12.04.2008

telefonei-lhe sem ter nada para lhe dizer

Telefonei-lhe sem ter nada para lhe dizer. Tinha acabado de morrer mais uma vez e precisava de ouvir a voz dela, ter a certeza que ela existia mesmo.
Às vezes acho que o mundo não faz sentido ou se calhar sou eu que não faço parte dele. Não sei. Estou cansado da merda do dinheiro e de como se humilha o próximo por causa dele. Nos empregos, nos bancos, nas famílias... Estou cansado desta merda. Um gajo que vai para o desemprego e não é capaz de pagar as mensalidades da casa é considerado um falhado. Um gajo que passa anos a roubar-nos no BPN e que é conselheiro e amigo do presidente da República é um sucesso.
As pessoas deixaram de interessar e neste momento as cidades não são mais do que tristeza enfeitada pela merda do Natal. Os únicos sorrisos a sério que vejo são de bonecos a pilhas, porque as pilhas dos vivos já acabaram há muito. Hoje um amigo telefonou-me para desabafar. Anda no psiquiatra porque o cabrão do patrão o está a pressionar para se despedir, tudo porque ele se recusou trabalhar sete dias por semana sem que lhe pagassem horas extras. Uma amiga minha anda a ser pressionada por outro cabrão dum patrão que lhe quer saltar em cima. Também está no psiquiatra. Os lábios tremeram-lhe quando me contou.
Trabalhar não é um gajo vender a alma ao Diabo para ganhar meia dúzia de tostões ao fim do mês, e a moral que considera que só quem trabalha deve ter direito a comer ou a outra coisa qualquer é uma moral merdosa.
Isto não está bem escrito mas não me apetece, neste momento, rever ou escrever melhor. Estou farto.
Telefonei-lhe sem ter nada para lhe dizer. Tinha acabado de morrer mais uma vez e precisava de ouvir a voz dela, ter a certeza que ela existia mesmo. E ela existia. Menos mal.

29 comentários:

Anónimo disse...

interessante escrita

visita o meu

http://fogodeletras.blogspot.com/

Ivar C disse...

fogo, já está ali adicionado. logo à noite vou ver... :)

Salseira disse...

Fazes aqui uma boa descrição de uma realidade... triste, injusta, revoltante.

Há uma outra realidade. A realidade dos que cortam com as amarras e optam por uma vida diferente.

Há ainda uma outra realidade. A dos que não querem amarras para poderem optar por uma vida diferente.

Há ainda uma outra realidade. A dos que não querem amarras mas cometem erros que os amarram, perdendo a liberdade de optar. Esses não se queixam porque aceitam a responsabilidade das suas acções.

Fico triste por ver tantas pessoas à minha volta amarradas a uma vida que não desejam e que não procuraram.

Mas fico feliz por ver muitas outras a optar por serem felizes.

É dificil dar o passo de uma realidade para outra... eu fui das que criei amarras por erro próprio... mas estou a trabalhar para as cortar. :)

(Desculpa o testamento...)

Olga disse...

Como eu te compreendo. Assino em baixo.

SunGod disse...

jovem... nem eu nos meus momentos mais deprimentes e auto-destrutivos consigo escrever de forma melhor,talvez por ser mais abstracto na escrita introspectiva...talvez :)

mas compreendi e compreendi também onde se insere a raiva demonstrada no texto... esta é, seguramente, a época do ano mais hipócrita a nível mundial, mas de certeza... não é que eu não goste do natal, não gosto é de algumas pessoas (ou seria melhor chamar-lhes verdadeiras bestas) durante o natal :P

CCF disse...

Ainda bem que lhe telefonaste só por isso! É bom quando alguém nos liga para nos fazer sentir que existimos.
~CC~

vague disse...

ai q bonito (suspiro)

e o suspiro foi a sério! :)

(o resto tb)

:)*

Luís Filipe Maia disse...

Excelente como habitual

Pepermind disse...

