7.31.2009

do lado do coração

a política também tem coração...

conversa 1293

(numa esplanada)

Ela - Porque é que estás a olhar tão fixamente para a miúda que estás atrás de mim?
Eu - Por nada... estava distraído...
Ela - Não é por ela estar com uma mini-saia curtíssima e de pernas cruzadas, pois não?
Eu - Não... mas como é que sabes que ela está de pernas cruzadas e de mini-saia?
Ela - Quando nos sentámos aqui reparei que quase todos os homens estavam a olhar discretamente para ela e pensei que me ias desiludir se também o fizesses... e fizeste.
Eu - Desiludir porquê?
Ela - Sei lá. És tão vulgar...

conversa 1292

Ela - O que eu mais gosto em ti é que tu não tens aquela coisa horrível de achar que os homens devem ser protectores em relação às mulheres. Detesto aqueles homens que sufocam as mulheres com tanta protecção...
Eu - Protecção como?
Ela - Abrem-nos a porta do carro, levam-nos a casa quando é de noite, chateia-se quando um homem qualquer olha para nós ou mete conversa connosco... enfim... não há pachorra...
Eu - Então agora, depois desta cervejinha, escuso de te levar a casa só porque é de noite...
Ela - Bem, hoje abro uma excepção e sim, podes levar-me a casa...

7.30.2009

conversa 1291

Ela - Tenho olhado para a minha relação e ando com uma dúvida enorme...
Eu - Qual é?
Ela - Não sei se estou com o meu marido porque preciso de companhia ou porque preciso de ser importante na vida de alguém...
Eu - Qual é a diferença?
Ela - Se eu estou com ele por precisar de companhia, acho que estou bem. Ele é uma excelente companhia. Se estou com ele porque preciso de me sentir importante na vida de alguém... talvez o meu casamento esteja em crise...
Eu - Tu gostas mesmo do teu marido?
Ela - Gosto... mesmo muito. Só que de repente percebi que tenho um romance com um homem que não é mais do que um amigo meu...
Eu - Se calhar para os nossos amigos somos sempre importantes, para os nossos amores é que não. Acho que, se calhar, os amores passam mais facilmente do que os amigos... e é por isso que duas pessoas apaixonadas que não são, de facto, amigas, se afastam definitivamente quando se cansam uma da outra.
Ela - Eu sou amiga do meu marido.
Eu - Ainda bem...
Ela - E ele é meu amigo.
Eu - Ainda bem...
Ela - Pelo menos acho...

pensamentos catatónicos (186)



Liu Bolin é um artista chinês que se pinta de maneira a confundir-se com os elementos da paisagem urbana, conseguindo tornar a sua presença invisível. O tema não é novo, retratar a solição do indivíduo nas grandes urbes, mas a forma como o faz sim, é inovadora. A mensagem de Liu é tão política que foi um dos muitos artistas que viu o seu atelier fechado durantes os Jogos Olímpicos de Pequim. É como se o governo chinês se recusasse a aceitar a esfera individual de cada um dos seus cidadãos...
Estava a ler um artigo sobre ele e a pensar como isto também acontece no amor ou na falta dele: uma pessoa tornar-se invisível para outra mesmo que viva com ela. E tal como o governo chinês, também dentro de casa há normalmente uma recusa em aceitar de imediato a situação. É por isso que às vezes fingimos que na nossa vida não há problema nenhum...

7.28.2009

conversa 1290

Ela - O que é tu queres para prenda de anos?
Eu - Quero jantar contigo. Não precisas de comprar nada, está bem?
Ela - Fixe. Então jantamos e pagas tu...

aveiro rossio hostel

Muitas vezes, à deriva pela despovoada cidade de Aveiro, pensei em como gostaria de ser um estrangeiro a conhecê-la pela primeira vez, talvez porque o amor também tenha sempre esse encanto da primeira vez. Agora, pela primeira vez também, a cidade tem um hostel para o efeito...

aveiro rossio hostel

distância...

