6.30.2009

conversas 1269

(ao telefone)

Ela - Olá.
Eu - Olá.
Ela - Telefonei-te só para dizer que não tenho tempo para te telefonar. Beijinho.
Eu - Beijinho.
Ela (desliga)

conversas 1268

(ao telefone)

Ela - Preciso que me faças um favor importantíssimo.
Eu - Diz...
Ela - Acho que deixei a minha chave de casa na porta, esta manhã. Vais lá ver?
Eu - Vou... por acaso ainda estou em Aveiro. Se lá estiver passo no teu emprego para ta entregar.
Ela - Nem penses nisso. Não te esqueças que eu tenho um trabalho de grande concentração. Se o meu patrão sabe que me esqueço das chaves na porta de casa, acho que me despede...

conversas 1267

Ela - Estou toda suada... de manhã estava frio e vesti esta camisola quente, agora de repente ficou este calorão...
Eu - É uma coisa que acontece muito.
Ela - Acontece muito eu suar, é? Quem é que te disse?
Eu - Acontece muito estar frio de manhã e calor à tarde...

crónicas de engate (8)

fantasma

Alguns raios de Sol espreitaram pela persiana e vieram deitar-se na cama dela, assim, sem sequer ousarem tapar-se com os lençóis empurrados para o chão pela fragilidade dos seus pés. Tal como ela, devem ter dormido sós e agora aproveitam o conforto da sua nudez. São como um fantasma quente e, a propósito, talvez seja a primeira vez que sente a luz aninhar-se no seu corpo.

Lembra-se que ontem entrou em casa com álcool a mais e felicidade a menos. Lembra-se que, quando fez algum barulho a rodar a chave na fechadura obstinada, sentiu o vizinho a espreitar pelo óculo da porta e lhe estendeu uma das mãos com o dedo do meio esticado. Depois o corpo cansado obrigou-a a dirigir-se directamente para a cama onde se despiu já deitada, expulsando com violência a roupa que a aprisionava. Aliás, foi também assim que empurrou os lençóis.

Talvez por essa roupa ter sido a única testemunha do fim de um amor, mais um, que acabou entre copos no balcão de um bar de que não sabe o nome. Sabe só que ele se despediu dela deixando-lhe cinco uísques pagos, dois bebidos e três por beber, e que se foi embora levando tudo o que nele interessava: o cheiro, o sexo e os efémeros abraços de todas as manhãs.

Os pais, que numa espécie de censura imediata ao seu anúncio de divórcio já a tinham avisado que não é fácil ser mulher divorciada e com filhos, têm parte da culpa da violência que ainda respira dentro da sua aparente serenidade. Enquanto o pai lhe dizia que nenhum homem ajuizado quer uma mulher assim, a mãe concordava com a cabeça abanando-a afirmativamente em silêncio. Ela calou-se e disse-lhes adeus baixinho, mas só o fez para evitar fazer-lhes o mesmo gesto que fez agora ao vizinho.

O suposto melhor amigo, que numa espécie de aprovação imediata ao seu anúncio de divórcio já a tinha avisado que é melhor estar sozinha do que mal acompanhada, também tem parte da culpa. Ela telefonou-lhe no primeiro dia em que se sentiu sozinha e pediu-lhe para passar lá em casa. Explicou-lhe que não podia sair por causa dos filhos e porque ainda se sentia socialmente perra pelos vários anos de um casamento atrofiante. Ele rejeitou o convite com uma desculpa mal inventada e ela nunca mais lhe telefonou.

Foi nos meses a seguir que descobriu que, por trás da enorme alegria dos filhos, há um também enorme fantasma de solidão. É esse fantasma que agora, parasitando a luz do Sol, está deitado ao lado dela, e é ele que com jeitinho e tempo lhe vai pedir para se tapar com os lençóis. Talvez ela se tape e talvez, por uns segundos em que se consiga aquecer nele, acredite outra vez em qualquer coisa.

pensamentos catatónicos (182)

Às vezes convenço-me que há um certo síndrome de Diógenes em todas as pessoas que se sentem apaixonadas. Diógenes foi um filósofo grego que desistiu de tudo o que tinha e acabou os seus dias a viver dentro de um barril abandonado. Não estou a dizer que quando nos apaixonamos vamos todos viver assim, estou a dizer que só somos capazes de nos apaixonar quando também somos capazes de abdicar um bocadinho de nós...

