3.30.2012
conversa 1893
Eu - Que dúvidas?
Ele - Nem sei explicar bem, mas acho que gosto mais da minha mulher do que ela de mim.
Eu - Algumas mulheres são peritas em fazer-nos sentir isso mesmo.
Ele - Eu ontem disse-lhe, a ver se ela me dava um sinal qualquer de que gosta de mim, que não me sinto bem na relação por causa disso. Ainda fiquei pior.
Eu - Ficaste pior porquê?
Ele- Ela respondeu-me que provavelmente é verdade, que eu gosto mais dela do que ela de mim.
Eu - Ela disse isso?
Ele - Disse... o que é que achas que eu faça? Eu acho que só posso tentar gostar menos dela, mas quanto mais tento gostar menos dela, mais gosto.
Eu - Ser homem é fodido...
Ele - Pois é...
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3.29.2012
três segundos
Aliás, foi essa a razão principal para mudarmos tantas vezes de bar. Ela queria estar sempre num onde se pudesse dançar, eu queria um onde pudesse estar sentado a conversar. Nunca o assumimos, mas fomos abdicando das nossas preferências em prol da cara de tédio do outro. Duas pessoas podem viver assim uma noite ou duas, mas não podem viver uma vida. Pelo menos foi o que eu pensei naquele momento e apeteceu-me chorar pela primeira vez.
- Tens música?
- É só escolher. - respondi com o mesmo orgulho disfarçado com que tinha exibido a minha pequena colecção de chá, enquanto apontei para os dois armários repletos de discos compactos, discos de vinil e até cassetes.
Ela desistiu. Provavelmente pensou que, depois daquela noite, não conseguiria encontrar uma só música de que gostasse. Seria como encontrar uma agulha num palheiro. E eu, para não criar ainda uma distância maior, fingi-me despercebido ao olhar indiferente dela para a minha colecção de música
Passei a concentrar-me apenas no essencial, que era o momento presente e que, para mim, consegui calcular em cerca de três segundos. Cada três segundos que passavam era uma oportunidade conseguida ou desperdiçada relativamente ao grande objectivo dessa noite: dormir com ela, abraçá-la ou tocar-lhe. Qualquer coisa.
Ela deu o primeiro gole no chá ao mesmo tempo que eu acabei o meu uísque. Ao dobrar-se para pousar a chávena no chão, através do decote em bico, consegui ver-lhe os seios que pareciam querer saltar do sutiã apertado. Quando se endireitou de novo no sofá, já eu tinha engolido todos os cadáveres das pedras de gelo que tinham sobrado do meu copo, sinal evidente de impaciência.
Levantei-me e pus-me a olhar pela janela, como se ao tirar dali o meu olhar pudesse também expulsar esse estado de ansiedade. Lá fora, a solidão própria da noite povoara as ruas que horas antes percorrêramos de bar em bar. Eu e ela. Senti-a aproximar-se e pôr o braço à volta da minha cintura e retribuí, naturalmente, com o meu braço a envolver-lhe os ombros. Pousei, finalmente, o meu copo cansado de estar vazio. Finalmente, o futuro transformara-se em presente, com o mesmo doce nervosismo intermitente dum dos candeeiros da rua. Medi os ciclos dessa intermitência e do abraço da Magda. Três segundos, é quanto tem o presente.
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3.28.2012
respostas a perguntas inexistentes (201)
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3.27.2012
coisas que fascinam (142)
Hoje acordei de manhã para lavar a louça acumulada há dias no balcão da cozinha, aspirar o pêlo dos gatos acumulado nos cantos da casa, passar a esfregona sobre a sujidade acumulada nos chão cerâmico da cozinha e da casa de banho e, por fim, passar a ferro a roupa acumulada no quarto. Os dias acumulam-se uns sobre os outros, em prazer e dor. O prazer de não fazer nada e a dor de saber que se terá que fazer tudo duma vez, um dia qualquer.
Já fui diferente, isto é, já fui daqueles que não deixam acumular nada e têm sempre a vida vestida a rigor. Lavava a louça logo a seguir ao almoço ou ao jantar, não tinha gatos e aspirava a casa duas ou três vezes por semana e, por fim, passava a roupa a ferro mal a tirava da corda. Não acumulava nada nos meus dias, nem sequer um Amor que fosse.
