6.30.2010

à mulher com M grande

Não é que ajude os homens a compreender as mulheres. Na verdade o objectivo nem sequer é esse. Mas há um site novo dedicado à mulher com M grande: amulher.com

respostas a perguntas inexistentes (93)

a Outra

Gosto de me apaixonar de barato, sabem? Gosto de me apaixonar pela mulher que atravessa a passadeira mesmo à minha frente, pela mulher do outro lado do balcão que me tira o café, pela mulher que põe a roupa a secar numa janela onde nunca estive ou pela mulher que se senta à minha frente numa viagem de comboio. Esta é sempre uma paixão barata porque não vale quase nada. Vale o momento em si, porque qualquer momento apaixonado é melhor do que um momento sem paixão. Mais nada. É para isso que servem as paixões baratas.
O problema das paixões baratas é que para acontecerem precisam duma paixão maior, a paixão pela vida. O problema da paixão pela vida é que precisa duma paixão ainda maior, talvez a maior de todas, a paixão por ela. Ela não é aquela que atravessa a passadeira mesmo à nossa frente, nem aquela do outro lado do balcão que nos tira o café, nem aquela que põe a roupa a secar numa janela onde nunca estivemos, nem aquela que se senta à nossa frente numa viagem de comboio. É a Outra.
Chamar a Outra à paixão maior parece pobre, pelo menos quando comparada com alguns exercícios literários ou cinematográficos sobre o amor. Não é. A Outra é exactamente isso. Existem as mulheres que atravessam a passadeira e a Outra, as que tiram cafés e a Outra, as que põem a roupa a secar e a Outra, as que viajam à nossa frente no comboio e a Outra. Enfim, existe o mundo inteiro e a Outra. A Outra.

conversa 1539

Ela - Acho que cheguei a uma conclusão importante sobre o amor.
Eu - Qual?
Ela - Ninguém sabe muito bem amar, só sabemos ser amados.
Eu - Isso quer dizer exactamente o quê?
Ela - Quer dizer que estamos sempre prontos para exigir amor do outro mas nem sempre estamos prontos a dar.
Eu - Ah! Egoísmo emocional. Acho que tens razão...
Ela - E eu acho que os homens são mais egoístas do que as mulheres.
Eu - Isso já não sei.
Ela - Sei eu.

6.29.2010

conversa 1538

Ela - Hoje é um dos dias em que agradeço o facto de ter como chefe um homem e não uma mulher.
Eu - Porquê?
Ela - Vamos sair todos uma hora mais cedo para podermos ver o jogo.
Eu - Ah! E se fosse tu a mandar isso não acontecia?
Ela- Não, claro que não. Interromper o trabalho por causa dum jogo de futebol, onde é que já se viu?
Eu - Então tu escusas de sair mais cedo...
Ela - Não, não. Se os outros saem mais cedo eu também tenho direito.

pensamentos catatónicos (210)

zapping

À espera dum jogo de futebol, está há três horas seguidas em frente ao televisor e ainda não viu um único programa do princípio ao fim. Talvez a sua vida se tenha tornado mais ou menos nisso, um zapping constante por amores frívolos. Pensa nisso agora, depois de um encontro com mais uma mulher que conheceu na internet não ter dado em nada. E pensa nela também. Não era bonita, também não era feia. Se calhar é ele que já nem liga a isso. Lembra-se que na noite em que se divorciou a mulher se colocou estrategicamente entre ele e o ecrã para uma discussão que não chegou a acontecer. Ele disse-lhe que ela era baça para espelho e ela saiu. Pela última vez. É estranho, agora só queria ter alguém entre ele e aqueles programas que nem sequer consegue ver.

Está há três horas seguidas com o telemóvel na mão a pensar se responde à mensagem que a mulher que conheceu hoje ao almoço lhe enviou. Aquilo não deu em nada mas ela enviou-lhe um sms dez minutos depois de se terem despedido com intermitências. Ele não respondeu. A culpa de não ter dado nada é dele, portanto. É que durante a refeição ela esteve sempre a falar e ele mudo. Não gosta de pessoas que falam muito mas, agora que pensa nisso, talvez goste ainda menos dele próprio por nunca falar. Não quis ter a última discussão com a mulher e ela foi-se embora, hoje não quis ter uma conversa com outra mulher e ela foi-se embora também.
À espera dum jogo de futebol que dá daqui a três horas fazendo zapping pelos canais, à espera que a vida mude daqui a não sabe quanto tempo fazendo zapping pelo passado. Normalmente são os homens que fazem zapping.