6.26.2009

prolongar o sexo



Os preservativos Durex Performa contêm benzocaína, que ajuda os homens a prolongarem a actividade sexual na cama. A marca distribuiu na Erotica, a maior exposição anual de sexo na Nova Zelândia, fronhas de edição limitada com estes preservativos. Estas fronhas tiveram um tal sucesso que tiveram que fazer mais para vender em sex shops.
Eu acho muito bem que a Durex crie preservativos que resolvam os problemas de ejaculação precoce que alguns homens têm. Agora tentar tirara vontade toda a um tipo é que não acho boa ideia. Aquilo são fronhas que eu não quero lá em casa...

conversas 1266

Ela (mostrando-me um saco) - Fui às compras...
Eu - Ena... compraste três saias?!
Ela - Comprei... mas agora vou experimentar em casa e depois devolvo duas.
Eu - E porque é que não experimentaste na loja?
Ela - Nas lojas fico muito ansiosa e não escolho bem. Por isso é que só compro roupa onde sei que me devolvem o dinheiro na boa...

conversas 1265

Ela - Que é que tens?
Eu - Nada...
Ela - Conheço-te. Tens alguma coisa...
Eu - Nada. Estou com uma pedrinha na alma mas nem sei porquê.
Ela - Está tudo bem contigo?
Eu - Sim. Estou numa fase boa da vida. Acho que é quando estamos felizes que às vezes surgem estas pedrinhas...
Ela - Sim, quando andamos tristes surgem pedregulhos. Apetece-te uma caneca de cerveja?
Eu - Apetece.
Ela - Então anda, ofereço eu. Apetece-me chegar tarde a casa para chatear o meu marido.
Eu - Porque é que queres chatear o teu marido?
Ela - Não é bem chatear. Quero que ele tenha saudades minhas e fique assim como tu, com uma pedrinha na alma. Quando os homens estão assim fazem tudo o que nós queremos...

pensamentos catatónicos (181)

Lembro-me de reparar na forma meiga como ela pegava na esferográfica e de querer perceber essa meiguice que ela escrevia. Na janela do comboio pontilhavam alguma gotas duma refrescante e morna chuva de Verão e, lá fora, algumas nuvens aguarelavam de negro o intenso céu azul. Lembro-me que ela olhava prolongadamente pela janela, alternando a escrita com uma efémera contemplação à monotonia da paisagem. E eu, da mesma forma, olhava para ela sem alternar o meu olhar com o que quer que fosse.
Lembro-me de ela ser bonita quando bebíamos pelo mesmo copo de cerveja e quando brincava com o polícia austríaco que nos tinha revistado na fronteira, gritando alto as palavras "passport" e control". E foi num desses gritos que lhe dei a mão, depois o braço, depois os lábios e por fim o tempo. E devo ter-lhe dado o meu tempo e o tempo dos outros, porque tanto quanto me lembro os outros deixaram de existir.
Lembro-me dela. Só não tenho a certeza se realmente existiu. Acho que é por isso que às vezes vou ver a pedra que ela me deu no dia do meu regresso. Lembro-me de me dizer que talvez um dia nos víssemos por aí, num canto qualquer do mundo, e eu acenar que sim com a cabeça. Lembro-me dos meus olhos serem uma represa e de achar que os dela também. Só não sei se ela se lembra de mim.

6.25.2009

conversas 1264

(com uma amiga que encontrei na rua)

Ela - Olá. Estás bem?
Eu - Sim, e tu?
Ela - Também. Temos que tomar um café um dia destes. Tenho tantas saudades tuas...
Eu - Podemos ir agora.
Ela - Agora?
Eu - Sim...
Ela - Agora não posso... hum... hum... tenho que... hum... tenho que ir ter com uma amiga que está à minha espera.

olha, tu que estás aí...

Alguém se lembra duma música que se chamava "Canção do Rádio", cantada pelo Tó Zé e pela Tânia? A Tânia era uma menina pequenina que pedia ao senhor do rádio para sair de lá de dentro e o senhor respondia que não podia. Se alguém tiver isso, seja lá em que formato for, por favor envie-me. Estou capaz de matar por essa música...

Ela - Olá, tu que estás aí dentro desse rádio. Vá lá, sai e vem aqui, para eu te ver.
Ele - Olá, tu que estás aí a ouvir a rádio. Sabes, eu não estou aqui, só está a minha voz...
Ela - Olá, para caberes aí és tão pequenino. Diz lá, posso entrar aí e ficar contigo?
Ele - Olha, não podes entrar, dentro do teu rádio. Sabes, eu não estou aqui. Tu tens de acreditar...

