5.30.2009

conversas 1248

(ao telefone)

Ela - Estive a ler um artigo na Happy sobre a vida depois da morte que achei muito interessante.
Eu - Sim... deve ser muito interessante.
Ela - Lá estás tu... se é para dizeres mal mais vale estares calado.
Eu - Mas eu não disse nada...
Ela - Eu sei que tu não acreditas nessas coisas.
Eu - Acredito pois...
Ela - Acreditas na vida depois da morte?
Eu - Acredito. Já vi pessoal a morrer e eu ainda estou vivo. Acredito na minha vida depois da morte dos outros e, quando eu morrer, sei que outros continuarão a viver...
Ela - Que engraçadinho... a ciência não explica tudo, sabias?
Eu - Pois não... mas tu ainda explicas menos que a ciência.
Ela - A vida é o quê, para ti?
Eu - Para além de beber cerveja?
Ela - Sim... para além de beber cerveja...
Eu - Também há uísque...
Ela - Olha... estou mal disposta... tenho que desligar, está bem?
Eu - Mas estás mal dispostas com quê?
Ela - Não estou mal disposta, tu é que me estás a irritar. Tchau.

conversas 1247

(ao telefone)

Ela - Olá!
Eu - Olá!
Ela - Como é que está o homem mais bonito do mundo?
Eu - Vai andando... e tu?
Ela - Eu estou bem, mas falemos de ti. Também estás bem?

5.29.2009

conversas 1246

Ela - O teu apartamento ate é giro... dizes tão mal dele.
Eu - Não digo mal... digo que é pequeno mas nem é para me queixar. Vivo sozinho por isso chega e sobra...
Ela - Mas é giro... tirando...
Eu - Tirando o quê?
Ela - Eu punha a cama do quarto virada para parede e este camiseiro naquele canto. Na sala mudava os sofás para ali e punha aquela estante aqui. Na casa de banho acho que devias ter uma farmácia na parede e pôr a estante no lixo. Na cozinha, o frigorífico ficava muito melhor perto da porta da entrada virado para o lava-louça...
Eu - Só isso?
Ela - Sim, só isso...

pensamentos catatónicos (180)

Um destes dias comecei a desconfiar que a minha sombra se zangou comigo. Durante anos foi a minha melhor amiga e mantivemos longas conversas sobre os nossos amores e desamores. Bem, na verdade era mais eu que falava e ela que me ouvia, mas mesmo assim sentia que havia entre nós uma amizade especial.
Agora, desde que comecei a dividir o tempo que eu tinha para ela, é como se tivesse amuado. Sinto que já não me ouve e, agora que penso nisso, já me aconteceu exactamente o mesmo com uma mulher, quando comecei a dividir o tempo que normalmente tinha para ela com a minha sombra...

conversas 1245

Ela - Posso ser sincera contigo?
Eu - Podes. Claro que podes. Podes e deves...
Ela - Hum... não consigo.

respostas a perguntas inexistentes (59)

O suor dos comboios cheios de gente não é igual aos outros suores. Não é igual, por exemplo, ao doce suor de um acto amor nem à agressividade do suor do trabalho. É um suor que, apesar de intenso, não tem personalidade. As pessoas amontoam-se no urbano que sai de Aveiro em direcção ao Porto mas não trocam olhares, não trocam sons entre elas e até os toques físicos tentam evitar. Só os suores de cada um se misturam no ar, criando ainda um desejo maior de distância aos passageiros que estão tão perto uns dos outros.
Estava aqui a pensar que, se normalmente temos esta repulsa natural pelo suor dos outros, talvez esta seja uma maneira real de percebermos se amamos ou não alguém. Deslizar sobre o suor de alguém é como deslizar sobre um rápido de água qualquer: ou gostamos da aventura ou a achamos demasiada perigosa.

5.28.2009

crónicas da cidade que sopra

As crónicas da cidade que sopra têm agora um cantinho especial onde são publicadas fora do tempo. É uma tentativa de reanimar aquelas que já caíram no esquecimento. Podem visitá-lo aqui sempre que quiserem.
A propósito, a próxima crónica em papel é publicada na próxima segunda-feira. É a primeira, acho eu, escrita na primeira pessoa e dedicada a alguém de quem gosto.

Na cidade havia um jardim que era o Outono da vida, onde as árvores se despiam para atapetar o chão com folhas vermelhas e ficavam a ouvir a lenta despedida dos velhos. Aliás, as árvores, nesta cidade ou no mundo, são sempre quem escuta os velhos. E nesse jardim o meu avô tocava o mundo com a ponta duma bengala feita por ele, como se assim o pudesse consolar de quaisquer cócegas que tivesse.

