3.31.2014

conversa 2083

(ao telefone)

Ela - Anda cá a casa beber um copo, que eu estou farta de beber sozinha.
Eu - Estás farta de beber sozinha?!
Ela - Sim.
Eu - Então pára.
Ela - Não consigo. A única forma é vires cá a casa.
Eu - Para parares de beber?
Ela - Não, para beber acompanhada.

3.26.2014

pensamentos catatónicos (303)

Um abraço

Há duas palavras que eu detesto: "empreendedorismo"  e "sucesso", porque actualmente as duas estão tão próximas uma da outra quanto distantes. Por isso, mas também porque detesto fingimentos e lonjuras. Ser empreendedor ou ser um self made man é ser a antítese do Amor. A merda deste país acabou nestas duas palavras. Fala-se do sucesso dum amigo porque ele tem emprego ou abriu uma lojeca qualquer numa esquina da cidade, nunca porque ele está apaixonado apesar dos seus quarenta anos. Não me fodam, a felicidade não passa por aí.
O Amor também não é felicidade, é verdade. O Amor é estar vivo, é estar sempre nos píncaros da felicidade ou da tristeza profunda. Nada mais. Mas é isso que é estar aqui, tão vivinho quanto a sardinha que salta no cais depois de apanhada. Este país cansa-me porque já nem sequer sabe estar triste. Não sabe sofrer. Só sabe falar em palavras vãs como empreendedorismo e sucesso. Fala-se nisso, depois morre-se.
Tenho uma má notícia para todos os que  consideram que o seu sucesso passa por ter um pequeno negócio ou por uma pequena empresa que lhes permite sobreviver: isso não vale uma merda. O que vale é, tendo uma loja, sorrir para os clientes, apaixonarmo-nos todos os dias, dar a mão a um Amor todas as manhãs. O resto é folclore. Até eu estou a abrir um negócio. Não para viver, mas sim para sobreviver.
Este país cansa-me porque já nem sequer é um país. É um pequeno grupo de gente que busca uma conta bancária confortável, apesar de nunca o conseguir, e acha que isso é normal. É um país que não fala de Amor, é uma coisa sem vida que nem triste consegue ser. Eu não quero ser parte disto, até porque ainda me apaixono todos os dias. 
Agradeço à mulher que hoje, no Parque Infante Dom Pedro, me pediu um abraço. Um abraço nunca se pede, porque quando se dá também se recebe. É isso, um abraço troca-se. É por isso que é tão bom abraçar. Só por isso. Tenho pena de quem ainda não chegou lá. Ela chegou lá hoje. Eu também.

3.24.2014

conversa 2082

Ela - Não te devias vestir assim.
Eu - Assim como?
Ela - Tão mal.
Eu - Achas que me visto mal?
Ela - Acho. É como se pegasses na primeira roupa que te aparece à frente e a vestisses...
Eu - É mais ou menos isso, sim.
Ela - Vês?! Dá-te um ar de abandono. As mulheres não gostam de homens abandonados.
Eu - Na verdade, neste momento é-me igual ao litro o que as mulheres gostam ou deixam de gostar.
Ela - Ainda por cima antipático.
Eu - Uma mulher que ligue muito a isso torna-se desinteressante, percebes?
Ela - Eu ligo.
Eu - Eu sei.
Ela - Sou desinteressante?
Eu - Sim.
Ela - É melhor ir-me embora, então.
Eu - Não te esqueças de pagar o café.
Ela - Só pago o meu.
Eu - Claro.

conversa 2081

Ela - É incrível como é que há homens adultos que ainda acham que, para uma mulher, o tamanho é importante...
Eu - O tamanho de quê?
Ela - De que é que há-de ser?!
Eu - Ah! E é importante ou não?
Ela - Claro que não.
Eu - Okay...
Ela - Desde que não seja demasiado pequeno, nem demasiado grande.

3.21.2014

conversa 2080

(com uma estranha, hoje, numa rua em Aveiro)

Ela - Sabe-me dizer onde é que fica a Segurança Social?
Eu - Sei, é este edifício aqui com cerca de vinte andares.
Ela - Caramba! Já passei aqui tantas vezes e ainda não o tinha visto.

3.20.2014

conversa 2079

(numa esplanada)

Eu - Estás com ar pensativo...
Ela - Sim, estava aqui a olhar para as pessoas...
Eu - E?
Ela - E não percebo porque é que os homens engordam à frente e as mulheres engordam atrás...

