a mulher que não sorri
Sempre que escrevo, melhor ou pior, escrevo sobre uma mulher. Aprendi com o tempo que é uma forma dessa mulher existir, escrever sobre ela. E como a existência precede sempre o Amor, voltei à cidade do Porto para frequentar as oficinas de escrita criativa da TKNT. Aliás, ir ao Porto uma vez por semana é uma das terapias que vou manter na minha vida.
O que me sobra na memória, espremido o dia, é a mulher do lenço branco na cabeça e da face escondida. “Sorria! Está a ser filmado!”, lê-se na entrada da lojinha de cacarecos onde turistas esgravatam ímanes para frigoríficos como galinhas a cercar um monte de milho. As galinhas sorriem ao olhar a placa, mesmo em Português, entendendo-a por causa de um smile pateta.
É tão estranho passar o dia a ver pessoas sorrir apenas porque lhes mandam. Como se estar triste fosse motivo de censura. Pior! Como se sorrir sem vontade fosse natural. Aquela mulher, fugaz como um insecto ao Sol, ficou-me cravada na memória por ser a mais honesta: A única que não sorriu. Vendo-lhe a cara, sei que me apaixonaria por ela. Sempre me quis apaixonar por alguém que não sorrisse por obrigação. Vou pedir demissão de vigilante desta lojinha – onde a minha tarefa mais importante é desconfiar de pessoas que sorriem por obrigação – para estar atento ao sol que desenha as paredes da cidade. Talvez torne a ver a mulher do lenço branco na cabeça. A mulher que não sorri
Um exemplo: a mulher desta fotografia passou a existir na minha vida, escrita por mim, esculpida pelo Nuno e fotografada pelo Paulo Pimenta. Para quem precisa de escrever por existir, as oficinas da TKNT são um conselho meu pessoal.
fotografia de Paulo Pimenta |
O que me sobra na memória, espremido o dia, é a mulher do lenço branco na cabeça e da face escondida. “Sorria! Está a ser filmado!”, lê-se na entrada da lojinha de cacarecos onde turistas esgravatam ímanes para frigoríficos como galinhas a cercar um monte de milho. As galinhas sorriem ao olhar a placa, mesmo em Português, entendendo-a por causa de um smile pateta.
É tão estranho passar o dia a ver pessoas sorrir apenas porque lhes mandam. Como se estar triste fosse motivo de censura. Pior! Como se sorrir sem vontade fosse natural. Aquela mulher, fugaz como um insecto ao Sol, ficou-me cravada na memória por ser a mais honesta: A única que não sorriu. Vendo-lhe a cara, sei que me apaixonaria por ela. Sempre me quis apaixonar por alguém que não sorrisse por obrigação. Vou pedir demissão de vigilante desta lojinha – onde a minha tarefa mais importante é desconfiar de pessoas que sorriem por obrigação – para estar atento ao sol que desenha as paredes da cidade. Talvez torne a ver a mulher do lenço branco na cabeça. A mulher que não sorri
11 comentários:
Tão bom!Mas tão bom!
Beijo, Bagacinho. :)
Um dia, quando tiver tempo para mim, verdadeiramente tempo para mim, quero fazer um curso de escrita criativa. Saber colocar em palavras as histórias que adivinho nos outros, mas que acabam por ser minhas.
Maria Eu, obrigado. :)
marta, não lhe chamo bem curso... provavelmente isso não existe. :)
Nao lhe chamei curso no sentido de alguem atestar conhecimentos, usei a palavra errada. Evidentemente iria fazer-me bem aprender umas coisas. :P
marta, está-se bem. :)
Estive a seguir o link.
Não vou a tempo desta Oficina, mas espero que vão haver mais e possa ir a uma.
redonda, vão haver mais, sim... :)
Tantas mulheres que não sorriem por obrigação, Bagaço... tantas.
ella e o gato, sim... :)
redonda, marta, maria e ivar de novo... a 23 começam novas oficinas... escrevam-me para nucashcc@gmail.com ou liguem para 91 827 62 12... combinaremos grupo e horário.
Estou à vossa espera... redonda, sempre ivar, ella e o gato, marta e maria... liguem para o 91 8276212 ou escrevam para o nucashcc@gmail.com
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