5.27.2009

conversas 1244

Ela - Há uma coisa que eu admiro nos homens...
Eu - O quê?
Ela - Nesta altura do ano muitas mulheres começam a fazer dieta, preocupadas em caber num biquíni de tamanho razoável. Os homens podem andar gordos e feios que se estão literalmente nas tintas para isso...
Eu - Achas que é mesmo assim? Eu penso que, cada vez mais, os homens também se preocupam com essas coisas.
Ela - Mas não... é diferente. Tu, por exemplo, vais para a praia na boa mal chega o bom tempo...
Eu - Ah! Mesmo quanto estou gordo e feio, queres tu dizer...
Ela - Hum... já te vi mais gordo, por acaso.

insegurança social

Estou neste momento há mais de duas horas para ser atendido ao balcão da Segurança Social da loja do Cidadão em Aveiro. Tenho a senha número 100 para o atendimento geral e vai no 86. Estou, portanto, a ver uma luz ao fundo do túnel. A luz que entretanto parece apagar-se tem a ver com o Portugal real que às vezes me esqueço que existe.
Há bocado uma mulher sentou-se ao balcão, na sua vez, e não sabia do que ia tratar. Ainda disse que foi o filho mais velho dela que a mandou ali mas não sabia muito bem porquê e, depois de mais de uma hora à espera, lá voltou para casa tão encolhida na sua ignorância quanto o seu corpo idoso.
Depois foi um rapaz novo de brinco que se encostou ao balcão e fez uma pergunta qualquer que foi só isso mesmo: uma perguntinha. A senhora respondeu-lhe educadamente mas um gajo gordo ao meu lado lançou-me logo a farpa: lá está o preto a querer passar à frente, que vá para a terra dele. E eu não me aguentei. Nunca me aguento quando vejo gente estúpida e torno-me ainda pior. Vai para a puta que te pariu, respondi-lhe. E ele afastou-se lentamente a rosnar baixinho.
Começo a ficar deprimido quanto baste. Olho para o chão e vejo um velho com um sapato vermelho escuro e outro tão velho que já nem lhe percebo a cor. Só percebo que não é do mesmo par. As meias também são diferentes e as calças de fato de treino estão rotas nos joelhos. Ninguém devia chegar à terceira idade neste estado. Este país é uma merda, penso. Os meus olhos cruzam-se com os dele mas os dele não se cruzam com os meus, que se movimentam de forma intermitente como planetas sem órbitas.
Sentei-me. Agora estou aqui sentado de computador nos joelhos e a coisa acalmou um pouco. Mesmo assim bastou-me abrir o site do Jornal de Notícias para ficar a saber que este ano já morreram dez mulheres vítimas de violência doméstica neste país. O ano passado foram 47 e, por falar em números, isto vai no cliente 91. Vou desligar o pc e publicar isto sem reler... e ando eu aqui, feito parvo, a falar de amor...

5.26.2009

conversas 1243

Ela - Já tiveste alguma grande paixão por alguém que nunca chegaste a conhecer?
Eu - Claro que já. Não tivemos todos?
Ela - Sim... acho que sim.
Eu - Também acho que sim...
Ela - É estranho podermos passar uma vida inteira sem conhecer alguém de quem gostamos tanto...
Eu - Não acho que seja mau... quando tu gostas duma pessoa que não conheces pessoalmente, não gostas realmente dessa pessoa mas sim daquilo que imaginas que ela é.
Ela- Isso é verdade. Se calhar é por isso que há tantos divórcios e separações. Mesmo quando conhecemos a pessoa que amamos há espaço nela para a nossa imaginação.
Eu - Sim, isso não é a verdade toda, por que nós próprios vamos mudando com a vida, mas é sem dúvida uma boa parte da verdade.
Ela - Pode ter acontecido isso connosco...
Eu - Pois pode...
Ela - Apetece-me chorar...
Eu - Porquê?
Ela - Não sei... estou emocionada...
Eu - A mim apetece-me beber uma cerveja. Vens comigo?
Ela - Bebes uma cerveja e eu choro. É isso?
Eu - Bebemos os dois e choramos os dois. Pode ser?

stória stória

Ontem apaixonou-se por um gesto. Numa loja qualquer dum centro comercial qualquer, viu-a dedilhar suavemente uma longa pilha de cd's e escolher um entre muitos. Depois dirigiu-se para um dos pontos de audição, passou a capa do disco pelo leitor de códigos de barras e penteou uma franja do cabelo ao colocar os auscultadores. E ele apaixonou-se. Colocou também outros auscultadores na cabeça, ajustando-os bem às orelhas, e ficou a observá-la a ouvir uma música qualquer. Em silêncio.

Ontem apaixonou-se por uma brisa. Enquanto abanava timidamente as ancas ela assobiou baixinho, provavelmente para acompanhar a música que ouvia, e o assobio sobrevoou o espaço numa calma brisa marítima que lhes refrescou a face. A ela e ele. E ele de auscultadores na cabeça a ouvi-la em silêncio, quis dar-lhe a mão e e caminhar enterrando os pés na areia. Quase que sentiu que o fazia mesmo.

Ontem apaixonou-se por um terramoto. Ela foi-se embora deixando o cd no mesmo sítio onde o tinha ido buscar. O olhar dele orbitou-a até ela se misturar na aguarela viva da multidão e cada passo que ela deu os fez tremer. A ele e ao mundo, até a aguarela se diluir na fria ausência dum shopping qualquer.