Antes de permanecer algum tempo à porta do café, enquanto roía as unhas à espera dela, passei pela casa de banho para me ver ao espelho. Nunca me olho no espelho, nunca mesmo, e por isso tive alguma dificuldade em reconhecer de imediato aquele homem a forçar um sorriso do outro lado. Depois passei as mãos pela água fresca e molhei a cara, como se assim pudesse lavá-la também da noite mal dormida.
Como é que se reencontra uma namorada que já não se vê há mais de dez anos? Com um abraço forte ou com dois beijos na face? Não sabia... mas sabia que ao telefone a voz dela me tinha parecido demasiado distante e formal. Não distingui a marcação daquele encontro da marcação de uma qualquer reunião de trabalho. Depois, logo a seguir, veio a mensagem: "estou ansiosa por te ver de novo". Eu também estava mas não lhe respondi. A minha voz tremida tinha certamente chegado para ela perceber isso...
Depois decidi sentar-me e tentar afogar os meus nervos num copo de uísque. Sabia que era a primeira coisa para onde ela ia olhar e que me ia perguntar: "ainda bebes?", com um ar talvez desiludido. O uísque tinha acabado com a nossa relação e, na verdade, quase comigo. Por isso preparei-me para lhe responder: "não te preocupes. sobrevivi..." e talvez ela sorrisse.
É estranho nunca me ter esquecido do sorriso dela e ter mais saudades dele do que de outra coisa qualquer dela, incluindo o próprio sexo. Lembro-me duma vez em que me zanguei com ela por ter posto sal na sopa sem me ter perguntado se eu já o tinha feito. E eu já o tinha feito. E ela respondeu aos meus nervos com um sorriso tão doce que nem a sopa salgada azedou...
Também nunca me esqueci do sorriso dela quando saiu de casa pela última vez, mesmo ao virar a esquina do prédio onde desapareceu até hoje, e de pensar como até na tristeza ela sabia sorrir. E sabia mesmo. Nem me esqueci dos dias seguintes. Da louça suja e com restos de comida acumulada na banca da cozinha, das garrafas vazias de uísque espalhadas pelo chão e de um telefone silencioso, um silêncio tão alto que eu não ouvia mais nada.
O relógio grande do café, made in China, marcava três e vinte e quatro quando ela entrou. Sei-o porque, cobardemente, desviei o olhar dela e tentei concentrar-me na primeira coisa que apareceu. Foram as horas que apareceram... o tempo, e com todo o tempo que entretanto passou entre nós ela sentou-se à minha frente sem me abraçar, sem me beijar, sem sorrir. Era aquela a ansiedade que ela tinha em me ver de novo? Talvez fosse... mas percebi que, às vezes, o amor medeia a distância entre duas pessoas... e a essa distância torna-se tão pequeno que é preciso caminhar bastante para o tornar a ver melhor...

7.25.2009

conversa 1289

(com uma desconhecida respondona que se aproximou de mim no café)

Ela - Tem lume?
Eu - Não fumo...
Ela - Não lhe perguntei se fuma ou não. Perguntei-lhe se tem lume.
Eu - Tenho mas não empresto.
Ela - Também não lhe pedi emprestado. Só perguntei se tinha...

conversa 1288

Ela - Achas-me chata?
Eu - O quê?
Ela - Achas-me chata?
Eu - O quê?
Ela - Pronto. Achas-me chata. Se não achasses tinhas respondido logo que não.

pensamentos catatónicos (185)



A comunidade científica está convencida que Júpiter sofreu esta semana o impacto de um cometa que causou um buraco com um tamanho próximo do nosso planeta. O facto trouxe de novo a discussão sobre o perigo que representam os corpos celestes à deriva no sistema Solar.
Estava a ler um artigo qualquer sobre isto no jornal, enquanto tomava café, quando um casal na mesa ao lado minha começou a discutir fortemente por causa dele ter deitado o pacote de açucar no café dela. Pelos vistos ela não toma café com açúcar há poucos dias e ele, num gesto de boa vontade mas que não deixa de ser um gesto mais, fez asneira. Pouco tempo antes eles tinham entrado no café de mão dada.
Talvez o impacto de um cometa ou de um meteorito errante num planeta qualquer, seja parecido com o impacto destes gestos a mais numa relação. Vão criando buracos, uns maiores e outros menores, até um dia haver um dilúvio...

pensamentos catatónicos (184)

Moonwalk é um passo de dança que o Michael Jackson criou e que ficou para a História pela sua originalidade. Caracteriza-se por criar a ilusão que se está a caminhar para a a frente quando, de facto, se está a caminhar para trás.
Na verdade acho que o Michael Jackson pode ter inventado o passo mas não inventou o conceito. O conceito já existe no amor há muitos anos. Quantos de nós é que já fingiram, pelo menos uma vez na vida, que estão numa relação a andar para a frente quando na verdade estão a andar para trás?
Pois é...

agradecimento público ao Martinho da Vila

Ontem saí do trabalho a correr para ir ver o concerto do Martinho da Vila no Porto Beach Club. Com o pequeno 'senão' de não ter conseguido ver o concerto todo e com o grande 'senão' dos gajos do Porto Beach Club serem uns atrasados mentais, continuo a achar o Martinho da Vila um dos cantores mais geniais da actualidade.
Na verdade já tive muitos momentos bons na vida por causa da música dele e, por isso, este post é só para lhe agradecer a existência.

