12.13.2006

é assim

Passa-se a tomar café na janela da cozinha, com a luz fechada, às vezes com música a povoar o compartimento, outras vezes em silêncio. O silêncio é uma espécie de convidado desejado mas que não sabe ir embora a tempo e horas. Acaba sempre por insistir demasiado na sua presença, forte presença, aliás, tal como o café, que se continua a fazer com mesma quantidade mas com menos água. Não se consegue estar toda a noite em casa e sai-se.
Sai-se. Desce-se os andares do prédio a olhar para o espelho do elevador. Tem-se um bocado de mais cuidado com a imagem, mas mesmo assim não se tem muito. Não se consegue. O cuidado que se tem é fazer a barba mais vezes, basicamente. Às vezes vem à memória que só se vestiu uma gravata uma vez na vida, e foi porque o obrigaram no dia do casamento. Depois de alguma luta lá cedeu. Queria casar com um t-shirt do Tintim mas não o deixaram. Hoje está tão arrependido de ter cedido...
Cede-se. Sair muito é uma cedência às exigências de alguma solidão. Umas noites encontra-se muitos conhecidos, outras não se encontra nenhum. Não faz mal, o bar é sempre o mesmo e conhece-se todos os que lá trabalham. Nunca se está verdadeiramente sozinho, ali. Às vezes é melhor não encontrar ninguém do que, ao encontrar alguma proximidade com uma mulher, encontrar também incompatibilidades com ela. Pensa-se demais em incompatibilidades do que em compatibilidades, e vai-se torneando noites que podiam ser melhores. Ou piores? Normalmente não se chega a saber. É patológico e patafísico.
É assim, mais coisa menos coisa, que se vive nos primeiros seis meses de separação. Depois, o futuro, não sabe. Ainda bem.

10 comentários:

Anónimo disse...

Ai como eu te entendo..!!
Nem vou dizer mais nada...foi história da minha vida nestes últimos 2 anos...

Ivar C disse...

pois Nina, eu só não bebo vodka nem caipirinha... bebo cerveja preta. ;-)

Vítor disse...

Deixo-te um abraço!

Anónimo disse...

gosto da forma simples como escreves as coisas. momentos dificeis para serem ultrapassados e que acabam por ser "engraçados" (não me interpretes mal).
um beijo.

ah! gosto muito de caipiroskas

Ivar C disse...

vitor, obrigado e outro abraço.

teresa, não é que eu não goste de capiroskas. não é gosto é de perder o controle quando estou a beber. acho que umas cervejas caem sempre melhor...

Ivar C disse...

ah, teresa, não te preocupes, eu não te interpreto mal. isto nem são momentos difíceis... o que é que diria um cidadão qualqer do Sudão se soubesse que acho que isto é difícil? Pois...

Elipse disse...

:)
:(
:)
:(

há dias e dias...
também podes fazer listas de vantagens e de desvantagens; o balanço depende sempre do dia :):(

era para não dizer nada, mas, tal como tu, costumo "falar" demais. E o "demais" é apenas uma palavra... assim como a solidão. Estamos tão sozinhos quando estamos sós como quando estamos acompanhados, depende dos dias :( :) :))

umas vezes temos medo de ficar sozinhos... mas outras, sabes o que acontece?
temos medo de nos termos habituado tanto a sermos seres por conta própria que depois é difícil "partilhar"!!!

Ivar C disse...

tirate-me as palavras dos dedos, Elipse... :)

Anónimo disse...

Tambem gosto de cerveja preta...mas achei que vodkas e caipirinhas se adequava mais á situação. O contraste entre o doce e o amargo de uma fase que não foi uma coisa nem outra.

(Ufa! Foi desta! hehe)

Ivar C disse...

nina, obrigado pelo enorme esforço em colocares este comentário. lol. ;)