9.30.2011

conversa 1831

Ela - Esta semana estive para adoptar um gatinho com três pernas...
Eu - Com três pernas?!
Ela - Sim, perdeu uma num acidente e os donos abandonaram-no. Vê lá tu como as pessoas são cruéis.
Eu - E não adoptaste?
Ela - Entretanto parece que alguém o adoptou primeiro. Também há gente boa...
Eu - A minha namorada tem um gato com três pernas. Deve ser boa, então...
Ela - A tua namorada tem um gato com três pernas?! Espectacular.
Eu - Até tem mais. Tem quatro...
Ela - Estás a gozar com os meus sentimentos pelos animais?!
Eu - Era só uma piada.
Ela - Vê lá se enfias a piada num sítio que eu cá sei.
Eu - Para quem gosta de gatinhos com três pernas estás muito agressiva.
Ela - Estou a contar-te uma coisa séria e tu começas a gozar...
Eu - Não estava a gozar contigo. Era a brincar...
Ela - O que interessa é o que eu sinto, não o que tu pensas.

conversa 1830

Eu - Importas-te de me dizer porque é que tens três telemóveis na carteira?
Ela - Este é para os meus colegas do trabalho, este é para os meus amigos e este é para o pessoal que conheço pela primeira vez.
Eu - Então e quando conheces alguém pela primeira vez mas depois acabas por ficar amiga?
Ela - Peço-lhe para actualizar o número.
Eu - E achas isso prático?
Ela - Muito prático. Às vezes, consoante o telefone que toca, nem me dou ao trabalho de atender.

esta noite dormimos juntos e não fizemos Amor

Esta noite dormimos juntos e não fizemos Amor. Há bocado disseste-me qualquer coisa como "Estás a ver que és capaz?" e eu não percebi onde querias chegar. Só agora, que me beijaste a testa e me chamaste melhor amigo é que fiquei esclarecido. Estavas a dizer que eu sou capaz de dormir contigo sem sexo.
Já te vi nua duas vezes. Do lado de cá e do lado de lá do espelho, mas fechei os olhos para não enfrentar a realidade. Eu Amo-te e tu não me Amas a mim. Pior ainda, eu Amo-te mas não sou suficientemente bom para que tu me Ames a mim. Só assim se justifica a falta de paixão por um homem que até consegue ser o teu melhor amigo.
O gato arranha a porta e tu abres uma frincha para o deixar entrar. Do lado de lá está o mundo para onde eu não quero ir, que me apetece ficar contigo neste quarto para sempre. Sentas-te com o felino ao colo na cadeira de balanço que já foi da tua avó, e eu sei que lhe estás a fazer festas enquanto eu finjo que durmo. Finjo para adiar o mais possível a conclusão de que passei a noite contigo sem te tocar. É só isso. E agora é o gato que está a ocupar o meu espaço. O teu corpo.
No chão ainda estava uma garrafa de vinho e os dois copos vazios da noite também vazia. Aproveito o momento em que os levas para a cozinha para me levantar, vestir e sair de casa. Digo-te adeus da porta sem te beijar e ainda por cima tu achas isso normal. Adeus, respondes. Vou embora com a convicção de que tu, apesar de estares tão sozinha quanto eu, não sofres de solidão. Desço os quatro andares tão zangado quanto apaixonado, e com uma estranha sensação de que estou a voltar a pôr os pés na terra. É uma merda e um alívio ao mesmo tempo.
Repito, durante cinquenta e seis degraus e em câmara lenta, o dormimos juntos e não fazermos Amor. Eu a abraçar-te e tu a afastares os meu braços de forma decidida. Eu a tocar-te com os dedos dos pés e tu a dizeres que estão frios, enquanto te embrulhas ainda mais nos cobertores de forma protectora. Boa noite, dizes como que para acabar com os meus avanços. Boa noite, respondo. Depois viro-me para o outro lado e adormeço também.
Repito, ao abrir a porta do prédio apenas na terceira e nervosa tentativa, a tua frase que me despertou: "Estás a ver que és capaz?". 
Não, não sou capaz. Só se me obrigares. É manhã. Esta noite dormimos juntos e não fizemos Amor.

9.29.2011

respostas a perguntas inexistentes (180)

a luta contra o tempo

A luta contra o tempo é a pior das lutas porque é uma luta perdida à partida. O tempo passa quando estamos a gostar da nossa vida e passa quando não estamos. Passa sempre. É mau mas é assim. É cruel, o gajo, e olha para nós sempre da mesma maneira sobranceira, sem sequer nos perguntar como é que andamos. Se passarmos a vida toda entristecidos, ele passa por nós sem nos ligar nada. Se andarmos sempre bem dispostos é mais ou menos igual.
Nós, portugueses, somos dos melhores povos a enfrentar esta arrogância do tempo. Achamos sempre que temos tempo para tudo mesmo quando não temos. Tomamos um café cinco minutos antes da hora de embarque num avião, dormimos mais um bocadinho depois do despertador já ter tocado três vezes ou pedimos mais um uísque quando o restaurante já fechou. Depois vivemos sempre atrasados, mas na verdade não faz mal. É a nossa forma de gozar com o tempo da mesma forma que ele goza connosco.
O orgulho que eu tenho nesta nossa forma de ser esbarra em mim mesmo. Tenho a mania de não me atrasar nunca. Muito pelo contrário, tento chegar sempre com cinco minutos de avanço. Em viagens, por exemplo, ainda a minha companheira está a acabar de fazer as malas, já eu estou à porta com tudo pronto e a olhar impacientemente para o relógio. Depois torno-me chato. Olha que vamos perder o avião, digo. E conto até dez para não me enervar.
As manhãs são uma excepção, talvez por eu trabalhar por turnos e andar invariavelmente cansado. Custa-me sempre levantar e o meu despertador já o sabe, pois toca invariavelmente três a quatro vezes por dia de cinco em cinco minutos. A Raquel também já o sabe, pois levanta-se sem me acordar para me deixar dormir mais uns minutos. Esta semana exagerei e saímos os dois de casa apressados. Ela já ia a uns cinquenta metros de distância quando eu parei, olhei para trás, e corri para lhe dar o beijo do dia que não tinha dado.
Depois tive que correr para o comboio mais que o normal, mas pela primeira vez com este orgulho de ser português e não deixar que o tempo, esse sacana sem lei, me ganhasse essa pequena batalha do dia. E acreditem que tive um dia melhor.

