9.05.2007

crónicas da cidade que sopra | triângulo de cheiros

Amanhã, no Diário de Aveiro.

O cheiro é o mesmo, e agora é como se os aromas duma fresca manhã primaveril invadissem lentamente os espaços dum fim de tarde invernoso. Lembra-se de ele lhe ter dito que ela cheirava bem e de o mundo ter parado. A Lua deixou de orbitar a Terra e a Terra deixou de orbitar o Sol. Depois fizeram amor.

O cheiro é o mesmo, e agora verte uma gota do perfume num dos pulsos, cheirando-a antes de a dissolver na pele que espreita pelo decote. Lembra-se dele na cama dum hospital à espera que a vida se despedisse do seu corpo, num último e suave sopro. Nesses dias o tempo construiu uma parede à sua volta, tijolo por tijolo, segundo por segundo. Depois ele partiu. Lembra-se que o último desejo dele foi beber um café. Só isso, como se aquele acto quotidiano fosse o mais importante das nossas vidas. Talvez até seja, pensa.

8 comentários:

Unknown disse...

A vida roda à volta dos cheiros...

Anónimo disse...

como em todos os triângulos há sempre um lado que fica em desvantagem, mesmo que a matemática nos diga que têm os lados todos iguais.
este teu belo texto começa com os aromas da Primavera e acaba com uma tempestade de Inverno!
Carla

Nelson Peralta disse...

Porque não colocas a crónica toda? Assim obrigas o pessoal a comprar o jornal amanhã!

Ah, e já levantei o véu sobre o enigmático dia 14 no meu blog :p

Ivar C disse...

joana, e vidas que cheiram bem, outras mal. :)

carlahá triângulos que não tês os lados todos iguais. :)

nelson, não o faço por respeito ao DA. Todos os cafés em Aveiro têm o jornal... hum... no dia 14 nã estou em Aveiro, só chego lá para as 00:30 :)

Nelson Peralta disse...

Pelas 0h30 deve estar a acabar o último concerto. Parece que ainda não é desta :)

É uma opção. Eu coloco os meus artigos na integra no blog, mas também ninguém os quer ler nem no DA nem no blog :)

Ivar C disse...

Nelson, se por acaso der para aparecer mais cedo ainda apareço. Mas vai ser difícil. O Diário de Aveiro é mais lido do que eu pensava no início. Lido mesmo, não apenas folheado. :)

Fatyly disse...

Só hoje é que consegui e não tenho palavras para descrever o que senti ao ler e reler esta tua crónica. Digo-te apenas que chorei e que vale a pena ler-te.
Muito obrigado.

Aquele abraço:)

Ivar C disse...

fatyly, um beijo, então, e obrigado por andares aí. :)