8.31.2009

conversa 1310

Ela - Onde é que vais jantar hoje?
Eu - Em minha casa.
Ela - Não queres jantar comigo?
Eu - Está bem. Onde?
Ela - Na tua casa. Já tinhas dito que era na tua casa...

pensamentos catatónicos (189)

Passei este fim de semana junto ao Observatório Astronómico e da Natureza António dos Reis, em Miranda do Corvo, a fazer uma visita à floresta circundante e depois, durante a noite, a olhar para o céu através de telescópios. Primeiro acompanhado por um botânico e depois por astrónomos. É tão grande a sensação de pequenez quando percebemos o nosso real lugar no universo que acho que só é comparável à pequenez que sentimos quando o amor nos desilude. Ao pensar nisto cheguei à conclusão que uma mulher pode ser o nosso universo.

8.27.2009

conversa 1309

(no café)

Ela - Eu quero uma cerveja...
Eu - Eu quero uma cerveja e um pires de caracóis...
Ela - Não vais comer desses bichos nojentos ao pé de mim, pois não?
Eu - Eu vou comê-los aqui. Se quiseres podes afastar-te.
Ela - Nunca pus na boca coisa tão nojenta.
Eu - Acho que sim, que já puseste...
Ela (silêncio)
Eu - Só aquele Bollycao que comeste há bocadinho...
Ela - Bem... pensei que ias ser brejeiro.
Eu - Brejeiro porquê?
Ela - Porque os homens têm sempre pensamentos perversos.
Eu - Neste caso foste tu que tiveste.
Ela - Foste tu.
Eu - Foste tu.
Ela - Foste tu.
Eu - Vêm aí os caracóis... deixa-me em paz.
Ela - Quem come esses bichos nojentos só pode ser perverso.

conversa 1308

Ela - Não contes o que eu te disse a ninguém, está bem?
Eu - Está bem.
Ela - Ou então conta mas diz que é para não contar a mais ninguém...
Eu - Ahn?
Ela - É óptimo quando todas as pessoas sabem coscuvilhices e fingem que não sabem...
Eu - Pois... é sempre assim, não é?
Ela - É. Hi!, hi!, hi!

8.26.2009

conversa 1307

Ela - Não sei lá muito bem o que é que queres dizer com isso de seres socialista...
Eu - Isso é por causa da História.
Ela - Que História?
Eu - Da História. O século passado alterou o significado de Socialismo por causa dos erros cometidos na União Soviética, na China, em Cuba e assim... acho que o desafio hoje é precisamente esse: devolver o significado verdadeiro à palavra Socialismo que, aliás, é extremamente simples...
Ela - Pronto, está bem, está bem... agora cala-te. És tão chato quando começas com essas coisas...
Eu - Tu é que perguntaste.
Ela - Às vezes pergunto só para te fazer a vontade... mas hoje não consigo mais, está bem?

como ele e ela se deitam...

ele:
1] Senta-se na cama, desaperta os sapatos e atira-os para um canto do quarto. Depois faz o mesmo com as meias, com as cuecas, com as calças e tenta acertar com a camisola na cadeira.
2] Adormece.

ela:
1] Descalça-se e alinha os sapatos no armário ao lado dos outros pares.
2] Tira as calças, tenta definir melhor os vincos da mesmas e pendura-as num cabide.
3] Pergunta-lhe a ele se já está a dormir e se não toma banho. Ele não responde.
4] Tira as meias e as cuecas e leva-as, juntamente com as cuecas e as meias dele, para a máquina de lavar roupa.
5] Tira a camisola e pendura-a noutro cabide.
6] Pergunta-lhe a ele se já está a dormir e se não toma banho. Ele não responde.
7] Vai lavar os dentes e lavar-se.
8] Põe cremes hidratantes no corpo todo.
9] Pergunta-lhe a ele se já está a dormir e se não toma banho. Ele não responde.
10] Deita-se e pega no livro que anda a ler.

ele:
3] Acorda e tenta fazer amor com ela.

ela:
11] Diz-lhe que ele tem que ir tomar banho.

ele:
4] Vai tomar banho com o pénis erecto.

ela:
12] Aproveita para ler o mais possível do seu livro enquanto pode...

respostas a perguntas inexistentes (63)