9.28.2011

pensamentos catatónicos (259)

o índice waf

Hoje percebi que a maior partes das mulheres, ou pelo menos as mulheres com quem falei hoje à hora do almoço, não sabem o que é o índice waf. Eu, que insisto em fazer deste blogue também um serviço público, venho aqui explicá-lo. Primeiro porque é um termo usado entre algumas conversas de homens, segundo porque ainda ontem me lembrei dele.
Waf quer dizer Women Acceptance Factor (Factor de Aceitação nas Mulheres) e aplica-se geralmente a uma compra que um homem que fazer e ao medo correspondente que tem de chegar com essa coisa a casa. Ontem, por exemplo, tirei o dia para mim e para a cidade do Porto, onde depois de andar cerca de duas horas a pé sem direcção nenhuma fui dar a uma loja de perder a respiração. Foi nessa loja, que se chama Oportonidades, que me apaixonei por um projector antigo de Super 8 da Noris. Perguntei o preço e comprei-o, mas o meu primeiro pensamento foi que tinha um elevado índice de risco Waf. E tinha mesmo...
Tenho alguns amigos com a mesma mania coleccionista que eu tenho, ou com outras parecidas (alta fidelidade, jogos de vídeo, fotografia química, etc, etc), e todas elas envolvem um índice Waf mais ou menos elevado. Entre nós, tentamos descobrir qual será o risco de chegar a casa, por exemplo, com um amplificador Audiolab 8000c, uma consola 16 bits Megadrive ou, lá está, um projector Super 8 com mais de quarenta anos. A questão passa por saber responder à pergunta: "Para que é que queres esse lixo?". Eu, na verdade, ainda não sei. Costumo dizer que tudo o que eu quero tem um índice Waf muito elevado. Vai-me salvando a paixão...

[prolongamento no bagagem]

9.27.2011

conversa 1829

Eu - Diz ao teu marido, por favor, que preciso falar com ele. Ele não me tem atendido o telemóvel...
Ela - Ele perdeu o telemóvel, é por isso. Mas o que é que tu queres ao meu marido?
Eu - Só quero falar com ele. Ele que me telefone quando puder.
Ela - Mas o que é que tu queres ao meu marido?
Eu - Não é nada de especial.
Ela - Mas o que é?
Eu - Fosca-se! Pedes-lhe para me telefonar ou não?
Ela - Se não me disseres o que é que lhe queres, não peço.

o pedinte

Vejo-o a andar por ali a arrastar os pés nuns sapatos esburacados e dois números acima do pé, de mão estendida a pedir que lhe permitam viver mais algum tempo, seja com uma moeda para uma sopa ou o resto dum cigarro, e não é bem a miséria dele que me faz confusão. É a solidão, que nunca o vi acompanhado por ninguém.
Um dia ganhei coragem e convidei-o para almoçar.

- Sente-se aí, se quiser, e faça-me companhia durante a refeição. 


E ele olhou para o empregado como que a pedir autorização. Naquele café os pedintes podem entrar, pedir e sair. Só não podem sentar-se à mesa. Era o que faltava, o senhor Fernando ir servir aquele a quem às vezes dá uma moeda. Uma vez até me confidenciou que já serviu o presidente da República. Não este de agora mas o anterior, e que ele até lhe disse obrigado antes de sair.
E eu perguntei pelos pratos do dia.

- A feijoada está boa. - respondeu abanando o lóbulo da orelha com um orgulho singular.
- Duas doses, então.


O pedinte sentou-se e o senhor Fernando abanou os ombros como que derrotado pelas evidências. Enchi-lhe o copo de vinho enquanto os seus olhos se enchiam de brilho, e talvez por isso tenha sido sido ele o primeiro a falar.

- É casado? Perguntou.
- Oficialmente sou, na prática não. Meti esta semana os papéis do divórcio.
- Logo vi. Um homem casado não convida um pedinte para almoçar.

Deu um gole no vinho que mais me pareceu ser um mergulho no mar. Aaaaaahhhh! E beijou o próprio ar estalando os lábios. Vou-lhe dar um conselho, disse. E depois quis centrar os seus olhos nos meus.

- Foram as mulheres que me puseram assim, nesta condição de miserável. Se se vai ver livre duma, e se ainda gosta uma réstia de si, nunca mais se meta noutra.


Provei a feijoada, que realmente estava boa, e dei também um gole no vinho, que não estava assim tão bom. Não que me apetecesse falar sobre mulheres, que na verdade era o último tema que eu poria em cima da mesa dada a minha condição de recém separado, mas fiquei curioso e perguntei-lhe, tentando dar o ar mais descontraído do mundo, se ele nunca se sentia sozinho.

- Nunca me senti tão sozinho como durante o meu casamento, porque o pior é ter alguém ao nosso lado todos os dias que não quer saber de nós.


E como eu não reagia ele insistiu.

- Está a perceber?


Abanei afirmativamente a cabeça, mantendo propositadamente o silêncio. Com o meu divórcio mudei os meus hábitos e acabei por nunca mais voltar àquele café. Até hoje de manhã, em que o vi a entrar e sair com os mesmos movimentos de sempre. Acho que talvez seja isso, desistirmos de nos apaixonar: aceitar que os dias sejam todos iguais até ao dia da nossa morte, seja a pedir uma moeda num café como um prolongamento da vida, seja doutra forma qualquer. Apeteceu-me correr atrás dele e perguntar-lhe se se lembrava de mim, explicar-lhe que entretanto já me apaixonei outra vez e que vale a pena tentar de novo. Mas não o fiz.

