é doce e melancólico. Talvez por isso os corpos que acabaram de se afastar dêem agora as mãos: para que a doçura vença a melancolia dum orgasmo curto.

De onde é que vem a doçura? Do sexo. Dos lábios dela e do falo dele, dos cabelos dela e das pernas dele, das mamas dela e do pescoço dele. Enfim, dos corpos. Há corpos doces e corpos azedos. Aqueles dois corpos são doces. De onde é que vem a melancolia? Pois é. De toda a vida para trás. Dos filhos dela e dos filhos dele, dos amigos dela e dos amigos dele, do ex-marido dela e da ex-mulher dele. Ambos tiveram uma vida inteira sem o outro.
E agora? É a pergunta que os dois querem que o outro faça mesmo que não saibam a resposta. E uma pergunta é só isso: a procura duma resposta. E agora? pergunta ela. São sempre elas que têm a coragem de perguntar. Nunca eles. E ele  responde-lhe com medo que o candeeiro estremeça com a resposta. Que agora lhe apetece um copo de vinho, diz. Se ele quer um copo de vinho talvez fique a dormir ali esta noite, pensa ela. Se ela for buscar o copo talvez possa dormir ali, pensa ele. O candeeiro continua quieto. 

1.29.2010

conversa 1412

Ela - Sempre tiveste a mania de te dar à primeira gaja que aparece..
Eu - Olha que não. Tenho trinta e oito anos e vou na segunda namorada...
Ela - Pronto. Não é bem dares-te, é emprestares-te.
Eu - O que é que tu queres dizer com isso?
Ela - Quero dizer que os homens são uma espécie de banco que empresta sexo sem juros.
Eu - Isso não é verdade mas pronto. Aliás, cheguei a passar meses sem ninguém.
Ela - É o chamado período de carência.

conversa 1411

Ela - Às vezes não sei se o meu marido me acha boa ou má na cama.
Eu - Acho que um dos maiores erros na cama que já vi, e que também já cometi, foi partir do princípio que uma boa prestação sexual passa apenas por um grupo de técnicas ou truques. Não passa...
Ela - Passa por quê, então?
Eu - Na verdade nem sei bem por onde passa. Sei que já tive sexo mau, sexo assim assim e sexo bom. A única certeza que eu tenho é que no sexo a dois ambos saem sempre com a mesma sensação: se foi mau para um, foi mau para o outro; se foi assim assim para um, foi assim assim para o outro; se foi bom para um, foi bom para o outro.
Ela - Não acho que seja bem assim...
Eu - Estou a falar duma relação equilibrada, claro. Não duma relação em que um é uma espécie de dono do outro...
Ela - Ah! Então deve ser isso...
Eu - Isso o quê?
Ela - É que eu sou uma espécie de dona do meu marido.

em primeiro ou em segundo?

You know you are not the first
But do you really care?

Aqui há uns anos, quando numa aldeia qualquer do norte chegou pela primeira vez a electricidade, um dos habitantes respondeu a uma pergunta duma jornalista dizendo que antes de ter televisão em casa usava mais vezes a mulher. A expressão "usar a mulher", que vê a mulher como um acessório, caiu em desuso no Português com o passar do tempo. Para a Bmw, pelos vistos, ainda faz sentido...
Obrigado à leitora que me enviou esta imagem.

1.28.2010

conversa 1410

Ela - Ontem quase que era multada.
Eu - Porquê?
Ela - Um polícia apanhou-me a falar ao telemóvel enquanto conduzia.
Eu - E não te multou?
Ela - Não... mas tive que ser insistente com ele...
Eu - E como é que se é insistente com um polícia de forma a ele não nos multar?
Ela - Abre-se o decote, faz-se uma voz muito tenra e chora-se um bocadinho porque o namorado nos deixou recentemente...
Eu - Não acredito que isso resulte nos dias de hoje.
Ela - Resulta às vezes. De qualquer maneira não me parece que o consigas fazer.

conversa 1409

(na minha casa)

Ela - Posso tomar um banho?
Eu - Claro. Vou buscar uma toalha...

