7.31.2011

conversa 1809

Ela - Acreditas no Amor à primeira vista?
Eu - Mas quê?! Sem sexo?
Ela - Deixa lá. Às vezes é tão difícil falar contigo...
Eu - Só fiz uma pergunta.
Ela - Também eu, também eu. Também só fiz uma pergunta...
Eu - Mas o que é tu querias mesmo saber?
Ela - Já nem eu sei.

a estupidez de género

Não sei explicar bem... mas há qualquer coisa que me emociona na estupidez dos homens. É uma estupidez sincera, honesta, própria de quem está abandonado por todos e até por si mesmo. É uma estupidez que resulta da soma dum cérebro e dum coração estéreis. Zero mais zero é igual a zero. É simples. É bonito.
Há homens que são estúpidos e homens que não são estúpidos, claro. Tão claro como haver também mulheres estúpidas e mulheres não estúpidas. A diferença é que a estupidez das mulheres refere-se sempre à sua condição humana, enquanto a estupidez dos homens se refere muitas vezes à sua condição de género, ou seja... de homem. Estou a dizer que há muitos homens cuja estupidez ultrapassa largamente a estupidez da mulher mais estúpida do mundo. Só isso. E já não é pouco.
A semana passada, por exemplo, um grupo de homens no túnel da Estação de Campanhã seguia de perto uma mulher com um vestido de Verão. O mais baixo, líder incondicional da estupidez colectiva, cujo rosto avermelhado de tinto por digerir o distinguia como macho alfa, coçava a barriga enquanto lhe gritava qualquer coisa como "Ai se eu te apanho na Cordoaria!". Atrás dele, submisso à baba do chefe, um outro homem concordava em voz alta com um "É mesmo boa! Olha-me aquelas mamas!".
Passei por eles e reparei que um terceiro elemento não dizia nada. Queixo caído e dentes do maxilar inferior sobressaídos, nadava certamente na própria baba que lhe caía pelo canto dos lábios enquanto coçava lentamente os testículos presos nas calças de fato de treino azuis. Num ápice percebi a inteligência daquele monumento à estupidez. É a responsabilização da mulher pelo estado vegetativo do homem. É isso a estupidez de género. Uma mulher consegue pôr um homem estúpido como nunca nenhum homem conseguiu pôr uma mulher estúpida. A culpa é delas, portanto. São elas a semente da estupidez. Os homens são o fruto. A consequência.
A ausência de Amor é como a ausência de alimento. Altera-nos, estupidifica-nos. Estamos esfomeados e, portanto, impulsivos. Queremos sempre tornar as emoções inteligentes mas não é possível. Não é certo. A inteligência não é a essência do Amor, não é o seu substrato. Shakespeare tentou demonstrar essa inteligência em "Romeu e Julieta" através duma paixão sem face, dum Amor nascido num baile de máscaras, e ele próprio acabou por o conduzir à morte. Faltou-lhe o mais importante: a estupidez de género. Só está ao alcance de alguns demonstrá-lo. Destes homens que vi em Campanhã, por exemplo.

7.28.2011

respostas a perguntas inexistentes (170)

Oslo

A Raquel ofereceu-me uma recordação, que é como quem diz uma viagem a Oslo no próximo mês de Setembro. A Raquel sabe que eu sempre quis ir a Oslo mas nunca fui. É verdade que os motivos pelos quais eu sempre quis ir a Oslo são estúpidos, mas também é verdade que nem por isso deixam de ser motivos. Um é o meu próprio nome ser norueguês e eu nunca ter estado num sítio onde o meu nome fosse comum, tipo João ou Manuel em Portugal. Outro é um filme do Henning Carlsen chamado "Sult" (Fome), de 1966, que se passa em Christiania (actual Oslo) no ano de 1890 e cujo argumento é de outro norueguês, Knut Hamsum.
Nunca me tinham oferecido uma recordação tão forte que ainda nem sequer o é. A não ser, talvez, na minha vida emocional. O Amor é uma recordação contínua do que ainda se vai passar, embora também possa ser do que já passou. Uma recordação para a qual olhamos com alguma nostalgia. Ainda bem, porque é também assim que aprendemos a aceitar o envelhecimento e o Outono da vida, olhando para o futuro com saudade.
Em Sult, um escritor falhado tenta desesperadamente vender o seu trabalho para conseguir matar a fome e aquecer-se durante um Inverno rigoroso. Não consegue, mas antes da morte satisfaz pelo menos o seu défice emocional através de alucinações provocadas pela miséria. Não sei se o Amor é ou não uma espécie de alucinação, mas se for, que o seja muito tempo.

conversa 1808

Ela - Nunca te tinha visto de sandálias...
Eu - Há sempre uma primeira vez.
Ela - Por acaso não gosto muito de ver homens de sandálias. O meu marido quer umas, mas eu estou sempre a dizer-lhe que um homem de sandálias é a mesma coisa que uma mulher com botas da tropa.
Eu - O que é que tem uma mulher com botas da tropa?
Ela - Não tem nada a ver. Mas pronto, admito que com este calor te deve saber bem andar de sandálias.
Eu - O que me sabe bem é não ter que lavar meias. Nem pô-las a secar nem ter que as dobrar, claro.
Ela - Olha, agora que falas nisso, se calhar vou eu comprar umas sandálias ao meu marido.
Eu - Vê lá se ele não te compensa com umas botas da tropa.