9.26.2011

respostas a perguntas inexistentes (179)

Cada vez me emociono menos. Actualmente, com os meu quarenta anos de idade emociono-me cerca de metade das vezes que me emocionava quando tinha vinte. Se isto continua assim, aos sessenta não vou rir nem chorar. Tenho medo que isso me aconteça. Se lá chegar, claro.
Acho que só as pessoas que se emocionam é que são capazes de se apaixonar a sério. As outras, quando muito, fingem que se apaixonam. Já me aconteceu apaixonar-me por mulheres estéreis de emoções. Desapaixonei-me logo no momento seguinte. Ao menos é fácil e não se sofre. Percebe-se logo que aquela mulher não nos interessa. Nem nós a ela, muito provavelmente. Para que é que uma mulher assim quer um homem que chora no cinema? Para nada, claro.
Por falar em cinema, na arte também é só isso que interessa. Um filme, um livro, um quadro ou uma música só são bons se emocionarem. Se fizerem rir ou chorar. O Amor também é assim, portanto também é arte. Estou a falar do Amor de todos os dias, deste que tenho agora pela Raquel e que, de vez em quando, disponho todo num único pensamento como se pendurasse um quadro numa parede. Olho para ele e penso "Uau! Fantástico! Que obra de Arte!".
Temos isto quando já não temos mais nada. Estou a falar da capacidade de rir e de chorar, ou seja, de Amar.  Eu, como cada vez me emociono menos, proíbo-me de deixar de o fazer.

conversa 1828

Ela - Preciso de apaixonar-me por um homem mais velho do que eu. Uns dez anos, pelo menos...
Eu - Porquê?
Ela - Os homens da minha idade são uns inexperientes.
Eu - Inexperientes como? Na cama ou na vida em geral?
Ela - Na vida em geral, claro. Ou achas que eu ia procurar um homem dez anos mais velho que eu só pelo sexo?!
Eu - Sei lá... eu até tenho cerca de dez anos a mais do que tu, não tenho?
Ela - Tens, e pelo que acabas de me dizer pareces mesmo muito inexperiente para a tua idade.

9.23.2011

conversa 1827

Ela - Já sabes que na próxima segunda-feira afinal não posso jantar contigo.
Eu - Não podes?
Ela - Claro que não. Não estou cá.
Eu - Ah! Onde é que vais?
Ela -Se estivesses atento ao que eu digo já sabias que vou a Barcelona.
Eu - Disseste-me que ias a Barcelona? Não me lembro mesmo...
Ela - Disse ontem, quando estávamos a beber cerveja à noite.
Eu - Ah! Mas aí estavam mais pessoas.
Ela - Quando estás com mais pessoas, para além de mim, já não ligas ao que eu digo?
Eu - Não é isso. É que às vezes estão todos a falar ao mesmo tempo e não dá...
Ela - Por acaso, quando eu disse que ia a Barcelona não estava mais ninguém a falar. Tu é que estavas de copo na mão a olhar para a porta do bar, assim meio aluado.
Eu - Ah! Então lembras-te e já sabias que eu não tinha ouvido.
Ela - Calculava...

coisas que fascinam (133)

Lembro-me de ti, Helena

Lembro-me de ti, Helena, e das viagens que fizemos num carro que não saía do lugar. Eu ia rodando o volante para a esquerda e para a direita enquanto imitava o barulho dum motor com os lábios trementes, e tu olhavas para a figueira que nos fazia sombra repetindo que era tudo tão bonito, como se uma árvore pudesse ser uma paisagem fugitiva. Lembro-me de ti, porque sem o seres foste a minha primeira mulher.
Lembro-me de  ti, Helena, e de me pedires para parar mal passássemos  por um café. E depois obrigavas-me a sair daquele esqueleto ferrugento dum Citroën Ami 8 para me sentar num monte de terra e pedir-te uma limonada e um pão com manteiga. Está aqui, dizias tu, que eras empregada do café e viajante ao mesmo tempo, enquanto me punhas uma pedra e uns ramos à frente. A pedra era sempre o café, os ramos eram sempre o pão com manteiga. Eu devorava tudo e dizia que estava bom. Depois seguíamos viagem. Eu a conduzir e tu a olhar para a paisagem.
Lembro-me de ti, Helena, e da forma como me criticavas por conduzir depressa demais enquanto eu deitava sempre a culpa nos outros. Tu dizias-me para eu ir mais devagar, e eu chamava camelo a todos os que nos ultrapassavam. Depois suspiravas de impaciência imitando a tua mãe, eu dizia para teres calma imitando o meu pai.
Lembro-me de ti, Helena. Foste o meu primeiro Amor numa altura em que ninguém sabe ainda Amar, mas mesmo assim foste tu que me ensinaste o que seria a normalidade de uma vida a dois. Lembrei-me sempre de ti quando senti essa normalidade fugir-me. Mas hoje queria só dizer-te que já a tenho, e estou a falar precisamente disso, da normalidade. Há uns dias fui passear com a Raquel e ela pediu-me para parar no primeiro café que encontrássemos. Estacionei numa estrada qualquer do norte do país onde estava uma figueira. Ela perguntou-me o que é que eu queria e eu respondi que queria uma limonada e um pão com manteiga.
Lembro-me de ti, Helena, e como nunca te vi crescer quero dizer-te que para mim ainda és a criança de há trinta anos atrás, e que eu sei que também o sou para ti. Acho até que é bom nunca mais no vermos, Helena, porque só através de ti é que consigo nunca ter crescido. Lembro-me de ti, Helena, e este texto é só para te agradecer a existência.

a história duma centopeia

Compreendo perfeitamente a forma como a Fatyly abraçou a causa da Flávia, cuja história e petição (que eu já assinei) podem encontrar aqui. E compreendo porque pior que a sensação de injustiça é a sensação de impotência. Este post é uma extensão de um pedido que a mesma me fez, e que assim eu faço a quem passa por aqui para que também assine. 

9.21.2011

vai um café?

Recusei, no último post deste blogue, o seguinte comentário:

Serve o presente comentário para o informar que o senhor escreve demasiado mal para o meu gosto. Aconselho-o, por isso, a dedicar-se a outra actividade qualquer menos poluidora da blogosfera. Tem uma escrita forçada e que chega a enervar-me só pela pessoa que imagino estar por trás da mesma. O amor não ter tamanho e ter peso é uma contradição em si mesmo, por exemplo. O que é que eu imagino? Imagino alguém suficientemente arrogante para que nem um café eu aceitasse tomar consigo. 