7.23.2009

mulheres que eu gostava de poder não compreender (82)



nome: Kumi Koda
origem: Japão
info: É uma cantora pop bastante conhecida no Japão. O ano passado teve um pequeno percalço na sua carreira artística por ter dito numa entrevista que gostava de ser mãe antes do trinta e cinco anos. Como os japoneses não batem bem levaram-na a mal e a produtora cancelou-lhe a promoção do disco. Está agora a tentar recuperar...
As mulheres asiáticas com estes olhos de amêndoa são sempre muito bonitas mas a Kumi também tem a voz e um... je ne sais quoi qualquer...

conversa 1287

Ela - Estou cansadíssima... isto de uma mulher ter que fazer tudo sozinha em casa é por demais...
Eu - Mas tu vives sozinha...
Ela - Sim, vivo sozinha mas se não vivesse era eu que tinha que fazer tudo na mesma... de certeza...

conversa 1286

Ela - Não é este mês que fazes anos?
Eu - É...
Ela - Quarenta e quantos?
Eu - Trinta e oito.
Ela - Ah! Pensei que já tinhas feito quarenta...
Eu - Estás a gozar, não estás?
Ela - Não. Como o ano passado não fui convidada para um certo jantar de que ouvi falar... não estou a par da tua idade.

7.22.2009

cheirar a cavalo...


[clicar na imagem para aumentar]

Neste anúncio dos anos 20 ao sabonete Dial, uma mulher está extremamente preocupada porque o seu namorado não lhe propõe casamento nem se aproxima muito dela. Uma amiga aconselha-a a usar Dial, o sabonete que acaba com as bactérias da pele que provocam odores, e o problema fica resolvido.
Melhor ainda, ela não se preocupa nada com o facto de ele cheirar ou não mal. Está assim comprovado que os homens podem cheirar a cavalo que elas não se importam nada. Neste Verão estou muito mais descansado...

conversa 1285

Ela - A sério que às vezes acho que o mundo era muito melhor sem homens...
Eu - Tem calma. Estás nervosa...
Ela - Como é que não hei-de estar? O meu marido acabou de me dizer que não vem jantar a casa porque vai com uns amigos não sei para onde. Só não o desanquei ao telefone porque estava no supermercado mas vou fazê-lo agora...
Eu - Ficas assim tão nervosa só por causa disso?
Ela - Claro que fico. Diz-me isso por telefone a esta hora, já eu estava a pagar as coisas para fazer o jantar.
Eu - Vê as coisas pelo lado positivo. Vens jantar a minha casa que eu vou fazer ameijoas à Bolhão Pato com uns amigos... e temos uma garrafinhas de branco. Com este tempo não há coisa melhor para fazer.
Ela (pegando no telemóvel) - Vou só telefonar ao meu marido...
Eu - Tem calma. A sério... não te chateies com ele. Só te vais chatear a ti também...
Ela - Não é isso. Eu disse-lhe para estar em casa até à meia-noite mas agora vou-lhe dizer para vir à hora que quiser... eu também tenho direito a noitadas.

conversa 1284

Ela - Estive a ouvir a tua rádio na net...
Eu - E então?
Ela - É intragável.

7.21.2009

o doce assassinato do silêncio...

Hoje é dia de Couscous Prosjekt no Clandestino bar. Por motivos profissionais eu vou chegar um bocadinho atrasado. A dj Moa Bird iniciará o doce assassinato do silêncio...

conversa 1283

Ela - Eu e tu...
Eu - Sim...
Ela - Devíamos ter aproveitado quando estávamos apaixonados um pelo outro.
Eu - Já me disseste isso uma vez.
Ela - E é verdade.
Eu - Pois é... pelo menos aprendi contigo que não devemos deixar oportunidades dessas passar.
Ela - E foi o que eu aprendi contigo também.
Eu - Então já serviu para alguma coisa...
Ela - Já...