Há uma certa paixão na desordem da vida que não quero voltar a perder, porque ela é um pilar essencial da minha capacidade de me apaixonar. Hoje mesmo, sorri ao lavar o fundo duma série de copos que ainda cheiravam a vinho, porque recordei os bons momentos em que os bebi ao jantar com uma amiga. Recordei também Cabo Verde, ao procurar a cidade do Mindelo no mapa da t-shirt que a Raquel me ofereceu durante as férias que lá fizemos. Depois escolhi uma banda sonora para passar a roupa a ferro: Buraka Som Sistema para as t-shirts, Cesária Évora para as calças e para as toalhas, Mayra Andrade para roupa interior.
Com o tempo apercebi-me que os dias que se acumulam sobre a minha casa são apenas a minha vida. Deixo-a acumular-se devagar, percebendo-lhe cada hora, cada minuto, cada segundo. E nela, nessa acumulação, percebo que nada do que ali se amontoou foi em vão. Nada é para ser esfregado logo a seguir à sua existência. Limpei hoje, para que nos próximos dias possa renovar essa lenta acumulação de quem está apaixonado, prolongando-a.
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Etiquetas: coisas que fascinam
3.26.2012
totoloto
Foi assim que a vi fechar a porta de casa, sem conseguir combinar nenhum encontro com ela para o dia seguinte. Nem para a semana seguinte ou outro dia qualquer. Fui descendo os cinco andares do prédio dela pelas escadas, para que esse processo de me distanciar fosse o mais lento possível, repetindo no meu pensamento a sua última frase:
- Não vou combinar nada contigo nem quero que me telefones. Se gostarmos um doutro mesmo, de certeza que nos tornamos a ver um dia destes.
Depois beijámo-nos e ela fechou a porta.
Já me aconteceu muitas vezes, esta coisa de me zangar com o que uma mulher diz para depois acabar por lhe dar razão. O dia seguinte passei-o sozinho, com um copo de uísque ensonado como única companhia, e um livro do Haruki Murakami que não consegui começar a ler. Tinha saudades do corpo dela, dos lábios dela, da voz dela, do café dela. Enfim, de tudo dela menos, talvez, dela própria. Como um todo.
Amar é difícil, ser homem também. É que as mulheres são melhores nesta coisa de ficarmos sós. Corre-lhes no sangue o desejo duma solidão pontual. Nos homens não, e depois parecem cães abandonados. É preciso aprender. Estar só também é algo que se aprende.
Encontrei a Sónia duas semanas depois, mais coisa menos coisa, na fila duma papelaria para registar o totoloto. Perguntou-me como é que eu estava e eu abanei os ombros. Depois desejou-me sorte no jogo e eu abanei novamente os ombros. Não sabia o que lhe dizer. Segredou-me ao ouvido, enquanto arrumava os papelinhos na carteira, que eu lhe devia ter telefonado.
- Mas... tu é que disseste... - levantei a voz.
- Eu disse, mas tu não tinhas que me obedecer. - respondeu e sorriu.
Beijou-me, e o beijo dela ficou-me preso na face como um insecto irrequieto enquanto a vi sair da loja sem olhar para trás. Registei o meu boletim e pensei que a vida é mesmo assim. Às vezes acerta-se, outras não. Pelo menos aprendi a ficar sozinho.
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3.22.2012
a marca salazar
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3.21.2012
conversa 1892
Eu - Acho muito bem. Sou pelo Serviço Nacional de Saúde...
Ela - Eu também defendo a saúde pública, mas só em caso de doença. Agora para uma gaja pôr umas mamas maiores é que não.
Eu - Eu cá acho bem. Até porque quando uma mulher põe umas mamas novas está a contribuir, não só para ela própria se sentir melhor, mas também para que muitas outras pessoas sejam mais felizes.
Ela - Muitas outras pessoas?! Mas tu achas que as mulheres vão todas para a cama com muitas pessoas?
Eu - Não estou a falar de ir para a cama, estou falar só da parte visual da coisa.