Hoje apaixonou-se por uma música. Ouve-a agora, num coçado leitor de mp3 enquanto mordisca um hambúrguer de soja e bebe uma cerveja já quente. É a primeira do disco que ela ouviu e que ele comprou sem sequer conhecer. Talvez um destes dias a torne a encontrar por aí e lhe possa contar a stória stória...


5.25.2009

conversas 1242

(relativamente à conversa 1239)

Ela - Achas mesmo que eu queria saber se tu me achas bonita?
Eu - Acho que foi isso que me perguntaste...
Ela - Com a minha idade nenhuma mulher pergunta isso a sério.
Eu - Não?
Ela - O que eu queria saber é se tu me achas boa na cama.
Eu - E como é que raio eu hei-de saber se és boa na cama?
Ela - Com a tua idade também já ninguém pergunta isso.

mãos

Hoje, segunda-feira, as crónicas da cidade que sopra, escritas pelas minhas mãos, voltaram ao Diário de Aveiro...

Lá fora [...] há uma cidade que definha dentro de outra cidade. Uma cidade onde a elegância dos edifícios antigos se esconde envergonhada entre a imponência exagerada dos edifícios novos, cujas sombras intensas vão desmaiando sobre a intrusa luz solar. Há uma cidade onde as conversas de café cedem a esse estranho silêncio de pessoas sós e onde a vida parece ofegar; uma cidade com automóveis a mais e pessoas a menos, onde o alcatrão vai atapetando passeios e a pobreza se vai varrendo para cantos escondidos.

pensamentos catatónicos (179)

Este fim de semana adoeci de tal forma que fiquei afónico. Habituei-me tanto a ter voz que nunca lhe dei importância nenhuma até este fim de semana, em que por não a ter senti a falta dela. Nas relações isso também acontece. Habituamo-nos tanto à pessoa com quem partilhamos a vida que deixamos de lhe dar importância. É como se essa pessoa fosse um dado adquirido para a vida. Até ao dia em que, de facto, a deixamos de ter...

5.22.2009

yes tiiiiiiiiigeeeeeeeeeeeeeeer!

Estou de boca aberta. A ninfa Artémis, de quem falei em 2007 neste post, tem uma versão em inglês do hit "sim gatô" chamada "yes tiger". A mim só me ocorre dizer-lhe uma coisa: "you are good like the corn and I eat you all until you can't no more", que é como quem diz: "és boa como o milho e eu comia-te toda até não poderes mais". Yes Tiiiiiiiiigeeeeeeeeeeeeeeer!
Como a música está no myspace pessoal da artista, podem baixá-la aqui colocando o url no espaço para o efeito.

como faço?

Hoje vou tentar ajudar algumas pessoas com dúvidas que, através duma busca no google vieram aqui ter. Aos que procurarm coisas do tipo troca de casais com velhas afoder, mulheres as foder com cavalos, gajos nus a fazer xixi, mail da cabeleireira que violou, numero de euromilhoes que vai sair essa cemana ou mulheres na cagadeira, lamento mas não posso ajudar. A propósito, porque é que alguém quer o mail da mulher que violou?

como congelar abrobara madura
é fácil. pega-se na abrobara (nota: o que é uma abrobara?) e coloca-se no congelador

como deixar os mamilos firmes
há várias formas de o fazer mas uma delas é fazer o mesmo que à abrobara
(nota: o que é uma abrobara?)

como fazer com que um gajo goste de mim
aqui também há várias coisas a fazer. uma delas é nunca dizer abrobara (nota: o que é uma abrobara?)

como homem baixo da prazer a mulher alta?
abrobaras à parte, se ele for mesmo muito baixo e ela mesmo muito alta, hum... hum... a mim só me ocorre uma coisa...

como pentear o cabelo que nem do cristiano ronaldo
isso é fácil. é só ir a um cabeleireiro para homens dum subúrbio qualquer que tenha um nome inglesado, tipo "Tony", "Johnny Hair" ou "Mikael Carreira".

conversas 1241

(na casa dela)

Eu - Já que ainda demoras para sair, empresta-me uma lâmina de barbear que assim vou fazendo a barba.
Ela - Uma lâmina de barbear?
Eu - Sim... já ando com barba de quatro dias.
Ela - E o que é que te leva a pensar que eu tenho uma lâmina de barbear em casa?
Eu - Sei lá... as mulheres costumam ter. Para tirar às vezes os pêlos das pernas e assim...
Ela - Estás a dizer que eu sou peluda?
Eu - Sei lá se és peluda ou não. Tens uma lâmina de barbear que me emprestes ou não?
Ela - Ah! assim é diferente. Primeiro perguntas e não sugeres logo que eu tenho.
Eu - Está bem, desculpa. Epá, só queria fazer a barba...
Ela - E sabão e after-shave, onde é que vais buscar?
Eu - Posso usar sabão normal e álcool...
Ela - Só tenho lâminas femininas... daquelas para tirar os pêlos das pernas.
Eu - Serve. São todas iguais... só que umas são cor de rosa e outras azuis ou amarelas...
Ela- Vai à casa de banho e procura na gaveta de cima...

