8.27.2008

a vida numa garagem

Hoje ganhei coragem para acabar um trabalho forçado que iniciei há um ano: arrumar a minha garagem. Encontrei tanta coisa da minha vida de casado e mesmo da de solteiro que admito que, quando pus algumas coisas no ecoponto, senti que estava a pôr um bocado de mim mesmo fora. E estava, mas isso não é obrigatoriamente mau.
Organizei a minha colecção de revistas de banda desenhada erótica de adolescente, guardei numa gavetinha a minha colecção de cartões de telefone tipo credifone, organizei alguns livros que tenciono ir levando para casa a pouco e pouco e até algumas fotografias que fui encontrando. Depois juntei tudo o que encontrei da minha ex-mulher e meti em caixas que lhe vou levar a casa daqui a bocadinho.
Por entre alguns (muitos) quilos de lixo, fiquei algum tempo a olhar para as centenas de fotografias do meu casamento. Foi a primeira vez que o fiz sem nostalgia alguma a não ser, talvez, por causa da minha avó que entretanto deixou de estar entre nós. A felicidade estampada na face da minha companheira, nesse dia, voltou. A da minha face também. Às vezes é preciso saber abanar a vida na altura certa, como se fosse uma árvore, para recuperar uma certa felicidade que nem percebemos que já perdemos. Ainda bem que o fiz.
Entretanto, já posso guardar outra vez o carro na minha garagem sem bater em caixotes.

19 comentários:

Pax disse...

Bagaço, :)

Anónimo disse...

"Às vezes é preciso saber abanar a vida na altura certa, como se fosse uma árvore, para recuperar uma certa felicidade que nem percebemos que já perdemos."

E ninguém sai a perder. Basta ser ponderado, saber colocar no lugar do outro e acima de tudo, havendo crianças, não partir a árvore!
O abanar poderá não significar a separação. Poderão ficar alguns frutos. Mas se eles cairem, certamente as suas sementes farão crescer novas árvores de fruto, sem bicho.
bjs
Dori.

redonda disse...

Que bom que deu para recuperar essa felicidade.

Carla disse...

Só coisas boas , o facto de teres arrumado a tua garagem ...

bjs

Gato Aurélio disse...

Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na acção.
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado;
Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!
Vou fazer as malas para o Definitivo(...)

Álvaro de Campos

;O)

Olga disse...

É bom quando se abrem os caixotes de uma vida e se encontram recordações, umas doces outras inevitavelmente amargas mas que dão a certeza de que se sentiu, se respirou, se viveu. Mau é se ao abrir o caixote se descobre que afinal está vazio. Questiona-se então: se não se sentiu, não se respirou, não se viveu...o que é que se andou a fazer este tempo todo e se valeu mesmo a pena.

José Teixeira disse...

Entendi tudo menos a parte de meteres o caro na garagem, quem é que tem pachorra para meter o carro na garagem? Ou andas numa de brejeirices?
Abraço.

japinho

Cristina disse...

Há montes de coisas que não consigo deitar fora. Como disseste, são bocadinhos de mim. E que ainda não estou preparada para me desfazer desses pedacinhos.

Serei ainda demasiado nova e preciso de mais tempo?

Beijo

Ivar C disse...

pax, às vezes... nem sempre. sei lá... :)

dori, é exactamente isso. :)

redonda, sim, é bom, e dá sempre. :)

shakti, já só me falta o sótão e a casa. :)

gato aurélio, este está especialmente bem escolhido. :)

olga, exactamente. :)

japinho, lol, eu só disse que o podia meter. não disse que metia mesmo. :)

cristina, eu também não sou assim tão cota. :)

ßrighid disse...

Isso é tão verdade!
Somos animais de hábitos e nenhum é mais notório do que quando nos habituamos a um estado de alma que se assemelha com uma apatia disfarçada de felicidade.
Esses abanões dilaceram, mas são necessários.
Também tenho muito que arrumar. Já há quase um ano que vivo na desarrumação total. Nem abro as portas aos armários para não me cair nada em cima. :D
Mas é sempre necessária uma arrumação emocional e mental e só depois a arrumação da tralha física.

bjs

Anónimo disse...

Passo por aqui muitas vezes e desta vez apetece-me mesmo comentar:
"...quando pus algumas coisas no ecoponto, senti que estava a pôr um bocado de mim mesmo fora. E estava, mas isso não é obrigatoriamente mau."

Na mouche! É bom quando nos reinventamos, quando descobrimos que podemos viver de forma diferente, que há outras vidas à nossa espera. Recentemente também arrumei anos de tralha, sem pestanejar! E que bem que me soube...

anademar disse...

às vezes perdemos as coisas pelo caminho sem nos apercebermos. nem conseguimos sequer perceber que houve um bocado de nós que foi parar a um qualquer ecoponto... e recuperá-lo não é fácil, há que chafurdar numa lixeira mal-cheirosa, a nossa. e é trabalho dificil, mas quando se encontra...

(txiii se estou metafórica hoje!)

Ivar C disse...

bri, às vezes a arrumação da tralha física ajuda a arrumação emocional e mental. :)

zeni, nem mais... é só preciso ganhar coragem. :)

moi chéri, a minha lixeira até nem anda mal cheirosa. anda assim assim. :)

Cristina disse...

És mais velho do que eu :)

Ivar C disse...

cristina, um cadito... :)

Cristina disse...

Isso basta...

Ivar C disse...

cristina, pois basta. :)

MYA disse...

E eu preciso de fazer o mesmo, mas nao sei onde meti a Vontade. Parabens.

Ivar C disse...

mya, a minha vontade estava no bolso. foi só ir lá buscá-la :)