11.30.2013

Poemarma

O Poemarma é um poema escrito pelo Manuel Alegre que o Rui Oliveira decidiu cantar. Foi para essa canção que fiz um vídeo. Espero que gostem. Bom dia para vocês!

11.29.2013

conversa 2052

Ela 1 - O Mário é mesmo um homem interessante!
Ela 2 - Achas?!
Ela 1 - Acho, por acaso acho. Tu não achas?
Ela 2 - Mais ou menos... como sou amiga dele há muitos anos nunca pensei nele como um amante, para ser sincera.
Ela 1 - Não?! Eu acho que ele é um naco.
Ela 2 - E deve ser sério. Nunca lhe conheci uma namorada...
Ela 1 - Ui! Acabei de perder todo o interesse nele.
Ela 2 - Porquê?
Ela 1 - Não gosto de automóveis em primeira mão. Prefiro-os usados.

11.28.2013

a primeira vez

Há demasiadas mulheres inteligentes que se deixam anular por homens estúpidos. Pode parecer um contra-senso, mas não é. Deve haver alguns homens que, depois de lerem esta primeira fase, chegam à conclusão que não há homens estúpidos, caso contrário não conseguiriam anular mulheres inteligentes. Errado. A estupidez não tem apenas a ver com o nosso pensamento dedutivo, mas também com o nosso comportamento, e quem se apropria da vida de outra pessoa é porque é estúpido. Ponto.
O que eu estou a dizer é que é muito mais importante o que nós fazemos com a nossa inteligência do que a nossa inteligência propriamente dita. Um homem que agride constantemente a mulher é estúpido, um homem que controla todos os movimentos da mulher é estúpido, um homem que manda calar a mulher também é estúpido. Por muito inteligente que se ache, claro.
Já sei que me vão dizer que também se passa o inverso. Obrigado, eu sei. Só que também sei que tenho quarenta e dois anos e nunca li no jornal que dezenas de homens foram assassinados pelas suas suas companheiras em Portugal, enquanto sobre mulheres mortas leio constantemente. Este ano foram trinta e três, num país do tamanho de um berlinde.
A violência doméstica não tem solução, se calhar porque a estupidez parece ser uma característica biológica e não cultural. Pelo menos nalguns casos. Por isso é que a coisa tem que passar pela primeira vez. E isto é um pedido que faço a todas as mulheres: a primeira vez que ele vos levantar a mão, a primeira que ele vos ameaçar, a primeira vez que ele fechar a porta de casa e esconder a chave ou a primeira vez que ele vos ofender, a única solução é dizer-lhe adeus. 
A estupidez funciona muito melhor quando está sozinha.

11.27.2013

conversa 2051

Ele - Já leste aquele estudo, duma universidade americana qualquer, que diz que ter sexo com a ex-namorada ou a ex-mulher faz bem à saúde?
Eu - Já. Por acaso li ontem na internet.
Ele - Eu também o li na internet e mandei-o logo à minha namorada, por email, a ver se a irritava. Ela costuma ter ciúmes da minha ex-mulher...
Eu - E ela Irritou-se?
Ele - Nem por isso. Respondeu-me logo, passado cinco minutos. Pôs-me um bocado a pensar..
Eu - Então?
Ele - Disse-me que o melhor é separarmo-nos já, a ver se o sexo entre nós nos começa a fazer bem.
Eu - Isso anda assim tão mal?
Ele - Pelos vistos...

11.25.2013

conversa 2050

Ela - Posso contar-te um desejo que tenho?
Eu - Podes.
Ela - Ando a precisar de me envolver com um homem mais novo do que eu.
Eu - Quanto mais novo do que tu?
Ela - Sei lá... preciso dum gajo que tenha aí vinte e cinco anos. Trinta no máximo, vá lá.
Eu - Tu tens quarenta e cinco, não é?
Ela - É.
Eu - Curioso...
Ela - O que é que é curioso?
Eu - Já te ouvi dizer várias vezes que os homens com quem te relacionaste quando eras mais nova eram imaturos e estúpidos a todos os níveis. Agora queres envolver-te com um?
Ela - Quero. Agora é que era bom arranjar um homem dessa idade. Já tenho experiência suficiente para o levar para a cama e não ligar nada ao que ele diz.