Publico-o agora, em espaço nobre deste blogue, para informar o caro anónimo autor desta mensagem que o compreendo perfeitamente. A mim também me irrita ler algumas coisas por aí, seja na blogosfera ou noutro sítio qualquer. O que nos distingue é que eu acho que todos, escrevam melhor ou pior, têm o direito de o fazer. Aquilo que defende, que quem não escreve bem não o deve sequer fazer, cai na tendência do darwinismo social. Aquela que defende a sobrevivência apenas do individuo que se adapta melhor ao meio e que foi defendida no século passado pelos... hum... hum... nazis. Nazis, foi isso mesmo. Mas se quiser tentar ultrapassar-se a si mesmo um dia destes e adaptar-se melhor ao que o rodeia, podemos tomar um café quando quiser.

até logo

Amar custa. Pensa isto enquanto sente o beijo dela na testa e a ouve dizer-lhe "até logo" ao ouvido. Já sabe que são seis segundos até a porta bater e os passos dela emudecerem nas escadas do prédio como uma música suave que chega ao fim em fade out. Fica sozinho e repete para o seu silêncio que Amar custa. É uma verdade com a frequência de todas manhãs. Ela sai sempre de casa antes dele, e nessa altura pesa-lhe a solidão.
Amar custa, até porque temos que o fazer. A alternativa é não Amar e isso ainda custa mais. Ele já tentou não Amar algumas vezes e acabou sempre por chegar à conclusão que a vida lhe estava a passar ao lado. Era como se a tentasse agarrar e ela se desfizesse em pequenos grãos de areia entre as mãos. Não Amar custa ainda mais do que Amar, sendo que não há mais nada. Foi o que pensou num desses últimos dias em que decidiu não Amar. Depois aqueceu uma chávena de chá a ver se lhe sentia o sabor.
É desses dias sem sabor que se lembra agora, e de evitar o olhar dos casais apaixonados que passavam por ele na rua. Não queria ver neles aquilo que lhe faltava a ele. O Amor. Quando via duas pessoas num abraço ou num beijo era ainda maior a sua solidão. Talvez não maior, mas mais pesada.  A solidão não tem tamanho, tem peso. Muito ou pouco mas tem sempre algum. Ainda bem. É por isso que às vezes o seu fim está apenas a um metro de distância, por muito pesada que seja.
Ela estava a pouco mais de um metro dele quando, por acaso, os seus olhares se encontraram como o voo periclitante duma borboleta qualquer. Foi por isso que se tornaram a olhar, que as borboletas não voam em cafés cujo ar está viciado pelo fumo do tabaco de pessoas sós. Só podia ser outra coisa qualquer. Talvez Amor, talvez paixão, talvez apenas e tão só a solidão. Um homem sabe lá o que é quando dorme pela primeira vez com uma mulher. Nunca sabe. É tudo uma questão de sorte. Mas foi assim, dormiu com ela sem saber muito bem porquê.
Saíram dali e andaram à deriva pela cidade, a ganhar tempo até que um tivesse a coragem de dar o primeiro passo. Foi ele, que a abraçou depois dela dizer que estava frio. Acabaram na cama dela, onde ele adormeceu com um preservativo ainda pendurado num pénis que não se chegou a vir. Quando o dia clareou ela levantou-se primeiro, vestiu-se para ir trabalhar e despediu-se com um beijo na testa e um "até logo" em segredo. Ele acordou devagarinho, ouviu a porta bater e ouviu os passos dela a desfazerem-se lentamente naquela manhã em que o mundo mudara. Mesmo sem se vir tinha-lhe saboreado os lábios e o corpo. Amar custa. Não Amar custa muito mais. "Até logo", repetiu no seu imenso silêncio. E ficou.

9.20.2011

respostas a perguntas inexistentes (178)

Com o tempo ganhei alguma dificuldade em reconhecer na "minha mulher" aquela que tinha sido a "minha namorada". Cheguei a essa conclusão numa manhã qualquer invernosa, e foi aí que passei a detestar a expressão "minha mulher".
Ela estava a tentar encontrar uma meias num monte enorme de roupa por passar, eu estava  a tentar arrumar o aspirador numa despensa onde já não cabia mais nada. Caíram algumas coisas que estavam amontoadas à sorte naquele pequeno cubículo da casa e eu pedi ajuda. Ajuda aqui! E ela perguntou-me se eu achava que ela podia. Achas que posso?
Vivíamos lado a lado mas não vivíamos juntos. Nem ela me podia ajudar a arrumar o aspirador na despensa, nem eu podia ajudá-la a encontrar umas meias num enorme emaranhado de roupa. Nunca consegui explicar muito bem isso a mim mesmo, mas acho que tudo começou a acontecer quando ela deixou de ser minha namorada para passar a ser minha mulher. Fiquei a olhar para a despensa desarrumada como se aquilo fosse a minha vida, ou seja, demasiadas coisas sem importância a preencher todo o espaço existente.
O que sobrava era tentarmos ter pequenos momentos de privacidade, fosse na casa de banho a ler uma revista ou numa rápida ida ao café da frente para ler as gordas do jornal do dia. Porque esse era o problema de ela ser a "minha mulher" e eu o "marido dela".  Não tínhamos os nossos momentos. Aqueles que são mesmo só nossos. É isso que distingue um par de marido e mulher dum par de namorados.
Quando me divorciei acho que foi a primeira coisa em que pensei. Se me tornar a meter noutra espero que seja com uma namorada para sempre. E repeti para mim mesmo a palavra "namorada", mesmo sem perceber muito bem o que estava a dizer.

9.19.2011

worten sempre... ou quase sempre.


Se não fosse a mania que as mulheres têm de cuscar tudo até ao fim, ontem tinha sido bem enganado na compra de um lcd Samsung na Worten do Norte Shopping. Ir às compras com uma mulher pode ser uma seca, sim, mas também pode ser muito útil. A história aqui.

9.16.2011

pensamentos catatónicos (258)

Eu, homem, cobarde me confesso.

