2.14.2007

crónicas da cidade que sopra | árvores que caem

Amanhã é quinta-feira. O Diário de AVeiro publica mais uma crónica da cidade que sopra. Árvores que caem.

A luz atapeta devagar o chão do quarto, atravessando sub-repticiamente as frinchas da persiana, e destapa os despojos da guerra: uma garrafa de água sem tampa, um relógio de pulso que não dormiu, um telemóvel mudo e alguma roupa cansada. A cidade que sopra discutiu violentamente com a tranquilidade que, durante a noite, se escondeu naquele compartimento e, enquanto um homem e uma mulher semeavam beijos em extensões primaveris de pele sedenta, fez cair algumas árvores e postes de iluminação. Hugo ainda se mantém na cama, exercitando os dedos dos pés, e os únicos sons que se lembra de ter ouvido morreram com algumas moedas que pontilham silenciosas um canto parcamente iluminado.

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