7.27.2011

conversa 1807

Ela - Parabéns!
Eu - Obrigado.
Ela - Como é chegar aos quarenta anos?
Eu - Estou indeciso entre comprar uma t-shirt dos Iron Maiden e tornar-me um velho metálico decadente, ou então comprar um pente para começar a pentear os cabelos que ainda tenho.
Ela (risos) - Pelo menos estás apaixonado, e logo com uma mulher que parece que foram feitos um para o outro.
Eu - Não acredito nada nisso do "foram feitos um para o outro".
Ela - Não?
Eu - Não. Acho que ninguém foi feito para ninguém. Para ter uma relação a dois é preciso partir pedra.
Ela - Porquê?
Eu - Todas as pessoas têm alguma coisa que tu não gostas. Tens que saber adaptar-te sempre um bocadinho.
Ela - Achas? Qual foi a maior adaptação que já fizeste?
Eu - Ficar na fila do fiambre durante meia hora à espera de vez enquanto ela percorre o hipermercado a comprar todo o tipo de coisas que lhe vem à cabeça, incluindo vinho branco mais caro e pior do que aquele que eu gosto. É só um exemplo...
Ela - A vida pode ser difícil, não pode?
Eu - Nem imaginas.
Ela - A mim também me custa muito fazer compras sozinha enquanto o meu namorado espera pela vez na fila do fiambre, muito quietinho, a ler A Bola.
Eu - Tens namorado?
Ela - Tenho. Há pouco tempo...
Eu - Estavas muito surpreendida por eu ter uma namorada aos quarenta...
Ela - Mas eu não tenho quarenta. Quando lá chegar já não ando com ele de certeza, ou achas que consigo manter uma relação com um gajo que lê A Bola?
Eu - Sim, pelo menos eu não leio A Bola...
Ela - Vês?! Nem tudo é mau...

conversa 1806

Ela - Hoje tenho consulta no meu psiquiatra por causa da minha tendência para a depressão.
Eu - Andas no psiquiatra?
Ela - Ando, porquê? Vais começar com aquela conversa de quem me acha louca por ir ao psiquiatra?
Eu - De maneira nenhuma. Acho muito bem que vás se achas que deves ir. Tenho a certeza que alguém que andou a estudar durante anos a fio é a pessoa ideal para te ajudar.
Ela - Bem... na verdade o que eu vou lá fazer é chorar.
Eu - Chorar?
Ela - Sim. Ele quase nem diz nada. Eu fico lá uma hora a falar e a chorar. Depois no fim ele receita-me uns antidepressivos, eu pago e venho-me embora mais aliviada.
Eu - Ah! Acho que isso também consigo fazer. Só não te posso receitar nada porque não sou médico...
Ela - Tu não serves porque és meu amigo. Chorar em frente a um estranho sabe muito melhor. Não te sei explicar bem...

7.26.2011

anos vintage

Tendo a catalogar o Amor na minha vida como se fosse vinho. Tenho anos bons e anos menos bons, é verdade. Depois tenho alguns anos maus e até anos anos em que tempestades impediram as colheitas. Declarei esses como anos de calamidade. Actualmente estou a tentar fazer do Amor uma espécie de vinho do Porto, daquele que melhora com a idade.

Não é forçado comparar vinho e Amor, até porque é através da consistência, do aroma e do sabor que classificamos um e outro. Mas falando de vinho do Porto, venho aqui declarar oficialmente os tempos que correm como anos vintage. Declaram-se anos vintage aqueles que são de qualidade excepcional devido às condições atmosféricas, e em que esse vinho do Douro augura um bom potencial de envelhecimento.

Tudo isto porque ontem estava a lavar a louça e entre os dois pratos de sopa, os dois pratos rasos, as duas colheres, os dois garfos e as duas facas do jantar lavei apenas um copo de pé alto. Dividir um copo para beber vinho é uma forma de estar sempre mais perto do outro. No corpo e na alma.