3.18.2014

conversa 2078

Ela - Para mulheres como eu, não é fácil manter uma relação próxima com um homem.
Eu - O que é que tem ser uma mulher como tu?
Ela - Gosto de dormir na diagonal da cama e de ocupar o colchão todo. Durmo mal se sinto alguém a mexer ao meu lado...
Eu - Podes sempre ter duas camas. Uma para ti, outra para ele.
Ela - O meu ex-marido dormia no chão.
Eu - E ele aceitava isso? Se tu é que estavas mal, ias tu para o chão.
Ela - Eu gosto de dormir na diagonal da cama, não na diagonal do chão.

3.17.2014

Não chegámos a ir à Islândia!

Acabei de pegar num livro que li há alguns anos. Já não me lembro de nada do que está escrito nas suas páginas. Nem da história, nem sequer do estilo. Lembro-me apenas que gostei muito de o ler. Na verdade, é exactamente essa a memória que tenho de nós os dois. Já não faço a mínima ideia de como foram os nossos dias juntos. Sei apenas que gostei deles.
O livro chama-se Gente Independente e é de um escritor islandês. Sei isso porque uma das poucas coisas de que me lembro é que tu o conhecias. Eu não, apesar de ser eu quem o andava a ler.

- Estás a gostar? - perguntaste.
- Sim.
- Porque é que andas a ler um autor islandês?
- Porque me ofereceram este livro. Só isso.

Deste-me um abraço e afogaste a tua vontade de rir no meu peito, como se te quisesses aninhar na minha camisola de lã grossa. Achavas que era estúpido andar a ler um livro sem me informar sobre o autor. Depois respiraste fundo.

- Um dia vamos os dois à Islândia! - decidiste.
- Está bem.

Encontrei-te muitos anos depois, numa altura em que já não te aninhavas em mim. Demos dois beijos na face e perguntámos um ao outro como estávamos. Bem, respondemos abanando os ombros. De um Amor de Verão pode não sobrar quase nada, a não ser a memória de que foi bom.

- Quando duas pessoas marcam uma viagem para data incerta, para um futuro qualquer, é uma forma de prometerem que querem ficar juntas até lá...
- Não chegámos a ir à Islândia! - respondi.

Sorriste.

conversa 2077


Ela - Ando com a libido tão em baixo e o meu marido não me dá tréguas...
Eu - É normal isso, principalmente nas mulheres.
Ela - É que os problemas da vida afectam-me muito. São as contas por pagar, é o emprego de merda que eu tenho, é a nossa casa que precisa de obras urgentes...
Eu - E isso não o afecta a ele também?
Ela - Afecta, mas ao contrário. Ele diz que quanto pior está a vida, mais importante é o sexo...

3.15.2014

pensamentos catatónicos (302)

a verdade é que ele é uma besta!

As mulheres falam demais. Lembro-me de ler um estudo científico qualquer que demonstrava esta evidência. Já não me lembro bem, mas era qualquer coisa como uma diferença média de cinco mil palavras por dia. As mulheres chegam em média às oito mil, enquanto os homens se ficam pelas três mil. Era qualquer coisa parecida com isto a que, em abono da verdade, não dei muita importância.

Lembrei-me disso hoje porque passei a noite na casa duma amiga. Entre alguns copos de uísque e uns aperitivos saborosos, a nossa conversa não deve ter ficado muito longe desta relação entre géneros. Não fui eu que cheguei a esta conclusão, foi ela. Antes de se despedir de mim disse-me, com um misto de sorriso e vergonha, que as mulheres falam demais.
Não é bem verdade. Ela falou bastante mais do que eu, mas não falou demais. De qualquer maneira, no caminho que fiz para regressar a casa, a pé e de cerca de três quilómetros, pareceu-me que os homens é que falam de menos. Um grupo de adolescentes a destruir caixotes de lixo ao pontapé, uma mulher que me pediu "boleia" porque estava ser seguida por um homem e uma cena de pancadaria entre dois gajos bêbados. Se a estatística interessa, eram todos homens, os autores das cenas miseráveis desta noite.
Falar de menos dá nisto. A violência e a agressão são sempre o défice de outra coisa qualquer. Da inteligência, da percepção e talvez da capacidade que se tem de comunicar. É por aí que muitos homens falam de menos. Se for possível ter vergonha de género, hoje tive.
Pelo caminho, e depois de deixar a mulher que me fez companhia à porta dum hotel da cidade, lembrei-me só do que gostava de dizer à minha filha: "Se um dia qualquer um gajo te agredir ou levantar a mão por impulso num gesto ameaçador, a coisa não tem solução mesmo que ele se desculpe e prometa mudar. A verdade é que ele é uma besta!".

