4.22.2010

pensamentos catatónicos (203)

Hoje de manhã, numa praia de Matosinhos, um rapaz que corria na areia era a espaços chamado pela mãe. Ela penteava-lhe o cabelo com os dedos das mãos e depois punha-lhe a camisola dentro das calças. Depois ele voltava para as suas correrias sempre observado pelo olhar sorridente da progenitora.
Eu estava na mesa duma esplanada a comer um queque de cenoura e a tomar café. Escrevi num papel que acho que aquilo é uma manifestação inconsciente de amor: o querer que o outro esteja "bem arranjado". É que para o rapaz, estar penteado ou não e com a camisola dentro das calças ou não, ia dar exactamente ao mesmo. Para ela é que não.
Talvez essa seja uma variável importante nas relações, o querermos que o outro esteja bem. É que de facto há casos em que é evidente que isso não acontece e quem diz que ama nem sempre faz com que o outro se sinta bem.

29 comentários:

memyselfandi disse...

Fantástico! O que eu concordo contigo! :)

Cassandra disse...

Tão assustadoramente verdadeiro o que acabaste de escrever. Tantas razões possíveis: egoísmo, desconhecimento, comodismo, paixão incontrolada, ciúme...ignorância...

Ivar C disse...

memyselfandi, :)

cassandra, exactamente... egoísmos principalmente. :)

Celeste disse...

sim, tens razão!

Unknown disse...

Um ponto muito bem visto.

Ivar C disse...

celeste, :)

martap. :)

Anónimo disse...

Ah, não sei.

Minha mãe preocupava-se mais com o que os outros iam achar dela do que propriamente comigo. Sempre que eu colocava alguma roupa amassada, por exemplo, ela dizia: "troca já essa roupa! Daí os outros vão falar, a mãe dessa menina não passa roupa!!" LOL... Viagem total!

Malena disse...

Pois...nem sempre o outro pode ser a imagem que pretendemos fazer dele.

Ivar C disse...

gigi, e fazia a tua mãe muito bem... difo eu que sou pai. :)

malena, eu diria nunca. :)

Fatyly disse...

Consegues arranjar cenários simples para comparação com sentimentos tão reais. Lá se abriu a porra da gaveta como me doeu esse cenário no que toca a "relações"...e com mãos e pés fechei-a de novo...e não consigo dizer mais nada e deves entender porquê!!!!

És simplesmente magnífico!!! Parabéns!

Anónimo disse...

Querido bagaco
Um dia li em algum sitio o seguinte:

" Ser mãe é ter uma artéria a pulsar dentro e fora do nosso corpo".

Quanto a outra forma de amar,
é complexa...egoístas somos todos.
Mas tu sabes que existe um lugar que só se chega quando é altura de chegar.( e ainda bem )
Infelizmente nem todos chegam,quer vivamos 20 ou 80 anos.
Beijo x
P.s.

Ivar C disse...

fatyly, obrigado. :)

anónima, percebo o que dizes... sobre esse lugar. :)

Art'Isabel disse...

Eu tenho muito essa "mania" de estar sempre a arranjar os que gosto. A compor o cabelo, o colarinho da camisa, os cordões desapertados... Já na minha relação, preocupo-me mais com o bem-estar dele do que com o meu.
Não sei se é bom, se é mau. Sou eu assim =)
*

Olga disse...

A mais pura das verdades.

Ivar C disse...

beu, acho que não é bom nem mau. as coisas não têm que ser boas ou más. :)

olga, :)

MissPiggy disse...

Ora nem mais, acabaste de traduzir ao que se resume, muitas vezes, o sucesso de uma relação. Eu confesso que por vezes sou mais o catraio...:( e talvez por isso não mereça tudo o que tenho....

Mari disse...

"É que de facto há casos em que é evidente que isso não acontece e quem diz que ama nem sempre faz com que o outro se sinta bem." Falaste-me ao ouvido gritando!!! Passou-se comigo na minha última relação e ainda doí :-(

Ivar C disse...

misspiggy, a relação entre o que se tem e o que se merece ter, para mim pelo menos, não deve ser racionalizada. :)

palpitadeira, acho que tudo o que passamos contribui para a nossa formação. :)

MissPiggy disse...

...acabei de me dar conta que com esta expressão (catraio) já denunciei, no mínimo, a minha proveniência...ehehehehe

Ivar C disse...

misspiggy, já? para mim catraio é uma palavra portuguesa e nacional... :)

Bichana disse...

Bravo amigo Bagaço!!!

Ivar C disse...

bichana, :)

Gasosa disse...

Uma verdade inquietante.
Eu também acho que quem ama coloca o bem-estar do outro acima de tudo...ama-se ao ponto de se querer que ele seja feliz, mesmo que não seja connosco.

Ivar C disse...

gasosa, sim... é mesmo por aí. :)

Ventania disse...

Era por isso que sempre lhe ajeitava o cabelo... :(

early bird disse...

adoro estes pensamentos catatónicos! inspiram-me!!

http://trecktreck.blogspot.com/2010/04/28-momento-luminoso.html
(uma homenagem ^^)

beijinho!
bom domingo!

Ivar C disse...

ventania, :)

girl in motion, obrigado, vou ver. :)

melro disse...

este post fez-me pensar nas ramelas da tua amiga (salvo seja).

mãe faz isto, limpa a ramela e penteia o cabelo. o excesso de preocupação com a imagem acaba por ser castrador e não há nada pior do que quem chateia a criançada porque sujou a roupa y ou z. e o amor passa a ser um ralhete chato.

antes, e depois, de ser mãe o mulherio tem tendência para limpar a caspa, arrumar o colarinho, ajeitar a camisa por baixo da camisola do seu homem. mas isso é ser-se mãe também, não é?

agora diz-me tu: a ramela e estes gestos são de amor ou ralhetes?

Ivar C disse...

melro, o amor não é um ralhete constante? sei lá... :)