7.25.2011

conversa 1805

Ela - Há uma certa coisa que me faz confusão no meu marido.
Eu - O quê?
Ela - Quando estamos a falar ao telefone e ele não tem ninguém por perto, diz que me Ama sem problema nenhum. Quando lhe telefono à hora do almoço e ele está com uma colega de trabalho dele, nem beijinhos me manda e parece que está sempre a falar para dentro.
Eu - Pode ser só timidez.
Ela - Ou então quer comer a gaja!
Eu - Ou então é só timidez.
Ela - Pelo sim pelo não, telefono-lhe todos os dias sem excepção à hora do almoço e digo-lhe que o Amo muito, só para ver como ele reage.
Eu - Isso até pode ser constrangedor. Imagina que lhe apetece dizer-te que te Ama mas não o consegue fazer quando está com a colega por perto...
Ela - Problema dele.

janela

Espreita-se muito pelas janelas. Normalmente de dentro para fora, embora em Portugal haja demasiadas pessoas a espreitar no sentido inverso. As janelas são essa fronteira que divide o nosso mundo do mundo de todos. Do mundo dos outros, aquele lá fora onde as pessoas passam umas pelas outras mas não se vêem nem se cumprimentam.
É por isso que quando o Amor se cansa de viver connosco passamos mais tempo à janela, que nessa altura se transforma na moldura da nossa solidão. Procuramo-lo entre esse mar de transeuntes sós porque sabemos que ele não pode estar noutro sítio a não ser aí, tão silencioso quanto outra pessoa qualquer.
Gosto especialmente da tua janela. Quando estou deitado e com a cabeça na almofada, que é o mesmo que dizer quando não estou em esforço, por ela só vejo o céu e a copa das árvores. Acho que as janelas dos quartos deviam ser todas assim, a dar para o mundo sem que o mundo desse para elas. Porque é isso um quarto povoado pelo Amor.

7.22.2011

conversa 1804

Ela - De repente olho à minha volta e todas as minhas amigas estão casadas e com filhos. Qualquer dia não tenho ninguém para sair à noite.
Eu - Hum... isso é da idade.
Ela - Estás a chamar-me velha?
Eu - Estou a chamar-te nova. Qualquer dia todas as tuas amigas estão divorciadas e já tens outra vez com quem sair à noite.
Ela - Mas isso também é mau. São mulheres a mais e muita concorrência para conhecer homens.
Eu - Então aproveita agora e sai sozinha.
Ela - Mas uma mulher sozinha também parece mal. Dá ar de desesperada.
Eu - Oh! mulher. Tens que decidir se queres sair sozinha ou com amigas. Alguma coisa tem que ser...
Ela - Sim, eu sei. O melhor é sair só com uma amiga, se possível mais feia que eu.

semáforos

Passou ali de automóvel por acaso quando não tinha nada que fazer. É sempre assim nas noites em que está só, mete-se no carro e conduz sem direcção. Nunca pára, que pelo menos ao volante tem a sensação de que está a ir para um sítio qualquer, que tem um objectivo. Mesmo que não tenha. "Fingir a nós mesmos que temos um rumo é um processo de salvação da alma", diz a si mesmo repetidas vezes enquanto procura uma estação de rádio com música e em que o locutor fale pouco.
Da alma até pode ser, do corpo com certeza que nãoPassou por Eva por acaso, uma prostituta sentada na beira da montra duma loja de electrodomésticos. Não parou logo. Primeiro foi dar uma volta e parar para pensar nisso nos semáforos vermelhos. Os semáforos vermelhos são uma maravilha para quem conduz sem destino, são como um intervalo em que o tempo pára, em que se pode pensar e ver a vida por fora. Tal como ela é. E por fora a vida é exactamente isso: fingir pode enganar a alma mas nunca engana o corpo.
Eva ainda estava na mesma posição quando encostou o carro e abriu o vidro do lugar direito, com os cabelos despenteados e o olhar preso num infinito que o atravessava e ia mais além. Buzinou e ela não reagiu. Depois chamou-a com a mão num gesto igual ao de quem apanha areia na praia, com a mão voando repetidamente numa concha que a queria era apanhar a ela. "Entra!", disse-lhe quando a viu encostar-se ao carro. Ela entrou.
Saiu da casa de banho duma pensão nos subúrbios, na verdade a primeira por que passaram, e ela já estava nua na cama. Agarrava-se estranhamente aos lençóis como uma criança que tem medo dos monstros debaixo da cama, mas não resistiu quando ele se tentou deitar. Talvez por ter medo de a enfrentar e de se enfrentar a si mesmo, penetrou-a de costas e em silêncio. Foi rápido, que o corpo estava sedento. Depois perguntou-lhe o nome enquanto limpava o falo a uma das almofadas. Eva.
Saíram da pensão ao mesmo tempo, e parecia que as ruas se tinham silenciado perante aquele inusitado acto sexual. "Queres que te leve a algum lado?" Perguntou-lhe ele como se despedir-se dela já ali fosse demasiado abrupto. "Gostava de andar de carro e simplesmente parar em alguns semáforos vermelhos", respondeu ela.

