bom fim de semana
Na prateleira as garrafas parecem uma fila de supermercado. Por trás há uma tabuleta que diz que são apenas para consumo da casa, e depois um espelho cansado. É nele que me vejo a dar um último gole num copo de uísque novo. A garrafa de onde ele saiu chama-me discretamente, com algum desdém: “bebe outro, bebe outro”. A infelicidade é o princípio do desdém. Talvez a garrafa seja infeliz por apenas abastecer copos a pessoas sós.
O balcão é uma passerelle de pessoas sós. Um homem à minha direita denuncia-se enquanto marca no telemóvel o número dum anúncio da página relax. São homens divorciados, talvez duma mulher qualquer, talvez também da vida. Todos empurram para a frente os copos vazios, ou as chávenas de café vazias. Agora um lê os anúncios do jornal, outro é fumado pela lentidão dum cigarro, outro rói as unhas e vê um programa na televisão que ainda não percebeu muito bem qual é. E eu? Eu vejo-me reflectido no espelho, mesmo por trás da garrafa que me chama. Bom fim de semana, desejo-me. Talvez seja melhor sair daqui.
Hoje vou buscar a minha filha, amanhã almoço em família e janto com amigos. Domingo ainda não sei. No quero saber. Levanto-me, apoiando temporariamente as mãos no balcão sujo. Colam-se. Descolo-as. Bom fim de semana, desejo-vos. Talvez seja melhor saírem daí, da frente do computador. Talvez, não tenho a certeza. Só um bocadinho.