11.03.2006

tu

Em 2005 editei um livro, pela Edições Mortas, chamado Numa Avenida de Merda. Uma edição pequenina e de distribuição difícil, mas pelo qual tenho um carinho enorme. Agora, desde que estou divorciado, folheio-o às vezes quando estou sozinho em casa. É giro, os textos permitem-me reviver momentos duma forma mais intensa do que se fossem fotografias ou vídeos. É claro que só eu é que os percebo, acho eu. É o caso deste “Tu”

Tu és transparente. E eu cruzo-me contigo em bocejos matinais, dividindo visões embaladas pelo frio: as árvores nuas de calor, as nuvens nuas de branco, e as mãos geladas dos outros. Os outros.
Tu és transparente e és quente. E pintas-me vivo nos efémeros cinzentos, e tornas-nos únicos sorrisos da manhã. Únicos.
Tu és transparente e és quente. Tu és ausente.


in "numa avenida de merda", edições mortas 2005.

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