5.21.2009

conversas 1240

(ao telefone)

Ela - Precisava que viesses a minha casa hoje à noite mudar aquela tomada...
Eu - Eu até ia... mas estou um bocado doente. Depois vejo...
Ela - Estás doente com quê?
Eu - Não sei. Sinto-me mal e com a garganta inflamada.
Ela - Então tens que vir. Comprimidos aqui em casa não faltam...

conversas 1239

Ela - Achas-me bonita?
Eu - Sim...
Ela - Só dizes isso por seres meu amigo.
Eu - Não, não. Acho-te mesmo bonita. Já to disse várias vezes...
Ela - Eu acho que só estares a ser simpático.
Eu - Não, não... a sério que não.
Ela - Sou mais bonita que a ******?
Eu - Não sei... ela também é bonita. Não sei dizer... acho que as duas são bonitas.
Ela - Estás a ver? Estavas a mentir...

conversas 1238

Ela - Hoje andei de autocarro em Aveiro e ia uma mulher a conduzir...
Eu - E depois?
Ela - Depois nada... era só por curiosidade.
Eu - Ah!
Ela - Era só curiosidade... mesmo...
Eu - Ok...
...
Ela - Só gostava de saber como é que ela mete um autocarro onde eu não consigo meter o meu carro...

mulheres que eu gostava de poder não compreender (81)



nome: Erin Gray
origem: EUA (Havai)
info: Nasceu em 1950 em Honolulu, capital do Havai. Quem viu a série televisiva Buck Rogers, produzida em 1979, não se pode esquecer dela no papel de Wilma Deering e do seu fato futurista branquinho. Um must para qualquer miúdo de calções. Além disso, quem é não sonha com uma mulher bonita que, apesar de corajosa, está sempre a precisar de ajuda?

esta mulher é a minha ruína

"Esta mulher é a minha ruína", cuja letra é do Carlos Tê, faz parte do álbum "Fora de Moda", do Rui Veloso, editado em 1982 pela EMI. Lembro-me de ouvir esta música quando era pequenino, num rádio mono fanhoso que tinha herdado do meu irmão mais velho, e de achar que o Rui Veloso era burro por se deixar arruinar desta maneira por uma mulher. Para mim era óbvio que isto não passava de um exagero ou duma piada e que o amor não podia arruinar ninguém. Depois cresci...

Arranjei mulher bonita
Por todos é cobiçada
Mas ela é tão esquisita
Põe-me a vida ensarilhada

Vou com ela pela rua
Todos lhe fazem olhinhos
Já tenho ciúmes à toa
Desde amigos a vizinhos

Só pensa em grandeza e luxos
Só me pede jóias de oiro
Para lhe alimentar os caprichos
Tenho de trabalhar como um moiro

Esta mulher é a minha ruína
Dá comigo em estroina
Se não ponho termo a isto
Vou acabar à moina

Há tempos quis um diamante
Eu disse-lhe que estava liso
Disse-me que arranjava amante
Que até lhe punha casa se fosse preciso

Fiz de fraco à sua frente
Fartei-me de lhe pedir
Mas ela ficou indiferente
E fez as malas para partir

Controlei o desespero
E eu quase enlouquecia
Vim p'ra rua desvairado
E assaltei uma joalharia

Esta mulher é a minha ruína

Agora estou na prisão
E nunca mais me deu cavaco
E não me traz ( que ingratidão ! )
Nem um maço de tabaco

[rapidshare]

5.19.2009

respostas a perguntas inexistentes (58)

Parei o automóvel num lugar qualquer da avenida. Uma avenida qualquer duma cidade qualquer dum país qualquer, dum continente qualquer dum mundo qualquer. Uma mulher pousou a carteira que trazia a tiracolo no capô para procurar uma coisa qualquer e, quando os nossos olhares se cruzaram, desviou o dela com o voo dum insecto assustado. Depois vi outra atravessar uma passadeira com o sinal vermelho para peões, outra sair duma pastelaria devorando apressadamente o resto duma bola de berlim e outra pousar no chão dois pesados sacos de compras para descansar. Imaginei a mesma paisagem urbana sem elas e os edifícios entristeceram. Eu, adorador das mulheres banais me confesso, talvez por não as conseguir achar banais. Acho que é assim em qualquer lugar do mundo.

couscous

Hoje é noite de couscous no Clandestino bar, em Aveiro.

coisas que fascinam (87)