6.25.2010

zangas e amuos

Por que motivo nos zangamos com outra pessoa? Porque gostamos dela. Se não gostássemos provavelmente não nos chateávamos, apenas a ignorávamos. O problema está na dose com que nos chateamos. Às vezes é tão grande que deixamos mesmo de gostar.
Deixemos as zangas fluir. Há que abrir espaço suficiente para um amuo, para um bater com o pé ou para um grito de raiva. Quando quem amamos amua, bate com o pé ou nos grita é porque nos ama também.
Bom fim de semana e sejam felizes.

6.24.2010

respostas a perguntas inexistentes (92)

a primeira vez

Gostamos de povoar a memória de quem amamos. Não o admitimos mas normalmente é essa a primeira assumpção de que somos ciumentos ou pelo menos um bocadinho possessivos. A maneira mais fácil de povoar essa memória é ser o primeiro a fazer alguma coisa para ela. Todos nos lembramos da primeira pessoa por quem nos apaixonámos na escola, todos temos dificuldade em recordar a segunda. A primeira vez é uma bomba de tinta que preenche quase todas as páginas em branco por escrever na memória de alguém. É essa a importância da primeira vez. Só essa, pensamos nós.
Quando um homem e uma mulher se apaixonam aos quarenta anos e dão as mãos na rua, sabem que ambos já o fizeram antes com mais alguém. O mesmo acontece no sexo, num simples beijo apaixonado, na divisão duma garrafa de vinho ou num piquenique na praia. Aos quarenta anos é difícil haver uma primeira vez. Pelo menos uma primeira vez dessas, capaz de carimbar eternamente a memória do outro. E a nossa, claro.
As viagens, por exemplo, são uma forma fácil de chegar à primeira vez em paixões de meia idade. Basta ir a um sítio onde nunca se foi para criar uma primeira vez com quem se ama. É uma primeira vez. Ponto final, missão cumprida. O problema é que isso não chega. Não sabemos bem porquê mas isso não chega.
Acho que é por causa disso que é tão difícil apaixonarmo-nos a sério nesta idade. Somos mais exigentes com a primeira vez. Ela tem que estar sempre presente, não apenas numa viagem mas sempre. Seja num café ou numa mão dada. Impõe-se então descobrir que a primeira vez não depende afinal do nosso passado, depende só do nosso presente e do nosso futuro. É tipo o verso do Sérgio Godinho: "hoje é o primeiro dia do resto da tua vida". A primeira vez tem que ser a primeira de muitas. Com quem gostamos e daqui para a frente.

6.23.2010

conversa 1537

Ela - Às vezes uma mulher nem sequer anda com muita vontade de ter um homem na vida mas procura-o na mesma.
Eu - Procura na mesma? Para quê?
Ela - Acho que é para ver como está o seu valor no mercado.

conversa 1536

Ela - Estou assustada.
Eu - Assustada com quê?
Ela - Hoje já abri e fechei o frigorífico três vezes sem tirar nada. Não tinha fome nem sede...
Eu - Mas se não tiraste nada estás assustada com quê?
Ela - Tenho medo que o meu subconsciente tenha assimilado que o frigorífico é uma prioridade na satisfação das minhas necessidades.

6.22.2010

conversa 1535

Ela - Só costumo dar um conselho aos meus alunos sobre a vida a dois.
Eu - Qual é?
Ela - Antes de casarem experimentem sempre viver algum tempo sozinhos.
Eu - Porquê?
Ela - Se passarem da casa dos pais directamente para a vida de casados, vão passar a vida toda a pensar sobre as vantagens que teriam em viver sozinhos.
Eu - E assim já não pensam?
Ela - Pensam... mas também pensam nas desvantagens.

conversa 1534

Ela - Eu adoro férias seja lá onde for.
Eu - Seja lá onde for?
Ela - Sim, mas isso é porque sou casada há quase vinte anos.
Eu - O que é que isso tem?
Ela - Quando vives há vinte anos com o mesmo homem é bom dormir em sítios diferentes. O sexo é melhor.
Eu - Achas mesmo?
Ela - Acho. É como se estivesse a dormir pela primeira vez com ele. Fico mais solta e ele também.
Eu - Ah!
Ela - Por isso é que mesmo nos fins de semana se deve ir dormir fora de vez em quando.