Uma mulher nunca acredita na desculpa que um homem lhe dá quando acaba um namoro com ela. Pode fingir que sim, que acredita. Mas não acredita. A razão é muito simples: nunca é verdade. Só há uma coisa capaz de segurar um Amor, que é Amar, e um homem nunca diz que já não Ama. Tem medo. Não dela, da mulher, mas dele mesmo e da sua incapacidade de viver um Amor a sério. Eu, homem, cobarde me confesso.
As mulheres não entendem porque é que os homens fazem isto, embora saibam que o fazem. Não entendem porque elas fazem-no sem problema nenhum. A mim já mo fizeram. Ela chegou ao pé de mim enquanto eu tinha a chaleira ao lume e disse-me que já não me Amava. O chá levantou fervura e apagou o seu próprio fogo, tal como me acabara de acontecer a mim. Admiro a mulher que fez isso. É de homem, embora apenas as mulheres o façam.
Também já acabei relações, namoros e coisas a que nem sei bem o que chamar. Nunca o fiz da melhor maneira. Uma vezes disse que não me sentia bem e precisava de tempo, outras vezes disse que sou um solitário por natureza. Outras ainda, as piores de todas, escondi-me num manto de silêncio e saí de fininho. Nunca fui capaz de dizer "Não te Amo", embora o tenha ensaiado inúmeras vezes. Eu, homem, cobarde me confesso.
Com a idade aprendi a nem sequer chegar lá, a esse ponto em que se tem que dizer que se Ama ou não alguém. É na mesma uma estratégia fugitiva, uma cobardia, mas pelo menos por caminhos mais transparentes. Esta coisa da obrigação depois do sexo é o mais difícil. Um homem enfia-se na cama duma mulher durante a noite e não sabe o que fazer na manhã seguinte. A estratégia passou a ser esperar pelo sinal dela, para embarcar na sua desresponsabilização do acontecimento ou então para fugir logo. Na primeira vez é legítimo fugir, não é? É. Até se pode dizer que foi bom mesmo que não tenha sido. O verbo ser no pretérito perfeito é mortal. Foi, e o que foi não volta a ser.
O que um homem não aprende com a idade é a não estar apaixonado. As mulheres, por seu lado, já nascem ensinadas. Não estão apaixonadas e esperam calmamente que lhes aconteça. Lêem um livro, vêem um filme, ouvem uma música ou tiram esse tempo da não paixão para dormir. Um homem esperneia na sua imensa solidão. É por isso que finge que se apaixona, a ver se acontece mesmo. Mas nunca acontece. Até um dia, claro, um dia que pode tardar. Nesse dia é o primeiro a dizer que Ama e é quem o diz mais vezes. É de mulher, embora apenas os homens o façam.

9.15.2011

conversa 1826

Ela - Acho que vou procurar um homem com o pénis mais pequeno que o normal.
Eu - O que é que te aconteceu?
Ela - Estou farta. Há homens que pensam que fazer Amor com uma mulher é a mesma coisa que abrir furos para captação de água no solo.
Eu - E tu não sabes dizer a um gajo para ter mais calma e não conduzir até ao fundo do túnel?!
Ela - Sei dizer, sei. Mas há tipos que ficam surdos durante o sexo. O melhor mesmo é começar a admitir apenas viaturas mais pequenas e mais lentas.

eu mudava este português

Adoro Portugal. Tanto, que a única coisa que eu mudava neste país eram alguns portugueses. Sublinhe-se o "alguns", claro. Todos ouvimos falar de um desses portugueses a semana passada, um homem de Valadares que entregou o filho à polícia quando descobriu que ele era homossexual.
Seguiu o filho discretamente numa das suas saídas nocturnas e, quando o viu entrar num bar gay do Porto, chamou a polícia. Como a polícia se limitou a multar o bar por ter deixado entrar um menor, ele entregou mais tarde o filho noutra esquadra dizendo que não o queria.
Eu mudava este português. Anulava-o e punha cá outro melhor. Um qualquer mas que fosse melhor. E quando digo melhor não digo apenas mais inteligente, porque até sou daqueles que acha que a burrice e a estupidez têm remédio.
O que não tem remédio é o desAmor, e quanto mais desAmor houver num país, pior ele é. Um homem que faz isto ao filho nunca foi capaz de Amar ninguém. Nem o filho, nem uma mulher, nem sequer ele mesmo. Nunca percebeu o que é a singularidade de Amar alguém nem porque é que nos apaixonamos por outra pessoa. Simplesmente não o sabe. É uma incapacidade biológica.
Amar alguém não está sujeito a nenhuma moral nem regra. Amamos alguém quando essa pessoa se torna única para nós, e essa unicidade só nós a sabemos explicar. Se não por palavras, nos nossos comportamentos de todos os dias. Num abraço, num beijo, no sexo, numa prenda ou no que for. Essa unicidade não diz respeito a ninguém a não ser àquele ou àquela que Ama. Essa unicidade é isso mesmo, aquilo que nos é único, e que faz um homem poder Amar outro homem ou outra mulher. É igual, é uma escolha de cada um. Mais nada.
Quem não percebe isto é porque nunca foi capaz de Amar. Este homem nunca olhou para uma mulher como a sua unicidade, mas sim como uma pessoa que se incluía no lote de quem lhe estava permitido tocar, por causa duma moral de tanga que só o desAmor sabe dizer. O problema do desAmor é esse mesmo, por um lado é estúpido, o que até poderia ter remédio. Por outro é triste e violento, e isso não tem remédio. Eu mudava este português.

9.14.2011

conversa 1825

Ele - Eu quero ter uma namorada outra vez, mas não quero uma muito bonita.
Eu - Não queres uma muito bonita?!
Ele - Não. Andar com uma mulher muito bonita na rua é mau. Todos os homens olham para ela e eu passo-me. Era o que me acontecia com a última...
Eu - Bem... eu olho para as mulheres bonitas que passam por mim na rua, e gosto de o fazer. Aliás, adoro fazê-lo. Não me importo nada que olhem para a minha namorada. Aliás, fazem-no muitas vezes e eu acho normal. Além disso sou namorado dela, não sou dono dela.
Ele - Olha! Foi isso que a minha última namorada me disse quando acabámos. Que eu não era dono dela e tinha a mania que era.
Eu - De qualquer maneira o que me faz mais confusão é tu conseguires namorar com uma mulher sem lhe conseguires dizer que a achas bonita.
Ele - Isso é fácil. Basta estar calado.

9.13.2011

conversa 1824

Eu - Tenho que ir embora. Tenho uma casa para aspirar...
Ela - Esse ar de chateado é por causa disso?
Eu - Sim, aspirar é a pior tarefa doméstica. Não me importo de passar roupa a ferro, limpar casas de banho ou lavar louça, mas aspirar chateia-me.
Ela - Mas porquê?
Eu - Acho que é por causa do barulho do aspirador. Não posso ouvir música enquanto aspiro...
Ela - Ah! Comigo é exactamente o oposto.
Eu - O oposto?
Ela - Sim. O barulho do aspirador não me deixa discutir com o meu marido. Pelo menos enquanto aspiro tenho paz e sossego.

pensamentos catatónicos (257)

o princípio do fim das cartas de Amor

Lembro-me de estar a olhar para as folhas de papel amarfanhadas e espalhadas pelo chão. Era como se cada uma delas fosse um monumento à minha timidez de adolescente e à minha incapacidade de escrever um "Amo-te" convincente. Estava nesse dia a construir a minha primeira carta de Amor. Quando finalmente a terminei, analisei-a letra a letra primeiro e à distância depois. Escrever essa carta durou uma noite inteira e foi como partir pedra.
Li há uns tempos que mais de quarenta estados norte-americanos deixaram de exigir às suas escolas primárias que ensinem a escrita manuscrita. Em vez disso, ensina-se a escrever em letra de imprensa e principalmente em teclados de computador. É a vitória da tecnologia sobre a arte da caligrafia e é também o princípio do fim das cartas de Amor.
A caligrafia tem o nosso nervo. Através dela é possível adivinhar se estamos nervosos, calmos, felizes, tristes ou apaixonados, isto muito antes de começar a ler. Escrever "Amo-te" num computador é a mesma coisa que dizê-lo numa voz gerada automaticamente num programa de computador. Falta-lhe a emoção, falta-lhe a alegria e a lágrima no canto do olho. Enfim, falta-lhe tudo. É uma pena.

