coisas que fascinam (107)
Não tenho bem a certeza mas acho que esta é uma pequena história de amor, e só não tenho a certeza porque não a conheço.
Hoje de manhã vi um homem reconstruir as pedras da calçada na Avenida principal da cidade. Pegou nas pedras soltas, uma a uma, e tapou o buraco aberto. Depois empurrou com os pés alguma terra e tentou fixá-las. Parecia que estava a tratar cuidadosamente duma ferida, só que esta ferida não era de ninguém. Era de todos. Era uma ferida da cidade e ele tratou-a.
Por fim, uma mulher que lhe segurava a bengala enquanto ele fazia isto devolveu-lha e lá foram os dois embora, de braço dado, lentamente como se tivessem todo o tempo do mundo. É sempre estranho ver idosos tão calmos numa artéria onde todos parecem ter pressa.
Talvez aquele abraço que eu vi a desaparecer depois numa curva se deva à forma como eles tratam as feridas um do outro, e desta vez estou a falar das feridas a sério, aquelas que não se vêem mas que os dias nos vão abrindo cá dentro. O amor também é isso, sarar a ferida do outro.
Talvez ali, naquele abraço, fosse uma história de amor. Apetece-me acreditar que sim.
21 comentários:
há demasiada gente com bengala a tapar buracos que não vê... pode até ter boa intenção... mas boa intenção não chega.
antónio branco, lol... esses são outros buracos... :)
olá bagaço amarelo. são os mesmos... buracos tapados por quem não vê ficam tapados o melhor possível (do ponto de vista de quem não vê). mas nunca ficarão tão bem tapados quanto o ficariam se fossem tapados por que vê bem...
a boa intenção (e a necessidade que obriga a fazer o que não sabemos fazer bem) não chegam...
Ok... estás a falar de amor...outro tipo de cegueira... eventualmente mais agradável..
Um abraço!
antónio branco, o amor é um cegueira ou é uma visão? eu sinceramente não sei... :)
uma coisa ou outra... são alterações da visão anyway ;)
antónio branco, sim... é mais por aí. :)
De facto, as bengaladas da vida "alteram-nos a visão"... alteram-(nos), mas não alteram os sentimentos.
Um abraço.
bang, um abraço. :)
Quando eu for velhinho também vou ter tempo para isso. Entretanto vou apenas balbuciando uns palavrões contra a Administração Pública e Autarquia. Podia ser pior.
"É sempre estranho ver idosos tão calmos numa artéria onde todos parecem ter pressa".
É mesmo! Percebi isso algumas vezes :)
O amor é sarar as feridas que não se vêem e até as que se vêem,lol... Porque é quando a doença nos toca que mais falta nos faz quem goste de nós e trate de nós...
soube-me bem ler este texto... obrigada :) beijinho
Podes acreditar que sim e se todos o fizessem, ou melhor aprendessem de pequenos...mais tarde teriam essa cumplicidade, ternura e amparo.
Falando propriamente da calçada, vezes sem conta eu e outros repomos nos lugares e há quem as atire para a estrada...só por isto se vê o civismo e respeito por o que é de todos nós. Mais, falam, falam, mas alguém se preocupa em avisar, avisar, avisar a câmara para arranjar e então agora que a maioria tem internet meio mais fácil? Fala-se e opina-se tanto e fazem tão pouco, ou quase zero!
Parabéns pelo texto fabuloso e tão bonito!
O amor tem também que ser isso, sarar a ferida do outro, sem dúvida. Muito "menito" :)
tiago de la rocha, lol. :)
gigi, :)
sara, sim... doença num sentido lato. :)
myann, eu é que te agradeço. :)
fatyly, obrigado. :)
memyselfandi, :)
Era uma história de amor com toda a certeza! Fosse de que tipo fosse... :)
malena, também acho que era, sim... :)
Fascinante, sim!! De fazer chorar as pedras da calçada!
c, :)
Gostei da pequena história de amor :)
redonda, :)
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