Ela diz-lhe que está cansada e ele responde-lhe que então é melhor descansar. Aquela resposta cansa-a ainda mais. Ele não percebe que há vários tipos de cansaço e que ela está a falar de uma variante de cansaço que a está a afastar dele. Lentamente. É aquele cansaço que faz com que os dias pareçam sempre iguais e que torna os beijos insossos. Ele pergunta-lhe se ela não vai dormir e dá-lhe um beijo de boa noite. Ela abana os ombros e comprova que o beijo dele já não tem sabor.

conversa 1306

(ao telefone)

Ela - Queres vir cá a casa tomar um café? Já não falamos há tanto tempo...
Eu - Boa ideia. Passo aí por volta das onze...
Ela - Não... passa mais cedo. Se puderes às dez é melhor.
Eu - Às dez vai ser difícil. São nove e meia e ainda nem jantei.
Ela - É que às onze, mais coisa menos coisa, começa o Caminho das Índias.
Eu - O caminho de quê?
Ela - É uma telenovela...
Eu - Não vou fazer vinte quilómetros de carro para chegar aí e tu ficares a ver televisão.
Ela - Por isso é que devias vir às dez.
Eu - Mesmo que pudesse estar aí às dez, que dizer... às onze mandavas-me embora porque querias ver a telenovela.
Ela - Não te mandava nada embora. Podias ficar a na internet enquanto eu via a novela e depois continuávamos a conversa...

8.25.2009

conversa 1305

(no supermercado, com uma senhora que queria passar à minha frente na fila de pagamento)

Ela - Não me deixa passar? É que eu só tenho estes tomates para pagar...
Eu - Eu também só tenho estas cervejas...
Ela - Mas eu só tenho estes tomates...
Eu - E eu só tenho estas cervejas...
Ela - Mas à sua frente, essa menina tem mais coisas...
Eu - Pois tem... e como está à minha frente tem o direito de as pagar antes de mim. Depois dela pago eu e depois de mim paga a senhora.
Ela - Pronto....
Eu - Pronto...

a lei afegã vs a lei portuguesa

O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, aprovou uma nova lei para os muçulmanos xiitas que permite que os homens castiguem com a privação de alimentos as suas mulheres, caso estas lhes neguem o direito à satisfação das suas necessidades sexuais.
Acho que o presidente de Portugal devia fazer o mesmo, sinceramente, mas trocando os géneros. Se um homem não satisfizesse as necessidades sexuais da mulher ela deixava de cozinhar para ele.
É que se no Afeganistão é suposto que as mulheres dependam totalmente dos homens, em Portugal a maior parte dos homens depende das mulheres no que diz respeito à cozinha. Eu, por exemplo, para não deixar de comer de vez os carapaus grelhados e o caldo verde que a minha companheira faz de vez em quando, até Viagra tomava se fosse preciso.

8.22.2009

conversa 1304

Ela - Estou sem fome. Tenho que jantar que é para depois podermos ir beber um cerveja mas estou sem fome...
Eu - Vou ali comprar um peixinho para cozer, pode ser?
Ela - Já te disse que estou sem fome. Não me chateies.
Eu - Também disseste que tens que comer qualquer coisa.
Ela - Qualquer coisa não tem de ser peixe.
Eu - Mas então diz-me o que queres que eu não consigo adivinhar.
Ela - Ok, pode ser peixe...
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

8.21.2009

conversa 1303

Ela - Olha... o que é que tens?
Eu - O que tenho, como?
Ela - Pareces um bocado triste...
Eu - Não... não me sinto triste.
Ela - Mas pareces.
Eu - Mas não estou.
Ela - Pronto. É estranho porque pareces...
Eu - Se estou a dizer que não estou é porque não estou.
Ela - Se estou a dizer que pareces é porque pareces.
Eu - Então pareço mas não estou.
Ela - Não sei... normalmente quando se parece é porque se está.
Eu - Mas eu não estou.
Ela - Podes estar e não sabes.
Eu - Quando se está triste sabe-se que se está triste.
Ela - Nem sempre...
Eu - Quando é que não se sabe?
Ela - Sei lá... às vezes... mas não te enerves.
Eu - Eu não estou nervoso.
Ela- Mas pareces...
Eu - Mas não estou. Se estiver é porque me enervaste agora.
Ela - Vês? Estás nervoso e estavas a dizer que não. Se calhar também estavas triste e a dizer que não.
Eu - Deixa-me um bocado...
Ela - Eu deixo... mas tenho razão.
Eu - Foda-se! (só em pensamento)

acho que é sempre assim ou quase assim...