9.12.2011

conversa 1823

Ela - Detesto farmacêuticos.
Eu - Porquê?
Ela - Fui ali comprar uma embalagem de comprimidos para as dores que tenho nas costas e ele mandou-me tomar um depois do pequeno-almoço, outro depois do almoço e outro depois do jantar.
Eu - Qual é o mal?
Ela - Quando é que eu vou conseguir emagrecer? A fazer três refeições por dia nunca mais...

respostas a perguntas inexistentes (177)

estar bem

Que "está bem", diz ela. Tem um emprego que lhe dá para pagar a casa que sobrou dum divórcio recente, para comer e andar com as contas mais ou menos em dia. E repete, enquanto faz uma pausa no café do pequeno-almoço, que "está bem". Eu sorrio-lhe, mas ela sabe que o meu sorriso não é de concordância. "Estar bem" não é isso. "Estar bem" é outra coisa, que não tem nada a ver com o cumprimento de deveres legais ou financeiros.
Passei alguns anos, talvez oito ou nove, sem a ver. Depois encontrei-a uma vez por acaso no cinema. Estava sozinha e eu também. Ela acabada de se divorciar e sem saber muito bem onde pôr os pés no pântano em que a sua vida se tornara, eu apaixonado pela primeira vez depois da minha separação. O divórcio dela estava ali, bem presente em toda a ânsia dos seus gestos, enquanto o meu já não passava de um ponto escuro na linha do horizonte. Nessa altura ela não "estava bem" e via-se, e eu sei que é por isso que hoje ela insiste que "está bem". Não "está bem", mas pelo menos já não se vê.
Pergunta-me, enquanto se assoa a um lenço vermelho, porque é que sorrio. É que "estar bem" é estar como nos apetece, não como conseguimos estar. A mim, por exemplo, apetecia-me estar com quem Amo a beber uma garrafa de vinho e a comer figos. Não estou, mas logo à noite vou estar, porque é assim que me apetece "estar bem" no dia de hoje, uma condição da vida que passa sempre pelo Amor e não pelo desAmor.
O desAmor é o desgaste do tempo no Amor. O mesmo que o vento ou o mar fazem numa rocha qualquer. Lento, cruel e imperceptível. Foi ela quem mo disse. Apaixonou-se, casou-se e teve filhos. Com os anos viu o olhar meigo do marido transformar-se num olhar de ódio e as suas palavras doces petrificarem com esse ódio. É a lenta metamorfose de quem não consegue nem sabe Amar. Pensou que ia viver sempre assim, nesse clima de guerra fria, até ao dia em que lhe morreu alguém e se deu conta que só se tem uma vida.
Olho para o fundo da minha chávena vazia. Gosto de ver as marcas que o café vai deixando à medida que o bebemos, com níveis e intensidades diferentes. Insisto que ela não "está bem". Pensa que está mas não está, e só lho digo assim, desta forma crua, porque não quero que ela se fique por aqui. O Amor transforma-se em desAmor e o desAmor em Amor novamente. Só temos que perceber que a felicidade não se resume às nossas contas da luz, do gás, da água e o que mais houver. Temos que perceber isso... e às vezes apagar as marcas que nos ficaram para trás. Acho que "estar bem" é só isso.

9.11.2011

conversa 1822

(num bar)

Ela - Desculpa. Não te cumprimentei porque não te estava a conhecer. Vi-te há bocado mas nunca pensei que fosses tu.
Eu - Não faz mal. Tudo bem.
Ela - É que olhei primeiro para os teu pés e vi umas sapatilhas. O meu cérebro afasta automaticamente do grupo dos meus amigos qualquer homem que saia à noite de sapatilhas.
Eu - Hum... comprei estas esta semana numa promoção. Estavam a menos de dez euros e gostei delas...
Ela - Ainda pior. Não me devias ter dito isso.
Eu - Porquê?
Ela - Nunca se diz o preço da roupa que se está a usar.
Eu - Desconheço essa regra de etiqueta, sinceramente. Mas tu é que começaste a falar das minhas sapatilhas...
Ela - Mas porque é que raio vieste para aqui de sapatilhas?
Eu - Porque não gosto de andar descalço na rua. Mas até acho que isso é normal.
Ela - Bem, se calhar ainda nos cruzamos por aí esta noite. Até já.
Eu - Até já.

mulheres que eu gostava de poder não compreender (84)



nome: Elena Poulou
origem: Inglaterra
info: É a actual teclista dos The Fall e vocalista secundária, precisamente por trás do sortudo do seu marido, o líder espiritual desta banda de Manchester. Não é só bonita, a Elena Poulou. Tem também assim qualquer coisa em palco que me seduz. Acho que é o ar de mau feitio. Neste vídeo, num concerto na minha querida cidade de Oslo em 2006, ela é especialmente focada.

ei! best blog here. cool!