Ela disse-me que acha que tem trocado a vida por pequenas coisas. Por exemplo: coleccionando pirilampos mágicos de cores diferentes no tablier do carro, aprendendo a fazer um unicórnio de papel, decorando os nomes das capitais de todos os países do mundo ou experimentando roupa nova quase todos os dias. E eu percebi o que ela me disse. Percebi que ela engana a passagem do tempo com essas pequenas coisas.
Eu disse-lhe que tenho trocado as pequenas coisas pela vida. Por exemplo: fazendo a declaração de rendimentos, indo ao dentista branquear os dentes, fingindo que gosto muito do meu trabalho para ver se sou aumentado, fazendo e refazendo o meu curriculum vitae e fazendo a contabilidade do meu condomínio. E ela percebeu o que eu lhe disse. Percebeu que o melhor que temos a fazer na vida é enganar a passagem do tempo.
E eu ri-me. E ela riu-se. E acabámos a saborear essa pequena coisa que é podermos tomar um café juntos de vez em quando. E agora? Agora nada...

conversas 1237

Ela - Já disse ao meu marido que preciso de ter uma vida mais activa. Preciso inovar e que cada dia da minha vida seja diferente do outro.
Eu - Fazes bem, se é isso que sentes. A ver se ele te acompanha nesse desafio, então...
Ela - Eu não quero que ele me acompanhe. Quero que ele me deixe em paz.

conversas 1236

Ela - Precisava dum gajo só para de noite.
Eu - Um gajo só para de noite?
Ela - Sim. Durante o dia, com o trabalho e tudo o mais, sinto-me bem. Só à noite é que às vezes vem aquela solidão...
Eu - Tu até sais bastante à noite e tens bastantes amigos...
Ela - Sim... é verdade, mas eu disse AQUELA solidão...
Eu - Ah!

conversas 1235

(com uma senhora que estava a vender cerejas numa estrada nacional)

Eu - Qual é o preço das cerejas?
Ela - Dois euros e meio o quilo. Estavam a três mas agora estou com pressa para me ir embora, menino...
Eu - Dê-me um quilo, por favor...
Ela - Não, não... leva dois que eu disse que estava com pressa.
Eu - Pronto, dois então...
Ela - Então leva três...
Eu - Não... só quero dois. Mais do que isso não levo.
Ela - É que eu ainda tenho que ir para Lamego...
Eu - Mas eu só quero dois...
Ela - Pronto...

tu nem sabes no que te metestes...

Estou aqui para defender a professora que foi suspensa numa escola do ensino básico, em Espinho, por ter ameaçado e falado de orgias a miúdos de doze e treze anos. Se repararem bem, na notícia transmitida pela SIC é possível perceber que ela repara nos "linguados e coisas do género" que os miúdos dão na escola e que o primeiro "beijo que ela deu assim, só no décimo segundo ano". Está explicado: é uma gaja mal fodida e por isso temos que ter pena dela. Além disso, apesar de ter estudado "doze anos na escola, quatro na faculdade, dois no estágio, dois numa pós graduação e um numa especialização" não sabe falar português. "Tu nem sabes no que te metestes", diz ela a um dos putos. O problema dela não é só falar demais, o problema dela é ser cagona (em bom português, claro).



E pronto, estou mesmo a ver que durante algum tempo ninguém vai falar de mais nada neste país...

rota das bétulas







A Rota das Bétulas percorre as terras de São Pedro do Sul, iniciando-se na Fraguinha em direcção ao planalto onde nasce o ribeiro Escuro. Aí vira-se para a pequena povoação do Candal onde se toma o percurso do ribeiro do Paivô, rumo à Póvoa das Leiras onde uma subida acentuada nos desafia a chegar à barragem "A Pioneira".
Parece que alguém verteu ali, sobre a terra negra, esguichos de amarelo e roxo, pintando um gigantesco quadro fauvista. Foi aqui que este fim de semana me ergui qual dom Quixote para lutar contra os gigantes que guardam o silêncio das terras até onde o horizonte se desenha em curvas de mulher. Por fim, derrotado, caí de cansaço e alguém me disse que os gigantes eram apenas moinhos de vento.
O Bioparque, cheio de gente simpática e acolhedora, organiza regularmente batalhas destas que eu quero continuar a travar...

5.15.2009

este fim de semana vou de fim de semana

Este fim de semana vou de fim de semana (adoro, mas juro que adoro mesmo dizer isto). Sabem aqueles dias em que não nos apetece fazer nada? Ando um bocado assim... o problema é que eu não acredito que isso se deva a uma preguiça física ou mental e, por isso, vou fazer uma longa caminhada... a ver se recupero energia...
Bom fim de semana para vocês e obrigado por existirem.

conversas 1234

Ela - Eu acho que a **** é do estilo de mulher que tu gostas...
Eu - E qual é o estilo de mulher que eu gosto?
Ela - Gostas de mulheres que gostem de ti. Enfim... és pouco exigente.
Eu - Achas?
Ela - Acho. Lembras-me o Gabriel o pensador e aquela música... o meu sonho é morar numa favela...

conversas 1233

Ela (na casa de banho) - Traz-me aí, por favor, o meu secador de cabelo...
Eu - (no quarto dela) - Onde é que está?
Ela - Na gaveta de cima da cómoda..
Eu (depois de abrir a gaveta) - Não está cá nada...
Ela - (vinda da casa de banho) - Está aqui, pá. Não vês?
Eu - Olha... a sério que não vi.
Ela - Os homens nunca vêem nada do que lhes é pedido. Nada!
Eu - Tem calma...
Ela - Deixa lá, deixa lá... vai saindo.
Eu - Ok...
Ela - Vê se dás com a porta de saída sozinho.

como ele se aproxima dela...