11.24.2013

sem título

Saí sozinho. Fui ter a um bar nos subúrbios de Aveiro onde estava uma mulher sentada no canto, pelo menos há uns trezentos anos, com um cão de guarda adormecido. Atrás do balcão, um homem que lia jornais desportivos já amarelecidos pelo tempo perguntou-me o que eu queria. Apeteceu-me dizer-lhe que me apetecia que houvesse paz no mundo, que o capitalismo acabasse duma vez por todas como pai do nosso modelo económico e que a Lena D'àgua nunca tivesse envelhecido. Pelo sim pelo não, acabei por pedir apenas uma aguardente CR&F.

- Tem CR&F? - perguntei.
- Tenho, mas também tenho mais baratas.
- Quanto é a CR&F? - assustei-me.
- Três.
- Pode ser.

A mulher com mais de trezentos anos olhava para mim. Eu sabia-o, embora ela não estivesse dentro do meu ângulo de visão. Há olhares que pesam sobre nós, mesmo quando não os enfrentamos. O homem, por qualquer motivo que nunca vou perceber, serviu-me duas CR&F duma vez e cobrou-me só uma. Em silêncio, cheguei à conclusão que ele sabe que quem bebe CR&F nunca bebe só uma. É uma questão estatística e, pela parte que me toca, tem razão.

- O Ronaldo é muito melhor que o Eusébio. - disse o homem.

A mulher com mais de trezentos anos riu-se, embora eu tenha dúvidas que saiba porquê. Pedi mais duas aguardentes com a condição de pagar só uma. Os bares dos subúrbios da cidade são embrulhos de solidão. É por isso que gosto deles. São os únicos capazes de pegar na solidão de várias pessoas e embrulhá-la duma forma bonita, como se fosse uma prenda de Natal.
Lembro-me de ter ido a este mesmo bar há uns oito anos atrás, pouco tempo depois do meu divórcio e quando me sentia o homem mais sozinho do mundo, com excepção de todos os outros, e de ter visto a mesma mulher com mais de trezentos anos e o mesmo homem a ler jornais desportivos.
Tal como as fases da Lua, há coisa que nunca mudam.


11.21.2013

respostas a perguntas inexistentes (266)

do Amor incondicional

Foi hoje que ouvi um amigo dizer que Ama incondicionalmente uma mulher. Disse-o ao meu lado, enquanto dividíamos uma garrafa de vinho e uma chouriça assada cortada em fatias pequeninas. Uns minutos antes, enquanto eu procurava desesperadamente palitos na minha cozinha para poder picar a chouriça, ele já me tinha dito que anda um bocado em baixo.
Andar um bocado em baixo e Amar incondicionalmente alguém são duas expressões que normalmente dão as mãos.O Amor sem condições não é Amor, é uma desistência de nós mesmos. Enfim, talvez também seja, no verdadeiro sentido do termo, uma infantilidade.
Digo-o, porque foi com a idade (talvez até tardiamente) que percebi a coisa. Agora só Amo com condições, sendo que a maior condição de todas é ser Amado também. Sem essa condição, o melhor que pode acontecer ao interesse por uma mulher é ser isso mesmo: um interesse, uma investigação, uma eventualidade.
Amar incondicionalmente já me aconteceu. Apercebi-me do erro quando dei por mim a mergulhar esse Amor em alguns copos de vinho, como estes que bebíamos hoje, mas sem chouriça, sem palitos e sobretudo sem amigo ao meu lado. O Amor incondicional é a mesma coisa que a solidão, porque quem Ama sem condições não se faz desejado por ninguém.
O vinho, tal como o Amor, deve ser sempre partilhado. E um amigo com quem dividir uma garrafa é bem mais importante que um Amor impossível.