A Cármen deu-me um ramo de flores num dia em que eu estava de cama com gripe e, para a além de a identificar, é suposto dizer sete coisas sobre mim. É estranho, porque a confusão que é este blogue acaba por ser toda sobre mim, por isso só considero legítimo referir aspectos técnicos, daqueles que o sendo não deixam dúvidas.
1] Estou apaixonado pela Raquel.
2] Sou de esquerda e estou convencido que um modelo económico baseado no marxismo é o mais justo e melhor para todos.
3] Quem acompanha este blogue já o sabe, mas Sult foi o filme que mais me marcou até hoje e podem baixá-lo gratuitamente (com legendas em inglês) aqui.
4] Já gostei de futebol mas actualmente não consigo ver um jogo inteiro e não sei nadinha sobre o assunto, o que me deixa de fora em algumas conversas entre amigos.
5] Faço colecção de objectos antigos e tenho em casa coisas como um ferro de passar a roupa a carvão, um quadro do menino que chora antigo, máquinas de filmar super 8, notas e moedas, brinquedos, etc, etc...
6] Neste momento só tenho a RTP2 sintonizada em casa, isto depois de ter estado sem televisão uns meses.
7] Adoro bacalhau assado com batatas, cenouras e couves cozidas, azeite q.b. e broa. 

9.08.2011

conversa 1821

(ao telefone)

Ela - Desculpa, mas hoje não posso ir ter contigo. Não me apetece sair de casa.
Eu - Mas está tudo bem?
Ela - Está. Estou cheia de dores por causa daquela coisa que as mulheres têm todos os meses.
Eu - O período?
Ela - Sim.
Eu - Tudo bem. Tomamos um café para a semana...
Ela - É horrível ter que passar por isto todos os meses.
Eu - Deixa lá. Deves estar quase na menopausa.
Ela - Isso é para me animar?
Eu - Se achas horrível ter o período...
Ela - Se calhar nem para a semana tomamos café. Não te quero ver durante muito tempo.
Eu - Como tens quase cinquenta anos...
Ela (desliga)

respostas a perguntas inexistentes (176)

egoísmo 



Acho que há uma boa razão para eu nunca ter sido bom de Amores. É que sou um gajo egoísta e o egoísmo não se dá bem com Amor nenhum. Não estou a falar daquele egoísmo de quem quer tudo o que vê nas mãos dos outros, estou a falar daquele egoísmo de quem quer o seu tempo e os seus pensamentos só para si. É uma merda, eu sei, mas sou assim. Fui sempre assim. E o Amor costuma acabar no sábado à tarde em que optamos por ficar em casa a organizar os cd's por ordem alfabética em vez de ir passear com quem Amamos. Não é que acabe logo, mas acabará por certo uns dias depois.
O problema deste tipo de egoísmo é que nem sequer o conseguimos perceber, e por isso também não sabemos bem por que motivo não queremos estar com quem Amamos. Inventamos desculpas estúpidas em que ninguém acredita. Nem sequer nós mesmos, e vamos sufocando nelas e na nossa hermética solidão.
É por isso que Amar nunca chega para que um Amor se dê. Amar é apenas o princípio. Depois é preciso sermos capazes de nos ultrapassarmos. De sermos um bocadinho melhores do que fomos até então, e isso passa por deixar de esperar que as coisas aconteçam para fazer com que elas aconteçam de facto. Nenhum Amor existe só por si, e quem acreditar nisso vai esperar pela felicidade como um burro que corre atrás da cenoura.
Foi a Raquel que me ensinou isto, ou talvez a vida. Sei lá. É que neste momento a Raquel e a vida são a mesma coisa. É por isso que não espero nada dela. Antecipo-me tentando vivê-la, a ela e à vida, acreditando que ela me vive a mim. Perdi o egoísmo, pelo menos parte dele. O tempo, aquele tempo que eu sempre quis só para mim com os meus cd's organizados por ordem alfabética, não existe. Nunca existiu, porque não pode existir um tempo só nosso. O tempo e a solidão não fazem sentido.
Lembrei-me disto hoje de manhã, porque queria ouvir "You and Your Sister" dos This Mortal Coil antes de sair de casa e não encontrei o cd a tempo. Com os minutos que perdi, acabei por nem sequer tomar o pequeno-almoço para conseguir apanhar o comboio. Primeiro enervei-me, sem perceber que o tempo que eu não tenho para organizar os cd's é o tempo que eu tenho para Amar.
You say my love for you's not real, but you don't know how real it feels. All I want to do is to spend some time with you, so I can hold you, hold you...

9.07.2011

esta preta foi de boa para melhor

A nova publicidade da cerveja moçambicana Laurentina Preta está a causar celeuma naquele país africano. Uma garrafa em forma de mulher, com o símbolo da cerveja na genitália, é apresentada ao lado da frase: "esta preta foi de boa para melhor".
É verdade que o consumo de álcool está culturalmente ligado a uma certa masculinidade, e recordo-me de há poucos anos a cerveja Tagus, em Portugal, ter feito uma publicidade quase tão estúpida quanto esta, em que se afirmava como uma cerveja para heterossexuais. Chamava-se Orgulho Hetero.
A estupidez da Tagus não foi apenas partir do princípio que só os heterossexuais é que bebem cerveja. Foi também não perceber que ser heterossexual não significa ser estúpido. A estupidez da Laurentina não é apenas partir do princípio que só os homens é que bebem cerveja. É não perceber que ser homem não significa ser estúpido.

OsLove

Gosto que a Raquel me pergunte sobre o futuro. Preciso que a Raquel me pergunte sobre o futuro. Hoje quero ter a certeza que amanhã vou estar com ela. É isso o Amor. É isso uma viagem, seja a Oslo ou a uma vida inteira.
Desembrulhei este fim de semana a prenda que ela me deu quando fiz quarenta anos. A vantagem de se receber uma viagem é que, apesar de já sabermos o que é, não sabemos o que está lá dentro. As cidades são assim, primeiro são vistas por fora e depois vão-se revelando por dentro a pouco e pouco. Como uma prenda, como uma mulher, como todos nós. À medida que as penetramos.
O resto é uma questão de pele. E de repente somos só nós, eu e a Raquel numa cidade que nos é estranha e que nos estranha. E é tão bom ser estranho quando se Ama alguém. Ficamos sós no meio de tudo e de todos. Um eléctrico que calcorreia triste a cidade, um bêbado que tenta manter em pé o que lhe resta de dignidade, uma criança que me pede para lhe passar uma bola de futebol ou um segurança que nos explica que um museu está fechado ao público. Ninguém sabe que a cidade nos vai sorrindo em segredo. Ainda bem. Sou só eu e a Raquel. Depois há os outros. Os outros.
Escolhe três museus, diz ela. E eu escolho. É uma certeza para o nosso futuro próximo. Sorrio. O das Forças Armadas, o dos barcos Viking e a Galeria Nacional de Arte. Ela acrescenta o museu do Munch, o Kon-Tiki, o Parque Vigeland e o IceBar. Vamos a todos menos ao do Munch, o tal que estava fechado. Entre as visitas dividimos umas sandes, uma garrafa de água e alguma fruta que comprámos num supermercado. Digo-lhe que a Amo uma vez mas penso-o centenas. Talvez milhares ou, de facto, só uma. Uma que se prolonga por cada dia inteiro. Depois cai a noite.
Subimos ao telhado da Ópera House, ao futuro do que foi o nosso dia. A nossa comida dividida, as nossas mãos dadas. Ainda cá estamos. Oslo também. Amanhã acordamos juntos.