7.21.2011

conversa 1803

Ela - Cometi um erro grave.
Eu - Qual?
Ela - Mandei um sms a um homem a dizer que estou apaixonada por ele.
Eu - E não estás?
Ela - Estou.
Eu - Então qual foi o erro?
Ela - Agora estou aqui ansiosa porque ele nem sequer me responde.
Eu - Não te responde?! Isso é mau sinal, admito. Há quanto tempo mandaste?
Ela - Há cinco minutos.

amanhã será outro dia...

Estou num dia mau por motivos políticos. Na verdade sinto-me triste e desiludido. Amanhã será outro dia...

7.20.2011

conversa 1802

Ela - Um dos motivos pelos quais me cansei do meu ex foi ele fazer sempre tudo o que eu queria.
Eu - Mas... era mau ele fazer tudo o que tu querias?
Ela - Era péssimo. Não dava luta nenhuma. Nem sequer costumávamos discutir muito, de tão mau que era.

coisas que fascinam (130)

manhã

Ela perguntou-lhe as horas e voltou a adormecer.
Nunca sabemos muito bem onde é que vai desaguar um Amor recente. Talvez por isso não a tenha acordado logo, mas sim aproveitado a sorte de a poder ver dormir na cama dele numa manhã que fosse. Ajustou a almofada à cabeça ainda sonolenta de maneira a que não lhe tapasse a visão, e deixou-se estar a vê-la respirar, que é como quem diz, deixou-se estar a vê-la dormir.
O corpo satisfaz-se com o sexo, a alma satisfaz-se com o seu cansaço. O do corpo. Deu-se conta disso nessa manhã, que voltar a Amar é voltar a ser capaz de acordar com alguém sem saltar imediatamente da cama, mesmo com o corpo satisfeito. Menos a alma.
Que horas são?
Não sei, respondeu ele. Também voltou a adormecer.

na rua

Ontem à tarde estive a beber cerveja num pequeno bar na Senhora da Hora, em Matosinhos, chamado Lux. Um bar normalíssimo, entre tantos outros, onde fui dar só por um motivo: desviei-me do meu percurso errante na Avenida de Timor para ver de perto uma frase pintada num bloco de prédios à minha esquerda que dizia "Amo-te Daniel" em letras enormes. Mesmo ao lado, em letras bastante mais pequenas, alguém escreveu "Amo-te muito Filipa. Ass: JP".
Não há sítio melhor para escrever a palavra "Amo-te" do que a parede duma cidade qualquer. Ao fazê-lo, diz-se simultaneamente a dois mundos que se Ama alguém. Ao mundo pelo qual passamos, esse de ruas e avenidas errantes, e ao mundo por onde queremos passar, esse que assumimos Amar.

7.19.2011

respostas a perguntas inexistentes (169)

peças

Lembro-me que ela não gostava dos meus cafés expressos pela manhã. Ria-se deles timidamente enquanto tapava a boca com os dedos da mão direita. "Isso é tão pequenino", dizia. Para ela fazia café de saco e enchia pelo menos uma caneca das grandes antes de sair de casa. Também fazia sumo de laranja natural e espalhava bolachinhas com doce de amora num prato grande. Foi o que me ficou dela, a forma como tomava o pequeno-almoço.
É como se a vida fosse um puzzle que se vai construindo todos os dias com a mesma paciência do tempo que passa. Os Amores são as peças maiores, aquelas que definem o desenho, mas às vezes dá-nos um gozo imenso encontrar o sítio duma peça mais pequenina. Os pequenos-almoços dela são isso mesmo, uma peça pequenina do puzzle da minha vida. Não a quero perder.
É uma pena, mas há mulheres que passaram por mim e pelas quais não me apaixonei. É um desastre, mas também houve mulheres que não se apaixonaram por mim. O Amor é como o corpo, nunca mente. Talvez ainda seja pior, porque também nunca obedece a ordens. Restam as peças mais pequenas do puzzle da nossa vida, mas que nem por isso deixam de colorir o produto final.
Às vezes pergunto-me se também eu sou uma peça dessas por aí na vida de alguém. Acho sempre que não.

7.18.2011

conversa 1801

Ela - A minha vida sexual anda mesmo um desastre.
Eu - Então?
Ela - Lembras-te daquele conselho que me deste de ir para um hotel um fim de semana para mudar de ares?
Eu - Lembro. Às vezes, só o facto de se sair do quarto onde um homem e uma mulher passam a vida já ajuda bastante.
Ela - Pois... eu reservei um hotel e fiz uma surpresa ao meu marido.
Eu - E funcionou?
Ela - Não. Tivemos uma discussão no átrio quando ele percebeu que eu tinha reservado o hotel sem falar com ele primeiro.
Eu - Ah! E depois disso?
Ela - Depois disso ele amuou. Passou a noite deitado a ver tv por cabo e eu adormeci depois de beber o álcool todo que havia no mini-bar.