beijo

Até onde é que nós queremos saber da vida dos outros? Os outros, aqueles que passam por nós na rua mas de quem não sabemos nada. Nem o nome nem a profissão, nem a idade nem onde nasceram, nem se se sentem tristes ou felizes. Nada. Os outros...
Quando na fila do supermercado um homem de meia idade paga as compras, reparamos se o está a fazer com cartão de débito ou crédito? Quando num café uma mulher fala alto ao telefone, tentamos perceber quem está do outro lado? Quando alguém nos pergunta uma direcção na rua, tentamos perceber de onde vem?
Hoje uma mulher bateu-me no carro por trás. Foi um toque pequeno, daqueles que mais parecem um beijo de sucata, e terá sido por isso que a primeira coisa que vi nela quando saí do carro foram os lábios. Tremiam. Tenha calma, disse-lhe. Ela abriu a carteira à procura do cartão do seguro e reparei que tinha uma fotografia tipo passe com o rosto de uma criança, depois pegou no telemóvel para avisar o ex-marido que estava atrasada. Os dedos também lhe tremiam. Em pouco tempo, mal ou bem, percebi que estava diante duma mulher a quem a vida anda a pregar partidas. Olhei para a traseira do meu carro e vi um pouco da tinta vermelha do carro dela. Era a marca do beijo. Tenha calma, repeti-lhe. Vamos embora que isto não é nada. Ela acalmou e disse-me adeus com a buzina quando, num qualquer cruzamento da cidade e da vida, nos apartámos um do outro. E fomos... beijados pelo alívio.

7.19.2009

astronauta

Entretanto enferrujou, a varanda onde me lembro de a ver a despedir-se de mim. Normalmente fazia-o lançando um beijo que nascia do toque dos seus lábios com a palma da mão direita. Eu ligava o motor e abria os vidros do carro para o beijo poder entrar. Depois arrancava com a mesma sensação que um astronauta tem quando é lançado no espaço: a de que se está apartar do seu mundo.
Entretanto também a nossa relação enferrujou. Ela deixou de vir à varanda enviar-me beijos, ficando-se por um tímido sorriso antes de fechar a porta do apartamento. Acho que durante algum tempo ainda espreitava pelo óculo para me ver enquanto esperava o elevador, mas com o tempo até isso deixou de fazer e eu também fui perdendo a sensação do astronauta.
Ainda não percebi porque é que vim até aqui neste fim de tarde. Sei que estou há alguns minutos a olhar para a varanda duma casa abandonada. Acho que talvez o vazio que entretanto a povoou me povoa também a mim, pelo menos às vezes. Sei que daqui a alguns minutos, quando ligar o carro e iniciar a condução em direcção à casa da minha companheira, me vou sentir de novo um astronauta. Um astronauta que está a voltar à Terra.

7.17.2009

conversa 1282

(ao telefone)

Ela - Disseste que ligavas esta semana. Hoje já é sexta e nada...
Eu - Desculpa, tens razão... estive tão ocupado que nem dei pelo tempo a passar. Tem sido uma semana terrível. A próxima já vai ser mais calma...
Ela - Ainda por cima pedes desculpa.
Eu - Claro que peço. Tens razão, eu disse que telefonava e não telefonei...
Ela - Mas não devias pedir. Assim nem posso discutir contigo.

conversa 1281

(no café)

Ela - Estas natas estão tão apetitosas. Pena que eu não as possa comer...
Eu - Não podes comer porquê?
Ela - Porque engordo, claro.
Eu - Oh mulher, tu não estás gorda. Come lá uma nata...
Ela - Não é só isso...
Eu - Então é o quê?
Ela - Hoje já comi duas...

as pessoas são músicas

Associar uma música a uma mulher é um processo quase automático em mim, assim como é automático o facto de me lembrar imediatamente duma mulher quando ouço uma dessas músicas. Fiz uma rádio na cotonete por causa disso...

7.16.2009

conversa 1280

(hoje em Matosinhos, comigo dentro do meu carro completamente perdido)

Eu - Desculpe... sabe onde é que fica a Glassdrive aqui em Matosinhos?
Ela - Não... mas sei onde é que fica a Glassdrive em Barcelos. Eu sou de lá...
Eu - Ah! muito obrigado, então... pergunto ali mais à frente.
Ela - Já reparou que tem o vidro da frente rachado?
Eu - Já, já...

o menino que chora

Se alguém tiver um quadro do menino que chora lá em casa pode entrar em contacto comigo. Dou duas coca-colas light por cada quadro ou, em alternativa, pago uma cerveja fresquinha que é bem melhor...