conversas 1263

Ela - Acho que me estás a dever dinheiro.
Eu - Porquê?
Ela - Eu dei-te dois euros para pagar a minha parte desta semana do euromilhões, certo?
Eu - Certo. É dois euros a cada um...
Ela - Depois deste-me vinte para eu registar o boletim, certo?
Eu - Certo. Somos dez e apostamos vinte euros por semana. Dá dois euros a cada um mas, como esta semana eu não tenho tempo de registar, dou-te os vinte euros e registas tu. No entanto faz de conta que fui eu a registar e os outros fazem contas comigo na mesma...
Ela - Mas se eu te dei dois euros e tu me deste vinte, na verdade só me deste dezoito. Agora vou ter que pôr mais dois para registar o boletim, ou seja, tenho que pagar quatro euros em vez de dois...
Eu - Andas muito cansada, não andas?

demónios

Uma igreja americana exorcizou um jovem homossexual e colocou o vídeo do exorcismo na internet. "Arranca-o pela garganta, anda, demónio homossexual, espírito homossexual. Ordenamos-te que saias imediatamente", grita uma mulher no vídeo. [ver notícia no Jn]
Desde pequenino que gosto de exorcismos. Isto porque, nessa altura, tive uma paixão enorme pela Regan MacNeil (interpretada por Linda Blair), a personagem possuída no clássico do cinema O Exorcista. Imaginem o que uma miúda capaz de girar assim o pescoço conseguirá fazer na cama. Milagres, milagres...
E por falar em milagres, se estes padrecas quiserem vir cá a Portugal exorcizar gajos como o Vitor Constâncio ou o Dias Loureiro, por mim estão à vontade. Não sei se eles são homossexuais ou não mas acredito que estão cheios de demónios por dentro...

6.24.2009

conversas 1262

Ela - Enquanto dormias fui arrumando a tua sala.
Eu - Oh! Não...
Ela - Não querias?
Eu - Agradeço-te... mas às vezes eu prefiro ter as coisas aparentemente desarrumadas e saber onde elas estão, do que ter tudo arrumado e precisar de duas horas para encontrar o que preciso.
Ela - Homens...
Eu - Mulheres...

6.23.2009

água

A água é um recurso natural ao qual não há alternativa. Por isso mesmo, na minha óptica, é um bem que deve ter uma gestão exclusivamente pública e deve ser gratuito dentro dos limites que a Organização Mundial de Saúde estipula como básicos. Depois, quem quiser encher a piscina lá de casa ou regar a relva do jardim todos os dias que pague.
A Câmara Municipal de Aveiro, à revelia do seu próprio programa eleitoral, prepara-se para privatizar os serviços de fornecimento de água em final de mandato. Sou contra a mercantilização da água e por isso assinei esta petição que um anónimo me deixou nos comentários...

conversas 1261

Ela - Passas a vida a jogar isso. Não tens nada de jeito para fazer?
Eu - Tenho. Jogar isto é uma coisa de jeito.
Ela - São só comboinhos e aviõezinhos e não sei quê...
Eu - Isto é um jogo que foi criado para o 386 e que eu adorava. Agora descobri que uns bacanos fizeram um clone gratuito para o Windows Vista...
Ela - Isso é um jogo de putos. Porque é que não fazes legos, já agora?
Eu - Por acaso estou a pensar comprar daqueles legos robotizados...
Ela - Estou lixada contigo..
Eu - Não estás nada. Não te obrigo a jogar nem a fazer legos...
Ela - Ufa. Estou mais descansada...

dez coisas que tenho para fazer hoje

1] Lavar a louça.
2] Fazer uma máquina de roupa e pôr essa roupa a secar.
3] Limpar o tecto da minha casa de banho.
4] Tomar café com a minha ex-mulher e tentar encontrar uma data para o jantar anual da celebração do nosso divórcio.
5] Aviar uma receita na farmácia para a minha filha.
6] Beber uma cerveja com uma amiga que já não vejo há meses.
7] Ir às compras.
8] Tomar café sozinho para sentir o prazer de folhear os jornais do dia.
9] Fazer o jantar para a minha companheira e para a minha colega dj.
10] Passar música no Clandestino bar.

crónicas de engate (7)

as duas torres

Gosto do murmúrio das folhas das árvores no Verão, aquele que me chega numa tímida dança das suas sombras frescas com farrapos da luz do Sol. Hoje passeei-me por aí, de manhã, e deitei-me num tapete de relva para o ouvir.
Gosto das duas torres que se esticam para tentar tocar as nuvens. São como um casal idoso que já não se toca mas também não se aparta e acho que se calhar o amor às vezes é só isso: o outro fazer-nos falta.
Gosto do avião que vi riscar o céu, e que aparecia e desaparecia entre as folhas da árvore que me segredou a história dessas torres. É uma história tão simples, quase infantil, como outra história de amor qualquer.