(uns segundos depois)
Ela (na casa de banho) - Deixa estar. Não tragas a toalha que eu não posso tomar banho nesta casa.
Eu - Porquê?
Ela - Não tens condicionador para o cabelo. Só tens um champô e é fraco...
Eu - É o champô que eu costumo usar.
Ela - Mas se eu não usar condicionador não me consigo pentear, percebes? Além disso este champô vai-me deixar o cabelo espigado.
Eu - Nem sequer sei o que é um condicionador mas, de facto, também nunca me penteio.
Ela - Pois... há certas coisas em que o mundo dos homens e o mundo das mulheres estão bem distantes...

sexo, porcos e argentina

A actual presidenta da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, num acto político que pretende impulsionar a produção de carne de porco naquele país, dirigiu-se a toda a população dizendo que comer porco melhora a actividade sexual. Para não deixar dúvidas acrescentou ainda que comer porco é muito melhor do que tomar Viagra [ver link]
Tenho para mim que uma dieta que cause facilmente problemas de colesterol não pode ser boa para a actividade sexual de ninguém. Por isso esta opinião da Cristina só pode ser baseada numa coisa: fetiches sexuais. Aí sim, pelo menos a ver pelas buscas no google que todos os meses vêm cá dar, acredito nos benefícios da ligação entre sexo e suínos. Só este mês já cá vieram ter os seguintes... ahn... fetichistas:

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1.26.2010

conversa 1408

(conversa a três)

Ele - A minha mulher anda sempre a falar-me dum gajo qualquer que trabalha com ela. Parece que ele está sempre a meter-se com ela...
Eu - Isso deve ser só uma boca ou outra entre colegas de trabalho. Não penses muito nisso.
Ele - O pior é que às vezes fico com ciúmes dum gajo que nem sequer conheço.
Eu - Há muitas mulheres que gostam de provocar ciúmes aos companheiros...
Ela - É verdade. Eu faço mais ou menos o mesmo com o meu marido.
Eu - Fazes isso para quê? Para o chatear?
Ela - Não sei bem. Às vezes acho que é para ver se ele me dá mais atenção.
Ele (para ela) - Achas que se eu lhe der mais atenção, ela deixa de me falar do colega de trabalho todos os dias?
Ela (para ele) - Bem... aí talvez passe a fazê-lo só para te provocar ciúmes.

respostas a perguntas inexistentes (71)

A primeira divisão para onde vou quando entro em casa é a cozinha. A sala ou o meu quarto ficam sempre para depois. Ontem, por exemplo, quando cheguei a casa coloquei o porta-chaves em cima do frigorífico, o casaco e mala do computador em cima da banca, atirei com os sapatos para um canto e abri uma cerveja que fiquei a beber encostado à parede enquanto espreitava o mundo pela janela.
É uma sensação confortável, esta de espreitar à janela. É como se estivéssemos a ver o mundo sem ele nos ver a nós. Claro que da janela da minha cozinha não vejo propriamente o mundo, vejo apenas uma ínfima parte dele: umas casas e uns prédios, algumas árvores selvagens ameaçadas por uma estrada movimentada, um carro abandonado, uma loja de ferragens, alguns contentores do lixo e, lá muito ao fundo, o topo do estádio do Beira-Mar. Não é o mundo todo, de facto, mas é o meu mundo àquela hora em que chego a casa. É esse meu mundo que se disponibiliza todos os dias para me receber e por isso gosto dele. Na verdade sinto-me bem com ele.
Recebi um telefonema dum amigo depois de dar o último gole na cerveja e de pousar a garrafa em cima do microondas. Quando vejo o nome dele no ecrã do telemóvel já sei ao que vem: anda com problemas sentimentais ou coisa parecida. Disse-me que há uma segunda mulher na vida dele e que se sente mal com isso. Expliquei-lhe isto da cozinha ser o meu mundo. Não sei se ele percebeu...

conversa 1407

Ela - Estou a pensar fazer um minibar em minha casa e nunca mais sair à noite.
Eu - Mas porquê?
Ela - Estou farta de sair à noite. Sempre as mesmas caras e as mesmas conversas...
Eu - Em tua casa vai ser só a tua cara e conversas contigo mesma. Se calhar fartas-te mais depressa ainda.
Ela - És sempre tão inconveniente

1.21.2010

tentei, está bem?