Onde é que está o livro que ando a ler? A pergunta surge-me enquanto dou passos lentos no corredor duma casa que não é minha, a ver se ganho tempo para decidir para que divisão devo ir. É que não me é óbvia a decisão.
Acho que é sempre assim ou quase assim. Conhece-se uma mulher bonita que se convida para uma cerveja. Depois descobre-se que ela sorri bastante e que para falar com ela não é preciso respigar assuntos nem palavras. Vem mais uma cerveja e os olhares, que até então se evitavam, arrostam-se cada vez mais. Depois, já na rua, dão-se as mãos como um princípio do corpo.
Acho que é sempre assim ou quase assim. O corpo e a noite. Estamos numa cama que não conhecemos bem e por isso reparamos com mais intensidade no enquadramento nocturno da janela do quarto. É estranho, o nosso mundo mudou totalmente numa noite mas lá fora continua tudo igual: a Lua, as nuvens, os telhados e o ruído dos automóveis que pontilham a noite com faróis perdidos. Para o mundo ainda é segredo que nos estamos a apaixonar.
Acho que é sempre assim ou quase assim. De manhã ao acordar não sabemos se foi apenas mais um queca fortuita, por isso fechamos os olhos de novo para poder sonhar nessa incerteza. O toque do despertador não foi igual ao que estamos habituados. A estação de rádio sintonizada também não nos é familiar, assim como não é o candeeiro de mesa ou o chão onde as nossas roupas estão espalhadas.
Acho que é sempre assim ou quase assim. Apaixonarmo-nos é também emigrar e perdermo-nos num mundo novo onde temos que perguntar os nomes das ruas. A paixão não é só fácil. Às vezes também é difícil. Só é sempre boa. Pensei nisso agora que me perguntei onde é que está o livro que ando a ler e não soube responder. Acho que está na minha casa e no meu mundo de onde emigrei...

8.20.2009

um rabanete estrangulou uma mulher...



O ano passado, a empresa de fatos para homem, Duncan Quinn, promoveu o seu produto com este cartaz onde um tipo bem vestido parece ter acabado de estrangular uma mulher em roupa interior, deitada sobre o capô de um automóvel. O site feminist considerou-o, e muito bem na minha opinião, o Most Disturbing Ad of the Year.
É verdade que eu normalmente não uso fatos e que a minha roupa preferida passa por calças de ganga escuras, sapatos de pele confortáveis e camisolas mais quentes ou mais frescas consoante a temperatura ambiente, mas ainda assim não consigo perceber como é que este anúncio pode levar alguém a comprar um Duncan Quinn. É que uma mulher morta em cima de um carro com um gajo com ar de rabanete a puxá-la por uma gravata não é nada apelativo. Realmente, só se alguém se quiser disfarçar de rabanete no Carnaval. Por mim, vou continuar a vestir as minhas t-shirts preferidas: uma com o Gasganete e outra SuperFro.

conversa 1302

Ela - Ajudas-me a fazer a minha cama antes de saíres?
Eu - A esta hora? É quase meia-noite... não te vais deitar?
Ela - Vou... quero deitar-me com a cama feita...
Eu - Para quê? Vais fazer a cama para a desfazer logo a seguir...
Ela - Não me peças para te explicar. Acho que é uma coisa que os homens não conseguem entender...

