10.30.2015

respostas a perguntas inexistentes (348)

Ela disse-me que era o vento Norte, mas eu não acreditei. Para mim não há vento no mundo que não venha de ti, mesmo que eu não saiba onde estás. É por isso que, em vez de um ponto cardeal, dou a todos os ventos o teu nome, apesar de não o dizer a ninguém.
Dá-me um certo prazer ver o mundo a abrigar-se de ti, ajeitando os colarinhos ou até segurando capuchos fugidios, enquanto  eu abro o casaco e ofereço o meu peito ao frio. É assim que tu me tocas e me abraças nos dias que correm. É também assim que eu te respiro.
E então foi assim: uma criança fugiu à mãe para ir para os baloiços e eu segui-a com os olhos, não fosse ela desaparecer numa curva qualquer da cidade. Quando deu pela falta dela, a  mãe procurou-a através da janela do café, entre as árvores que dançavam ao teu ritmo, e correu atrás dela com um cachecol cor de laranja na mão. Embrulhou-a como se embrulha uma prenda e voltou para dentro. Talvez por se ter apercebido que eu vira a cena toda, justificou-se chamando Norte ao vento. Sorri-lhe, mas não acreditei.
É só para te dizer que não precisas de soprar tão intensamente. Quando o vento amainar hás-de ser outra coisa qualquer.

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