Passei por ti tão incerto. Acho que nesses dias andava a recolher das ruas a minha própria vida, aos pedaços. Às vezes no falso vigor dum café quente, outras vezes no constante adeus daqueles que passam e não ficam. Como se assim um dia pudesse tê-la toda. Não podia. Talvez pensasse que ela estava fragmentada por aí, como peças dum puzzle por construir. Não estava. O amor é sempre assim. Ou a falta dele, pensei depois. Uma extensão de fragmentos.

E vi-te tão incerta. Acho que nesses dias houve um segredo qualquer. O amor começa sempre assim, pensei depois. Num olhar que é um segredo, num cheiro que é um segredo, numa vontade que é um segredo. Seja lá o que for. No princípio é sempre um segredo. Sempre. E tu disseste que os segredos são o Big Bang do amor. Tinhas razão. Todo o amor comprimido num único ponto pronto a ser o Cosmos. Às vezes devagar, outras vezes mais depressa.
E eu que já me tinha esquecido da mania que o amor tem de não fazer apresentações. Primeiro entra em nossa casa sem bater, deixando pegadas de terra na carpete da sala; depois desarruma-nos os objectos pessoais e a mobília. E rio-me com isso. E rimo-nos com isso. Às vezes também vai à cozinha servir-se dum café expresso. E quando perguntamos: "o que diabo se passa aqui?" já nem queremos saber a resposta. Queremos que o fim da cama seja a nossa linha do horizonte. É que às vezes é, até porque é atrás dela que passa a nascer o dia. Que passa a nascer a noite.
Tinha nascido a noite quando surgiu a dúvida: "o que dirá o dicionário sobre a palavra amor?". E tu riste-te. Se os dicionários são tão grandes deve ser só por causa dessa palavra, disseste. E eu ri-me. Fomos ver. Dizia que é o sentimento que induz a obter ou a conservar a pessoa ou a coisa pela qual se sente afeição. E rimo-nos os dois. Não é, pois não? Como é que o Big Bang podia ser só isso? O dicionário não sabe nada. E pediste-me para tentar escrevê-lo. Acabo de o tentar, meu amor, com este texto que é para ti. Só que eu também não sei nada. Tentei, está bem?

conversa 1406

Ela -  Gosto muito do meu namorado mas ele irrita-me tanto...
Eu - Porquê?
Ela - Estás a perguntar porque é que eu gosto muito dele ou porque é ele me irrita?
Eu - Porque é que gostas muito dele...
Ela - Sei lá.
Eu - E porque é que ele te irrita?
Ela - Isso sei... mas é uma lista de coisas tão grande...

1.20.2010

curar o quê?



Esta mulher chama-se Cori Rist, é italiana e amante do golfista Tiger Woods. Por causa disso o homem está internado numa clínica americana para curar o seu vício do sexo. Mas... ei! pára tudo. Ele tem esta amante e quer curar o vício do sexo? Juro que não percebo. Até percebia que ele não quisesse ter vontade de sexo se vivesse isolado numa ilha deserta ou estivesse preso em Guantânamo... mas assim... não percebo, não percebo, não percebo.
Já agora, como é que raio uma clínica o vai curar da vontade de ter sexo? É que eu só estou a imaginar duas terapias possíveis: electrochoques durante várias semanas ou exibição contínua de fotografias com um gajo peludo....

conversa 1405

Ela - Define numa palavra o que é o amor para ti.
Eu - Amor.
Ela - Só isso?
Eu - Se é numa só palavra, acho que o melhor é usar a própria palavra para a definir a si mesma.
Ela - Os homens são tão simples...

pensamentos catatónicos (195)

Acho que há pessoas que vivem a sua própria vida, melhor ou pior, e há pessoas que só conseguem viver a vida dos outros. Estas últimas são uma espécie de parasitas da vivência alheia. Nunca, em caso algum, as primeiras poderão ter uma relação saudável com as segundas.

1.19.2010

ombro

Sentia-se desamparado há algum tempo mas nunca tinha percebido esse desamparo. Até hoje, quando no autocarro uma mulher adormeceu no seu ombro vencida pelo cansado do dia. Mais um dia. Ele ia sair já na paragem seguinte mas acabou por ir até ao fim da linha, onde já nos subúrbios da cidade ela acordou quando o pesado motor do veículo adormeceu. Corou levemente e pediu-lhe desculpa, enquanto ele a ajudava com os sacos das compras. Não faz mal, respondeu ele. E não fazia. Durante anos tinha procurado a cura para o seu desamparo nos sítios errados: ora numa prostituta estrangeira, ora num copo de uísque. Outras vezes, mais raras, numa inócua conversa na internet. Tinha-a encontrado agora ali, por acaso, numa cabeça que adormecera no seu ombro.