7.15.2009

défice

1] Entre a minha vida profissional, as exigências da minha actividade política, a minha vida amorosa e a escrita, a minha filha acabou por naufragar. Não há, para mim, muitas coisas piores do que olhar para a minha filha e sentir que ela está com um défice de pai, perceber que estou a falhar no que é mais importante para mim. Foi só por isso que estive uns dias sem aparecer aqui.

2] O défice, em Economia, tem também a ver com um consumo maior do que a capacidade produtiva. A propósito de défice de outra pessoa, já passei várias vezes por essa sensação. Acho que a sensação de défice acompanha sempre a sensação de amor e a relação entre ambas é, às vezes, parecida com a de Economia. Queremos consumir mais amor do que aquele que a outra pessoa produz.

Amanhã este blogue volta ao ritmo normal...

7.10.2009

conversa 1279

Ela - Sinto-me esquisita. Apetecia-me estar sozinha...
Eu - Compreendo. Tomo o café e vou embora... acho que vou à praia espairecer um bocadinho...
Ela - Então eu digo-te que me sinto esquisita e tu vais embora?
Eu - Não. Digo que vou embora embora porque disseste que querias estar sozinha...
Ela - Eu disse que queria estar sozinha porque me sinto esquisita. Não achas que primeiro devias averiguar porque é que me sinto esquisita?
Eu - Se dizes que te apetece estar sozinha, parto do princípio que te sentes esquisita porque precisas de estar sozinha e não estás. Tipo... podes precisar de pensar ou assim...
Ela - Tens a mania que sabes tudo, não tens?
Eu - Não... mas tenho a mania que sei ouvir os outros e por isso, quando uma gaja me diz que precisa estar sozinha, eu perto do princípio que ela está a falar a sério.
Ela - Já acabaste o café? Vai mas é embora e deixa-me em paz. Que seca...

7.08.2009

respostas a perguntas inexistentes (62)

Desta varanda vejo os telhados das casas que pontilham a cidade até à linha do horizonte. Ela telefonou-me há bocado e eu não lhe reconheci a voz. Respondi ao nome dela com um "olá, tudo bem?" morno, demasiado morno para alguém que não vejo há mais de um ano mas em que penso todos os dias. Sem remorsos, contudo. E depois desliguei o telefone e pousei-o num vaso com uma planta que caminha precipitadamente para a morte (a propósito, um dia destes rego-a). Silenciei-o a ele silenciando-me a mim.
Estou aqui a pensar na última coisa que lhe disse, numa manhã solarenga em Lisboa: "tenho que ir para o comboio... um dia destes telefono-te!". Depois não telefonei, silenciando-nos aos dois. Pergunto-me quantos destes telhados cobrem amantes que se preparam para deixar de o ser amanhã de manhã. Um, dois, se calhar centenas ou milhares. Se calhar nem é importante. A partir de amanhã todos os actos de amor desta noite passarão a ser memórias que vão secando. Como a minha. A propósito, um dia destes rego-a.

conversa 1278

(no café, quando um casal em que ela é muito maior do que ele se senta a duas mesas de distância de nós)

Ela - Não acho lá muito bem que num casal a mulher seja mais alta e mais pesada que o homem...
Eu - Porquê?
Ela - Olha, porque não...
Eu - Isso não é resposta.
Ela - Porque não acho bem e pronto. Acho que a mulher deve ser mais baixa...
Eu - Isso terá alguma coisa a ver com o facto de teres um metro e cinquenta e cinco?
Ela - Não... sei lá. Estás a gozar com a minha altura?
Eu - Não. Estou a tentar perceber o que se passa nessa cabeça.
Ela - Nesta cabeça passa-se que acho que o homem deve ser mais alto e pronto. É o que eu acho.

conversas 1277

Ela - Quando te separaste foste um bocado burro...
Eu - Fui um bocado burro porquê?
Ela - Comigo foste.
Eu - Está bem, contigo fui. Quero é que me expliques porquê.
Ela - Disseste-me que a tua mulher te tinha deixado, lembras-te?
Eu - Sim... tenho ideia de te ter dito isso.
Ela - Isso nunca se diz. Devias ter-me dito que tu é que tinhas deixado a tua mulher.
Eu - Mas... tecnicamente isso é mentira. A iniciativa foi dela... se bem que eu acho que a culpa, se é que a há, nunca é só de um...
Ela - Deixa-te lá de palavreado. Se tivesses dito que a tinhas deixado tinhas ficado muito mais interessante. Assim...
Eu - Assim o quê?
Ela - Assim até posso pensar que és um nerd a conversar ou, pior ainda, péssimo na cama...

