pentes
Comecei a sair à noite quando tinha doze ou treze anos. A tvi ainda não existia e por isso os meus pais sentiam que Aveiro era uma cidade segura o suficiente para eu poder chegar a casa à meia-noite. Dividia esse meu tempo de lazer entre o café Convívio, o café Ramona e o Maravilhas e, mais tarde, vim também a frequentar o café Palácio.
Acho que é desse tempo que vem a minha primeira confusão com as mulheres, pois o meu primeiro contacto com homens mais velhos que pareciam ser um caso de sucesso junto delas, foi com uns tipos que exibiam umas camisas abertas no peito com os pêlos cuidadosamente esticados. Além disso, traziam sempre um pente acastanhado a espreitar no bolso dessas camisas, que usavam frequentemente para se pentearem no espelho retrovisor duma motorizada de 49 centímetros cúbicos (normalmente uma macal minarelli). Ora eu costumava ir a pé ou na minha bicicleta para esses sítios, nunca me penteava e, como uma desgraça nunca vem só, nunca fui homem de muita pelugem. O meu caminho com as mulheres estava traçado e era o fracasso.
Mea culpa. Os tipos tratavam-me com alguma condescendência própria de quem por ser mais velho quer ensinar o mais novo e eu, encolhido entre algumas partidas de bilhar e algumas cervejas normalmente pagas por eles, ia tentando perceber o mais possível sobre as técnicas de engate infalíveis que eles me transmitiam. Tempo perdido. Nunca me serviram para nada e hoje sei que devia ter perguntado a mim mesmo porque é eles, apesar de tanto paleio, nunca apareciam com miúdas. Talvez eu achasse que aquela forma exuberante de acelerar as motorizadas antes de irem embora, era um indício de que iam nessa altura ter com elas. Uma espécie de dança do acasalamento à distância. Ou talvez não, talvez apenas fossem para casa dormir. Como eu...
Hoje ainda não me penteio, ainda não ando de motorizada e... bem... ainda não tenho assim muito pêlos no peito. Esses pentes ficaram para mim como uma marca de alguma inócua virilidade portuguesa dos anos 80, e deve ser por isso que ainda não me penteio...
16 comentários:
Mas você não tem lá muito cabelo para pentear-se, né? Ou estou errada? LoooooL :-D
Que história interessante! E quantas descobertas para um menino de apenas 12 anos. E o quanto percebemos, quando nos voltamos a algumas lembranças, que amadurecemos e como tudo está tão diferente, por vezes tão estranho. Isto é muito bacana.
Um beijo!
giovana, costumo cortar o cabelo à máquina, sim. às vezes até o corto em casa...
e sim, às vezes é estranho ter crescido. beijos. :)
Tell me boy tell me boy na na na na .. AH AH AH AH... lembrei-me aquela parte de um filme com o john "tras-e-volta" lol
O meu pai tem um pente desses e ainda hoje o trás no bolso das calças, lolololol
Acho que não vou olhar para ele do mesmo modo...
pedaços de mim, é esse ambiente, sim. :)
angela soeiro, lol... não lhe mostres este blogue. :)
ainda bem Ivar... ainda bem!! É que eu também me lembro desses espécimes dos anos 80 e não era bonito de se ver... trust me ;)
O meu pai tem um café e lembro-me, ainda pequenino, de ver aos magotes senhores que preenchem sem falha esse perfil que relatas... Não sei bem o porque, mas a verdade é que creio estarem instintos. De alguma forma não conseguiram assegurar a transmissão do seu legado e deixaram-se ficar por sitio incerto...
Já agora... faz dias fui ao Ramona. Visita obrigatória, diziam-me! Ora nem mais, é mítico! =)
Fartei-me de me rir!!!
Muito bem lembrado!
Só faltei falares dos velhotes que tapavam constantemente a careca penteando de um lado da cabeça em direcção ao outro, bem desde juntinho à orelha, com um desses pentes...
bia, estou mais descansado. foram os meu líderes de opinião tanto tempo. :)
helder santos, é mítico sim... mas já não é o que era. os hambúrgueres é que ainda são bons. :)
icon, bem me lembro disso... :)
O toque do pente é realmente sublime!
Sim... É muuuuuuuuuuuito estranho crescer! ^^
missanguita, lol. :)
giovana, :)
O pente, a unhaca... Cá pelo sul, as motorizadas de eleição eram Casal ou as famosas XFs com punhos rebaixados, ehehheheh.
canuck, as motas casal eram feitas mesmo ao lado da minha casa... onde hoje está mais uma área comercial... lembro-me bem delas. :)
Reviver o passado não em Bridshead mas em Portugal.
O pente: risquinho ao lado cabelo atrás e dos lados e uma repas o mais organizadas possivel no topo do carolo.
Como já foi dito falta a alusão à unha grande no dedo mindinho e o palito no canto da boca.
As motas SIS Sachs, V5...
Cool era ter uma bina BMX com amortecedor à frente e ao meio.
Que tempos.
Nessa altura havia mais condições para ser feliz do que hoje.
Fazia-se bosta sim senhor mas com mais responsabilidade e com valores que no decurso do tempo se continuam a perder (ainda existem?).
carlito, acho que era mais fácil ser feliz, sim... mas deve ter a ver com a minha idade. :)
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