3.14.2014

conversa 2076

(ao telefone)

Eu - Olá. Por acaso não estás com o teu marido? Não atende o telefone e preciso urgentemente de falar com ele...
Ela - Ah! De facto o telemóvel dele tocou. Ele saiu a correr e deixou-o cá em casa, mas daqui a uns minutos já deve estar aí outra vez.
Eu - Mas está tudo bem?
Ela - Está. Foi só à casa de banho.
Eu - Saiu de casa a correr para ir à casa de banho?!
Ela - Sim, nós só temos uma e eu estou a estudar. Foi ali ao café da frente...
Eu - Estás a estudar na casa de banho?!
Ela - Sim, porquê?!
Eu - Por nada. Pronto... eu já ligo de novo.

3.13.2014

conversa 2075

Ela - Meti uma série de revistas velhas do meu marido no lixo, mas agora estou a pensar por que motivo as teria ele tão bem arrumadinhas numa gaveta...
Eu - Ui!
Ela - Achas grave?
Eu - Acho gravíssimo. Ele já sabe?
Ela - Não, não sabe. Vou-lhe contar logo quando estivermos os dois a lavar os dentes.
Eu - A lavar os dentes?! Porquê a lavar os dentes?
Ela - Porque os homens não conseguem falar enquanto lavam os dentes. Assim falo só eu e vou-lhe explicando que estou pronta para o sexo antes de adormecer, a ver se ele se acalma...

3.12.2014

coisas que fascinam (166)

Um destes dias um amigo perguntou-me porque é que eu, se estou apaixonado, continuo a viver sozinho. A minha resposta foi imediata. É por isso mesmo, porque estou apaixonado.
Aprendi com a vida (a minha, não a dos outros) que a eternidade do Amor é uma mentira. É por isso que, quando me acontece Amar alguém a sério, tento que esse Amor se prolongue por toda a minha finitude. É que o Amor é finito, tal como cada um de nós. O meu objectivo é que o meu Amor e eu próprio possamos morrer no mesmo instante. Não é um jogo, é por ser mais feliz assim.
Se não tivermos cuidado, o Amor vai-se mais depressa do que um gelado numa tarde de Verão, daqueles que sabem muito bem mas se derretem na própria mão.
É que o mais difícil no Amor é precisamente que Amar não chega para nada. Amar, só Amar, é igual a zero. Talvez até menos que zero.
Quando dizemos ou pensamos que Amamos alguém, estamos apenas a dizer ou pensar que queremos ser Amados por esse alguém. É por isso que o Amor não é uma dádiva nem uma partilha. É um pedido, é uma exigência, é um amuo perante os dias que passam.
Eu cá, quando sou Amado, ou pelo menos sinto que sim, pego no meu gelado e vou saboreá-lo para a sombra tão devagar quanto possível. É só isso.

3.11.2014

conversa 2074

Ele - Estou mesmo feliz. Se quiseres sair esta semana, encontro-me divorciado.
Eu - Divorciaste-te?!
Ele - Não, mas esta semana a minha mulher está em Madrid numa conferência qualquer, por isso é como se estivesse. Posso sair até à hora que me apetecer, meter-me com mulheres e jantar fora. Posso fazer tudo o que me apetecer!
Eu - Desculpa lá, mas dito assim parece mesmo que o teu casamento é uma coisa sofredora.
Ele - Não são todos?
Eu - Se calhar são, passado algum tempo.
Ele - Então mudemos de assunto e deixa-me aproveitar esta semana.
Eu - Okay, desculpa.
Ele - Mas agora que penso nisso...
Eu - Que pensas nisso, o quê?
Ele - Será que a minha mulher também está farta do casamento e inventou esta ida a Madrid só para ficar sozinha?
Eu - Pois... não sei.
Ele - Já não estou assim tão feliz.

