11.26.2007

respostas a perguntas inexistentes (18)

Mãos. Deram as mãos para fugir. Estavam em pânico e confiaram um no outro sem se conhecerem muito bem. Por causa do suor, durante a fuga, as mãos começaram a deslizar uma na outra e apertaram-nas com mais força.
Mãos. A mão dela era mais pequena e ele chegou a ter medo de a aleijar. A mão dele era maior e ela chegou a ter medo de não a conseguir agarrar.
Mãos. O perigo passou e ambos pararam na sombra dum carro abandonado. Precisavam descansar. O carro não tinha rodas e não passava, no fundo, de uma sucata à espera do último suspiro da morte, mas o rádio ainda funcionava. Ele ouviu uma música, ela outra.
Mãos. Deixaram-se estar deitados até ao fim das músicas, mantendo sempre as mãos dadas. Foi só aí que perceberam que tinham fugido da solidão.

6 comentários:

CCF disse...

Quase sempre venho até aqui(sem comentar) para me rir, as visitas aos blogues podem-se fazer-se por razões diversas e aqui é o humor inteligente que quase sempre reina e ainda bem :) Hoje fiquei surpreendida com este texto, parecem dedos a escrever com outro teclado. Mas também gostei.
~CC~

Ivar C disse...

ccf, obrigado :)

Anónimo disse...

É tão bom descobrir que a solidão pode ser afastada com um carícia!
carla

Ivar C disse...

yep, carla... é sim... :)

Fatyly disse...

um gesto...apenas um gesto poderá marcar a diferença.

Gostei muito!

Ivar C disse...

pois pode, fatyly, pois pode... um gesto prolongado. :)