respostas a perguntas inexistentes (363)
Eu estava a lavar a louça e parti um copo
Entre o vinho, sempre tinto e bebido à noite em doses mais ou menos generosas, e o café matinal fazíamos Amor. Passávamos o resto do tempo a tentar não quebrar o que havia entre nós, o que implicava um esforço tão grande como aquele que eu fazia para não partir o pé alto dos copos de cristal que ela guardava como relíquias numa armário da sala.
Era uma estranha sensação de conforto não nos apercebermos que o nosso Amor já tinha acabado. Talvez por isso repetíssemos sempre as mesmas rotinas na cama e fora dela, enquanto o relógio marcava o tempo a passar como se cada segundo fosse uma pequena e indelével ferida.
Além disso, pouco mais. Às vezes o vento batia nas janelas e abria-as. Vinha ver se ainda estávamos entretidos um com o outro, esquecendo-o a ele e àquilo que ele varria quando o Outono pintava a rua de amarelo e de vermelho escuro. Uma vez ela suspirou e fechou a janela com mais força do que o habitual. Parecia zangada. Depois encostou a cabeça ao vidro e esperou doze segundos até falar.
- É estranho a morte das folhas das árvores ter cores tão vivas.
Eu estava a lavar a louça e parti um copo.
4 comentários:
O amor morre quase sempre de doença prolongada. Mata-o a rotina, a falta de tempo, a ausência de cumplicidade. Lutamos por ele, evitamos que morra até ouvir o último suspiro. Ninguém quer a morte de um amor.
Beijo Bagaço:))
AC, sim... se só morre de um dos lados é que é tramado. :)
Gostei muito deste texto.
um beijinho
redonda, obrigado. :)
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