pensamentos catatónicos (209)

a angústia do banco de jardim

Um dos problemas actuais das cidades é que elas já não servem para parar. Quando eu era criança as pessoas paravam nas cidades, fosse num café, num banco de jardim, no muro duma casa ou até numa paragem de autocarro. Agora não. Os bancos de jardim estão vazios, as pessoas tomam o café em pé enquanto olham para o relógio e até pelo autocarro esperam em pé, sempre a olhar para um lado e para o outro como se estivessem atrasadas.
Há bocado passei por um banco de jardim e pareceu-me que ele estava angustiado, não só por se sentir inútil mas principalmente por ter saudades das conversas de amor que já não ouve. É que o problema também é esse: as cidades onde as pessoas param são cidades onde as pessoas aprendem a amar, as cidades onde as pessoas não param são cidades de gente só. E o problema da gente só é que esta acaba por estar só mesmo quando não está.
O amor já não nasce numa conversa de banco de jardim. Agora manda-se dois nomes para um número de valor acrescentado e fica-se a saber se as pessoas são compatíveis ou não. Joana e Mário dá setenta por cento e toma-se isso como definitivo. Surpresa. Não é definitivo.

6.18.2010

conversa 1533

Ela - Isto dos hipermercados venderem sacos reutilizáveis é um grande barrete.
Eu - Porquê?
Ela - Estou sempre a comprar sacos reutilizáveis, que até são mais caros, mas nunca os reutilizo porque os deixo sempre em casa quando vou às compras.
Eu - Pois... é por isso que também não compro nada disso. Não quero fazer colecção de sacos reutilizáveis...
Ela - Eu já tenho uns trinta.

6.17.2010

conversa 1532

(no café)

Ela - Em que é que está pensar?
Eu - Em nada.
Ela - Se fosses mulher não acreditava mas como és homem acredito.

djanfa

Como um ser vivo qualquer, o Amor precisa de respirar. Precisa de espaço para correr, de tempo para tomar café num bar de esquina ou simplesmente caminhar à deriva pelo tempo que passa. Hoje à noite os Couscous Prosjekt vão estar no Clandestino bar, em Aveiro, para quem estiver a precisar de respirar.

conversa 1531

Ela - Então essas férias?
Eu - Souberam bem... principalmente Veneza, Verona e Liubliana.
Ela - Só te perguntei se as férias foram boas, não te perguntei onde é que andaste.
Eu - Mas...
Ela - Não quero saber. Cala-te! Eu ainda não tive férias.

Veneza

Dizem que se deve viajar com a pessoa que amamos para a conhecer melhor, a ela e à compatibilidade entre ambos. Concordo com a análise. Conhecer uma cidade nova é como conhecer uma pessoa. Primeiro temos uma impressão geral, depois vamos passando das praças às ruas e das ruas às vielas, até que finalmente acabamos a provar os sabores dessa cidade num botequim qualquer. Nada como, portanto, fazer as duas coisas ao mesmo tempo: conhecer a pessoa e a cidade.
Não me lembro de ter gostado tanto de conhecer uma cidade como Veneza. Não só por ser, como todos sabem, uma das cidades mais bonitas do mundo, mas precisamente porque é uma cidade que se deve conhecer devagar. Do Grande Canal e da Praça de São Marcos é preciso passar às ruas mais pequenas, aquelas que não têm turistas mas onde a vida veneziana corre a um ritmo muito próprio.
É que Veneza engana. O amor não está numa gôndola com um gondoleiro a cantar "Amore Mio", não está nas máscaras de Carnaval made in China que se vendem na ponte de Rialto nem está na música das esplanadas para turistas. Está no fim duma viela pequena que não tem saída a não ser para o mar adriático. Foi até aí que fui, conhecendo cada vez mais a cidade... e a pessoa.

coisas sobre mulheres que leio nas portas de casas de banho públicas (5)

ti amo tanto amore mio. tu sei la mia vitta per sempre!!!
Trieste (ponta do paredão), Itália. Junho 2010

6.03.2010

feijoada de chocos, veneza e zagreb...


Fiz esta feijoada de chocos para um jantar em minha casa com uma amiga de quem gosto muito. Continuo a achar que a cozinha é uma das melhores opções para estarmos com quem gostamos muito. A comer bem falamos bem também, e falar bem é dizer tudo o que nos vai na alma.
É precisamente por causa do que me vai na alma que este blogue vai ter uma pausa até ao próximo dia 14. Estou a precisar de sair deste país e a minha companheira, sempre ela, propôs-me ir até Veneza como ponto de partida duma viagem até Zagreb. Entretanto, se estiverem com amigos por estes dias, façam um bom jantar e conversem muito. 
Gosto muito de vocês!