7.17.2011

respostas a perguntas inexistentes (168)

Às vezes sofro um bocadinho pelo fim da minha relação actual, antecipando aquilo que espero que nunca me venha a acontecer. É uma maneira de Amar, esta, que me permite ser mais feliz nos dias em que, como hoje, estou condenado à solidão. Aliás, essa solidão de um dia ou dois, devido ao trabalho ou a uma viagem, é por isso das melhores coisas a que a vida nos pode condenar. É ela que nos faz perceber a falta que o Amor nos faz.

Hoje, por exemplo, sentei-me numa esplanada virada para o mar e apinhada de gente. Uma mãe limpava a areia dos pés dos filhos, numa mesa à minha frente com todas as cadeiras ocupadas, enquanto o pai tentava evitar que o vento levasse alguns papéis de gelados e guardanapos amarfanhados num prato. À minha direita, um casal de namorados abraçava-se enquanto a cerveja morria lentamente nos seus copos. Uma doce morte lenta, pensei eu evitando o olhar duma das quatro mulheres que conversavam à minha esquerda. A empregada chegou e perguntou-me se eu estava só. Que sim, respondi enquanto a pergunta ficou a ecoar no meu cérebro. Um fino, por favor.
Estar só no meio de muita gente é estar mais só do que nunca. Por isso é que ela reparou que ninguém me acompanhava. E enquanto todos pareciam falar com todos à minha volta, eu fiquei a conversar com as cadeiras vazias que me rodeavam. Foram elas que me contaram hoje como é o fim dum Amor qualquer. Dei um gole saboroso na cerveja, mandei uma mensagem de telemóvel à Raquel e encostei-me para trás aproveitando uma das lâminas do Sol.

7.15.2011

apalpar as mamas a chupar a pila

Continuo, sempre que me sinto triste, a ir ver as buscas no Google que vêm dar a este blogue. São deliciosas. Mas, a propósito das mesmas, queria informar uma série de leitores casuais que Çexo é com S, ou seja, Sexo. Feito o esclarecimento, passemos às melhores frazes, que dizer... frases.

apalpar as mamas a chupar a pila
Se se tiver braços, uns abdominais razoáveis e força de vontade, tudo é possível. Apalpar os calcanhares a lamber as orelhas, por exemplo, ainda é mais difícil.

como se vestian no ano de 1741
Tiveste azar. Por acaso sei como se vestiam no ano de 1740, mas acho que em 1741 a moda mudou totalmente, principalmente nas colecções Outono/Inverno.

como é vagina das chinesas
Não quero desiludir o leitor que fez esta busca, mas a mim parece-me que cada chinesa tem uma vagina só dela. Ainda por cima há bastantes chinesas por esse mundo fora. Aconselho o seguinte: ir a uma loja chinesa e tentar engatar uma por uma noite, ou então ficar-se por um livro de anatomia qualquer...

mamas boas de marge simpson
A Marge Simpson é bem boa, sim. Tem cá umas mamocas. Oh! oh! Essa é que é essa... Eu já a vi na praia, por isso sei bem o que digo.

mulher faz sexo com cachorro e porco no sitio
Não percebi qual é o sítio nem quem são o cachorro e o porco. O porco, posso tentar adivinhar, pelo menos pelo que já ouvi sobre o presidente do Governo Regional da Madeira quando come. Mas mesmo assim não é certo...

sai do trabalho em ovar em 2003 e fui foder com ela
Em que ano é que conseguiste foder com ela?

uma fraze para uma mulher k nao etende o homem
Eu sei uma, eu sei uma: "Oh mulher! Vê lá se entendes..."

çexo com animais
Espero que seja çexo obçeçivo, daquele que até cria obçeços.

7.14.2011

banho Maria

Não costumamos dar muita importância ao seu nome, até porque Maria nos é demasiado familiar ou comum, mas o banho Maria que todos nós usamos de vez em quando na cozinha para aquecer uniformemente comida, não veio duma Maria qualquer. Veio da Maria que deu origem ao mito alquimista que diz ser possível transformar qualquer metal em ouro, ou seja, a Judia, uma filósofa da Grécia antiga
Aprendi isto com uma francesa quando percebi que ela também chamava bain Marie ao processo de aquecer uma panela com água quente noutra panela maior. Achei piada porque, até então, estava convencido que o banho Maria tinha origem portuguesa. Foi também ela que me explicou que a vantagem do banho Maria é a comida nunca ser sujeita a mais de cem graus Celsius, porque a partir dessa temperatura a água evapora.
Já estávamos a jantar no seu pequeno apartamento em Paris quando a Berenice me disse que tinha chegado à conclusão que o Amor é uma espécie de banho Maria da vida. Vamos aquecendo e apreciando esse calor crescente até um dia em que, sem o termos percebido, começamos a evaporar lentamente do cozinhado. A Berenice estava a atravessar uma desilusão amorosa. Eu também... e concordei com ela como se tivesse acabado de transformar ouro num metal qualquer.

