conversa 1750
(no café)
Ele - Quando me divorciei, a pior sensação que tive é que se desmoronava tudo o que eu e a minha mulher estávamos a construir.
Eu - Quando eu me divorciei, a melhor sensação que tive foi perceber que o Amor não é construção nenhuma.
Ele - Como assim?
Eu - O Amor não é para construir nada, pá. Ou vem com tudo feito ou então não é Amor. É outra coisa qualquer.
Ele - A vida a dois não é uma construção?
Eu - Não. A ideia de construção implica pensar num futuro. O Amor quer é ser feliz no presente e não pensar muito no resto.
Ele - Uma vez disseste-me que querias encontrar uma pessoa com quem pudesses envelhecer, e quando conheceste a Raquel disseste-me que achavas que já tinhas encontrado essa pessoa. Eu lembro-me.
Eu - Também me lembro.
Ele - Então?...
Eu - Então ela é essa pessoa porque me parece que consigo ser feliz com ela todos os dias, em vez de acreditar que vou acabar por ser feliz daqui a uns tempos.
Ele -Ah! De facto há alguma lógica nisso.
Eu - É a lógica dos políticos de tanga que temos tido neste país. Os governos do PS e do PSD andaram anos a pedir para apertarmos o cinto em nome de um futuro melhor. O futuro já chegou e é a merda desta crise.
Ele - Olha! Dito assim parece a relação que eu tive durante mais de dez anos. Sempre a pensar que um dia a coisa ia melhorar e os dias iam passando...
Eu - Bem vindo ao clube.
Ele - Mais um uísque?
Eu - Não. Já bebi um e chega.
Ele - Só mais um. Eu pago. Estou a ficar feliz com uma conversa, pela primeira vez desde que me divorciei.
Eu - Ok, só mais um.