respostas a perguntas inexistentes (329)
um caroço de pêssego
Para mim, se eu passasse ali uns anos depois, seria natural ver um pessegueiro. Algum tempo antes, na escola primária, tinha colocado um feijão em algodão branco e percebido o que é uma semente. Não sei quantas vezes atirei caroços para lugar nenhum à espera que pudessem crescer, mas sei que foram muitas. Talvez mil.
Uma vez disse isto à Joana, enquanto comíamos nêsperas no parque. Acho que ela se riu de mim e, muito provavelmente, foi a primeira mulher a chamar-me idiota neste mundo. Mas não o disse, apenas pensou. Depois atirou o caroço da nêspera dela para perto do meu e disse que ali iam crescer duas árvores.
Claro que nunca cresceram, mas cresceu em mim uma memória indestrutível. Sempre que passo por aquele lugar lembro-me dela e desse curto momento. É o que nos acontece quando Amamos alguém: coleccionamos momentos que ficam para sempre. A montra duma loja, um cartaz numa parede, um beijo num muro... nada se apaga antes de nos apagarmos nós mesmos.
4 comentários:
Não se apaga, mas vai-se apagando.
Por vezes chego a perguntar-me se realmente aconteceu, porque a memória já é muito difusa e gasta.
Até as memórias têm o seu início e fim.
Teresa
Maria Nunes, eu tenho tudo tão vivo na memória... :)
Quando amamos alguém coleccionamos memórias que ficam para sempre. É isso.. exactamente.
Ana Martins, e que colecção. :)
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