11.14.2013

morte à "gaja boa"

Aviso: este texto é só para homens

Há uma relação directa entre a quantidade de vezes em que um homem chucha no dedo sozinho e aquelas em que diz que uma gaja qualquer é boa. Eu, sempre que ouço um tipo qualquer dizer que "aquela gaja é mesmo boa", tiro automaticamente a conclusão de que ele é apenas um pobre solitário, uma espécie de satélite longínquo do planeta em que queria tocar. A má notícia é que elas tiram a mesma conclusão. Com excepção, claro, da Scarlett Johansson, que é mesmo boa. Quando um gajo me diz que a Scarlett é mesmo boa, eu aceno afirmativamente com a cabeça e, lá está, passo a ser eu o satélite.
O problema da "gaja boa" não é apenas semântico. "Boa" podia querer dizer generosa (na maneira de ser e não nas formas) ou justa (na maneira de ser e não não nas formas), mas todos sabem o que é que aquilo quer dizer realmente. Não é que seja mau olhar para uma mulher por causa do seu impacto visual, mas é demasiado mau parecer um cachorro abandonado e a salivar, que é o que parece um gajo qualquer quando diz que "uma gaja é boa".
Por tudo isto declaro morte à expressão "gaja boa" e anuncio a boa nova, ou melhor, a mais ou menos nova. Devemos todos começar a dizer que as gajas são mais ou menos. É preciso ser inteligente e não parecer um cão que não come há duas semanas. Ao dizermos que uma gaja é mais ou menos, mantemo-nos no mesmo patamar dela. Impedimos que ela passe a olhar para nós como seres miseráveis e tristes que só pensam em sexo. Com excepção, lá está, da Scarlett Johansson. A essa podemos dizer que é boa, até porque é mesmo.
Se todos passarmos a dizer que as gajas são mais ou menos, não ofendemos ninguém e damos aos piropos um ar mais elegante e selecto. Com o tempo e com a habituação até podemos, eventualmente, começar a dizer coisas como "tu és mesmo toda mais ou menos" ou "mas que gaja tão mais ou menos". É melhor para todos, acreditem. As mulheres vão passar a olhar para os homens como seres que comem de faca e garfo, não fazem barulho a beber chá e nunca têm gases e, no final de contas, o desabafo pavloviano está lá na mesma.
Boa sorte, ou melhor, uma sorte assim assim.

11.13.2013

conversa 2049

Ela - Raios lá para os homens que não sabem engatar uma mulher!
Eu - Que homem é que não sabe engatar uma mulher?
Ela - Nenhum homem sabe. A verdade é essa.
Eu - É?
Ela - É. A maior parte pensa que com um carro de luxo, um ramo de flores e um jantar à luz das velas consegue o que quer...
Eu - E não consegue?
Ela - Claro que não. Não é isso que uma mulher procura num homem...
Eu - Então é o quê?! Pode vir a dar jeito...
Ela - Competição.
Eu - Competição?! Não atingi...
Ela - Lá está. Também nunca percebeste nada do assunto.
Eu - Então explica-me, por favor.
Ela - Um gajo tem que trazer concorrência com ele, que é para dar pica. Tem que ter outra gaja interessada nele, percebes?
Eu - Mais ou menos...
Ela - Qual é a mulher que se vai meter com um gajo a quem ninguém liga?! Se houver outra mulher no jogo, a coisa torna-se muito mais interessante.

11.12.2013

respostas a perguntas inexistentes (265)

o edifício

Era estudante e estava sentado num muro à espera dum colega meu, na cidade do Porto. À minha frente uma série de prédios, relativamente recentes, pareciam alinhados para admirar a Lua cheia que surgira por trás deles. Nas ruas não havia quase nenhum movimento pedonal, mas sobravam automóveis para dar e vender. 
Enquanto os prédios olhavam para a Lua, eu olhava para eles. As luzes interiores davam sinais de vida a um ritmo lento e, das janelas mais baixas, era possível ouvir alguns sons domésticos. As famílias que ali moravam começavam a jantar e eu, sozinho, continuava à espera que o meu colega chegasse. Dei-me conta de que, instintivamente, imaginara a vida de todas aquelas pessoas duma forma estereotipada. Para mim, todas as famílias que ali moravam eram compostas por um casal heterossexual e um ou dois filhos, com a mulher de avental e o marido a chegar a casa um pouco depois dela, já com a janta na mesa. Todos discutiam temas banais, como a política de panfleto ou um jogo de futebol qualquer. 
O meu colega acabou por não aparecer e eu, sem perceber exactamente como, fiquei ali até os edifícios se confundirem com o céu escuro e cada uma das minhas famílias estereotipadas adormecer. A verdade é que não dei pelo tempo a passar.
Na noite seguinte saí com alguns amigos e fui a um bar perto da Ribeira que eu gostava muito. Era calmo o suficiente para se poder ter uma conversa e movimentado quanto baste para não nos sentirmos isolados do mundo. Quando me virei para o balcão, para pedir a segunda cerveja, uma mulher que estava noutra mesa levantou-se e veio ter comigo. Perguntou-me se tinha sido eu a passar a noite anterior inteira sentado num muro que dava para a janela dela. Que sim, respondi, e expliquei-lhe a história toda.
Também ela me tinha visto da mesma forma estereotipada. Estando eu ali, toda a noite sozinho em frente a um edifício, só podia estar apaixonado por alguém que não me ligava nenhuma. Estaria numa de sofrimento, à espera que um milagre se desse e a minha paixão viesse à janela.