Sentia-se desamparada há algum tempo mas nunca tinha percebido esse desamparo. Até hoje, quando no autocarro adormeceu no ombro dum homem desconhecido, vencida pelo cansaço do dia. Mais um dia. Ia sair já na paragem seguinte mas, talvez como num embalo de mãe, foi dimanando a alma num suave percurso até ao fim da linha. Como numa nuvem, pensou quando corada pediu desculpa ao homem e o viu corar também. Durante anos tinha procurado a cura para o seu desamparo nos sítios errados: ora numa telenovela nocturna onde todos pareciam felizes, ora num frigorífico tão apetecível quanto ameaçador. Outras vezes, mais raras, numa inócua conversa na internet. Tinha-a encontrado agora ali, por acaso, na quietude dum ombro brando.

é hoje...

O Clandestino bar, em Aveiro, abre hoje as portas após umas curtas férias, e quem começa por matar o silêncio nesta primeira noite é o Couscous Prosjekt. Tenho a certeza que os Dazkarieh também vão passar por lá. Até logo. :)

conversa 1404

(na cozinha da casa dela)

Ela - Descasca-me aí essas batatas, por favor, que eu vou só ali ver o fim do filme que está a dar.
Eu - Ok...

(uns cinco minutos depois)
Ela - Obrigada. É que adoro o fim deste filme. Já o vi uma dez vezes...
Eu - Acho piada querer tanto ver uma coisa que já se viu dez vezes, mas está bem.
Ela - É que me emociona.
Eu - Ok, ok... também nunca percebi aquelas mulheres que compram revistas para saber antecipadamente o que vai acontecer nos episódios das telenovelas que andam a ver.
Ela - É a mesma coisa. Assim emocionam-se duas vezes.

hoje escolho esta....


A RedTape, marca de calçado, parece achar que um homem que usa os seus sapatos fica com a possibilidade de escolher uma mulher da mesma forma que se compra um refrigerante numa máquina automática qualquer. Basta meter uma moedinha e pronto, já está. Aliás, pode até também guardar várias num armário e de manhã 'usar' aquela que lhe apetecer mais nesse dia.
No segundo caso, aquela morena  linda com uma barriguinha que o rapaz escolheu, parece não corresponder exactamente ao seu modelo de mulher preferido, pelo menos a ver pela anoréctica do poster que tem no quarto.
O problema de algumas publicidades, na minha opinião, é os seus autores não perceberem o quão estúpidos conseguem ser...

1.18.2010

orgasmo feminino



Já vi muitos anúncios da Durex que gostei. Este é apenas mais um deles. E porque é eu gosto deste? É fácil, acho que é uma maneira bem conseguida de mostrar um orgasmo feminino. Mais nada.

conversa 1403

Ela - Queria pedir-te uma coisa.
Eu - Diz...
Ela - Comprei esta placa de acesso à internet naquela bomba de gasolina da Galp mas o acesso é muito lento. Vais lá devolvê-la por mim?
Eu - Mas porque é que não vais tu?
Ela - Não tenho coragem... vai lá tu.
Eu - O.k. eu vou...
Ela - Já agora, com o dinheiro da devolução traz-me um maço de tabaco, por favor.
Eu - Se eles me devolverem o dinheiro, claro.
Ela - Devolvem. Vais ver que devolvem.

respostas a perguntas inexistentes (70)

Há uns dias li num jornal qualquer uma notícia sobre uma mulher que ficou presa num elevador durante oito dias. Quando a descobriram internaram-na, não por causa do seu estado físico mas porque apresentava 'sinais de desorientação'.
Este é um exemplo crasso, mas a solidão traz sempre um estado de desorientação, e é possível uma pessoas sentir-se só mesmo quando não está fisicamente isolada de outras pessoas. É, por exemplo, o caso da solidão emocional.
Quando li a notícia, o que achei curioso foi precisamente a mulher ter ficado presa num elevador. É que a desorientação emocional que às vezes sofremos quando estamos muito tempo sem, por exemplo, uma companhia íntima, é parecida com a sensação de estar num elevador sem saber em que andar sair. Vamos descendo e subindo, espreitando pelas portas que se abrem e se fecham, mas nunca nos apetece ficar ali. E continuamos descendo e subindo...