7.13.2011

conversa 1800

Ela - Aquela tua amiga que estava no jantar este fim de semana é bailarina, não é?
Eu - É.
Ela - E é boa?
Eu - É, mas tu própria a viste.
Ela - Estou a perguntar se é boa bailarina.
Eu - Ah! Isso não sei.
Ela - Falar contigo pode ser desesperante.
Eu - Estava distraído.

7.12.2011

conversa 1799

Ela - Comprei um vestido que não posso usar.
Eu - Porquê?
Ela - Sinto-me nua quando o visto. Sou incapaz de sair à rua com ele.
Eu - E não o experimentaste na loja?
Ela - Não.
Eu - Porquê?
Ela - Tive medo de não gostar de o ver vestido em mim e de não o comprar por isso.

respostas a perguntas inexistentes (167)

“Você sabe com quem é que está a falar?” é a pior pergunta que alguém me pode fazer. É, aliás, a única pergunta que me faz olhar para um indivíduo como sendo extremamente pequenino, por ser alguém que ainda não percebeu que tem exactamente a mesma importância de todas as outras pessoas à face da Terra, ou seja, nenhuma.
Não termos importância nenhuma à partida é o que nos permite escolher. Somos todos iguais mas acabamos por dar mais importância a uns do que a outros. O Amor precisa da generalização dessa falta de importância na nossa espécie. A amizade também. Eu dou toda a importância do mundo a quem Amo, apesar de saber que tem a mesma que um membro duma tribo qualquer de Burkina Fasso de que nunca ouvi falar. Ainda bem que o posso fazer.
Hoje alguém me perguntou indignado se eu sabia com quem estava a falar, após um normal protesto meu por me ter passado à frente na fila do supermercado. Que sim, pensei eu. Sabia muito bem com quem estava a falar. Estava a falar com alguém que nunca Amou verdadeiramente ninguém, porque se alguma vez fingiu que o fez foi apenas para tentar ser reconhecido. O desamor é isso, termos um umbigo demasiado grande.

7.08.2011

conversa 1798

Ela - Não falo mais com a Patrícia. Estou chateada com ela.
Eu - Mas porquê?
Ela - Passa a vida a dizer mal dos outros e eu detesto isso.
Eu - Ah! Por acaso simpatizo com ela.
Ela - Ela nunca te disse, por exemplo, mal de mim?
Eu - Só uma vez, que eu me lembre.
Ela - Estás a ver?!
Eu - Mas foi só para me avisar que tu lhe tinhas dito mal de mim.
Ela - Eu?! Quando é que foi isso?
Eu - Quando eu lhe disse mal de ti, tu ficaste chateada e vingaste-te de mim nela.
Ela - E o que é que tu lhe disseste de mim?
Eu - Que tinhas a minha série do Espaço 1999 em casa há mais de um ano e nunca mais ma devolvias.
Ela - Ah! Já me lembro. Devias tê-la pedido a mim e não ter ido fazer queixinhas à Patrícia.
Eu - Eu pedi-ta umas dez vezes, tu é que nunca ma devolveste. A propósito, ainda a tens...
Ela - Não tenho, não. Está precisamente em casa dela. Emprestei-lha nesse dia em que estivemos a dizer mal de ti.

7.07.2011

respostas a perguntas inexistentes (166)

Parar

Gasto um tempo razoável dos meus dias em transportes públicos, mais concretamente a andar de comboio. É fácil, ou melhor, é quase automático subtrair mentalmente essas horas à vida como se fosse tempo perdido entre suspiros e olhares impacientes para o relógio. Afinal de contas é tempo em que não se está a fazer nada.
Esta semana fui com uns amigos à praia da Vagueira ver o Pôr-do-Sol. Ver o Pôr-do-Sol pode ser considerado uma coisa foleira. Pior, pode até ser o princípio duma música dos Delfins ou dos Pólo Norte, mas também é não fazer nada para além disso mesmo: ver o Sol a pôr-se.
Hoje tornei a sentar-me no comboio, logo pela manhã, e vi uma afiada lâmina de luz solar cortar a negritude da carruagem. O Sol é o mesmo, a interrupção da vida também. Se algumas vezes gostamos de parar e ficar a olhar para o Pôr-do-Sol, uma árvore, um oceano ou outra coisa qualquer, não há razão nenhuma para não aproveitar as paragens obrigatórias da vida. O tempo não pode ser um desperdício.
Parar é deixar de ser observado para passar a ser observador. Parar é deixar de ser por uns instantes mais uma roda dentada dum relógio de corda. É sair dessa mecânica ininterrupta e sentir-lhe o pulso. É assim que podemos pensar verdadeiramente. É também assim que nos apaixonamos.