- Estava só à espera dum colega que não apareceu... - disse.

Eu e a Ana ficámos amigos. Provavelmente, e digo isto sem certezas, vivemos uma amizade tão intensa quanto incomum. Sei que sempre que entrei na casa dela, durante os anos em que fomos próximos, pensei em como a minha percepção da vida naquele edifício tinha sido errada. Quanto mais não seja, a Ana mostrou-me isso. Agradeço-lhe.

11.11.2013

conversa 2048

(na casa dela)

Eu - Compraste um peixinho vermelho...
Ela - Comprei. Sempre me faz companhia, agora que vivo sozinha. Gostas?
Eu - Para ser sincero não. Peixinhos vermelhos em aquários redondos sempre me fizeram impressão.
Ela - Porquê?
Eu - Porque são atrofiantes. Não acredito que um peixinho, ali naquela coisa minúscula, possa ser feliz.
Ela - Os peixinhos vermelhos não são felizes nem são tristes. Não têm essa capacidade.
Eu - Não?!
Ela - Não. Limitam-se a comer quando lhes dão comida. De resto, não são seres pensantes.
Eu - Então que raio de companhia é que o peixe te faz?
Ela - Lembra-me o meu marido.

11.09.2013

conversa 2047

Eu - Queres vir até minha casa beber um copo de vinho?
Ela - Isso é uma tentativa de engate?
Eu - Não.
Ela - Então não vou.
Eu - Não me digas que se fosse para eu te tentar engatar já ias.
Ela - Claro que ia, só que ia para não me deixar engatar.

11.08.2013

conversa 2046

Ela - Eu, que detesto homens ciumentos, logo tinha que ir dar com um...
Eu - O teu marido é ciumento?
Ela - Nem imaginas. Parece muito calminho mas depois, em casa, faz cada cena de vez em quando.
Eu - Espero que nunca tenha feito nenhuma cena por minha causa.
Ela - Por tua causa nunca fez, mas faz por causa dos meus amigos que eu acho giros.
Eu - Ah!

11.07.2013

respostas a perguntas inexistentes (264)

Sentei-me na mesa do café que me pareceu mais apetecível, isto é, naquela que me tornava o mais transparente possível. Todos os clientes estavam virados para o televisor e, naquele meu canto, nenhum dos seus olhares se cruzava comigo. Até a empregada de mesa demorou algum tempo a dar pela minha presença e, quando finalmente se aproximou, pediu-me desculpa.

- Não há problema.  Queria um café e uma Macieira, por favor.

Não sei se já vos aconteceu ter o cérebro divido em dois, como se um dos hemisférios estivesse em plena actividade e o outro tivesse tirado algum tempo para sonhar. Era assim que eu estava. Por um lado, sentia-me pela primeira vez capaz de perceber tudo o que me tinha acontecido, de pegar nos factos e colocá-los numa linha de pensamento como se fosse um puzzle terminado. Finalmente, pensei. Por outro lado, sentia-me numa espécie de planeta gigante onde eu era o único habitante. Podia fazer tudo o que me apetecesse e não tinha receio nenhum da solidão. Por algum motivo, sabia que mais tarde ou mais cedo aterraria ali uma nave qualquer com uma mulher por quem me ia apaixonar.
Primeiro bebi a Macieira, num só golo ansioso. Depois beberiquei o café, gozando plenamente a mistura do seu sabor com o do brandy. Apercebi-me que o meu paladar estava bastante apurado. Depois abri um livro que comecei a ler nesse preciso momento, mas propriamente, O Processo, de Franz Kafka.
Dois anos antes, tinha eu dezasseis anos, apaixonei-me com a intensidade única que aquela idade permite por uma mulher bastante mais velha do que eu. Chamava-se Cristina, tinha trinta e poucos anos e cheirava sempre ao mesmo perfume, algo que me fazia lembrar longas extensões de campos verdes. Era casada com um homem qualquer que nunca cheguei a conhecer, mas que estava emigrado no Canadá e não dava notícias de vida há bastante tempo. Assim, juntaram-se por mero acaso um jovem surpreendido pelo Amor e uma mulher já desiludida com esse mesmo Amor.
Lembro-me que estava uma chuva intensa no dia em que ela me levou àquele café para se despedir de mim. Já me tinha dito que se queria afastar, mas faltava explicar o motivo, se é que o motivo para acabar uma relação é importante. Sinceramente, não sei se é. Sei que esperava que ela me viesse com aquela conversa habitual de que as nossas idades eram incompatíveis, ou que me anunciasse que o marido dela decidira aparecer de repente. Mas não.