7.07.2009

pensamentos catatónicos (183)



o caminho da morte

O caminho de Yungas, mais conhecido como o caminho da morte, ligas as regiões bolivianas de La Paz e de Los Yungas e tem uma distância de oitenta quilómetros. É provavelmente o percurso mais perigoso do mundo e estima-se que todos os anos morram entre duzentas a trezentas pessoas a percorrê-lo.
Para mim, o mais apaixonante deste caminho é ter tanto de perigoso como de belo. Acaba mesmo por ser um exemplo do que é a paixão e o amor: uma tentação que teimamos percorrer mas na qual podemos sofrer acidentes graves.
Sempre quis percorrer o caminho da morte mas às vezes pergunto-me se já não o fiz...

conversas 1276

Ela - Às vezes quando ouço os outros a falar de sexo fico triste...
Eu - Porquê?
Ela - Fico com a sensação de que está alguma coisa a passar-me ao lado.

conversas 1275

(à porta da casa dela)

Ela - Espera aqui fora um bocadinho...
Eu - Porquê?
Ela - Tenho que ir dar um jeitinho à casa antes de entrares...
Eu - Fico sensibilizado mas a sério que não precisas de te preocupar comigo. Se visses a minha casa...
Ela - Mas num homem isso é aceitável, numa mulher não.
Eu - Reparaste bem no que acabaste de dizer? Isso é uma asneira.
Ela - Eu não disse asneira nenhuma.
Eu - Não foi asneira, asneira. Isso de dizer que um homem ter a casa desarrumada é aceitável mas uma mulher não é que é uma asneira.
Ela - Ah! Ok... então entra que eu vou abrir a garrafa de uísque. Tens é que te sentar no chão porque os sofás e o bancos estão todos ocupados com roupa por passar...

7.06.2009

pim pim pim

A mim tanto me faz que a Maria João Pires seja portuguesa como brasileira. Aliás, da mesma mesma forma que tanto me daria que o Cristiano Ronaldo fosse brasileiro ou outra coisa qualquer. Agora... não consigo deixar de pensar que há uma enorme falta de humildade na forma como esta senhora diz que quer renunciar à nacionalidade portuguesa. Sobre isto não tenho mais nada a dizer...

medo

Ouvi isto hoje numa pastelaria em Aveiro: "O cabrão do meu marido pode andar a encornar-me à vontade, mas quando eu lhe puser isto nas cuecas vai coçar-se tanto que aquilo fica em carne viva e nunca mais trabalha".

conversas 1274

Ela - Estas bolachas são tão boas. Adoro bolachas de limão mas estas... onde é que as compraste?
Eu - Num hipermercado qualquer...
Ela - Devem ser caras...
Eu - Não. Na verdade são das mais baratuchas que lá estavam...
Ela - Logo vi que não eram assim tão boas...

conversas 1273

Ela - Achas a internet um bom sítio para conhecer pessoas?
Eu - Acho que é um sítio como outro qualquer. Só tens que ter um bocado mais de cuidado...
Ela - E como é que se tem cuidado na internet?
Eu - Opá... certifica-te que estás a falar com uma pessoa verdadeira e não com uma que não passa da imaginação de alguém. Hoje em dia quase toda a gente tem um hi5, um facebook, um blogue, um twitter ou outra porcaria qualquer... quando associado a um email não aparece mesmo nada... vai com calma... e se marcares um encontro opta por marcar num local público, tipo um café ou um shopping.
Ela - Só agora é que me dizes isso?
Eu - Querias que eu te dissesse quando?
Ela - Antes de eu ter dado a minha morada a um gajo que conheci na net...

conversas 1272

Ela - Sabes quando é que me sinto mais sozinha? Não é quando estou aqui em minha casa a ver televisão, a trabalhar ou na internet... aqui sinto-me no meu cantinho e sinto-me muito bem...
Eu - Então quando é?
Ela - É quando ando a passear e, por exemplo, quero partilhar alguma coisa que vejo com alguém e não tenho ninguém...
Eu - Hum... percebo... claro que percebo. Aliás, também acho que umas noites a sós em minha casa são essenciais para a minha sobrevivência intelectual.
Ela - Eu em casa não quero mesmo ninguém. Gostava era de ter um namorado que estivesse comigo sempre, e até viesse aqui de vez em quando dar uns amassos mas me deixasse dormir em paz, me deixasse ler em paz e me deixasse muitas vezes em paz...

casamento de cadáveres

Li no Correio da Manhã que, na China, cinco pessoas foram detidas por terem desenterrado dois cadáveres, de uma rapariga e de um rapaz que tinha acabado de ser enterrado, para os casarem.
O pai do rapaz queria casá-los para que o seu filho tivesse uma esposa para toda a eternidade.
Mais do que a tolice do pai, que me parece própria de alguém que não desejava sobreviver ao filho, reparei em como, um pouco por todo o mundo, o casamento não é uma consequência dum amor mas sim uma aposta para o futuro.

imagem de michael jackson aparece em restos de carne assada.



