5.30.2007

conversa 206

(hoje, na estação de Aveiro, com uma mulher e o segurança da estação, quando confrontados com a greve da CP)

Ela – Eles não querem é trabalhar. Ganham fortunas e ainda ficam em casa... que se lixa somos nós, que precisamos do comboio para trabalhar e não podemos.
Eu – Não deve ser bem assim, não é? Acho que se ganhassem fortunas não faziam greves. Mas esta até é uma greve geral... não é só da CP.
Ela – Mas por eles não quererem trabalhar eu também não posso, e nem dinheiro no telefone tenho para poder avisar a minha patroa.
Eu (emprestando-lhe o meu telemóvel) – Pode ligar do meu, se quiser.
Ele (enquanto ela fala ao telefone) – A maior partes das pessoas, em vez de aceitar a greve, ainda culpa os trabalhadores... e eu é que levo com a raiva toda...
Eu – Pois... percebo.
Ela (devolvendo-me o telefone) – É uma pouca vergonha...
Eu – Eu acho sempre que as pessoas têm o direito de lutar por uma vida melhor... e até o dever.
Ela – Eu trabalho em casas, todos os dias, e levo para casa pouco mais de trezentos euros por mês. Criei dois filhos assim e não me queixo.
Eu – O que eu não percebo é como é que uma pessoa que ganha trezentos euros por mês a trabalhar todos os dias não se queixa nunca, mas depois por causa duma greve de comboios se queixa tanto. Acho que tem motivos mais do que suficientes para se queixar doutras coisas...
Ela – Queixar-me do trabalho?! Eu?! Trabalho desde pequenina. Nunca me queixei.
Eu – Mas devia, é o que lhe estou a dizer.
Ela – Os preguiçosos e mandriões é que se queixam do trabalho. Eu não.
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

2 comentários:

Maria Arvore disse...

De facto, foda-se!
Uma pessoa habituada a levar porrada desde pequenina desenvolve mesmo aquela síndrome de defender quem a magoa.

Ivar C disse...

nem mais, maria árvore, nem mais...