No último andar duma das torres, uma mulher pousou as malas e os caixotes com todos os seus haveres. Estava ansiosa por começar a arrumar tudo, pois poder viver tão perto das nuvens era a realização dum sonho antigo, e como se por um instante acreditasse que lhes podia tocar, abriu uma das janelas daquele vigésimo andar e esticou o dedo em direcção ao céu. Não lhes tocou mas disse adeus ao avião que ia a passar.
No último andar da outra torre, já o pó se acumulara sobre as malas e os caixotes do homem que ali vivia. Ao contrário dela, ele tinha ido para ali para se isolar e não por causa de sonho algum, que queria esquecer um amor antigo e achava que um vigésimo andar o podia ajudar. Aliás, por ter uma vontade enorme de se afastar de tudo e de todos, apenas os aviões o fascinavam, e só ia à janela quando sentia que um estava a passar. Dessa vez, para além do avião, viu uma mulher na janela em frente a tentar tocar nas nuvens...
Consta que se apaixonaram e que ainda hoje vivem ali, tal como as duas torres, sem se tocarem mas sentindo a falta um do outro cada vez que um deles não vai à janela.

Gosto dos pássaros que fazem ninho nos edifícios decrépitos que envolvem o jardim. É como se eles não ligassem a essa ofensa da cidade que é a construção exacerbada. Hoje passeei-me por aí e, enquanto os via a brincar nas janelas abandonadas dum prédio em construção, pensei nesta história das torres. Talvez de certa forma seja também uma história minha...

a cidade à mesa do café

Com a minha viagem recente à Irlanda e à República Checa, as crónicas da cidade que sopra ficaram um pouco abandonadas. Esta semana a crónica a ser publicada no Diário de Aveiro chama-se "a cidade à mesa do café".

Um copo riscado e uma garrafa de sumo de laranja, um pires com um bolo de arroz, uma caneca e dois ou três maços de tabaco erguiam-se como edifícios na mesa do café onde um jornal silenciava o meu pai todas as noites. Nessa pequena urbe improvisada, ameaçada pelas nuvens do fumo dos cigarros, as minhas mãos de criança conduziam nervosas e apressadas miniaturas de automóveis. Depois o meu pai destruía parte da cidade para poder fazer as palavras cruzadas e eu ganhava o direito a um chocolate qualquer. Era o meu prémio da noite.

A propósito da cidade que sopra, hoje, no melhor bar do mundo, há músicas do mundo com os Couscous Prosjekt.

conversas 1260

Ela - Como é que tu conseguiste apaixonar-te outra vez? Eu não consigo... separei-me na mesma altura que tu e nada...
Eu - Eu também demorei e, como tu sabes, foi um processo tumultuoso.
Ela - Não consigo sentir nada por nenhum homem. Quer dizer, sinto sempre assim um carinho especial cada vez que me envolvo com um, mas nunca é nada de grandes paixões nem que me dê vontade de repetir.
Eu - Então deixa-te estar. Isso não é mau. Mau é uma pessoa apaixonar-se por outra que não lhe liga nada...
Ela - Mas eu queria mesmo apaixonar-me mesmo que fosse para sofrer. Só para saber que ainda sou capaz.
Eu - Sinceramente acho que é diferente apaixonares-te aos vinte anos e aos quarenta. Se calhar ainda não percebeste isso.
Ela - É diferente como?
Eu - Aos vinte eu apaixonava-me cada vez que via um par de olhos bonitos, ou seja, de cinco em cinco minutos. Aos quarenta tens que querer. É um processo consciente em que tens que investir. Nos primeiros tempos só tens esse tal carinho especial e depois, com o tempo, é que isso se vai transformando numa coisa mais forte.
Ela - Então porque é que demoraste tanto tempo?
Eu - Não sei. Se calhar esse carinho especial não me acontece assim tantas vezes como a ti...

conversas 1259

Ela - Quando um homem elogia o vestido duma mulher é sempre porque a quer comer, não é?
Eu - Não.
Ela - Foda-se!
Eu - Foda-se?
Ela - Sim... hoje um colega meu no trabalho elogiou tanto o meu vestido novo de Verão...

conversas 1258

Ela - Porque é que tua namorada nunca está cá quando venho a tua casa?
Eu - Ela não é de Aveiro.
Ela - É da Nova Zelândia?
Eu - É do Porto...
Ela - Se é do Porto pode muito bem cá vir. Até parece que não queres que eu a conheça.
Eu - Ela já veio cá muitas vezes e não quero nem deixo de querer que a conheças.
Ela - Credo, que agressividade. Eu cá gostava de a conhecer...
Eu - Para quê?
Ela - Para saber se ela encaixa ou não contigo.
Eu - É disso que eu tenho medo. Acho que não a vais conhecer tão cedo.