Uma família brasileira descobriu, na louça suja do jantar do dia anterior, uma imagem do Michael Jackson entre os restos secos da carne assada [ler no terra]. Provavelmente eu fui a única pessoa que não ficou surpreendida com esta notícia, já que acho perfeitamente natural encontrar uma face em restos de carne assada. A mim, pelo menos, já me aconteceu várias vezes algo muito semelhante: encontrar restos de carne assada numa cara conhecida.
A única coisa que me faz desconfiar disto é esta fotografia. Se aquela imagem desenhada naquele tabuleiro com restos de carne assada é a cara do Michael Jackson, eu vou ali e já venho. Assim queimadinha na zona do cérebro, até a Amy Winehouse é mais parecida com este assado do que ele. No entanto, e se isto se vier a revelar um bom negócio, tipo esta família começar a vender bilhetes a crentes que querem ver aqueles restos de carne assada, aviso já que nos meus cozinhados me têm aparecido também caras de pessoas famosas. Ainda ontem, por exemplo, me apareceu a cara da Madonna num resto de pudim de baunilha. Infelizmente tive azar porque ela ainda está viva... e comi-o.

7.04.2009

sento-me numa das cadeiras da cozinha e aninho a cabeça nas mãos que se abrem como uma taça

Encho duas vezes um copo com água da torneira que deito num tacho. Corto dois dentes de alho e acrescento algum, pouco, sal. Espero que a água ferva. Por estar doente não comi nada o dia inteiro e há pouco, quando subia as escadas do meu prédio, senti as pernas tremerem ligeiramente. Decidi comer arroz. Sento-me numa das cadeiras da cozinha e aninho a cabeça nas mãos que se abrem como uma taça.
É estranho estar sozinho em casa quando se está doente. Lembro-me sempre de ser criança e a minha mãe me levar um chá de limão à cama enquanto me media a temperatura com um termómetro de mercúrio. Mais tarde era a minha companheira quem fazia isso e eu a ela. E eu sentia-me bem na doença. Acho que a solidão que sentimos depende muito das nossas recordações.
A tampa do tacho dança com o movimento da água a ferver. Levanto-me com esforço e encho o mesmo copo com o arroz que depois ponho a cozer. Alguns grãos ficam presos na humidade do fundo do copo e por isso estico o dedo para os tirar. É um gesto simples mas que assim, doente, faço também com esforço. Sento-me numa das cadeiras da cozinha e aninho a cabeça nas mãos que se abrem como uma taça.
É estranho. As relações também são assim, quando estão doentes tudo o que se faz é com esforço. Um beijo, uma conversa, um jantar ou um simples passeio. Depois há a noite que espreita silenciosa pela janela, que é sempre muito mais silenciosa e muito mais noite quando estamos sozinhos. Acho que a solidão que sentimos depende muito do silêncio nocturno.
A tampa do tacho dança de novo. Levanto-me com esforço e desligo o fogão. Enquanto passo todos os grãos para um prato azul bebé o telemóvel toca. Tenho uma mensagem da minha companheira. Sorrio e respondo-lhe numa só palavra. Afinal não vou comer sozinho. Acho que a solidão que sentimos depende muito das pessoas que gostam de nós. Estejam elas onde estiverem.

7.03.2009

conversas 1271

Ela - Queres vir jantar comigo?
Eu - Não posso jantar. Ainda não comi nada hoje. Só trinquei uma maçã...
Ela - O que é que se passa?
Eu - Estou com uma intoxicação alimentar. Dói-me a barriga, a garganta, os braços e estou com calafrios.
Ela - Lá está... um homem do teu tamanhão armado em doentinho. Põe-te a mexer.
Eu - A sério... sinto-me mesmo mal. Não estou a fingir.
Ela - Se os homens soubessem o que é parir não diziam isso...
Eu - Lá vem essa conversa do parir... quando dás à luz não ficas um dia inteiro sem comer, pois não?
Ela - Estás com fome?
Eu - Estou a pensar em comida.
Ela - Gosto que digas isso quando falas comigo. Mas a mim não me comes...
Eu - Estou a pensar mesmo em comida. Comida a sério...
Ela - Bacalhau assado, polvo à lagareiro, bife do vazio e sobremesas geladas com chocolate...
Eu - Que é isso?
Ela - É para te fazer sofrer...
Eu - Não fazes. Já te disse que não tenho fome porque até me dói o estômago. Só penso em comida porque ainda não comi hoje.
Ela - Estás a pensar em comida sem fome... só pode ser em mulheres...
Eu - Olha.. ainda te como é a ti...
Ela - Vês? Isso querias tu...
Eu - Era por outro motivo..
Ela - Qual?
Eu - Para desapareceres...
Ela - Se queres que eu desapareça basta dizeres... eu vou-me embora.
Eu - Quero sim.
Ela (vai-se embora)