3.10.2014

conversa 2073

Ela - Detesto que um homem me pergunte se eu gosto dele antes de me convidar para jantar.
Eu - Porquê?
Ela - Prefiro que ele assuma que eu gosto e pronto, convide.
Eu - E se tu não gostares?
Ela - Vou na mesma. Pelo menos janto.

3.07.2014

conversa 2072

Ela - Não percebo como é que um homem pode estar disponível para sexo logo a seguir a uma valente discussão.
Eu - Eu até acho que é quando o sexo é melhor.
Ela - Achas?
Eu - Às vezes é. Ter sexo a seguir a uma discussão pode ser bom porque também é reconciliador.
Ela - Nunca tinha pensado nisso assim. Logo, quando chegar a casa, a primeira coisa que faço é discutir com o meu marido, a ver se tens razão.

3.06.2014

conversa 2071

(no Carnaval)

Eu - Fica-te bem, a tua fantasia.
Ela - E tu?! Não te disfarçaste de nada?
Eu - Sim, de gajo simpático. Igual ao costume, mas simpático. Percebes?
Ela - Percebo. Por acaso, agora que penso nisso, estás irreconhecível.

3.05.2014

13 erros que as mulheres devem evitar num encontro com um homem

Descobri esta maravilha na internet. Um artigo duma revista americana, de 1938, que explica tintim por tintim quais são os erros que uma mulher nunca deve cometer quando tem um encontro com um homem. Como concordo com todos eles, decidi traduzir e publicar, a ver se as mulheres que por aqui passam aprendem alguma coisa.
A única excepção que abro é para o ponto oito (8). É verdade que os homens não gostam de carícias em público, mas se a carícia for espetar um dedo dentro do ouvido a coisa muda totalmente, até porque se ela tiver a unha comprida sempre dá para tirar alguma cera.
Enfim, tentem levar isto a sério que é importante. Um homem quando se irrita fica como aquele senhor na última imagem, de braços levantados e ar ameaçador. Evitem cenas destas seguindo estes conselhos:

1. Não seja sentimental nem tente fazê-lo dizer algo que ele não quer, explorando as suas emoções. Os homens não gostam de lágrimas, especialmente em lugares públicos.

2. Não use o espelho do carro para retocar a maquilhagem. Os homens precisam dele para conduzir e é muito irritante ter que se curvar para ver o que está atrás.

3. Não se sente em posições desconfortáveis e nunca dê ar de aborrecida, mesmo que esteja. Esteja atenta e se estiver a mascar chiclete (não é aconselhável), seja silenciosa e mantenha a boca fechada

4. Vista-se no seu quarto privado para manter o seu encanto. Esteja pronta a horas dos encontros e não o faça esperar. Cumprimente-o com um sorriso.

5. Os homens não gostam de mulheres que lhes pedem o lenço emprestado e o sujam com manchas de batom. Maquilhe-se em privacidade, não onde ele a possa ver.

6. As mulheres descuidadas nunca atraem cavalheiros. Nunca fale enquanto dança, pois quando um homem dança é porque quer dançar.

7. Se precisa de um sutiã, use um. Não force a sua cintura e tenha cuidado para que as suas formas não estejam engelhadas.

8. Não ganhe demasiada confiança de forma a acariciá-lo em público. Qualquer demonstração aberta de afecto é de mau gosto e normalmente humilhante para ele.

9. Não ganhe confiança com o empregado de mesa, conversando sobre como se divertiu com alguém noutra altura. O homem merece a sua total atenção.

10. Não fale de roupa nem descreva o seu vestido novo a nenhum homem. Promova e lisonjeie o seu encontro falando de coisas que ele quer falar.

11. Não beba demais, já que um homem espera que mantenha a sua dignidade toda a noite. Algumas mulheres podem parecer inteligente quando bebem, mas a maior parte fica maluca.

12. Não seja evidente quando fala com outros homens.

13. A gota de água é desmaiar com tanto licor. Provavelmente, ele nunca mais vai querer nada consigo.

3.04.2014

conversa 2070

Ela - O meu ex não sabia beijar. Foi o motivo principal para ter posto fim à nossa relação.
Eu - Um bocado radical, não?
Ela - Achas radical?
Eu - Acho... se falasses com ele talvez ele mudasse a forma de beijar.
Ela - Está mas é calado. Radical é ficar com a sensação que se fez uma endoscopia cada vez que um gajo nos enfia a língua pela boca dentro.