Ela - Não acredito no que estás a dizer.
Eu - Porquê?
Ela - Mas tu passas a vida a olhar para as mamas das gajas?
Eu - Não foi isso que eu disse.
Ela - Acho que talvez pudéssemos gastar dinheiro público a aumentar o cérebro de alguns homens...
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Etiquetas: conversas
coisas que fascinam (141)
Nunca tentei, neste blogue, encontrar uma definição da palavra Amor. Nem vou tentar. Por um lado porque tenho consciência que os seus campos semânticos são um pântano sem saída, por outro porque me daria medo conseguir fazê-lo. Sei, no entanto, que já Amei só para não chorar. Sei também que prefiro Amar por fascinação.
Descobri esta música da Elis Regina tardiamente, que é como quem diz, no último fim de semana. Já a tinha ouvido imensas vezes mas, não sei porquê, nunca lhe tinha percebido o sentido. Todos Amamos, pelo menos uma vez na vida, só para não chorar, e só nos damos conta disso quando por fim nos deixamos fascinar. Acho eu que é isso.
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Etiquetas: coisas que fascinam
3.20.2012
respostas a perguntas inexistentes (200)
Publicada por Ivar C à(s) 16:19 17 comentários
Etiquetas: respostas a perguntas inexistentes
conversa 1891
Eu - Não prestam?!
Ela - Não. Ou são uns atados que não desenvolvem, ou então são uns pimbalhaços que salivam quando vêem uma mulher.
Eu - O teu namorado pertence a qual das categorias?
Ela - O meu namorado é um grande homem, mas isso é porque tem por trás uma grande mulher. Todos os grandes homens têm por trás uma grande mulher.
Eu - És capaz de ter razão.
Ela - Pelo menos admites.
Eu - És capaz de ter razão porque, tanto quanto sei, desde que o conheço és a quarta namorada dele. Uma, pelo menos, deve ter sido uma grande mulher.
Ela - Ou mais do que uma.
Eu - Sim, talvez por trás dum grande homem haja sempre várias mulheres...
Ela - Vai-te foder!
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Etiquetas: conversas
3.19.2012
respostas a perguntas inexistentes (199)
Publicada por Ivar C à(s) 15:26 19 comentários
Etiquetas: respostas a perguntas inexistentes
3.16.2012
conversa 1890
Eu - Isso mesmo, optimismo é essencial.
Ela - Pois é, mas eu sinto que estou quase a perdê-lo.
Eu - Mas ficaste sem emprego?
Ela - Não, emprego ainda tenho...
Eu - Não me digas que te separaste do teu marido.
Ela - Não, nós gostamos muito um do outro.
Eu - Ah! mas o que é que se passa?
Ela - Nenhum dos meus vestidos de Primavera/Verão me serve.
Eu - Estás a gozar comigo...
Ela - Não estou nada, é verdade. Estive a experimentá-los ontem.
Eu - Não é isso. Estás a gozar comigo por achares que isso é a tua vida a andar para trás...
Ela - Não seria se eu tivesse tempo para emagrecer, mas o tempo quente está aí à porta.
Eu - A mim pareces-me muito bem com essa roupa que tens vestida.
Ela - Mas isto são calças de ganga e uma camisola de algodão. Não queres que eu ande assim no Verão, pois não?
Eu - Eu percebo a preocupação. Só não acho que seja um problema assim tão grave.
Ela - Sinto-me menos mulher, percebes?
Eu - Não, para ser sincero não percebo.
Ela - Deixa lá, eu explico-te devagarinho um dia destes.
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Etiquetas: conversas
3.15.2012
piadas palermas
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Etiquetas: crónicas de engate
rotundas
Quando uma discussão passa a conter o elemento físico, é porque já nenhum dos intervenientes quer demonstrar que tem razão. Quer, isso sim, impor a sua maneira de ver as coisas. É esclarecedor que as rotundas dêem tantas dor de cabeça aos portugueses. Por um lado quer dizer que não as sabem fazer, por outro quer dizer que insistem em fazê-las.