8.18.2009

conversa 1301

[num café com uma empregada de balcão (1) e uma de mesa (2)]

Ela 1 - Vai ali atender o teu cliente.
Ela 2 - Meu? Alguma vez ele é meu? Se fosse saltava-lhe já para cima.
Ela 1 (virando-se para mim) - Olhe que ela é casada.
Ela 2 - Sou casada mas o meu marido já não dá nada...
Ela 1 - Dá sim senhora. Olha não dá...
Ela 2 - Se dá é contigo. Comigo chega a casa a cheirar a vinho e adormece.
Ela 1 - Credo, comigo não que me estou a guardar para o casamento.
Ela 2 - Então também não interessas a ninguém que isso é só teias de aranha.
Ela 1 - Pergunta lá ao teu cliente se quer alguma coisa.
Eu - Eu queria uma água, por favor.
Ela 2 (virando-se para a Ela 1) - Olha, este bebe água. Também não deve ser grande coisa...

conversa 1300

Ela - O que eu não percebo é porque é que pessoas que já tiveram casamentos falhados e sofreram com esses casamentos tornam a casar...
Eu - Bem... o casamento não sei. Isso é um pormenor... mas acho normal que as pessoas se juntem outra vez após uma relação falhada.
Ela - Achas? Porquê?
Eu - Duas pessoas juntam-se essencialmente por dois motivos, acho eu: um é combater a solidão, outro é ter uma vida sexual activa.
Ela - O quê? Para combater a solidão também?

mulheres artistas que não compreendo (22) e pensamentos catatónicos (188)

mulheres artistas que não compreendo (22)

Maria Teresa Fernández, uma fotógrafa mexicana radicada nos Estados Unidos, anda há quase vinte anos a fotografar a vida na fronteira entre o México e os Estados Unidos onde, em cerca de um terço da sua extensão total, existe uma barreira física a impedir a passagem.
Do seu trabalho constam imagens de abraços entre familiares, amantes e amigos que vivem do lado oposto da fronteira. Segundo a fotógrafa, durante anos muitas pessoas viajaram centenas de quilómetros para poder abraçar um filho, um pai ou um marido.
Há uma coisa que eu tenho a certeza que é necessária para conseguir fazer um trabalho destes: ser forte. É que esta barreira física demonstra o quão contraproducentes os indivíduos da nossa espécie consegue ser: por um lado viajam quilómetros para sentir o calor e o palpitar da vida de um ente querido, por outro aceitam uma organização política que os divide construindo muros e afins.

pensamentos catatónicos (188)

Estava a reportagem sobre ela no site da BBC brasil e, ao ver o abraço da fotografia, lembrei-me de alguns abraços a mulheres que também já dei assim, através de um muro que me separador. É que entre duas pessoas que se amam surgem constantemente muros invisíveis que, embora não acabem com a vontade de abraçar, impedem que esses abraços aconteçam. É o que acontece, por exemplo, com uma simples discussão por um motivo absurdo qualquer. O muro cresce... até que um dos dois tenha a coragem de o demolir.

o gato, a saga continua...

Ontem deixei o gato siamês que encontrei no núcleo de Aveiro da PRAVI (também existe nas cidades de Lisboa, Porto, Setúbal, Coimbra e Santarém) e, porque percebi que é uma associação que trabalha a sério, o mínimo que posso fazer é ajudar na sua divulgação.
Para além de recolher e tratar animais em risco, tenta arranjar-lhes um dono. Para o siamês que lá deixei já encontrei, muito provavelmente, acolhimento (leitor deste blogue), mas há lá muitos outros gatos e cães à espera de encontrar um dono melhor do que eu.
Para adoptarem um animal ou simplesmente ajudarem a associação, podem contactar a senhora Olga através do número 966 089 957.

8.17.2009

conversa 1299

(ao telefone)

Ela - Já conseguiste dar o gato que apanhaste na rua?
Eu - Não. Conheces alguém que o queira?
Ela - Não... mas gostava de ir aí vê-lo...
Eu - Ao gato ou a mim?
Ela - Ao gato, claro. A ti já te vi demasiadas vezes...

8.16.2009

detesto gatos...

Ontem à noite, a chegar a casa de férias, um gato veio enrolar-se nos meus pés enquanto eu abria a porta da frente. Estava com um ar esfomeado e fartava-se de miar. É nitidamente um gato habituado a uma casa e não um animal vadio, de tal forma que não consegui deixá-lo ali. Só há duas hipóteses: ou foi abandonado ou anda perdido.
Nisto tudo só há um problema pequenino: EU DETESTO GATOS e não tenho vida para ter um. Por isso tenho que lhe arranjar um dono rapidamente. É um siamês ainda cria que, segundo a minha companheira, tem entre quatro e seis meses de vida. Se alguém o quiser contacte-me por favor, por email ou mesmo através desta caixa de comentários. Estou desesperado!



