crónicas de engate (1)
É a primeira vez...
É a primeira vez que passa as páginas do desporto sem sequer ler as gordas ou ver os resultados da primeira liga espanhola e, enquanto dá mais um gole numa cerveja excitada, estende a secção relax no balcão como se estendesse uma bela manta de retalhos para se deitar a seguir. Há qualquer coisa de agradável naquela invulgar disponibilidade feminina para o sexo: loira atrevida, quarentona boazona, chinesa boa de boca, morena com corpo escultural ou ruiva fofinha.
É a primeira vez que percorre livremente estes anúncios com os olhos, como se fosse ainda uma criança correndo numa praia deserta, à espera de mergulhar na onda mais apetecível. Com os olhos e com a imaginação, que nesse mundo onírico vai satisfazendo discretamente a sua libido enquanto titubeia o olhar nas duas empregadas do café. Decidiu classificá-las pelo que de melhor têm: uma é a empregada das mamas, outra é a empregada do rabo.
É a primeira vez que insiste no álcool àquela hora da tarde, e a seguir à primeira cerveja pede outra. Mantém o dedo indicador numa moreninha marota que atende em casa e promete sigilo, e como se o cartaz envelhecido que diz que as bebidas expostas são para consumo da casa fosse uma espécie de sinal, tira o telemóvel do bolso e guarda na memória aquele número. Moreninha marota, escreve ele rapidamente nas pequenas teclas dum nokia novinho em folha.
É a primeira vez que tem um dia livre depois do divórcio. E desse dia livre quer fazer o primeiro dia do resto da sua vida. Na verdade, pensa ele, já foi primeiro em muitas coisas. De manhã comprou pela primeira vez um after-shave caro, depois fez a barba enquanto tomava banho e, pela primeira vez em muitos anos, tomou esse banho sem se masturbar, à espera que um desses anúncios lhe proporcione uma noite inesquecível. Também a pensar nessa noite inesquecível, vestiu umas cuecas novas e um par de meias pouco usado. Agora pede uma terceira cerveja e a conta. É a empregada das mamas que sorri e lhe satisfaz o pedido e, enquanto lhe observa o peito baloiçante como um barco, ganha um tesão de que já não tinha memória.
É a primeira vez que responde com vontade a um sorriso. Quer voltar a tentar o amor, claro, mas tantos anos passados numa relação despovoada de calor e de sexo, fazem-no querer começar a satisfazer os seus desejos pelo corpo. É sempre o mais fácil, pensa. Além disso, a própria cerveja já se ocupou parcialmente da mente. Resta-lhe esperar que o tesão perca vigor para poder sair do café sem dar nas vistas, mas o facto do telemóvel começar a vibrar no bolso não o vai ajudar nada nesse aspecto. No visor aparece o nome moreninha marota. Não pode ser, conclui ele, mas atende na mesma. Estou? - Pergunta. E está mesmo. É a ex-mulher dele a telefonar doutro telemóvel por não ter saldo no dela, explica ela. Diz-lhe também que ele tem que passar lá em casa e ficar com os miúdos porque ela arranjou um emprego novo e tem que ir trabalhar à noite.
É a primeira vez que olha para as empregadas do café e repara que elas têm o nome próprio impresso num crachá que trazem ao peito. Deixam de ser a empregada das mamas e a empregada do rabo. Perdeu o tesão. A cerveja fica a meio, paga e vai-se embora.
18 comentários:
A lei de Murphy assenta nesse senhor que nem uma luva. lol
joaninha versus escaravelho, lol... no sexo também há leis de Murphy?
Quando o mundo começa a desabar...desaba mesmo todo. É o necessário para avançar para um novo começo livre de tudo o que fica lá atrás e que um dia pensou conhecer-se por completo.
Para começo parece-me que o dia não foi mau...conseguiu atribuir nome às empregadas e reparar que havia um rosto acima das mamas e do rabo...não me parece mau.
Glup!
Há sempre um principio. O meio e o fim é que não têm que ser assim.
Melhor sorte para a próxima!
"E desse dia livre quer fazer o primeiro dia do resto da sua vida. "
"Quer voltar a tentar o amor, claro, mas tantos anos passados numa relação despovoada de calor e de sexo, fazem-no querer começar a satisfazer os seus desejos pelo corpo." Já são bons princípios!
Ou então pensa como o cinema. É a anteestreia!
lolololol
Confesso que demorei uns segundos a entender as voltas do texto... mas depois.. Fantástico! :)
É a primeira vez que passo por cá!LOLOLOL:) O post tá excelente! Vou espreitar o resto
Abraço
lizard king, falta saber se atribuir nome às empregads foi um avanço o um retrocesso. :)
tangerina, :)
alexandra, estas crónicas são ficção assumida. :)
anonyma, uns segundos... nem foi mau. :)
ominona, bem vinda, então, e obrigado. :)
Caro bagaço, só uma correção, (compreensivel)sou um gajo, não uma rapariga;9
obrigado.
Anonimo ao contrário = ominona :)
Abraço, ainda ando a ler o teu blog, está muito bom;)
ominona, ups... sorry. bem vindo, então. deve ter sido por o nome acabar em 'a'... :)
Oh pá, deve haver... eu também tenho tendência para a asneira. Costuma dizer-se que "foge o pé para o chinelo". lol
Mas também pode ser azar... sei lá.
A lei aplica-se a tudo acho eu ( para quem acreditar nela).
Tento sempre rir das situações.
É mais fácil de seguir em frente.
Descobri este blog por mero acaso e adorei. Parabéns!
Em relação a este post, já dizia a minha avó, quando estamos em baixo todos os cães nos "urinam" em cima! ;)
Beijo e continua
joaninha versus escaravelho, fico satisfeito... pensava que eu era o único a quem as coisas corriam mal: :)
rita, bem vinda. :)
Outch!
Ao menos já se divorciou dela!
Credo...a vida dá tantas voltas...afinal a mulher da noite inesquecível dormiu sempre na sua cama??
A isso chama-se egocentrismo. Mas aqui neste caso dispenso o protagonismo. Não me importava que fosses o único. :P
miss kin, agora pode estabelecer uma relação mais... profissional. :)
anónimo, :)
joaninha versus escaravelho, lol... eu percebo, deixa lá. :)
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