1.15.2010

preta

Gosto muito desta música. Ontem ao jantar fiz esta brincadeirinha.

conversa 1402

(no café)

Ela - Estou tramada!
Eu - Porquê?
Ela - Está ali o gajo mais bonito de Aveiro, mesmo atrás de ti.
Eu - Posso ver quem é, só por curiosidade?
Ela - Não. Não te mexas nem faças nada de suspeito. Ele é tão giro...
Eu (depois de me virar para trás disfarçadamente) - Ah! eu conheço-o.
Ela - Conheces?
Eu - Sim. Não é propriamente o meu melhor amigo mas conheço-o.
Ela - Ele é giro... mas tem as mão muito grandes e o cabelo um bocado seboso. Não gosto assim tanto dele.

respostas a perguntas inexistentes (69)

Porque é que damos as mãos? Não sabemos muito bem mas damos na mesma.
Por trás duma mão dada pode estar um sentimento de posse: "esta mulher é minha"; mas também pode estar apenas o desejo: "quero estar sempre em contacto com esta mulher". Depois há as mãos que apesar de se darem nunca se dão a sério. São as mãos que parecem sempre incomodadas por estarem a cumprir aquela obrigação e que se apartam à primeira oportunidade.
Numas mãos dadas pode estar escrito o futuro de quem as dá. 

1.14.2010

quem diabo é o Tó quin?

Agradeço imenso ao leitor que me enviou a seguinte carta. Agora só quero descobrir quem é o Tó quin, que é para escrever uma carta à EDP a protestar a conta deste mês. "Eu acho que não devia pagar tanto de electricidade, mas se vocês acham eu vou ficar muito triste e se calhar vou ter que mandar uma carta ao Tó quin, mas vocês é que sabem".
Caramba! só eu nunca recebi cartas destas quando era puto. Cliquem na imagem se quiserem aumentar.



Não sei mais o que fazer porque ando doida e louca por ti Jorge Daniel!
Eu mandote esta carta porque quero saber se gostas de mim e se estás intereçado em mim.
O ideal era que estiveces, mas se não estiveres eu vou ficar muito triste e se calhar vou ter que mandar uma carta ao Tó quin, mas tu é que sabes.
Todas as minhas amigas te acham o mais giro da turma e o mais adulto, por és o que dá menos erros e falas como um adulto. Por exemplo, quando fostes meter aqueles papeis de bolicau no lixo que nem se quer eram teus!!
Os meus pais têm um mercedes e uma casa de férias na Vieira.
Respondeme que eu só penso em ti.
Filipa Alexandra.

conversa 1401

Ela - Esta semana o meu marido perguntou-me se eu ainda o amo.
Eu - E o que é que respondeste?
Ela - Comecei a chorar.
Eu - E ele achou que choraste porquê? Porque ainda o amas ou porque já não o amas?
Ela - Não sei.
Eu - E amas ou não amas?
Ela - Não sei.
Eu - E sabes se ele te ama a ti?
Ela - Não.
Eu - O amor é fodido.
Ela - Pois é.

respostas a perguntas inexistentes (68)

Que está de chuva, diz ela estéril de assuntos para conversar. E eu dou mais um gole na cerveja para ganhar tempo. Também não tenho nada para dizer. Acho que o estado do tempo nos salva muitas vezes das conversas vazias. Ou está chuva ou está Sol, ou está frio ou está calor. E vamos dizendo o que já se sabe.
Afinal dei três goles na cerveja. Pouso a garrafa e sorrio. Ela olha para mim esperando uma resposta à 'não pergunta' que fez. Os olhos dela parecem os de um lobo à espera que o coelho saia da toca: bonitos e delicadamente ameaçadores. E eu saio mesmo da toca.
Porque é que as pessoas falam tanto do estado do tempo? Pergunto. Agora é ela que dá uns goles no chá preto que ainda fumega e claro que eu já sei que o faz só para ganhar tempo. Para estarmos mais perto, diz ela. Estarmos mais perto? Pergunto sem dar nenhum gole. Sim, se estivermos frente a frente sem dizer nada um ao outro é como se estivéssemos distantes. Apanhou-me.
O silêncio entre um homem e uma mulher é o silêncio do amor e não pode ser banalizado. Podemos estar em silêncio quando contamos estrelas, quando nos cansámos duma suada noite de sexo, quando nos zangamos ou até quando damos as mãos à saída do cinema. Não podemos quando estamos a acabar de almoçar num self-service movimentado no centro da cidade. É esse o perigo do silêncio.