8.12.2009

enquanto ainda tenho uma réstia de bateria no portátil...

Enquanto ainda tenho uma réstia de bateria no portátil aproveito para dizer qualquer coisa...
Depois de uma semana no Algarve, subi o calor do país e instalei-me hoje num parque de campismo em São Pedro do Sul. Este blogue tem estado um bocado parado por causa das férias mas, na verdade, acho que só me faz bem. Às vezes é mesmo bom parar um bocado com a rotina.
Por falar em rotina, acho que nesta semana no Sul me apercebi de como os filhos, ao contrário do que diz o senso comum, nem sempre servem para fortalecer relações. Às vezes enfraquecem-nas. É que as crianças têm o dom de conseguir que os pais, padrastos ou madrastas, tenham muito menos tempo e disponibilidade um para o outro. Para além da constante gritaria entre os putos, há a permanente atenção ao que comem, como dormem, como se portam nas ondas do mar, etc, etc. De repente percebemos que não estamos a dar atenção nenhuma à nossa namorada e que, mesmo sem o percebermos, há uma imperceptível carência de parte a parte que se pode transformar em má disposição.
É verdade que a relação entre um pai e um filho é fortíssima, mas também é verdade que às vezes é bom ter algum tempo só para a pessoa que amamos. A bem da nossa saúde mental. E por falar em saúde mental, a minha filha anda ali com uma lanterna entre as árvores do parque de campismo à procura de girafas e de leões. É melhor eu ir ajudá-la até porque segunda-feira volto ao trabalho...

8.06.2009

conversa 1298

Ela - Dás-me o teu pacote de batatas fritas?
Eu - Não... mas podes tirar algumas...
Ela - Eu não quero batatas. Quero mesmo só o pacote para poder concorrer a um concurso com um código que está na embalagem e que se envia por sms...
Eu - Ah! Então deixa-me acabar de comer...
Ela - Sim, deixo... mas despacha-te...
Eu - Tem calma.
Ela - Estou em pulgas.
Eu - Então vê lá o código, manda o sms e deixa-me comer em paz...
Ela - Isso não... se ganho um prémio depois já não mo dás...

às 21:30, está combinado?

Neste blogue desafiaram-me a escrever uma carta que termine um relacionamento. Um desafio interessante, que agradeço. Agora passo-o à Pâmela Rodrigues, à Gigi e a quem mais quiser...

Aquilo que aprendi na vida é nada. Ou quase nada, para ser mais exacto.
Por exemplo, aprendi que o peixe sabe a peixe e que a carne sabe a carne mas que no restaurante da senhora Maria o peixe pode saber a carne e a carne pode saber a peixe. Usam o mesmo óleo para fritar ambos, disseste-me tu uma vez entre os teus sorrisos doces.
Outro exemplo: aprendi que se se puser um colher no gargalo duma garrafa de espumante por terminar, o gás não sai. Disseste-me tu uma vez durante uma festa e, apesar de ainda necessitar de alguma base científica para o comprovar, parece-me ser verdade.
Outro exemplo duma coisa simples que aprendi contigo e que nunca mais esqueço: quando dois namorados passam um dia inteiro juntos e não dão as mãos nem se beijam, então já não são namorados a sério. Apesar de também carecer de comprovação científica, acredito que seja mais uma verdade das tuas. Disseste-mo na altura em que os nossos lábios e as nossas mãos se uniam com a brandura de um petroleiro amarrado ao porto. Lembras-te?

É por isso que acho que não vais estranhar ler este email em que te digo que acho que não faz sentido continuarmos a telefonar todos os dias um ao outro, sairmos todos os dias um com o outro, fazermos amor todos os dias um com o outro. O que faz sentido é bifurcarmos aqui as linhas da nossa vida e não deixarmos que elas se separem cada vez mais. Podemos cruzá-las outra vez, por exemplo, daqui a uns três meses, no restaurante da senhora Maria. Podemos comer carne que sabe a peixe e peixe que sabe a carne, podemos beber espumante e, sabe-se lá, talvez possamos dar de novo as mãos e os lábios. No dia 5 de Novembro às 21:30, está combinado?

fotografias da adolescência...