Dentro dos vários tipos de mau aspecto que um homem pode dar ao tentar aproximar-se duma mulher, sobressaem aqueles que não dão resultado, ou seja, quase todos.

aproximação do tipo: eu sei conduzir tão bem o meu carro que tu vais pensar que eu também sou bom noutras coisas
Este tipo de aproximação acontece quando ele dá boleia a uma miúda gira que por sorte estava na estrada ou a uma amiga que não conhece assim há muito tempo mas que, por sorte também, precisou de boleia quando ele lha podia dar. Até aqui tudo bem. O problema é que ela está de saia curta e, assim sentada ao lado dele, começa a dar-lhe uns calores. Na verdade já nem sabe quais foram as últimas coisas que ela disse e quando der por ele está a conduzir como se fosse o melhor condutor do mundo. Já quase atropelou uma velhinha com andas numa passadeira e esteve perto de bater no carro da frente cinco ou seis vezes, mesmo assim não sabe se é por isso que está a suar ou por causa das pernas dela. O que vai saber muito em breve, quando a deixar no destino e acalmar, é que deu grande mau aspecto e ela deve ter pensado nele como mais um banana que não se enxerga...

aproximação do tipo: eu tenho muito andamento, sou um gajo bestial e posso beber muito que não me afecta nada
Ela acabou agora a primeira cerveja e ele já vai na terceira. Ela é bonita e ele quer impressioná-la, por isso é que pede cerveja em gestos decididos de forma a mostrar que é um tipo socialmente estável. Se tiver oportunidade até trata o empregado por "tu", o que lhe dá um estatuto de "gajo porreiro". O problema é que ele não percebe que deve acabar por ali. Uma hora depois ela ainda vai na segunda cerveja e ele já na sexta. Já nem repara que cospe perdigotos em demasia quando lhe diz que ela é muito bonita e que já pingou as cuecas várias vezes por estar a controlar a vontade de urinar. O pior é quando finalmente o fizer vai perceber que não está assim muito direito e vai verter um copo para cima dela. Neste tipo de aproximação normalmente acaba-se sozinho na cama, com tonturas e promessas de nunca mais se beber...

aproximação do tipo a minha mãe preparou-me para ser o melhor marido do mundo
Como é que um gajo mostra que é bom quando não se lembra, de repente, assim de nada em que seja efectivamente bom? É fácil: a eliminar a concorrência. Neste tipo de aproximação ele já percebeu quais são os gajos que andam a dar em cima dela e, claro está, há que dizer mal deles sem dar muito nas vistas. Por isso começa por dizer que é muito amigo deles e que eles são todos uns tipos altamente mas... e há sempre um mas, um deles numa festa qualquer comeu uma gaja qualquer e depois disse aos amigos que ela não era grande coisa, o que não se faz; outro convidou os amigos para cozinhar e queimou o jantar todo e ainda se desculpou a dizer que cozinhar é uma coisa de mulheres, o que não se faz. Ele, conclui depois, só vai para acama com uma mulher quando já tem certezas e acha que a cozinha é coisa de homem. Depois de eliminar a concorrência de forma tão eficaz, é espantoso como é que alguns dias depois ela ainda sai com eles...

aproximação do tipo repara só como eu sou esperto
Nem ele tinha noção que sabia tanto sobre tudo. Mal ela diz qualquer coisa ele interrompe-a para emitir a sua opinião sobre o assunto. Aliás, ele é um líder de opinião nato. O problema é quando ela, depois de bufar de cansaço, diz só a palavra "banana", e ele responde automaticamente que a banana da Madeira é muito melhor que a banana da América do Sul. Só aí é que talvez ele dê conta que está falar muito...

aproximação do tipo se estiveres comigo estás segura... a sério que sim... juro...
Nessa noite ele abriu a camisa e exibe de forma exuberante os pêlos do peito. Encolhe a barriga e tenta suportar os gases até ao fim da noite, enquanto enche a caixa torácica de ar para parecer mais forte. A conversa dele não passa muito de como o mundo hoje em dia está perigoso, principalmente para meninas bonitas e frágeis como ela. Aliás, mal alguém se aproxima dela durante a noite ele põe-se em posição defensiva entre os dois. É por isso que é tão estranho que, depois de tanto esforço, ela queira ir sozinha para casa no fim da noite. Ainda por cima a noite é tão perigosa...

sinais

Uma leitora de quem gosto especialmente mandou-me um email com este filme. Gostei tanto que não posso deixar de o partilhar...

5.14.2009

como é que se ama pela segunda vez?