Um país que têm problemas com as rotundas é, inevitavelmente, um país com problemas de Amor. A violência doméstica é também isso mesmo. Uma discussão física numa rotunda em que alguém se esqueceu que há uma estrada, ou várias, a percorrer já a seguir. Naquela rotunda, rodando sobre ela mesma para todo o sempre, fica uma vida perdida.
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Etiquetas: violência doméstica
3.14.2012
do caderno do Tiago
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Etiquetas: aveiro, outros blogues
3.13.2012
respostas a perguntas inexistentes (198)
Ela acabou de chegar. Senti-a a pousar os sacos das compras do lado de lá da porta, escolher e rodar lentamente a chave na fechadura, pegar de novo nos sacos e entrar. Foi para a cozinha, arrumou tudo, e depois sentou-se à janela com uma chávena do chá que sobrou do pequeno-almoço. Hoje ainda não trocámos palavra, e na verdade não sei se isso é bom ou mau.
Às vezes procuro nela a menina por quem me apaixonei, há mais de vinte anos atrás, e não encontro. Mas quando procuro em mim o rapaz dessa paixão, também não dou com ele. É como se cada um de nós tivesse seguido a sua vida em direcções opostas, mas sempre fechados no mesmo T2 de um bairro operário da cidade.
E eu levanto-me, pouso o jornal aberto no chão ainda com metade das palavras cruzadas por fazer, e vou também à cozinha. Abro um armário e fecho-o logo a seguir, depois outro, como se procurasse alguma coisa que não uma palavra dela. Um sinal de vida ou de nós. Do que chegámos a ser.
- Comprei-te café! - Diz ela.
- Obrigado.
A janela da cozinha dá para a rua onde alguns miúdos jogam com uma bola vazia, e depois dá para outras janelas. Muitas. Fico com a sensação de que vivo numa prisão de janelas, que o mundo nos decidiu encerrar aqui para desistirmos lentamente da vida. Acho que ela está a pensar o mesmo que eu, a fazer as mesmas perguntas. Quantas pessoas nessas janelas passam os dias sem dar por eles? Quantas pessoas ainda se Amam e fazem Amor todas as manhãs de Domingo? Quantas pessoas?
Ouço a pastilha romper-se dentro da máquina e espero que o café escureça o fundo branco da chávena. Um curto, portanto, que eu nem sequer queria nenhum. Sento-me ao lado dela e finjo dar um gole do qual nem chego a sentir o sabor.
- E agora?
Sinto-a sorrir e lembro-me do primeiro sorriso que lhe vi, aquele que parecia que nunca se ia desfazer nos seus lábios de mel. E nos meus também, acho eu. E ela a perguntar-me se o nosso Amor era para sempre e eu a responder que sim. Que mais podia ser, naquele momento em que nos apaixonámos pela primeira vez? Que mais podia ser, naquele Big Bang dum mundo novo? Era como se o tempo e o Amor fossem infinitos.
Entrelaçamos os braços como se quiséssemos dar um nó impossível com eles, e ela pousa a cabeça no meu ombro. Em silêncio. Aí está, um pouco do que nós já fomos. E estamos a mostrá-lo ao mundo todo, a dizer que nesta janela as pessoas ainda se Amam, mesmo que seja um Amor em forma de resistência. O tempo ainda está a contar. O Amor também.
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Etiquetas: respostas a perguntas inexistentes
3.12.2012
conversa 1889
Eu - Aliança de casamento?! Nem sei da minha. Deve estar lá para um caixote qualquer...
Ela - Não sabes da tua?
Eu - Não.
Ela - Se eu fosse a tua ex-mulher divorciava-me de ti outra vez. Aliás, divorciava-me quantas vezes fosse preciso.
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Etiquetas: conversas
coisas que fascinam (140)
Aquela mulher é bonita. Tão bonita que agora mesmo, quando peguei no meu copo de cerveja para dar um gole, reparei que estava morta. A cerveja, não a mulher. Morto estive eu, durante não sei quanto tempo a olhar para ela sem me aperceber que tinha uma garrafa de Sagres à minha frente. Aliás, sem me aperceber de mais nada. O tlintar inquieto das moedas na bandeja do frenético empregado do café, o vapor da máquina expresso a aquecer mais um galão, o arrastar das cadeiras dos clientes que vão entrando e saindo. Não ouvi nada.