Um dia levo os meus patrões a uma terapia de grupo a um psiquiatra (porque só com medicação é que a coisa lá vai).
Seguem algumas das coisas que levam qualquer um a procurar ajuda, por pensar que são o problema de tamanha perseguição:
- Falsa autonomia, de forma a que se algo correr mal possam colocar as culpas em ti;
- Palmadinhas nas costas e quando menos esperas o teu trabalho é alvo de chacota, à frente da empresa toda);
- A minha preferida: criticar quem cumpre o seu horário e exigir, a quem faz horas extra, que faça o papel dos minutos/horas de ausência. Mesmo que não descontem essas horas, além de não receberes o equivalente ao subsídio de almoço, fica sempre o registo das ausências...muito útil para não gozar 25 dias de férias e para justificar eventual despedimento...
Uma vez tive o ideia de escrever um papel com as horas extra, com uma nota: "sei que não são renumeradas mas fica para registo e eventual pagamento de subsídio de jantar",
Resposta: só faz horas extra quem não consegue acabar o seu trabalho em tempo útil :) mais nada!!
Resultado, agora só faço as horas que me ausento, se não as descontarem. Apartir daí adoptei o lema " há dinheiro há palhaço, não há dinheiro não há palhaço"

Conclusão: sinto-me um alvo a abater. De bestial a besta ;)

Podia ficar aqui a noite toda ...

Gostava tanto de trabalhar numa grande empresa e ser reconhecida somente pelo número de empregada...

Vai ser o meu desejo para 2009!

M disse...

Acho que está muito bem escrito :) porque está tudo dito de enchurrada, tal e qual é sentido. Também já tive em situações profissionais semelhantes, e não é fácil. E há tantas mais coisas importantes nas nossas vidas!!....

Anonyma disse...

Li o teu texto e senti as tuas palavras. Também sinto muitas vezes essa raiva. Só não a tenho pela entidade patronal, se calhar, já me virei para o outro lado.

Por fim, ainda bem que ela existe. Ele também existe. Mas nem eu lhe telefono nem ele a mim.

Beijinhos e tem um óptimo fim de semana

Anónimo disse...

Pois olha, eu também estou assim...partilho contigo cada palavra que escreveste...

Inês disse...

É de uma tristeza atroz, a humilhação constante que alguns de nós tem de suportar.
As coisas que se deixam de ter. A ameaça do desemprego. A casa. O carro. A comida. E os filhos. Principalmente os filhos. E saber que quando estes tiverem a nossa idade provavelmente não os conseguiremos ajudar como os nossos pais ainda o vão fazendo.

É triste. É revoltante.
(Ou noutras palavras: mete nojo.)
Especialmente quando continuam a ser os "ainda extraordinariamente bem instalados" deste país que tomam decisões, mudam as leis e assobiam para o lado quando se vão descobrindo as carecas.

Anónimo disse...

Como eu entendo... Eu acho que também vou acabar no psiquiatra por causa do trabalho... infelizmente já vi que não sou a unica!

Anónimo disse...

Como eu entendo... Eu acho que também vou acabar no psiquiatra por causa do trabalho... infelizmente já vi que não sou a unica!

Anónimo disse...

pois, isto hoje em dia ta complicado... uma vez o meu patrao disse-me: "as vezes no mundo dos negocios temos que passar por cima de certas coisas, certos sentimentos morais pelo bem da empresa, e tu és bonita, por isso quando houver o jantar se simpatica com os clientes" ao que respondi "eu trabalho num escritorio, nao numa das montras de antuérpia". Numa outra x: "porque é que nao vens de comboio? assim nao preciso alugar um lugar de garagem para ti...30kms de comboio é rapido..." ao que respondi: "porque é que nao vens tude comboio e eu fico com o teu lugar na garagem e assim ja n tens que alugar um lugar para mim?"