6.22.2009

mulher de encher

Neste anúncio checo ao Fernet está um casal numa praia fluvial (a República Checa não tem mar). A mulher começa a queixar-se ao marido de qualquer coisa e ele esvazia-a, enrola-a calmamente e vai beber um copo com os amigos.



O anúncio é demasiado mau para ser verdade mas a ideia é atraente. Já estive em muitas situações em que se eu pudesse fazer isto a quem estava a falar, fazia. Reuniões de tupperwares, reuniões no meu emprego, testemunhas de Jeová ou mormons a tentarem convencer-me que Deus é a Luz, etc. No entanto há uma situação em que eu nunca faria isto: estando com uma miúda bonita numa praia.

6.21.2009

conversas 1257

(na minha casa)

Ela - Posso beber um copo de água?
Eu - Claro. Se quiseres fresca vai ao frigorífico, se quiseres natural vai às prateleiras ao pé da janela.
Ela - Tens água engarrafada em casa?
Eu - Tenho. Qual é o espanto?
Ela - Nós, de esquerda, não compramos água engarrafada. Bebemos água pública.
Eu - A água pública em Portugal também se paga e até está a ser privatizada mas está à vontade, se quiseres podes beber da torneira.
Ela - Não... vou beber engarrafada também.

gato

A namorada dum amigo meu que tem uma banda de black metal, trash metal ou lá-o-que-é metal, comprou um gato e ele, coitado, fez uma música...

6.20.2009

conversas 1256

Ela - Tu não tens cu.
Eu - Ahn?
Ela - Não tens cu. Devias ter mais cu.
Eu - Não percebo... devia ter mais cu para quê?
Ela - Os homens têm pouco cu e deviam ter mais...
Eu - Mas para quê?
Ela - Porque eu gosto.
Eu - Só por isso?
Ela - Sim.

conversas 1255

Ela - Porque é que estás com os dedos vermelhos?
Eu - Jantei beterraba.
Ela - Crua?
Eu - Não. Cozi-a em água com vinagre de fruta, sal e açúcar.
Ela - Ah!

(uns segundos depois)
Ela - Estava aqui a pensar... ainda bem que a nossa relação não deu em nada...
Eu - Porquê?
Ela - Não queria nada andar com um homem que come beterraba.

respostas a perguntas inexistentes (61)

Saímos de casa de manhã com a cama por fazer, a loiça por lavar e um monte de roupa suja espalhada no chão da casa de banho. Não temos hora para jantar e, ao fim da tarde, podemos decidir ir ao cinema ou beber uma cerveja na praia. É assim a vida quando nos divorciamos: reparamos que há coisas simples que dantes não nos permitíamos fazer. Explico isto a um amigo e tento sorrir. É-me difícil sorrir ao vê-lo tão abatido por causa dum divórcio recente mas tento. Ele diz-me que está triste. Muito triste mesmo. Ah! sim, eu também fiquei muito triste na altura em que me separei, mas da tristeza já me esqueci. Só me lembro da coisas boas. E ele também sorri.

6.19.2009

que desenho meu és tu?

Quem tiver conta no facebook, pode fazer o fantástico quiz: Que tipo de desenho meu és tu?.

conversas 1254

Ela - É um problema apaixonarmo-nos antes do tempo...
Eu - Antes do tempo? De que tempo?
Ela - Quando nos apaixonamos e ainda somos estudantes, temos sempre uma ideia errada da pessoa por quem nos apaixonamos. Depois, quando começamos a ter que trabalhar para ganhar dinheiro, a vida muda muito e as pessoas também.
Eu - Foi isso que te aconteceu com o teu ex-marido?
Ela- Sim... acho que ele se transformou numa pessoa que acabou por me decepcionar.
Eu - Mas tu também mudaste, de certeza, nestes anos todos. Lembro-me bem de ti e não és a mesma pessoa agora que eras há dez anos.
Ela - Mas as minhas mudanças nunca me decepcionaram, percebes? Senão eu não mudava...
Eu - Às vezes sinto-me cansado de te ouvir.
Ela - Vês? Com o meu ex-marido era a mesma coisa. Ele cansava-se de me ouvir.

6.18.2009

nunca fui gajo...

Nunca fui gajo de oferecer flores. Detesto aquela norma social que impõe que um homem, cada vez que se começa a apaixonar por uma mulher, lhe tem que comprar um punhado de cadáveres de plantas. Aliás, se há raça que detesto é a daqueles tipos que andam por aí à noite a vender rosas plastificadas a casalinhos desatentos. Normalmente aparecem pela calada e, armados de um sorriso ignóbil, espetam a flor quase dentro dos olhos do homem que, coitado, surpreendido por esses seres pegajosos e perante a expectativa da companheira, acaba mesmo por comprar aquilo. Eu dispenso.