As mulheres não sabem, ou fingem não sabê-lo, mas o Amor é sempre uma operação de socorro a um homem ferido. Uma questão de vida ou de morte. Uma urgência. Esta também não o sabe, certamente, que agora se levanta deixando o dinheiro contado em cima da mesa, num desenho de moedas que se assemelha a uma flor qualquer. Como ela é. Vai-se. Desaparece pela porta de saída sem escutar os meus intensos e silenciosos pedidos de ajuda.
O café volta a ser isso mesmo. Apenas um café. E eu torno a sentir a ponta dos dedos dos pés. Lentamente apercebo-me de que o sangue recomeça a circular nas minhas veias e artérias. Abraço, com a palma da mão, a garrafa. Ainda está fria, apesar de tudo. Procuro um relógio para saber que horas são e, se possível, também que dia é, e de que mês e ano. São duas da tarde de um dia de Março de 2012. Sobrevivi.
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Etiquetas: coisas que fascinam
3.09.2012
conversa 1888
(num bar)
Ela - Se eu estivesse com os copos, dizia-te uma coisa que assim sóbria não consigo.
Eu - Então deixa, que eu pago-te um copo. O que é que queres?
Ela - Um copo de vinho, por favor.
(um quarto de hora depois)
Eu - Então, precisas de mais vinho ou já tens coragem para me dizer o que querias?
Ela - Já tenho coragem.
Eu - Então diz lá. Estou curioso.
Ela - És um totó a quem é muito fácil cravar uma bebida quando não se tem dinheiro.
Eu - Era isso?
Ela - Era, mas sóbria não tinha coragem.
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Etiquetas: conversas
3.08.2012
dia do quê?
Todos os dias especiais da minha vida o foram devido a uma mulher qualquer. A minha filha, a minha mãe, a minha avó ou a mulher que eu Amo. Todas elas e mais algumas, duma forma ou de outra, têm feito da minha vida uma vida especial. Toda ela. Não apenas um dia. Espero que continue assim, que as mulheres sejam especiais todos os dias. Sem elas não me apeteceria viver.
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Etiquetas: opinião
3.07.2012
boa sorte, Emma
Concordo com a Emma em quase tudo. Acho que a frase não tem sentido de humor nenhum que valha a pena. É só o resultado estúpido de alguém tão estúpido quanto a própria ideia. A Madhouse, loja que comercializa estas calças, até já lançou um comunicado a informar que desconhecia a inclusão desta frase nas etiquetas, "feitas por uma empresa subsidiária". Aquilo em que eu também reparei, foi que na sua peça jornalística, a Emma diz que reparou na etiqueta quando pegou nas calças e as lançou firmemente para uma cadeira, e que essa é a sua forma semanal de informar o companheiro que ele tem que arrumar as suas roupas à distância.
Dou o meu caso por concluído. Ela não lhe lava as calças, mas todas as semanas as apanha do chão e arruma numa cadeira lá de casa, à espera que ele perceba a mensagem. Boa sorte, Emma.
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3.06.2012
uma mulher por trás de qualquer história
Uma vez chegou a arfar. Sentou-se na cadeira à minha frente com o impacto dum tijolo e disse-me que eu não ia acreditar no que lhe tinha acontecido. Pois não, não ia. Mas mesmo assim queria ouvir. Uma tal de Ana tinha-se sentado ao lado dele no autocarro, no regresso a casa, e adormecido no seu ombro. Ele, para não a acordar, deixou-se ir algumas paragens para além da dele. Quando ela acordou e ele lhe contou isso mesmo, convidou-o para passar a noite em casa dela. E ele a olhar para mim fixamente, à espera dum sinal qualquer que indicasse que eu acreditava naquilo tudo. E eu a responder que ele era um homem cheio de sorte. Ele sorria quase sempre. Às vezes não.
Sempre soube que o Afonso era um homem solitário, principalmente porque eu também o era. A diferença é que ele vivia sozinho, sem mais ninguém em casa. Eu vivia sozinho, com a minha mulher de há mais de vinte anos em casa. Éramos os dois uns solitários, mas ele tinha espaço para imaginar todos o tipo de engates e romances. Eu não. Invejava-o.