Já vos aconteceu encontrarem lembranças na vossa memória que não conseguem situar muito bem? É como ver fotografias num álbum em que faltam algumas folhas e onde o tempo já apagou a maior parte das anotações. Pois bem, hoje passei o dia a ver fotografias dessas, quase todas delas relacionadas com mulheres...

1] pernas de frango
Foi provavelmente o primeiro método de engate na minha vida e, acreditem, o primeiro falhanço também. Num piquenique qualquer durante uma visita de estudo da minha sala (dizia-se sala e não turma) da escola primária, troquei as duas pernas de frango de churrasco que a minha mãe me mandou numa tupperware por outra parte muito menos saborosa, creio que umas asas. A miúda que comeu as pernas e que, admito, fez de mim parvo, acabou por me dar um beijo mas inconsequente. No dia seguinte voltou às brincadeiras com as suas amigas e eu aos meus jogos de futebol em que a bola era um pacote vazio de um litro de leite. Acho que ainda estava a digerir as asas...

2] à boleia pela rua...
Nunca percebi o que é que falhou com a Márcia (nome fictício, claro). Foi ela que teve a ideia de passarmos uma noite juntos no quarto dela e eu, tanto pela aventura como por estar apaixonado, aceitei imediatamente esperar pacientemente que os pais dela adormecessem para depois, conforme combinado, ela me abrir a porta. Como supostamente a família acordava cedo para ir trabalhar, teríamos a manhã toda por nossa conta. E teríamos mesmo, não fosse eu ter esperado até às três da manhã sem ela aparecer. O problema é que eu vivia em Aveiro e ela a dezasseis quilómetros de distância. Acabei por voltar à boleia de um desconhecido por volta das cinco da manhã... e juro que nessa noite imaginei como seria bom existirem telemóveis.
No dia seguinte ela disse-me simplesmente que tinha adormecido...

3] uísque
Se é verdade que fui precoce a imaginar o telemóvel, também é verdade que fui precoce a desejar não ter nenhum. Era tão bom ir acampar no Verão e estar realmente incontactável. Até os nossos pais tinham que esperar pela nossa boa vontade em ir a uma cabina telefónica dizer-lhes que estava tudo bem. Acho que era essa distância da família que dava ao campismo a conotação de espaço privilegiado para o engate adolescente.
Num Verão qualquer, num parque de campismo transmontano, lá consegui depois de muito esforço que uma miúda gira interrompesse uma dança numa discoteca para se sentar comigo numa mesa e ter uma conversa séria. É que apesar de eu não a conhecer de lado nenhum, sentia que tinha muitas coisas importantes para lhe dizer. E tinha mesmo, só não sabia quais. Claro que primeiro, para me armar em homem adulto (que de facto ainda não era), forte (que de facto ainda não era) e experimentado (que de facto ainda não era nem nunca cheguei a ser), comecei por beber um uísque enquanto lhe oferecia uma coca-cola. Pois o uísque deu-me tal volta à cabeça que acabei por perder a noção do que estava a fazer e a dizer. Caso encerrado... no dia seguinte ela passou por mim, riu-se com a superioridade inerente a uma adolescente que bebeu uma coca-cola à minha custa, e foi à vida dela...

conversa 1297

A minha conta no twitter foi suspensa porque, não sei como, alguém fez um spam na minha conta com um link para uma dessas coisas a prometer dinheiro sem trabalho.
Quando me levantarem a suspensão vou perder todos os seguidores e seguidos, ou seja, se calhar até acabo com aquilo... mas estou chateado, lá isso estou...