conversa 1400

Ela - Vou-te dizer uma coisa: o meu próximo namorado, se houver próximo namorado, vai ter que passar um duro teste para eu o aceitar como tal.
Eu - Na cama?
Ela - Não. Na minha idade quero lá saber se ele é bom ou mau na cama.
Eu - Então?
Ela - Vai ter que limpar a banca da cozinha sem deixar restos de comida no ralo, mijar sem sujar a sanita e o chão da casa de banho, conseguir entrar em casa sem ir directamente para o sofá ver televisão e desinfectar uma ferida sem gritar como se o mundo acabasse amanhã.
Eu (risos)
Ela - Ri-te, ri-te. Estou farta de gajos.

1.12.2010

conversa 1399

Eu - Porque é que estás a olhar para mim tão fixamente?
Ela - É para a tua testa que estou a olhar...
Eu - Mas porquê?
Ela - Tens aí dois pontos negros que vou tirar.
Eu - Nem penses nisso.
Ela - Deixa-me.
Eu - Não. Qual é o gozo de tirar pontos negros?
Ela - É muito, é muito...

coisas que fascinam (93)

Há uns dias, em conversa com uns amigos, discutia-se a distância que pode haver entre a capacidade de amar alguém e a vontade de envelhecer com esse alguém. É que às vezes há de facto uma distância entre ambos os estados.
Uma amiga minha apagou uma vela com a ponta dos dedos e, tal como esse fogo, também as suas palavras se esfumaram num sorriso que me pareceu triste: "já amei alguns homens a sério mas nunca quis envelhecer com nenhum".
Não gosto muito, numa primeira análise, da ideia de envelhecer com alguém, principalmente porque me parece que a ela está associado um certo divórcio da vida. Melhor dizendo, dos outros. De todos os outros. Mas não é assim. Pelo menos não tem que ser assim.
Actualmente estou a passar a fase profissional mais complicada de sempre na minha vida, não me apetece nem posso explicar aqui porquê. Sei no entanto que estou a fazer os possíveis para me manter à tona da felicidade e dar a volta a isto. No entanto hoje senti-me a afundar lentamente e ao princípio da noite decidi andar um pouco à deriva numa cidade que não é a minha, entre alguns ombros embrutecidos e a indiferença dos outros. De todos os outros.
Foi num bar de esquina qualquer que, guiado por curtas mensagens de telemóvel, me acabei por encontrar com a minha companheira. Bebemos duas cervejas e comemos uns pratos de polvo com molho verde. Agora não sei bem explicar mas estou bem disposto. Gostava de envelhecer com ela... se puder ser. Entre todos os outros.

conversa 1398

Ela - Andei anos e anos a acreditar que ia encontrar um homem totalmente compatível comigo. Hesitei em muitas relações que até podiam ter corrido bem só porque na altura achei que ainda não era o momento nem a pessoa para mim.. E agora...
Eu - E agora o quê?
Ela - Agora, em vez de acreditar que vou encontrar esse homem sinto-me a ficar cada vez mais sozinha.
Eu - Tens muitos amigos.
Ela - Mas os amigos não chegam para tudo.
Eu - Pois não, é verdade. Mas ainda és nova. Tens a minha idade.
Ela - Com quase quarenta anos um homem é considerado novo para iniciar uma relação se já teve muitas mulheres, uma mulher que praticamente não teve ninguém perde o interesse. Os homens acham que ela tem falta de experiência. Foi esse o meu erro: tenho pouca experiência. Agora, cada vez que vou a um encontro vou nervosa e insegura.
Eu - Eu não acho que uma mulher perca o interesse por causa disso. Aliás, isso da experiência é uma tanga, pelo menos se estás a falar no plano sexual. Sexualmente só interessa uma coisa: é que as pessoas gostem mesmo muito uma da outra. Se for assim corre sempre bem.
Ela - Achas mesmo?
Eu - Acho?
Ela - Então se calhar nunca gostei de ninguém.