3.03.2014

respostas a perguntas inexistentes (270)

Um local assombrado é sempre uma história de Amor

Só agora, com mais de quarenta anos, é que percebi plenamente uma frase da minha professora de Educação Física do sétimo ano do liceu. Quase trinta anos depois, portanto. Não sei o que é feito dessa professora, porque nunca a mais a vi. Nem sequer faço a mínima ideia se ela está viva, nem me lembro do nome dela. Aquela frase, no entanto, e por qualquer motivo, agarrou-se às paredes da minha memória e nunca mais a esqueci.

- O exercício físico é a melhor forma de esquecermos os nossos problemas de Amor.

Eu tinha uns treze anos quando ela me disse isto, pelo que os meus problemas de Amor se resumiam às minhas crises e inseguranças do princípio da adolescência. Embora fortes, não eram verdadeiros problemas de Amor. Mesmo assim, aquela frase pareceu-me importante e nunca mais a esqueci. Esta semana, numa das poucas tréguas que a chuva deu à cidade de Aveiro, pus-me a caminhar sem direcção, apenas pelo vício de caminhar. Creio que com a mesma sensação que um urso deve ter quando sai da toca depois de um longo período de hibernação, porque de facto as condições meteorológicas não me têm dado muita vontade de sair de casa.
Encontrei a Catarina, com um passo apressado, ali perto de um centro comercial no centro de Esgueira. Já não a via há algum tempo e a primeira coisa que me veio à memória assim que a vi foi a de um abraço que ela me deu há uns atrás do qual, talvez por me ter sabido a uma sinceridade extrema, também nunca mais me esqueci. Convidei-a para tomar café, mas ela limitou-se a cumprimentar-me, dizer-me que precisava de andar e despedir-se de mim novamente.
Devo dizer que tenho um fetiche por centros comerciais construídos nos anos oitenta, daqueles que eram apenas uma série de corredores com lojas que mais pareciam aquários. Tenho esse fetiche porque, nos dias que correm, esses locais mais parecem locais assombrados de tão abandonados que estão. É por isso que de vez em quando visito um ou outro, que foi o que fiz nesse dia. Primeiro passei pelo Carramona, em Esgueira, que mesmo assim ainda tem bastantes sinais de vida, depois pelo Riaplano, perto duma das mais importantes avenidas da cidade e que faz mais justiça à descrição de local assombrado.
Foi nesse local assombrado que reencontrei a Catarina, umas duas horas depois, com o mesmo ar tenso que lhe vira antes. Sorri-lhe, mas não lhe disse nada, pois a forma como ela se despedira de mim antes indicava que ela não estava com muita paciência para ter conversas de circunstância comigo. Só que desta vez foi ela quem parou.

- Também estás desiludido com alguém?

 A pergunta apanhou-me de surpresa e até me deixou um pouco baralhado, mas não me ri porque o ar dela era grave e sério.

- Para além de alguns milhares de portugueses que consideram que o país está no bom caminho, não estou desiludido com ninguém... - arrisquei.
- É que eu só me ponho a andar assim pela cidade quando estou desiludida. - respondeu.
- E estás desiludida agora?
- Sim, e acho que o exercício físico é a melhor forma de esquecer um problema de Amor.

Assim que ela me disse isto lembrei-me da minha professora de Educação Física. Talvez ela, naquela altura, tivesse feito exactamente o mesmo que a Catarina estava a fazer naquele preciso momento, andar pela cidade sem qualquer tipo de objectivo a não ser mergulhar num mundo maior do que os seus pensamentos mais íntimos e preciosos. Pelo menos, acho que é assim que, caminhando ou fazendo exercício, conseguimos esquecer um problema de Amor.
Ainda assim, a Catarina, aceitou tomar o tal café comigo. Expliquei-lhe porque é que gosto de visitar centros comerciais decrépitos e abandonados. À semelhança do que ela sentia, talvez seja porque em todos eles identifico sinais de agitação, de felicidade e alegria adormecidos em cada canto.
Talvez dentro de todos nós, depois de passada uma determina idade, exista um local assombrado destes, uma memória de felicidade que entretanto nos deu um abraço sincero e nos disse adeus. Um local desses é sempre uma história de Amor.