coisas que fascinam (192)
Há mulheres que todos os dias me salvam a vida, apesar de nem sequer o saberem. Nunca lhes agradeço porque nem sequer as conheço pessoalmente. Falta-me a confiança para tal. Ainda assim, o que me resta é imaginar que lhes faço também esse pequeno favor. Salvar-lhes a vida todos os dias.
Assim que encostei os cotovelos ao balcão e lavei em seco a cara com as palmas das mãos, ela aproximou-se e retirou dois ou três copos de cerveja já bebidos por clientes que não cheguei a ver. Depois disse-me que estava à minha espera.
- À minha espera?!
- Sim. Tive aqui um cliente tão chato que precisava de alguém mais simpático.
É assim que ela me salva a vida todos os dias, a mentir-me sobre mim mesmo. Depois tirou-me um café que, ela já sabe, bebo sem açúcar. Sorri-lhe timidamente e perguntei-lhe se precisava de alguma coisa, sabendo eu que a resposta ia ser que não.
Perguntar a uma pessoa se precisa de nós mesmo sabendo que ela não precisa, às vezes, é o mais legítimo do mundo. Estamos apenas a afirmar que se pudéssemos fazer alguma coisa por ela, fazíamos mesmo.
É como se todos precisássemos de alguma coisa que não sabemos bem o que é, mas sabemos que é em alguém que se encontra e, até encontrarmos alguém que nos salve todos os dias com a vida, vamos visitando quem nos salva a vida todos os dias.
4 comentários:
Se ela disse-te que és simpático, aceita.
:-)
ejsantos, lol! :)
gosto tanto destes teus textos, bagaço!
fico sempre com um sorriso no rosto ao fim do dia :)
lullaby, obrigado por mo dizeres. faz-me bem. :)
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