Nunca fui gajo de bater coros baratos. Frases que tenham as palavras "Lua" ou "Luz", não as digo. Sou capaz de dizer "hoje estás mesmo bonita" mas não sou capaz de dizer "se pudesse dava-te a Lua". Dava o caraças, é que dava. Se a Lua fosse minha já estava à venda, com um cartaz daqueles da Remax que têm sempre uma fotografia tipo passe dum laroca qualquer, e depois com o dinheiro ia fazer férias permanentes para o Brasil. Além disso, quem é que quer por companhia uma mulher que acredita que lhe davam a Lua? Eu dispenso.

Nunca fui gajo de restaurantes caros. Se eu posso comer bem em alguns sítios que conheço por dez ou quinze euros, porque é que hei-de comer mal por quarenta ou cinquenta? Para impressionar uma mulher? Hum... não me parece. Além disso, se a conseguir impressionar mesmo, como é que lhe vou explicar depois que de repente passei a comer em tascos baratos? Ela até pode querer ir só a sítios com empregados de fatinho à espera duma gorjeta que para mim é uma hora de trabalho mas eu... dispenso.

conversas 1253

Ela - Os meus vizinhos do terceiro andar discutem todas as noites e ouve-se tudo na minha casa. Às vezes penso como é que eles conseguem olhar um para o outro na manhã seguinte...
Eu - Se calhar nem se olham...
Ela - Como é que tu fazias ao acordar... se na noite anterior tivesses discutido brutalmente com a tua mulher?
Eu - Se calhar nem acordava porque provavelmente nem conseguia dormir.
Ela - Pois, mas se a culpa fosse tua não pedias desculpa?
Eu - Quando um casal discute pontualmente a culpa até pode ser mais de um do que do outro. Quando discute todas as noites já não há culpa a atribuir... há é duas vidas para salvar e um divórcio para fazer...
Ela - Eu acho que há sempre culpa em alguém quando se discute.
Eu - Eu não acho.
Ela - Eu acho.
Eu - por exemplo, agora estou a discutir isto contigo e a culpa não é de ninguém. É só porque eu tenho uma opinião e tu outra.
Ela - Não... a culpa é tua porque não concordas comigo.

6.17.2009

cinco coisas

O Little Helper desafia-me a fazer uma lista com os meus filmes preferidos. Não são bem os meus preferidos mas quase. Pelo menos assim de repente são os que me vêm à memória...

Aniki Bobó, de Manoel de Oliveira

Blade Runner, de Ridley Scott

Female/Male, de Daniel Lang

Salò ou os 120 Dias de Sodoma, de Pier Paolo Pasolini

Tokio Ga, de Wim Wenders

A Maria desafia-me a escolher cinco situações na minha vida que deviam ser repetidas em câmara lenta. Eu, sinceramente, acho que nenhuma. Nunca tive paciência para câmaras lentas, muito menos quando é para repetir coisas que já vivi. Por isso opto por referir os momentos em ganhei as cinco alcunhas que tive na vida. Pelo menos estamos a falar de curtas...

Labucála
Estava a jogar futebol com os putos todos da minha rua e a bola saltou o muro de um quintal onde ninguém tinha muita coragem de ir. Eu, armado em forte, disse: "Eu vou labucála".

Bagaço Amarelo
Decidi, numa noite em que bebi demasiado bagaço amarelo, que o bagaço amarelo devia ser considerado um recurso natural e por isso distribuído gratuitamente em todo o mundo. Pronto... tinha dezassete anos, praí... tenho desculpa.

O homem que anda frequentemente de barrete preto mas hoje não porque está calor
Foi a alcunha que a minha ex-companheira me arranjou antes de me conhecer.

Soviético
Era a alcunha que eu tinha quando jogava andebol no Centro Desportivo de São Bernardo e deriva do meu nome ser pouco comum em Portugal. Começaram-me a chamar assim num torneio em Vila Franca de Xira...