Antes de ele ser meu patrao ja eramos amigos, mas mesmo assim nao deixo que me calquem. Prefiro ir limpar sanitas a deixar que me tratem como um objecto sexual, ou uma inutil...

mas tens razao...isto agora é uma merda, ainda mais, quando estamos em dia nao...

Liana disse...

Adorei o texto.

Beijo

Anónimo disse...

Ficou a apetecer-me dar-te o meu número :-)

Amanhã é outro dia, e o natal já esteve mais longe de acabar, valha-nos isso..

Um beijinho,
Caricas

Ivar C disse...

salseira, não peças desculpa. percebo-te perfeitamente. força nesse corte. :)

olga, :)

sungod, verdadeiras bestas, exacto. :)

ccf, estava a precisar. :)

vague, :)

luis filipe maia, obrigado. :)

pepermind, eu percebo-te perfeitamente. a sério que sim. :)

sayuri, tens razão. há tantas coisas mais importantes que não percebo porque é que se lixa a vida aos outros por causa disto. :)

anonyma, existe sempre alguém. :)

fá. :)

joana pestana, exacto. :)

angela soeiro, não és a única, não. :)

jo, fazes bem em não deixar que te calquem. eu também não deixo... :)

liana, :)

caricas, sim... estou ansioso pelo dia 1 de janeiro. :)

SunGod disse...

posso só acrescentar uma coisita ao comentário da jo? deixa estar, o meu patrão já disse na empresa que comigo não vale a pena falar porque parece que está a falar para uma parede de betão armado... esquece-se é de dizer que ele normalmente não fala comigo, tenta rebaixar-me:P aprendi há muito tempo que uma das melhores armas é o desprezo

aproveito ainda o post para debitar a ultima do meu patrão...
ora, final de ano é costume os patrões oferecerem o jantar aos empregados...este ano, deram "à escolha" de cada empregado entre o jantar ou a tarde do dia 24 livre... lógico que a maioria escolheu a tarde e nós, os que sobramos, tivemos que nos sujeitar à escolha da maioria (isto é so democracia lol)
agora... a piece de resistance: TODOS (e sublinho o todos) os anos a entidade patronal dispensa a tarde da véspera de natal aos empregados, logo eu pergunto: para quê a razão de terem dado tal escolha? só vejo uma conclusão: foi a maneira mais "simpática" de dizerem "este ano não há jantar para ninguém por isso lixem-se"... não compreendo os patrões lol e já estive do lado de lá... ele há cada um :P

Ivar C disse...

sungod, deixa lá... o meu patrão, que por acaso é presidente da CME, foi de férias e esqueceu-se de assinar a ordem de transferência dos ordenados... :)

Anónimo disse...

Deixa lá, Ivar.
Quem me paga diz que ainda não me pagou o que já me devia ter pago há dois meses atrás porque ainda está dentro do prazo (legal). Ou porque tem muito que fazer...
E quando alguém diz que o outro colega já foi pago, diz que as pessoas são diferentes...
Não sei porquê, mas também já tinha percebido isso! :)

SunGod...

Há pessoas que não se gosta no Natal, há pessoas que não se gosta o ano todo, outras ainda que não se gosta nunca, mas há outras...

...que se adora até morrer!

É por essas que se aguentam estas "merdas"... até ter a oportunidade de dar cabo disto...

Beijinhos e bom fim-de-semana.

Ivar C disse...

joana dias, a piada está em confundir legalidade com moralidade. até pode estar dentro da legalidade mas é um sacana na mesma. :) beijinhos

Anónimo disse...

Exactamente.:) E pior é quando quem nos diz isso tem a perfeita consciência da imoralidade do que está a dizer e disso retira prazer.
Enfim... falta de «carinho» (para ser simpática) ;)

RC disse...

Compreendo-te.

Isa disse...

Gosto de te ler... :)

Ivar C disse...

joana dias, :)

rc, :)

isa, :)

redonda disse...

Bem, pelo menos ela existe.

Ivar C disse...

redonda, vai existindo, sim. :)