as árvores
As árvores sabem que ele decidiu morrer atirando-se ao mar, e que mesmo assim ao amanhecer tomou café com açúcar. Sabem que ele apertou os atacadores dos sapatos várias vezes até sentir que os mesmos estavam bem. Nem demasiado apertados nem demasiado largos. E que ontem, antes de se deitar, agrafou as contas pagas aos respectivos talões do multibanco. Arrumou-os todos por ordem, depois, numa das gavetas da cozinha. Sabem que lavou a loiça antes de sair.
As árvores estenderam até à praia um tapete vermelho e outonal e ele percorreu-o devagar, fascinado pela luz que se alongava ao horizonte. Depois viram-no desviar-se dum automóvel que não respeitou uma passadeira para peões, antes de esperar junto à linha que um comboio passasse. As árvores sabem que o fez para não morrer, antes de se matar.
[escrito em junho de 2005]
17 comentários:
As árvores serão minhas testemunhas
Gostei do texto. Se tiveres paciência dá uma vista de olhos no meu post sobre A Árvore, é uma outra versão...
:)
A pessoa que fica connosco toda a vida, somos nós próprios. Quando decidimos partir a decisão é tb íntima e solitária.
adorei o texto,bj
trolha, já são... de tantas coisas. :)
ana gg, vou ver. :)
bela isabel, exacto, e até ao último segundo vive-se... :)
Gostei mas fiquei de alguma forma morta de tédio.
i.D Pena, :)
Que decisão mais dificil...
fá, quando se toma, à partida, já é fácil. :)
Concordo contigo, uma vez tomada a decisão, concretiza-la já é mais "fácil".
Deve ser, de longe, o melhor texto que já li teu.
E olha que já li muitos.
fá. :)
mars, obrigado. :)
Sublime.
olga, :)
de nada, querido ivar :)
mars, :)
wow :O
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