Como é que se ama pela segunda vez? Pergunta-me ele depois de me dar um passou bem morto, sem a determinação que eu lhe conheço de outros tempos. E eu espero que ele se sente e pare. Não se fala de amor com um tipo que está ainda a encontrar posição para se sentir confortável, dando pequenos encontrões à cadeira com um rabo inquieto.
Lembro-me de o ajudar a carregar uma máquina de lavar roupa, para um segundo andar num prédio sem elevador, quando se casou. Mais um guarda-vestidos, uma cama de casal, uns sofás coçados, um frigorífico e uma série de caixotes embalados com a determinação que agora lhe falta. Era como se estivéssemos a levar pelas escadas uma vida inteira, e digo inteira porque ali se transportava o passado, o presente e o futuro. E o futuro chegou hoje, com uma sensação de falhanço total na vida, uma cerveja morta numa pastelaria e um estranho medo da solidão.
Pergunto-lhe se quer outra cerveja, na esperança de também eu poder beber mais uma. Que sim, responde. E enquanto o rabo dele parece estar a acalmar eu estico as duas mãos à empregada que está do outro lado do balcão: uma com uma garrafa vazia, outra com dois dedos esticados.
Acho que a segunda vez é mais fácil, digo-lhe. Na segunda vez não levamos a vida toda para um apartamento nos subúrbios da cidade, na segunda vez começamos por nos levar a nós, só a nós, sem passado nem futuro. Fazemos amor devagar, bebemos uma garrafas de vinho sem ser daquele mais barato, trocamos uns sorrisos e apagamos a luz do sem querer ver mais do que isso.
A empregada pousa as garrafas na mesa. É só isso? Pergunta ele. Que sim... eu, pelo menos, não sei dizer mais nada nem me apetece saber...

conversas 1232

Ela - Até simpatizo contigo mas nunca poderia ter sido tua namorada.
Eu - Não? Porquê?
Ela - És um bocado cota.
Eu - Tenho mais um ano do que tu... não é assim muito.
Ela - Mas eu gosto de homens mais novos. São melhores na cama e, normalmente, os que têm vinte e tal anos gostam de mulheres mais velhas...

os homens são melhores que as mulheres



Não consegui descobrir com exactidão de quando é este anúncio das malhas Drummond. Penso que é dos anos 50 década em que, segundo aquela marca de roupa masculina, os homens eram melhores que as mulheres. O anúncio, pelo menos, diz qualquer coisa como isto:

Os homens são melhores que as mulheres. Dentro de portas elas são úteis - mesmo agradáveis. Numa montanha elas são como um obstáculo. Então não carregue nenhuma para cima de um despenhadeiro só para ostentar as suas malhas de escalada "Drummond". Não é preciso. Estes "pullovers" ficam bem em qualquer sítio...

Não sei ao certo se os homens são melhores que as mulheres ou se as mulheres são melhores que os homens. Acho que nem uma coisa nem outra. Aquilo que eu sei é que se algum dia subir uma montanha destas, lá em cima prefiro estar com uma mulher do que com um homem, principalmente se for um homem que use ceroulas até ao joelho por fora das calças.

5.13.2009

menina da ria

Tenho uma relação emocional muito forte com a cidade de Aveiro. Não a acho melhor nem pior do que as outras cidades do mundo mas distingue-a o facto de ser a melhor testemunha da minha vida. Noites houve em que com ela partilhei as maiores alegrias dos meus amores, outras houve em que com ela desabafei os meu erróneos percursos amorosos... e foi sempre isto que distinguiu Aveiro de tudo o resto: ela esteve sempre ali a ouvir-me com toda a paciência do mundo. Talvez às vezes a trate como uma mulher e, como Caetano Veloso no seu último álbum Zii e Zie, me apeteça chamar-lhe menina da ria...




Uma moça
De lá do outro lado da poça
Numa aparição transatlântica
Me encheu de elegante alegria
(Ai, Portugal, ovos moles, Aveiro)
Menina da Ria
Menina da Ria
Menina da Ria

E uma preta
(Parece que eu estou na Bahia)
Tão Linda quanto ela, dizia
No seu português lusitano:
“Pode o Caetano tirar uma foto?”
Menina da Ria
Menina da Ria
Menina da Ria

Arte Nova, um prédio art-nouveau numa margem
Em frente à marina-miragem:
Os barcos na Ria. E depois

Uma taça sobre o pubis glabro, um estudo
Nenhum descalabro se tudo
É sexo sem sexo em nós dois
Menina da Ria
Menina da Ria
Menina da Ria

conversas 1231

Ela - Lembras-te dos jantares que fazíamos em tua casa?
Eu - Claro...
Ela - Tenho saudades. Sempre gostei de cozinhar para ti...
Eu - Para mim em especial?
Ela - Sim. É quando chego a tua casa tu já tens os legumes todos cortadinhos. Isso é o sonho de qualquer cozinheira.