conversa 1397

(no restaurante)

Ela - Achas que o sexo anal pode dar em corrimento anal?
Eu - Ahn?
Ela - Achas que sexo anal pode dar em corrimento anal?
Eu - Eu percebi, eu percebi... só não acreditei à primeira que me tinhas perguntado isso...
Ela - Porque é que não acreditaste?
Eu - O motivo mais forte é estar agora a comer uma mousse de chocolate.
Ela - És muito sensível... é que uma amiga minha disse-me que está com problemas na retenção das fezes.
Eu - E depois?
Ela - Depois olha, pensei que podia ser por causa disso.
Eu - E porque é que pensaste isso, já agora?
Ela - O namorado dela é tão grande...

roxxxy music


É uma pena mas as bonecas insufláveis têm os dias contados. A Roxxxy já está no mercado e provavelmente vai aniquilar a concorrência. No entanto, não acredito que a grande vantagem desta boneca esteja nas suas capacidades sexuais, apesar dos seus 1,73 metros de altura, 54 quilos, sutiã copa C, pele sintética semelhante à pele humana, coração mecânico e um esqueleto que se move como um esqueleto humano. Afinal de contas levar para a cama um boneca não passa disso mesmo: levar uma boneca para a cama. A grande vantagem da Roxxxy é a sua inteligência artificial. É que Heines, o engenheiro mentor do seu cérebro, garante que "ela sabe aquilo de que o utilizador gosta. Se ele gosta de Porshes, ela também gosta. Se ele gosta de futebol, ela também gosta”.
Se for mesmo assim, a Roxxxy pode, por exemplo, gostar de ir ao domingo à tarde ver um jogo de futebol entre o Candal e o Coimbrões, a contar para a distrital do Porto. Já estou a imaginar os estádios de futebol cheios de Roxxxys nas bancadas, cada uma fazendo companhia ao seu utilizador com um sorriso nos lábios, chamando todo o tipo de ofensas à mãe do árbitro enquanto se baba com cascas de tremoços e pevides.
Mas nem só no futebol a Roxxxy tem vantagens relativamente às mulheres que são mesmo, mesmo, mesmo mulheres. É que finalmente os homens têm uma companheira que consegue gostar genuinamente dos seus actos mais masculinos, tipo coçar os tomates, cuspir para o chão uma verdinha enquanto ambos comem um gelado, tirar cera dos ouvidos ou ranhoca do nariz e depois lamber o dedo, roer uma unha e cuspi-la par o chão, etc, etc. Enfim... A Roxxxy é música para os meus ouvidos.

1.08.2010

sos


Da maior parte da publicidade dos anos 50, a ideia que dá é que as mulheres se passavam completamente com tudo o que tinha a ver com o trabalho doméstico. Basicamente, frigoríficos, aspiradores ou ferros de passar a roupa estão para os anos 50 assim como as drogas sintéticas estão para os anos 90. Por exemplo, se olharmos bem para a cara que esta mulher faz só por causa dumas pastilhas para limpar panelas, é a sensação que dá. A mulher está em êxtase total. Eu, se um dia chegar a casa e a minha namorada estiver assim, chamo logo os gajos do INEM, o que até tem um bocadinho a ver com o nome do produto aqui anunciado.

conversa 1396

Ela - Está tanto frio...
Eu - Pois está. Tenho um bocado de medo de me constipar a sério...
Ela - Eu tenho medo é que a minha pele seque...

1.06.2010

mamas aonde?