9.06.2011

hoje

Hoje ainda não te disse que te Amo. Digo agora, está bem?

pensamentos catatónicos (256)

Suplementos

Vi hoje, no metro do Porto, um anúncio a um suplemento alimentar para reduzir o colesterol. Depois abri o jornal e vi outro a um suplemento para quem anda cansado e sem energia. De manhã já tinha ido ao supermercado comprar leite e rido com uma marca que traz mais cálcio do que o normal, diz a embalagem que para fortalecer melhor os ossos. Nos iogurtes é preciso tirar um curso para perceber o que cada um deles faz e que não é normal fazer. Há iogurtes para o coração, para os ossos, para os nervos e para o raio que o parta. O problema é que são tudo suplementos, como se a vida e a Natureza só por si não fossem suficientes.
Eu reduzi o colesterol a comer menos carne e mais legumes. Foi só isso e chegou. Quando quero emagrecer é o que eu faço também: como menos. Sou contra os suplementos no que quer que seja. As embalagens com suplementos dizem-nos que resolvem os problemas todos sem esforço, mas isso é mentira. No fundo ainda bem que é mentira, porque senão não éramos sequer obrigados a tomar conta de nós, e é a cuidar de nós que ganhamos algum Amor próprio.
Por falar em Amor, é nele que também sou contra os suplementos. Não há nada que resolva o Amor entre duas pessoas a não ser o facto de se Amarem realmente uma à outra. Às vezes também há quem ache que um ou outro suplemento pode ajudar uma relação, seja ele dinheiro, submissão ou hipocrisia. Não ajuda. Em tudo devíamo-nos deixar de suplementos e cuidar de nós. Cuidar de nós mesmo a sério. Era só isso.

9.05.2011

conversa 1820

Ela - Tenho um bocado de ciúmes da mulher do meu ex-marido.
Eu - Porquê?
Ela - Acho que ele a trata muito melhor a ela do que me tratou a mim durante o tempo em que fomos casados.
Eu - Achas mesmo?
Ela - Acho.
Eu - Isso, se calhar, é normal.
Ela - É normal?
Eu - Sim, ele agora está mais velho e já deve ter aprendido alguma coisa.
Ela - Não se isso é assim...
Eu - Acho que é, mas não quer dizer que seja sempre.
Ela - Eu, por exemplo, estou mais velha e não trato melhor o meu actual marido.
Eu - Se calhar é porque não aprendeste nada.
Ela - Ou então porque já sabia tudo.
Eu - Ou isso...

respostas a perguntas inexistentes (175)

a árvore

Na minha rua há uma árvore que é despida antes de todas as outras pelo vento. Todos os anos sem excepção. Quando faço um café quente e me dou ao luxo de parar na janela da sala para o beber, fico a olhar para os seus ramos magros e nus enquanto aqueço as mãos na chávena. Nunca percebi se ela se sente orgulhosa ou envergonhada da sua nudez prematura.
Sei que a mulher que eu Amo é assim, sólida como aquela árvore. Há uns dias, por exemplo, adormeceu ao meu colo durante uma viagem de avião e eu mantive-me quieto todo o voo para não a acordar. Ela não sabe que me senti o homem com mais sorte do mundo por poder respirar-lhe o sono. Nem lho vou dizer, claro. O sono dos outros é o que de mais precioso podemos ter e, por isso mesmo, costumo tapá-lo com um doce manto de silêncio. Prefiro dizer-lhe simplesmente que a Amo.
Do verbo Amar tenho só a certeza que sopra sempre como o vento. E é isso que vou fazendo...

9.01.2011

10 coisas que já fiz por estar na crise dos quarenta

1] Passei a comprar champô contra a queda do cabelo.
2] Deixei de comprar lâminas de barbear das mais baratas, para não ficar com a cara toda arranhada quando faço a barba.
3] Deitei a minha querida t-shirt do Calvin, que estava rota em vários sítios, no lixo.
4] Usei, pela primeira vez na vida, um perfume para homem daqueles caros em vez duma água de colónia baratucha do Lidl.
5] Aparei os pêlos do nariz e as sobrancelhas.
6] Passei a cortar as unhas com um corta-unhas em vez de as roer no escurinho do cinema.
7] Comprei um frasco de hidratante para a pele.
8] Passei a comer mais gelatina por causa do colagénio.
9] Inscrevi-me na natação e prometi a mim mesmo fazer pelo menos uma sessão por semana.
10] Iniciei um registo semanal com o meu peso e perímetro abdominal. Bem... para ser sincero ainda não iniciei mas estou a contar fazê-lo a partir da próxima semana.

conversa 1819

(na minha casa)

Ela - O sacana do meu ex, quando nos separámos, ficou-me com este cd dos Radiohead que tens aqui. Gravas-mo?
Eu - Gravo, mas porque é que não lho pedes a ele?
Ela - Porque lho ofereci num aniversário.
Eu - Ah! Então não ficou com ele. Já era dele, que é diferente.
Ela - Sim, mas eu ofereci-lho quando ainda não estava a contar separar-me e porque assim também era meu e podia ouvi-lo. Afinal de contas, quando se é casado tudo o que é dum também é do outro.

quatro

Em primeiro lugar uma meia verdade que não é uma meia mentira: a violência doméstica atinge ambos os géneros. Agora uma verdade inteira: as mulheres são as principais vítimas da violência doméstica. Em menos de uma semana foram assassinadas quatro em Portugal.
A violência doméstica precisa de dois ingredientes: uma vítima e um cobarde filho da puta. Foram esses dois ingredientes que se misturaram nestes quatro casos e que se misturam continuadamente um pouco por todo o país.
A vergonha é a máscara que encobre este tipo de violência, e é ela que devia estar só do lado do agressor. Mas não está por uma razão muito simples: os cobardes filhos da puta não nunca têm vergonha. Tenho dito.