respostas a perguntas inexistentes (358)
Uma vez convidaste-me para comer uma torrada em tua casa. Pode parecer vulgar, mas olhando para os meus mais de quarenta anos de vida não encontro outro convite igual. Estavas no terraço da tua casa e a Lua tinha mergulhado numa fina poça de água que crescera perto dos vasos com plantas.
- Gostas de torradas?
- Acho que sim... nunca pensei muito nisso.
- Queres tomar o pequeno-almoço comigo?
- Mas... são dez da noite.
- São. Terás que dormir cá e esperar pela manhã.
E então ergui os olhos e percebi que a Lua voltara para o céu.
Passaram-se alguns meses até voltarmos a comer torradas de manhã, num café encolhido numa das esquinas da cidade. Estavas a tentar explicar porque é que tinhas gostado de mim e eu, depois de te ouvir, percebi que não tinhas gostado assim tanto. Afinal de contas, também eu gostava de ti e não sabia nem me apetecia explicar porquê.
Nunca quis explicar os meus Amores. Nem os desAmores, já agora. Guardo-os numa gaveta muito especial da minha memória e só lá vou vê-los quando sei que isso não me vai deprimir. Duas formigas passeavam-se entre as migalhas que sobravam no prato e, por falar em formigas, os clientes já faziam fila na caixa. Queriam pagar e partir para mais um dia igual ao anterior e ao próximo. Acabaste por ir com eles.
Existem Amores que nunca o chegam a ser e, na verdade, são bons. São os Amores dos quais nos conseguimos despedir sem grande constrangimento. Num café, por exemplo, depois de comer torradas.
Todas as pessoas deviam viver um Amor desses de vez em quando, só para tornar a vida mais leve. Os outros Amores, aqueles dos quais nunca nos conseguimos despedir, não vão lá com torradas. Foi o que eu te disse, pelo menos.
4 comentários:
Gostei muito deste texto, mesmo não me lembrando de ter vivido alguma vez um amor destes, do qual nos conseguimos despedir sem constrangimentos, num café, com torradas :)
um beijinho
redonda, se calhar, ainda bem... :)
Acabei, agora mesmo de descobrir o seu blog... amei a sua escrita!!!
Li, alguns dos seus textos, são maravilhosos... Em relação a este, nunca tive essa experiência de não conseguir despedir de ninguém sem constrangimentos num café, e com torradas :) ...mas, fui muitas vezes seguida por olhares masculinos,em cafés, quando comia uma torrada, ou uma tosta mista, quando era mais nova...
Um Feliz Ano de 2016 para si. Beijinho.
IMAGENS DE SONHO, obrigado pela simpatia e pela presença. Bom ano. :)
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