6.02.2010

coisas que fascinam (105)


Este táxi está um pouco em mau estado porque em criança tive muito acidentes com ele. Faz parte da minha colecção de coisas antigas que estou a tentar catalogar aqui. Ainda faltam alguns objectos, notas e principalmente muitas moedas.
Mesmo em mau estado gosto dele. Tem um valor emocional muito grande porque foi uma das poucas coisas que sobrou da minha infância. E era nisso que estava a pensar: duma fase que já passou sobra sempre alguma lembrança a que nos gostamos de abraçar.

conversa 1530

Ela - Não tenho nada contra as mulheres serem tratadas como objectos sexuais.
Eu - Não?
Ela - Não. Tenho é contra o facto de os homens o serem poucas vezes.
Eu - Como assim?
Ela - Sei lá... chega o bom tempo e é aí que percebo que devia ter passado o Inverno a ver revistas com homens de tanga.

respostas a perguntas inexistentes (91)

Crescemos a acreditar que o amor é uma coisa que nos acontece. Provavelmente até há quem morra a acreditar nisso. Eu não acredito. Acho que o amor é uma coisa que fazemos acontecer. Ou não. No caso do não, coitados dos que morrem a acreditar neste mito.
Na verdade, ainda bem que o amor é uma coisa que fazemos acontecer. Se não o fosse não tinha valor nenhum. Era o mesmo que encontrar um maço de notas no chão ou tirar o totoloto. Não é assim. Na verdade o amor dá uma trabalheira enorme. É uma trabalheira de que gostamos, mas ainda assim uma trabalheira.
Acho que os que adiam continuamente o amor são os que acham que ele é uma coisa que acontece per si, e que por isso têm sempre a esperança que lhes pode acontecer outra coisa ainda melhor: um primeiro prémio no totoloto ou no euromilhões. Não acontece. O amor é uma opção. Ponto final. Decidimos que vamos amar esta pessoa e pronto, trabalhamos para isso. Claro que para tomar essa decisão é melhor ter em conta vários aspectos. O principal é que essa pessoa esteja disposta a amar-nos também.
Era só isto. Por favor não esperem que o amor vos aconteça.

6.01.2010

conversa 1529

Eu - O empregado nunca mais nos atende, caramba!
Ela - Discretamente olha para a gaja atrás de ti.
Eu - O que é que tem a gaja atrás de mim?
Ela - É melhor perguntares o que é que ela não tem.
Eu - O que é que ela não tem?
Ela - Não tem vergonha nenhuma. Anda com uma blusa transparente.
Eu (depois de discretamente ter olhado para trás) - Bem... não tem vergonha nem tem sutiã. A mim parece-me que não é de propósito. Deve ter-se esquecido, simplesmente.
Ela - Não esqueceu nada. Nenhuma mulher se esquece de vestir o sutiã.
Eu - Esquece, esquece.
Ela - Bem, esqueça ou não deve ser por isso que o empregado não nos vem atender. Não está em condições de sair detrás do balcão...

respostas a perguntas inexistentes (90)

em branco

Hoje de manhã acordei com o telefonema duma amiga que me disse que estava em branco. Em branco? Sim, disse ela. Estar em branco, explicou-me depois, é ter a cabeça vazia, é não ter nada para dizer ou escrever. No fundo é não ter vontade de nada, concluiu.
Conversámos um pouco comigo ainda ensonado. Lavei-me, vesti-me e tomei o pequeno-almoço. Só depois, já no carro, é que reflecti a sério sobre o que pode ser estar em branco. É que quando me lavei gostei de sentir na pele o afago da água quente, quando me vesti gostei da carícia no corpo da camisola passada a ferro, quando tomei o pequeno-almoço soube-me bem o sabor do iogurte líquido misturado com uma taça de cereais. Só isso. Talvez estar em branco não seja bem não ter vontade de nada, talvez seja apenas não sentir esse sabor do iogurte líquido nos cereais.
Há bocadinho, numa pausa para tomar café, abri o meu caderninho numa página em branco para ver se escrevia  uma actualização para este blogue. No princípio não me saiu nada e lembrei-me da frase dela: estar em branco. Dei um gole mais lento no café e comecei pelo telefonema dela. Saiu-me este post. Às vezes, mesmo quando estamos em branco, podemos colorir um bocadinho a vida de alguém.

rasga esses versos

Como vem sendo hábito, os Couscous Prosjekt fazem hoje à noite, a partir das 22:45, um set no Mercado Negro em Aveiro. É uma boa oportunidade para quem não gosta nada de ficar em casa numa noite quente. Entretanto, podem ouvir esta mistura que fiz a partir de dois temas: "dub in the morning" dos cañaman e "os meus versos" da Kátia Guerreiro.