Poupas
Não durou muito, esta, mas um grupo de amigos da adolescência chamava-me assim por eu ter uma poupa e gostar muito da Rua Sésamo. Tinha aí uns quinze anos e estava no café Ramona a primeira vez que me chamaram Poupas...

respostas a perguntas inexistentes (60)

Há sempre uma certa agressão no amor. Pode até ser uma agressão doce mas não deixa, por isso, de ser uma agressão. Há bocado estava a tomar café ao lado de um casal nitidamente apaixonado, mais ou menos da minha idade. Ele tentou beijá-la enquanto ela se esforçava por deitar apenas metade do pacote de açúcar na bica e, por isso, teve um primeiro reflexo de o afastar com o braço. Ele amuou.
Ainda que este reflexo não tenha demorado mais do que um segundo, aprendi que esta forma de frieza é efémera e que, em vez de amuar, o melhor é dar algum espaço. Há coisas cuja única importância é serem só nossas. Querer deitar exactamente metade do pacote de açúcar no café pode ser uma delas.

yorkie it's not for girls



Comprei este chocolate num supermercado em Dublin. Quando vi a embalagem fiquei curioso. Acho que qualquer um ficaria se visse um chocolate que não é para ser comido por miúdas. Pensei que talvez soubesse a óleo para motores de carros ou assim. Mas não... surpreendentemente soube-me a chocolate normal. Normalíssimo mesmo...

6.15.2009

se Praga e Dublin fossem mulheres


ponte e cidade ao fundo, Praga-República Checa, junho 2009

Se Praga e Dublin fossem mulheres, acho que gostaria de Praga para um engate numa sexta-feira à noite e de Dublin para namorada. Praga continua bonita e jovial como na última vez que lá fui, há catorze anos, mas a simpatia não grassa por ali. Dublin é uma cidade suja e despenteada mas sempre com um sorriso no fim da cada conversa. Com Praga apetece ter uma noite de sexo intenso e depois partir para lugar incerto enquanto ela ainda está a dormir, com Dublin apetece adormecer e acordar, adormecer e acordar, adormecer e acordar...


temple bar, Dublin-Irlanda, junho 2009

6.05.2009

viagem

Vou passar a próxima semana entre as cidades de Dublin, na Irlanda, e de Praga, na República Checa. Se por acaso passar por algum cyber-café ou assim, venho aqui ver-vos. Claro que venho... mas não sei se vai dar. Se não vier, boa semana para vocês todos. Prometo trazer-vos uma pedrinha do chão de cada país...

p.s.: o blogue das crónicas da cidade que sopra foi actualizado.

conversas 1252

Ela - O meu marido diz muitas vezes que sente que eu e ele não somos apenas um.
Eu - Um quê?
Ela - Um. O que ele quer dizer é que gostava que nós formássemos uma pessoa só, que dividíssemos tudo, que estivéssemos sempre juntos, que vivêssemos apenas como um só...
Eu - Ah! Já percebi... não gosto desse tipo de paleio.
Ela - Nem eu...
Eu - Vocês são dois e não há volta a dar a isso. O amor não pode ter nada a ver com a extinção da nossa individualidade...
Ela - É o que eu acho... mas ainda não tive coragem de lhe dizer...

6.03.2009

crónicas de engate (6)

margens

Há bocado fez amor sem realmente o fazer. Deixou-se estar quieta enquanto ele a abraçou, lhe acariciou os seios e depois, devagar, lhe escalou o corpo com beijos e um pénis estranhamente erecto. Com o tempo os beijos dele foram perdendo o sabor, pensou ela enquanto contava os traços de luz desenhados na parede. Ele veio-se... e depois foi-se, engolido pela prescrição que o obriga a ir trabalhar todos os dias às nove da manhã.

Enfraquecida, a luz vai morrendo devagar na parede do quarto depois de ter passado pelos buracos da persiana. Era tão bom que o dia de hoje pudesse ser diferente dos outros. Mas não é, e depois desta contemplação da morte natural dos raios de Sol, o dia dela não será muito diferente duma receita médica qualquer que manda tomar medicamentos a horas exactas.

Há uma normalidade nesta vida que não pode ser normal. É a normalidade de casar, ter filhos, comprar uma casa e talvez um carro sem haver um depois. É como se esse fosse o último estágio da vida e, talvez por isso, ela tenha sorrido tanto no dia em que se casou. Eram os últimos sorrisos. Depois as conversas embriagadas de amor transformaram-se em discussões sobre a conta em que deve cair a factura da luz e do gás, o sonho de ter filhos transformou-se numa prisão cheia de fraldas sujas e choros de bebé a meio da noite e, por fim, os quarenta e tal canais por cabo substituíram as longas noites passadas com os amigos.

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Ele já chegou ao escritório mas ainda não ligou o computador. Não consegue deixar de pensar na mulher que lá fora, enquanto o semáforo para peões estava vermelho, olhou para ele do outro lado da rua. Depois cruzaram-se na passadeira e sorriram um ao outro, ela com um brilho nos olhos de amêndoa e ele com timidez. E por falar em passadeira, foda-se, a vida não tem sido mais do que isso: uma passadeira entre duas margens: a da casa e a do emprego. Tudo o resto é passagem. Tudo o resto é paisagem.