Este rapaz tinha uma tatuagem duma cowgirl na perna esquerda. Não contente com a coisa, decidiu fazer um implante de silicone na zona dos peitos da miúda para a coisa ficar mais realista. Não tenho nada contra e até acho bonito. Só espero é que as mulheres que tenham tatuagens com cowboys não sigam esta ideia, já que pode ficar pouco estético um implante fálico numa perna.
Palermices à parte, ao ver isto lembrei-me duma pergunta que uma amiga me fez aqui há uns tempo e que acho que já toda a gente fez a alguém: "quando olhas para uma mulher qual é a primeira coisa em que reparas?". Eu corei um bocadinho porque no caso dela é mesmo para as mamas, e depois desculpei-me dizendo-lhe que isso era no caso dela porque para além das mamas não se vê mais nada. Depois, enquanto estava a tentar endireitar os óculos do murro que ela me deu, perguntei-lhe também qual era a primeira coisa em que ela reparava quando olhava para um homem. "Para a conta bancária", respondeu ela. Depois continuou: "por isso é que não olho muito para ti". Eu não lhe bati...

1.05.2010

pensamentos catatónicos (194)

as árvores morrem de pé

As árvores morrem de pé, ouvi eu dizer muitas vezes quando era criança. A frase ficou-me sempre guardada num cantinho especial da memória. Depois descobri que esse era o nome de um telefilme português dos anos sessenta e, já como jovem adulto, vim a perceber o seu verdadeiro significado.
Era fim de tarde quando me deitei aconchegado pela sombra das árvores mortas do jardim. Estavam mortas e, para além de estarem de pé, também as pontas dos seus ramos se tocavam como mãos esquálidas de jovens apaixonados. Era mais ou menos essa a forma ideal de matar as saudades dum amor adolescente que não chegou a acontecer: tocar-lhe nas mãos como se fossem filamentos nervosos, mesmo na sua morte prematura Depois olhei para os meus dedos onanistas. Talvez eles se tivessem apercebido disso antes de mim: o amor deve sempre morrer de pé.

conversa 1395

(no café)

Ela (acendendo um cigarro) - Não me digas para não fumar, por favor. Detesto homens que me dizem para não fumar.
Eu - Não ia dizer.
Ela - Ias, ias.
Eu - Não ia, não.
Ela - Ias, sim senhor. Eu vi estampado na tua cara.

conversa 1394

(num shopping)

Ela - Lembras-te de quando dávamos aqueles passeios de bicicleta?
Eu - Sim... até tenho algumas saudades...
Ela - Já foi há tantos anos. O tempo passa num instante.
Eu - Pois foi... mas podíamos repetir isso um dia destes...
Ela - Podíamos, podíamos... mas agora ando mais caseira. Podíamos era comprar daquelas bicicletas de ginástica, sem rodas, e dávamos uns passeios em minha casa.

1.02.2010

falta de carácter, diz ela...



No seu livro "Les hommes, lamour, la fidélité" (Os homens, o amor, a fidelidade) lançado recentemente, Maryse Vaillant defende que para a maioria dos homens a infidelidade é quase inevitável porque os homens precisam do seu próprio espaço, Maryse acha mesmo que os homens que não têm casos extra-conjugais podem sofrer de uma fraqueza de carácter. Para ela os homens fieis "são homens que têm uma visão completamente idealizada da figura do pai e da função paternal. Não têm flexibilidade e são prisioneiros de uma imagem idealizada das funções do homem".
Lá está... se um gajo tem um flirt extraconjugal numa noite qualquer é um traidor e um insensível, se um gajo não tem é porque tem falta de carácter. Alguém sabe se há alguma nave pronta a partir para outro planeta qualquer nos próximos dias?

1.01.2010

conversa 1393

Ela - Agora na passagem de ano reparei que um amigo meu estava sem a namorada.
Eu - E depois?
Ela - Depois... como eles costumam ser unha com carne, andam sempre juntinhos, perguntei-lhe por ela e ele disse-me que ela tinha ido passar o ano com uns amigos ao Porto.
Eu - E o que é que tem?
Ela - Eu acho que quando uma mulher decide ir passar o ano com amigos do Porto, em vez de passar com o namorado em Aveiro, é porque alguma coisa está mal na relação...
Eu - Não obrigatoriamente.
Ela - Desculpa mas é...
Eu - Eu não acho...
Ela - Eu acho.
Eu - Eu não acho...
Ela - Eu acho.

antes preso do que com a mulher

Quero começar este novo ano por dar um grande abraço de solidariedade ao italiano que roubou alguns doces numa loja de conveniência para poder ser preso pela polícia. Tenho a certeza que o homem, que apenas queria passar o ano longe da mulher (ler no JN), está a passar um mau bocado...