Outra coisa que nos unia era uma enorme incapacidade de sedução. Todos os sábados à noite saíamos juntos e íamos aos mais concorridos bares da baixa da cidade. Íamos bebendo e desejando que uma mulher qualquer se sentasse na nossa mesa, por qualquer motivo que fosse. Mas nunca nenhuma se sentou, e eu ficava a ouvir as histórias dele ou, ainda pior, a falar de futebol. Depois voltávamos para casa, silenciados perante a terrível evidência de que a nossa vida era uma monotonia, e com o céu estrelado a rir-se de nós.
Foi numa dessas noites, já depois de umas cinco ou seis cervejas cada um, que ele deu um salto na cadeira. Estava uma mulher sozinha no balcão, de um moreno doce e cabelos suaves. Era bonita, e se já de si parecia inatingível, o facto de estar a beber um cocktail colorido de que eu nem o nome sabia ainda a tornava mais impossível. É a Ana, disse o Afonso mostrando um nervoso miudinho na sua voz acanhada.
- Aquela que te convidou para dormir em casa dela?! A do autocarro?! - Perguntei incrédulo.
- Chiuuuu... fala baixo! - e vi que uma dor qualquer se apoderara da cara dele.
Voltámos para casa como sempre, sozinhos e com um profundo e amargo sentimento de abandono. A Ana existia mesmo. De facto, tinha adormecido no ombro dele numa viagem de autocarro, e ele tinha mesmo saído algumas paragens depois para não a acordar e aproveitar aquela sensação única de ter um anjo a dormir ao lado. Confessou-me nessa noite que tinha voltado a pé, debaixo duma chuva forte e fria, aquecido sempre pela sensação do toque do sono dela. O resto é que tinha sido inventado por ele...
Estou habituado às histórias do Afonso. Aquelas que ele me conta todos os dias, de segunda a sexta, entre uma garfada de arroz à portuguesa ou massa com carne. Quando ele não vem eu fico apreensivo. Gosto das histórias dele. Sei que, por trás de cada mentira que diz, há sempre uma mulher verdadeira. Às vezes é uma que lhe pediu ajuda no supermercado para tirar uma lata de conserva da prateleira mais alta, outras vezes é uma que lhe pediu para apagar o cigarro num restaurante qualquer. Hoje, por exemplo, foi uma estrangeira que lhe perguntou uma indicação na zona histórica da cidade.
Sei que, como eu, o Afonso é um solitário e um incapaz de Amar. É por isso que cada mulher que passa por ele se transforma numa qualquer história de Amor. Invejo-o por isso. Admiro-o por isso. Até porque isso também é Amar. E não há melhor forma de dizer uma verdade do que inventando-a.
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Etiquetas: crónicas de engate
3.05.2012
pensamentos catatónicos (271)
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Etiquetas: pensamentos catatónicos
3.02.2012
conversa 1887
Ela - Apesar de tudo ainda me sinto apaixonada pelo meu marido.
Eu - Apesar de tudo?! Tudo o quê?
Ela - Dos vinte anos de casamento, essencialmente.
Eu - Ah!
Ela - Ele tem coisas que eu adoro.
Eu - Quais?
Ela - Por exemplo: não me interrompe quando estou a ler, não entra na casa de banho quando eu estou lá, não se mete nos copos, não deixa o saco do lixo transbordar...
Eu - Parece-me que gostas mais dele por causa do que ele não faz do que pelo que ele faz.
Ela - Outra coisa boa que ele tem, ao contrário de ti, é que nunca me contradiz.
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3.01.2012
conversa 1886
Ela - Estou a precisar de mudar seriamente alguma coisa na minha vida.
Eu - Tipo o quê?
Ela - Nem sei bem. Sinto-me cansada da vida, do meu marido e até dos meus filhos. Não sei bem explicar...
Eu - Às vezes acontece. Tira um fim de semana só para ti, por exemplo. Não estás a pensar em divorciar-te, pois não?
Ela - Para já, para já, estava mais a pensar em ir às compras.
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