ovos, ps, namoradas e sei lá o quê...



Ontem, depois de pôr musica no Clandestino bar, cheguei a casa e fiz uns ovos estrelados. Estavam estragados e agora estou com uma intoxicação alimentar brutal. Há bocado fui a uma parafarmácia em Espinho e as duas senhoras atrás do balcão nunca mais me atendiam porque estavam a falar de dietas para emagrecer com outras duas senhoras. Estava sem forças para refilar e por isso esperei pacientemente. Venderam-me Diviten.
Estou com o sentido de humor pior do que o do Manuel Pinho (mas isso é fácil porque ele tem muito), e em vez de ir para uma reunião logo à noite queria era ir para casa da mulher de quem mais gosto neste mundo (pronto, empatada com a Mayra Andrade). Fiquem com este logotipo novo do PS, que fiz enquanto arrotava e pousava a cabeça na secretária, que agora estou incapacitado para escrever. Daqui a pouco tento...

7.02.2009

música com sabores



Este mês, as noites couscous no melhor bar do mundo, são a 2 e a 21, ou seja, uma delas é hoje...

a mulher indefesa


(clicar na imagem para aumentar)

Charles Atlas (1893-1972), um americano nascido na Itália, ficou para a História por ter criado o Bodybuilding, um método para um rápido desenvolvimento muscular do corpo. Na década de 40 lançou uma grande campanha para vender livros com esse método. Neste cartaz pertencente a essa campanha, um homem magricelas é humilhado perante a namorada por não conseguir protegê-la de outro, mais forte, que lhes atira inadvertidamente areia da praia para cima. Esse mesmo magricelas lê o livro, fica fortíssimo em pouco tempo e vinga-se. Finalmente a namorada parece respeitá-lo.
As conclusões que se tiram deste anúncio são duas. Primeira: ser forte e ter músculo serve essencialmente para bater nos gajos que se metem com a nossa namorada; segunda: as mulheres precisam de um homem para as defender. As conclusões que já não são assim tão claras mas não deixam de ser importantes também são duas. Primeira: a mulher não deve ter músculo que é para precisar de um homem que a defenda; segunda: os homens precisam de ter uma mulher para defender.
Eu acho tudo muito bem... mas por mim continuo a preferir beber uma cerveja na praia em paz e, se aparecer um atrasado mental qualquer a atirar-me areia para cima, peço-lhe calmamente que se afaste ou então fasto-me eu...

os pêlos do coelhinho

Narciso Mota, presidente social democrata da Câmara Municipal de Pombal, acha que "a homossexualidade não está em sintonia com aquilo que é a razão natural da vida" e gostaria que "houvesse terapeutas para tratar todas essas causas que dão origem a problemas complicados, e aquelas causas contraproducentes àquilo que é a essência da vida humana". [ler no notícias do centro]
Eu gostava de explicar ao senhor Narciso Mota que, para além dele não ter nada a ver com a orientação sexual dos outros, o que ele diz está completamente errado. A homossexualidade é apenas a capacidade que uma pessoa tem de amar outra do mesmo género. A Organização Mundial de Saúde já chegou a esta conclusão, o senhor Narciso (que lindo nome) ainda não. Eu gostava de lhe explicar isto mas, como não acredito que ele perceba, dedico-lhe este vídeo que me parece ir mais ao encontro da sua capacidade intelectual...

conversas 1270

Ela - Era tão simples os homens e as mulheres darem-se bem... mas isso depende dos homens e eles não querem...
Eu - Não querem?
Ela - Não... e era tão simples.
Eu - Como é que era tão simples?
Ela - Bastava eles começarem a urinar sentados. Assim não salpicavam a sanita e éramos todos felizes...
Eu (só em pensamento) - Foda-se!