5.29.2009

respostas a perguntas inexistentes (59)

O suor dos comboios cheios de gente não é igual aos outros suores. Não é igual, por exemplo, ao doce suor de um acto amor nem à agressividade do suor do trabalho. É um suor que, apesar de intenso, não tem personalidade. As pessoas amontoam-se no urbano que sai de Aveiro em direcção ao Porto mas não trocam olhares, não trocam sons entre elas e até os toques físicos tentam evitar. Só os suores de cada um se misturam no ar, criando ainda um desejo maior de distância aos passageiros que estão tão perto uns dos outros.
Estava aqui a pensar que, se normalmente temos esta repulsa natural pelo suor dos outros, talvez esta seja uma maneira real de percebermos se amamos ou não alguém. Deslizar sobre o suor de alguém é como deslizar sobre um rápido de água qualquer: ou gostamos da aventura ou a achamos demasiada perigosa.

8 comentários:

C disse...

Ainda pior que o suor dos comboios é o suor dos autocarros.
O 7, de Coimbra, às 18h, é experiência q não aconselho a ninguém. Não só pelos suores. Pelo roçar. Pelo inalar do cheiro a lixívia das senhoras da limpeza, que não têm culpa. Pelo mau hálito de quem não come nada desde o almoço e deixou um pedaço de bife perdido no meio dos dentes.
Por estas e por outras coisas.
7, nunca.

Mas não fugindo à questão central e verdadeira deste post...somos como os cães. Vamos lá pelos cheiros. E há cheiros - ainda q menos agradáveis - que nos evocam coisas boas. E tb há cheiros bons que nos lembram coisas más.

Santiago Mbanda disse...

Adoro quando há um combinado: o escorregar bem numa aventura, e mesmo assim ser demasiado perigosa.
Um amor sem pacifista para mim não funciona.

:D

Ivar C disse...

c, deixa lá. qualquer dia andas de metro em Coimbra e isso vai ajudar muito. :)

santeago, ainda bem... este mundo está para ti. eu cá já não gosto de perigos... :)

Ricardo::.. disse...

onde vais buscar estas analogias??? há formas e formas de se dizerem as coisas, e esta está, mais uma vez, sublime ! :D

Paula disse...

engraçado...fizeste-me lembrar os meus tempos em Lisboa, quando andava de metro ou comboio. o que eu me ria ao ver certas coisas ou pessoas!
cheguei a estar com uma amiga a rirmo-nos às gargalhada até as lágrimas virem aos olhos de situaçõe caricatas em que bastava olharmos uma para a outra para sabermos.
tenho saudades desses momentos.... saudades de lisboa

Anónimo disse...

Eu não gosto de suores. Ponto! Para mim não há diferença entre suores, é mais forte que eu e confesso que não me facilita em nada a vida. Principalmente a amorosa...
Mas gosto das tuas crónicas. Simples e directas. Como os homens deviam ser.
Cláudia G.

Mena disse...

Pois... Quanto a mim... já não levo com esses odores de autocarro há 2 anos..
Passei a trabalhar perto de casa e como sou comercial...ando na rua ao ar livre... Sinto-me uma felizarda...
Quanto a outro tipo de suores...
Acredita que não há nada melhor do que o suor da pessoa amada enquanto fazemos amor...
O suor o cheiro... tudo!!!
Gostei da comparação..
Beijinhos

Ivar C disse...

ricardo, esta foi mesmo no urbano aveiro-porto... é o que dá ter um portátil com net... obrigado :)

paula, os açorianos podem vir ao continente por menos dinheiro que os continentais aos Açores, não é? Então... aproveita. :)

Cláudia G. eu também não gosto mas, em certas situações muito concretas, sabe bem... obrigado... :)

mena, trabalhar ao ar livre pode ser bom, sim... às vezes tenho essa vontade e já me passou pela cabeça mudar de emprego. :)