Ela já aqueceu o leite do miúdo no microondas durante doze segundos na potência máxima, já lavou os lençóis onde ele mijou mais uma vez durante a noite. Já os pôs a secar e já tirou do frigorífico a carne para descongelar até à hora do jantar. Só ainda não se ligou a ela mesma. Não consegue deixar de pensar em como a sua vida se transformou apenas numa margem: a da casa, e tudo o resto está na outra margem tão distante.

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Os insectos povoam os candeeiros redondos da rua em órbitas incertas. Incerta é também a noite mas, pela primeira vez, isso sabe-lhes bem. Ele telefonou e inventou uma desculpa qualquer para não ir jantar a casa, ela ganhou coragem e deixou o filho na vizinha. Talvez daqui a pouco se cruzem numa passadeira qualquer e sorriam um para o outro como já não se lembram de o fazer. Talvez até percebam que têm vivido em margens opostas. Talvez... entretanto, a carne em cima da banca da cozinha já está descongelada e esquecida.

6.02.2009

conversas 1251

Ela - Qual é o filme da tua vida?
Eu - Há vários... mas se tiver que escolher um... não sei... talvez o Blade Runner...
Ela - Que falta de imaginação.
Eu - Não é... imaginação é o que não falta no filme... é baseado num livro dum grande escritor de ficção científica...
Ela - Eu estava a falar da tua falta de imaginação. Esse é o filme preferido de quase todos os homens da tua idade.
Eu - Não é nada.
Ela - É, é.
Eu - Não é nada.
Ela - É, é.
Eu - Não é nada.
Ela - É, é.

conversas 1250

(na minha sala)

Ela - De quem é este quadro?
Eu - É meu...
Ela - Pintas muito bem...
Eu - Quer dizer, é meu mas não fui eu que o pintei. Foi uma amiga minha...
Ela - É óbvio que eu estava a perguntar quem é que pintou o quadro e não a quem pertence o quadro...
Eu - Quando se quer saber quem pintou pergunta-se: quem é que pintou este quadro? Quando se quer saber a quem pertence pergunta-se: de quem é este quadro?
Ela - Está bem, está bem... e eu devia ter chegado logo à conclusão que não tinhas sido tu a pintá-lo. Um homem nunca seria capaz de fazer isto...
Eu - Estás só a querer chatear?
Ela -Estou...

conversas 1249

Ela - Passei demasiado tempo a tentar mudar o meu marido... e tentei tanto que acabei por me cansar e adaptar-me ao que não gosto nele. Acho que me sinto derrotada nesse aspecto.
Eu - Mas que tipo de coisas é que não gostas nele?
Ela - Pequenas coisas, como por exemplo deixar sempre as meias usadas debaixo da cama e eu ter que me baixar todos os dias para as apanhar, pô-las na máquina de lavar...
Eu - Basta não fazeres isso...
Ela - Se eu não fizer isso, sei que ele também não faz e as meias vão-se amontoando...
Eu - Não vás... um dia ele vai acordar sem meias lavadas e perceber que tem ele próprio que tratar delas...
Ela - É isso que eu não sou capaz de fazer, percebes?
Ela - Mas tu não tens que fazer nada. Só tens que deixar de fazer...
Ela - Mas essa é a diferença entre mim e ele, percebes? Se fosse ao contrário ele não se ia importar de ter quilos de meias debaixo da cama. Eu importo-me...
Eu - É só durante uns quinze dias...
Ela - Estás a ver? Tu próprio admites que aguentavas quinze dias a amontoar meias debaixo da cama...
Eu - Não admito nada...
Ela - Acabaste de o fazer...e já sei por que razão é que te divorciaste.
Eu - Não foi por causa de meias... eu lavo as minhas meias...
Ela - As tuas até podes lavar... mas lavas as da tua namorada?
Eu - Nunca aconteceu... mas lavaria se fosse caso disso...
Ela - Estás a ver? Lavarias, lavarias... mas nunca lavaste.

que é como quem diz

1] Só hoje, terça-feira, é que foi publicada a crónica da cidade que sopra desta semana no Diário de Aveiro, que é como quem diz: eu próprio nunca sei quando é que as crónicas são publicadas.

2] Esta quinta-feira, dia 4 de junho, há couscous prosjekt no melhor bar do mundo, que é como quem diz: o clandestino bar em Aveiro.

3] Agradeço a todos os que votaram no meu filme no passatempo da UZO. Ganhei... e agora, para além de ter um telemóvel daqueles cheios de coisas que nem sei para que é que servem, tenho chamadas à pala durante um ano... que é como quem diz: já posso telefonar para aquelas meninas bonitas que fazem passatempos estúpidos à noite, na tvi e na sic, com chamadas de valor acrescentado.