Em defesa do meu género, devo dizer a todos os que me lêem que o Passos Coelho, actual primeiro-ministro deste país, não é bem um homem. Um homem (propositadamente escrito com h minúsculo) acerta e erra muitas vezes na sua vida, porque a vida é isso mesmo: uma aprendizagem. São as alegrias e as tristezas dessa aprendizagem, cujo epicentro é o Amor, que nos tornam capazes de olhar para os outros e para as outras como pessoas, homens ou mulheres que têm em comum connosco esse mistério da vida que se chama matéria, da qual todos somos feitos.
O problema de Passos Coelho é que, como nunca fez nada na vida, nunca aprendeu nada também. Foi um jotinha a vida inteira, num partido onde não se aprende muito mais do que a lamber as botas dos outros na esperança de que um dia nos lambam as botas a nós. Nisso, e só nisso, foi um excelente aluno. De tal forma que o sistema insistiu para que ele acabasse o curso de Economia, o que conseguiu apenas aos trinta e seis anos, mesmo sem fazer mais nada na vida. Depois elegeu-o para administrador de algumas empresas onde nunca pôs os pés e se limitou a assinar ordens dadas por terceiros.
Homens e mulheres, tive muitos como amigos e amigas. Ainda tenho, felizmente. São pessoas com nervo que choram, riem, sofrem, abraçam, beijam e Amam. Enfim, fazem pela vida. Passos Coelho nunca foi nada disso. Foi, e ainda é, um boneco preparado para defender os interesses do poder do capital que, por sua vez, está quase todo nos bancos centrais. Esse poder, para quem não sabe, escolhe os bonecos do mundo inteiro através de coisas como o
Grupo de Bilderberg ou, de forma mais simples, através do media que controla em cada país.
O PSD, aliás, não é um verdadeiro partido. Um partido é uma organização política e ideológica, com uma ideia de organização para as cidades, para os países e para o mundo. O PSD é uma máquina de produzir bonecos mais ou menos iguais ao Passos Coelho. Os bonecos não têm, como é sabido, qualquer tipo de sentimento, mas têm uma enorme vontade de devorar.
A Troika, que é constituída pela Comissão Europeia, pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Central Europeu, também não passa duma máquina para roubar os Estados, entre os quais se encontra Portugal. Para o conseguir serve-se de duas coisas muito simples: um sistema financeiro que quase ninguém consegue perceber, e bonecos que põem esse sistema em funcionamento até às suas últimas consequências.
Esse sistema financeiro tem como consequência inevitável a gradual perda de valor da força de trabalho e o enriquecimento dos bancos, o que na prática quer dizer que as pessoas vão perdendo a sua própria vida para os bancos. A "ajuda" que a Troika está a dar Portugal, por exemplo, não é ajuda nenhuma. É um roubo! Os resultados estão à vista. Os bonecos apresentam-na como ajuda, mas na prática o que se passa é que o Banco Central Europeu, que é um banco público e por isso produz dinheiro à custa do trabalho de todos nós, empresta esse dinheiro (que é nosso) a bancos privados alemães a uma taxa muito baixa (normalmente 1%) e depois esses bancos emprestam-no aos Estados a um preço muito mais elevado (7%, 8% e por aí acima).
O pior, no entanto, ainda está para vir. Para os Estados terem direito a esse empréstimo, emitem títulos de dívida pública que são pagos ainda com mais juros a quem os compra. Quando um país qualquer não está a conseguir pagar esses juros ao dono do título da dívida, o banco Central Europeu vai lá e compra-o no Mercado Secundário, ou seja, tira a batatinha quente do investidor privado, mas o país continua com a dívida.
Se tivermos em conta que isto mexe com milhões e milhões de euros, é fácil perceber porque é que estamos todos cada vez mais pobres (vejam o vídeo) e alguns, muito poucos, cada vez mais ricos. É mais fácil ainda perceber que um sistema destes precisa de bonecos a mascará-lo.
A maior parte dos bonecos estão em partidos políticos, como o PSD, o PS e o CDS. O Sócrates, por exemplo, foi excelente a desempenhar o seu papel. O erro está em pensar que os políticos são todos iguais. Não são, e há políticos que nunca chegam ao Poder simplesmente porque se recusam a ser bonecos.
Eu sou político, por exemplo. Represento o Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal de Aveiro e acreditem que não me é fácil. Sei que o partido onde estou está cheio de problemas, discussões internas e que às vezes parece que andam todos à cacetada uns com os outros. Andam mesmo, aliás. Agora adivinhem uma coisa: é por isso que eu gosto dele. É feito de pessoas e não de bonecos.
Entretanto continuo a ser homem. Choro, rio, Amo, sofro, abraço, zango-me e mais o que for preciso. O Passos Coelho não. É por isso que estamos todos mais pobres.
Este sábado há manifestações
um pouco por todo o país. Eu vou estar na de Aveiro, sábado às 17:00. Não por ser dum partido (a organização é da sociedade civil), mas sim por ser pessoa e, como tal, anticapitalista. Sou pessoa e estou farto de bonecos.