Eu - A minha conta no twitter foi suspensa...
Ela - Já fizeste asneira.
Eu - Não fiz nada. Alguém utilizou a minha conta para fazer spam...
Ela - Lá está. Fizeste asneira ou alguém fez por ti. Vai dar ao mesmo.
Eu - Não brinques. Estou chateado com isto...
Ela - Vá lá... amua um bocadinho...
Eu - Amuar não amuo... mas talvez te lembre que ainda me deves doze euros do jantar de ontem.
Ela - Vai à merda. Não tens sentido de humor nenhum.
Eu - Tu também não.
Ela - Tu é que não.

conversa 1296

Eu - Vou comer aqui um gelado...
Ela - Uma bola é dois euros, duas bolas são dois euros e meio. São caros...
Eu - Pois são... mas têm bom aspecto.
Ela - Podemos pedir um gelado de três bolas, que é três euros, e dividir...
Eu - Está bem...
Ela - Eu quero uma bola de banana e uma de chocolate...
Eu - Eu quero uma de figos com amêndoa e uma de rum com passas...
Ela - Mas isso dá quatro sabores...
Eu - Pois dá... mas eu já estava a pensar nestes dois sabores.
Ela - E a mim apetece-me mesmo banana e chocolate.
Eu - Então pedimos um gelado de quatro bolas...
Ela - Isso não porque é muita mistura. Depois começam a derreter e os sabores vão-se perdendo.
Eu - Então abdica de um sabor...
Ela - Abdica tu.
Eu - É melhor pedirmos dois gelados, cada um com dois sabores...
Ela - Sim... contigo parece não ser possível fazer quase nada a dois.

8.04.2009

pensamentos catatónicos (187)

Hoje vi uns miúdos a fazer uma escultura na areia da praia. Era uma espécie de cidade com edifícios, torres e estradas. Depois, antes de irem tomar banho, destruíram-na completamente. No princípio fiquei um bocado chocado mas depois cheguei à conclusão que todos fazemos mais ou menos o mesmo de vez em quando. Construímos uma forte relação com alguém e aí circulamos à vontade como numa cidade qualquer. É certo que às vezes viramos à direita quando devíamos virar à esquerda, outras vezes estacionamos quando devíamos acelerar mas, a conduzir melhor ou pior, gostamos sempre de viver nessa cidade, pelo menos até a destruirmos também. Talvez o amor seja uma espécie de escultura na areia...

espermatozóides na piscina

Não sei se conhecem esta história duma mulher polaca que processou um hotel num Egipto porque, durante a sua estadia ali, a sua filha de treze anos engravidou. Agora, e porque está convencida que a filha não teve relações sexuais com ninguém, acha que a água da piscina do hotel estava cheia de espermatozóides...
Eu tiro facilmente duas conclusões deste acontecimento. Primeira: a mãe é tola. Segunda: a filha engravidou porque está farta de aturar a mãe e quer fugir de casa.

8.03.2009

conversa 1295

(enquanto eu desfazia as malas no primeiro dia de férias...)

Ela - Ena... tantas cuecas novas...
Eu - Algumas... ofereceram-me agora quando fiz anos.
Ela - É uma prenda muito íntima.
Eu - É uma prenda como outra qualquer.
Ela - E acertam no teu tamanho e tudo...
Eu - Pois... basta olhar para mim para poder calcular o tamanho do que visto...
Ela - E acertaram no tipo de cuecas que vestes...
Eu - Pois acertaram... foi sorte.
Ela - Tens muita sorte, tu.
Eu - Muita não... mas quem mas deu adivinhou mesmo, ou pensas o quê?
Ela - Eu não penso nada. Tu é que pensas que eu penso...
Eu - Ok...
Ela - E já agora, o que é pensas que eu estava a pensar?
Eu - Nada...

desculpas zen

Estou de férias no Algarve e, consequentemente, numa onda zen. Sem querer apaguei todos os comentários deste dia e parte do dia de ontem. Ainda recuperei alguns à mão mas, aos visados peço desculpa pelo facto... e, se não se importarem muito, podem comentar de novo... :(

8.02.2009

conversa 1294

Ela - Os Xutos e Pontapés são uns maricas... há bandas de homens armados em bons que depois se revelam uns maricas...
Eu - Porque é que dizes isso?
Ela - Têm uma música sobre o Sócrates que começou a dar alguma celeuma e, com medo, fizeram um comunicado a dizer que não a música afinal não se referia a ele...
Eu - Ah! sim... ouvi qualquer coisa sobre isso. Tens razão, sim.
Ela - E dás-me razão?
Eu - Dou. Já sei do que estás a falar por isso dou...
Ela - És tão fácil de convencer...
Eu - Não me convenceste de nada. Concordo contigo e pronto.
Ela - E convenci.
Eu - E não.
Ela - E convenci.
Eu - E não.