Eu, homem, cobarde me confesso.
Uma mulher nunca acredita na desculpa que um homem lhe dá quando acaba um namoro com ela. Pode fingir que sim, que acredita. Mas não acredita. A razão é muito simples: nunca é verdade. Só há uma coisa capaz de segurar um Amor, que é Amar, e um homem nunca diz que já não Ama. Tem medo. Não dela, da mulher, mas dele mesmo e da sua incapacidade de viver um Amor a sério. Eu, homem, cobarde me confesso.
As mulheres não entendem porque é que os homens fazem isto, embora saibam que o fazem. Não entendem porque elas fazem-no sem problema nenhum. A mim já mo fizeram. Ela chegou ao pé de mim enquanto eu tinha a chaleira ao lume e disse-me que já não me Amava. O chá levantou fervura e apagou o seu próprio fogo, tal como me acabara de acontecer a mim. Admiro a mulher que fez isso. É de homem, embora apenas as mulheres o façam.
Também já acabei relações, namoros e coisas a que nem sei bem o que chamar. Nunca o fiz da melhor maneira. Uma vezes disse que não me sentia bem e precisava de tempo, outras vezes disse que sou um solitário por natureza. Outras ainda, as piores de todas, escondi-me num manto de silêncio e saí de fininho. Nunca fui capaz de dizer "Não te Amo", embora o tenha ensaiado inúmeras vezes. Eu, homem, cobarde me confesso.
Com a idade aprendi a nem sequer chegar lá, a esse ponto em que se tem que dizer que se Ama ou não alguém. É na mesma uma estratégia fugitiva, uma cobardia, mas pelo menos por caminhos mais transparentes. Esta coisa da obrigação depois do sexo é o mais difícil. Um homem enfia-se na cama duma mulher durante a noite e não sabe o que fazer na manhã seguinte. A estratégia passou a ser esperar pelo sinal dela, para embarcar na sua desresponsabilização do acontecimento ou então para fugir logo. Na primeira vez é legítimo fugir, não é? É. Até se pode dizer que foi bom mesmo que não tenha sido. O verbo ser no pretérito perfeito é mortal. Foi, e o que foi não volta a ser.
O que um homem não aprende com a idade é a não estar apaixonado. As mulheres, por seu lado, já nascem ensinadas. Não estão apaixonadas e esperam calmamente que lhes aconteça. Lêem um livro, vêem um filme, ouvem uma música ou tiram esse tempo da não paixão para dormir. Um homem esperneia na sua imensa solidão. É por isso que finge que se apaixona, a ver se acontece mesmo. Mas nunca acontece. Até um dia, claro, um dia que pode tardar. Nesse dia é o primeiro a dizer que Ama e é quem o diz mais vezes. É de mulher, embora apenas os homens o façam.