7.06.2011

conversa 1797

Ela - Qual foi a cena que até hoje te custou mais a fazer estando na cama com uma mulher?
Eu - Acordar de manhã para ir trabalhar.
Ela - Oh! Vai-te lixar! Diz a sério.
Eu - Estou a falar a sério.
Ela - Nunca fizeste assim nada... com sofrimento?
Eu - Já.
Ela - O quê?
Eu - Acordar de manhã para ir trabalhar.

respostas a perguntas inexistentes (165)

O tamanho da palavra Amor

Um Amor nunca é pequenino, senão não é um Amor. Chamem-lhe o que quiserem: um chamego, um encanto ou um gosto, mas se não for grande não lhe chamem Amor. O interessante é exactamente isso: ser grande apesar de não ter tamanho e ser grande apesar de vir do nada. Já me aconteceu sentir que não podia viver sem uma mulher cuja existência desconhecia poucos dias antes. Foi uma coisa grande que veio do nada, e que por acaso em pouco tempo voltou a ser nada. Zero.
O meu erro foi esse: não medir a coisa antes de lhe dar um nome. Se o tivesse feito não lhe chamava Amor. É que esta capacidade que uma paixão tem de ganhar tamanho a partir do nada e de voltar ao nada em pouco tempo desacredita injustamente o Amor. É por isso que há pessoas que deixam de conseguir Amar. Já viram esse gigante aparecer e desaparecer demasiadas vezes. São essas pessoas que deixam de usar a palavra Amor e passam a usar outra qualquer. Chamego, encanto ou gosto. É justo, mas acima de tudo é realista.
Acho que já me aconteceu. Não que alguma vez tenha deixado de usar a palavra Amor, mas pelo menos deixei de acreditar nela quando a dizia. Aliás, talvez a tenha dito insistentemente a pessoas erradas só para ver se conseguia acreditar outra vez. Não deu resultado.
O truque, acho eu, é exactamente perceber o tamanho da palavra antes de a dizer, ou melhor, antes de a pensar. Se não for suficientemente grande para nos ocupar totalmente então não é o tamanhão da palavra Amor, é o tamanhinho da palavra chamego, por exemplo. Não é grave. É o que é. E é melhor para todos saber o seu tamanho.

7.04.2011

conversa 1796

Ela - Apetece-me telefonar a alguém.
Eu - Então telefona.
Ela - Sim, só que não sei a quem. A esta hora estão todos a trabalhar...
Eu - Ah! Queres telefonar mas não sabes a quem. É isso?
Ela - É.
Eu - Para dizer o quê?
Ela - Também não sei, obviamente.

jura de sangue

A Clara não gostava do seu próprio corpo. Tinha as mamas pequenas, era sardenta e os seus cabelos frisados não obedeciam à lei da gravidade. Achava-se feia e falava muito pouco com os outros. Acho que por isso é que me tornei no melhor amigo dela. Corrijo, acho que por isso é que me tornei no único amigo dela. Na altura não havia telemóveis e quando eu lhe telefonava era sempre o pai dela que atendia. Eu perguntava se a Clara estava em casa e ele, sem sequer me dirigir a palavra, pousava o telefone e chamava-a sempre com a mesma frase enfadonha: "Clara! É o teu amigo".
Por aqueles dias a Clara era a minha companhia ideal. Por um lado porque era capaz de caminhar comigo quilómetros à deriva pela cidade, por outro porque eu não precisava de pensar se a Amava ou não. Isso precisamente porque ela não tinha mais ninguém e eu nunca sentia ameaçada uma eventual paixão entre nós. O Amor podia esperar...
Lembro-me de um dia frio em que adormecemos os dois nas dunas da praia, abraçados e vestidos, e que quando acordámos ficámos na mesma posição bastante mais tempo. Dali não podíamos ver o mar mas podíamos ouvi-lo, e parecia que estava a ralhar connosco por qualquer motivo que eu desconhecia. Foi com esse som por trás que ela me disse que achava que nunca nenhum homem se ia apaixonar por ela. "Eu gosto", respondi apertando-a com mais força. Não sei porquê mas não nos beijámos, embora isso me tenha passado pela cabeça, mas sei que ela sorriu e escondeu a cara no meu peito.
Aliás, ela escondia sempre a cara quando sorria, e era nesses momentos que mais me apetecia abraçá-la, embora nunca fizesse. Depois desse dia na praia, a única vez que a abracei foi quando ela me fez prometer que íamos ser sempre amigos e que, se alguma vez a vida nos separasse, nos voltaríamos a juntar quando fizéssemos quarenta anos. Escrevemos essa jura numa das páginas quadriculadas do caderno de matemática dela, cortámos o dedo polegar com um x-acto e assinámos com sangue. Eu ri-me da brincadeira, mas estava verdadeiramente feliz.
Foi pouco tempo depois que a vida nos separou. Telefonei-lhe como fazia habitualmente, o pai dela atendeu, pousou o telefone e disse: "Clara! É um amigo teu". Percebi imediatamente que deixara de forma abrupta de ser o único, mas mais grave ainda foi perceber que deixara de ser o primeiro. Ela não aceitou combinar nada comigo e disse, com um timbre na voz que para mim era novo, que me telefonava mais tarde. Esperei um dia, uma semana, um mês, um ano e nunca mais telefonou.
Este mês faço quarenta anos e, embora não tenha a intenção de cumprir a nossa jura de sangue, gostava que ela também se lembrasse de mim. Era só isso.