- Exactamente daqui a dois anos, quando tu já fores maior de idade, se eu ainda estiver apaixonada por ti venho aqui a este café e espero toda a tarde que apareças.

Era fim de tarde e ela ainda não tinha aparecido. Paguei a conta, que entretanto contava com mais duas cervejas e uma torrada, e saí. Talvez tenha sido a primeira vez que o Amor me explicou que não vem sempre para ficar. Que é um viajante como qualquer outro que só está bem onde não está.
Às vezes ainda me pergunto, no entanto, se nesse dia ela se lembrou de mim.

11.06.2013

conversa 2045

Ela - Quantas vezes é que já te disseram que te amavam profundamente?
Eu - Não sei...
Ela - Não sabes?! Foram assim tantas?
Eu - Não, não é isso. Não sei e pronto. Se calhar até foi só uma, mas mesmo assim não sei. Não me lembro...
Ela - A mim disseram-me vinte e oito vezes.

11.05.2013

conversa 2044

Ela - Como tenho Sport Tv, amanhã vou juntar algum pessoal lá em casa para ver o Zenit - Porto. Queres vir?
Eu - É melhor não, obrigado.
Ela - Todos os homens que eu convidei disseram logo que sim. Tinhas que ser a ovelha ranhosa...
Eu - É que actualmente nem costumo conseguir ver um jogo de futebol até ao fim...
Ela - Mas vem na mesma. Não é só para ver o jogo, é para estarmos todos juntos a beber um copo e a conversar na boa.
Eu - Hum... talvez vá, então. Eu até quero que o Porto perca.
Ela - Queres que o Porto perca?! Porquê?!
Eu - Joguei no totobola e apostei na vitória do Zenit...
Ela - É melhor não vires, então. Ainda acabo por me chatear contigo...
Eu - Então e aquela coisa de estarmos juntos a beber um copo na boa?
Ela - Esquece. Fica para outro dia.

11.04.2013

pensamentos catatónicos (301)

O Público dizia, na capa da sua edição de ontem, que os casamentos em Portugal estão a durar mais e os divórcios a cair. A culpada principal é a crise, que torna os membros de cada casal economicamente dependentes um do outro. É a confirmação de que este país está cada vez mais uma merda. A Economia já não controla apenas o Amor, mas também o desAmor.
Não foi neste país que eu nasci. Na verdade, já nem sei onde é que está esse país em que eu nasci, mas um dia destes saio daqui e vou procurá-lo noutro sítio qualquer. Talvez o encontre, talvez não, mas sei que está exactamente onde as pessoas acordam umas ao lado das outras todas as manhãs porque gostam uma da outra. Só por isso, não por outro motivo qualquer.
O Amor não é um contrato, nem sequer uma promessa. É cada suspiro que damos quando estamos afastados de quem Amamos, cada gota de suor que partilhamos. No final é cada dia que passa. Não cada ano financeiro. Mais um bocadinho e os contabilistas começam a ter uma alínea orçamental para o Amor. Este ano podemos Amar-nos até duzentos e cinquenta euros. Depois disso acabou porque temos que comer qualquer coisa. Nada mau.
Um país é tanto pior quanto o número de ombros que se encolhem para não enfrentar a vida, e Portugal é um país de ombros encolhidos perante tudo e mais alguma coisa. Encolhemo-nos agora perante a evidência que, depois de perder tudo, perdemos também a capacidade de Amar.