Adriana Varejão nasceu no Rio de Janeiro em 1964 e, segundo a própria, a sua pintura é uma forma de contar histórias que não pertence a qualquer era ou tempo. É modelada pelas violações. No seu trabalho, a cultura brasileira, desde a era colonial até a actualidade torna-se numa metáfora do mundo moderno.
Adriana trabalha essencialmente em cerâmica, fazendo despropositadamente uma ponte entre Macau, Portugal e o próprio Brasil, já que foram os portugueses que no século XIV importaram a cerâmica decorativa de Macau e a exportaram para o Brasil. Essa ponte, está no entanto propositadamente presente na temática dos seus trabalhos, extremamente sensoriais, e que revela o ponto de vista dum povo maltratado pela História colonial.
No caso desta pintura, chamada Filho Bastardo, não foi utilizada cerâmica mas sim tela e madeira. Escolhi-a porque do que conheço é a que melhor faz a ponte entre o passado e o presente. Nela, um padre viola uma mulher africana e dois soldados torturam uma mulher branca presa a uma árvore. Ao meio, como se fosse um corte independente de toda a pintura, uma ferida em forma de vagina parece querer assaltar o observador. E assalta mesmo.
Incomodam-me as pessoas que não se incomodam com nada. Adriana Varejão é certamente uma mulher incomodada... e ainda bem.