7.01.2011

respostas a perguntas inexistentes (164)

a mulher objecto

As mulheres são mais importantes do que os homens. Pelo menos os homens dão mais importância às mulheres do que as mulheres aos homens. A explicação é fácil: as mulheres sempre souberam o que fazer com os homens e os homens nunca souberam o que fazer com as mulheres.
A burka, o véu islâmico, o lenço na cabeça, o biquíni brasileiro que deixa ver o rabo e as mamas são prova disso mesmo. No mundo inteiro os homens podem vestir umas calças e uma camisola que serve perfeitamente. Já as mulheres ninguém as deixa em paz. Ou são para esconder debaixo duma vestimenta que mais parece um lençol ou então são para mostrar nuas num anúncio publicitário a um carro qualquer. Depende do sítio, mas só é assim porque elas são importantes e porque os homens não sabem o que fazer com elas.
As burkas são uma merda, os anúncios a automóveis com gajas nuas no capô também. As primeiras são consequências dum fanatismo religioso, as segundas são vítimas do capitalismo. Tanto um como o outro partiram do género masculino, e tanto um como o outro nunca perceberam muito bem o que fazer com elas. É como se os homens tivessem algo tão importante que não sabem muito bem se devem mostrar a toda a gente ou esconder muito bem. Foi nessa dúvida eterna que nasceu a ideia da mulher objecto.
Os homens que acham que as mulheres são um objecto são esses mesmo, os que compram revistas com gajas nuas e depois não sabem o que dizer quando estão ao lado duma bonita. Coram, perdem o assunto, penteiam-se continuamente com os dedos porque acham que estão sempre feios, riem-se com o nervoso e contam anedotas estúpidas. Eu sei que é assim porque já me aconteceu.

coisas que fascinam (129)

o ninho das cegonhas

Estou habituado a ver os ninhos das cegonhas nas chaminés de fábricas abandonadas ou nos postes de alta tensão da região de Aveiro. A semana passada, na viagem que fiz a Marrocos, vi pela primeira vez ninhos de cegonhas em árvores. "Que estranho, as cegonhas também fazem ninhos em árvores", pensei imediatamente.
Foi um pensamento absurdo, que as árvores já cá estavam antes das fábricas e dos postes de alta tensão. Estavam cá para, entre muitas outras coisas, receberem os casais de cegonhas que queriam construir um ninho e constituir família.
As cegonhas são animais monogâmicos, o que quer dizer que constroem um ninho para viver toda a vida com o/a mesmo/a companheiro/a, e vivem assim assim alheadas ao que as rodeia e à própria civilização. Por um segundo, mas mesmo só por um segundo, passou-me pela cabeça que talvez pudéssemos aprender qualquer coisa com elas.

um cigarro e um doce

Esta publicidade da Lucky Strike, que deve ser dos anos 40 do século passado, dizia às mulheres que para terem um corpo esbelto deviam fumar um cigarro em vez de comerem um doce. Apesar da mensagem estar ligada a um dos grandes erros da primeira metade do século XX, que foi pensar-se que fumar fazia muito bem à saúde, lembrei-me de mulheres da minha geração quando vi esta publicidade. É que tive muitas amigas fumadoras que, na sua juventude, se recusaram a tentar deixar de fumar precisamente porque tinham medo de engordar. Pior ainda, tive uma namorada que começou a fumar precisamente por achar que assim ia emagrecer, mas que depois de cada cigarro comia sempre um ou dois caramelos de frutas para tirar o sabor do cigarro.