as posições do sono



Costumava dormir de barriga para baixo. Desde que a minha relação actual começou passei a dormir cada vez mais de barriga para cima. Segundo esta notícia da BBC, estou a passar da posição queda-livre para a de soldado, ou seja, estou a deixar de ser ousado, nervoso e susceptível para passar a ser mais calado e reservado. Talvez seja verdade..
O que mais intriga, no entanto, neste estudo que liga a personalidade de cada um à sua posição de sono é o facto da posição fetal ser adoptada principalmente por mulheres. É que essa posição é a de pessoas duras por fora mas sensíveis por dentro. De repente pareceu-me que tenho conhecido muitas mulheres por fora e poucas por dentro...

posição fetal - pessoas duras por fora mas sensíveis por dentro. Podem ser tímidas quando são apresentados a alguém mas depressa ganham confiança. Esta é a posição mais comum, adoptada por 41% das pessoas que participaram na pesquisa. As mulheres tendem a adoptar mais esta posição do que os homens.

tronco - pessoas de fácil relacionamento, sociáveis e gostam de fazer parte de uma equipa, além de confiar em estranhos. No entanto, podem também ser ingénuos.

insatisfeito - pessoas abertas mas que podem ser desconfiadas e cínicas. São lentas para tomar decisões mas quando o fazem não mudam facilmente de opinião.

soldado - pessoas geralmente caladas e reservadas e detestam confusão.

queda livre - pessoas ousadas, mas podem ser nervosas e susceptíveis, além de não gostarem de críticas ou de situações extremas.

estrela do mar - pessoas amistosas e sempre prontas a ouvir os outros ou oferecer ajuda. Geralmente não querem ser o centro das atenções.

5.12.2009

greve de sexo

Um grupo de mulheres quenianas, cansadas da violência que assolou o país depois das eleições de 2007, fez greve de sexo durante sete dias para pressionar os seus líderes políticos a chegar a um acordo sobre a reforma da segurança no país. A medida parece ter dado resultado porque os líderes já se encontraram para debater o assunto mas mesmo assim, um queniano cuja mulher aderiu à greve, começou a sentir "dores nas costas, stress e dificuldade em adormecer". Por isso processou as activistas e pede uma indemnização por danos nos seus direitos matrimoniais. [ler no Globo].

Depois de ler esta notícia fiquei com uma vontade enorme de ir viver para o Quénia. É que estou farto que em Portugal se fale de violência por tudo e por nada. Ele é o Bairro da Bela Vista em Setúbal, ele é o Bairro da Quinta da Fonte em Loures, ele é a escola Carolina Michaelis no Porto... enfim... No Quénia é mais fixe. Ninguém liga nada à violência. Podem matar-se à catanada uns aos outros que não faz mal nenhum. Agora... passar sete noites sem pinar é que não. Isso é gravíssimo e os líderes políticos reúnem-se logo de emergência. Gostava de viver num país assim...
A única coisa que me intriga nisto tudo é saber que raio de sexo é que fazem no Quénia para, à falta dele, os homens ficarem com dores nas costas. Ora... ora... ui... acho que não percebo.

conversas 1230

(no café)

Ela - Gostava de encontrar um significado qualquer para a minha vida...
Eu - Estás com uma crise existencial?
Ela - Não é bem isso... ou então é. Não sei...
Eu - Tens uma filha, tens um emprego razoável, tens amigos...
Ela - Sim... mas falta-me qualquer coisa e eu não sei dizer o quê.
Eu - Percebo... mas às vezes faltar-nos qualquer coisa não é mau. Quer dizer apenas que temos que pensar em nós... e que talvez seja necessário ter coragem para mudar algo nas nossas vidas...
Ela - Sim, tens razão. Agora, por exemplo e apesar de me sentir gorda, vou ganhar coragem e pedir um pastel de nata daqueles grandes com canela. Acho que me vou sentir melhor...

conversas 1229

Eu - Estou lixado... Tenho que acabar as contas do meu condomínio e não consigo...
Ela - Não consegues porquê?
Eu - Já não consigo olhar para aquilo... é só papelada para pôr em ordem e contas para fazer... enjoa-me.
Ela - Se quiseres traz tudo a minha casa e eu faço...
Eu - A sério?
Ela - A sério. Enquanto isso vais passando a ferro dois montes de roupa para os quais eu também já não consigo olhar...
Eu - Combinado.
Ela - Óptimo... tenho que aproveitar conhecer homens desorganizados...

café da manhã

Um
Que não há coração como o de mãe, diz ela. Depois agarra no saco das compras como se agarrasse uma criança. Os seus olhos envelhecidos são uma represa de lágrimas prestes a ceder e eu, como quem não quer saber, passo por ela em passo apressado. Só eu sei que estou com pressa para chegar a lugar nenhum.

Dois
Que a ele ninguém o engana. E repete a frase enquanto ajusta as golas de um casaco sujo e gasto pelo tempo: que a ele ninguém o engana. Depois encosta uma mão ao vidro da montra dum loja. Fico na dúvida se ele ampara a loja ou se a loja o ampara a ele. É que também eu, continuando o meu passo apressado, passo por ele sentido-me perdido.

Três

Curvou a cabeça para trás e bebe as últimas gotas dum pacote de Ice Tea de pêssego. Lembra-me uma vitela a procurar leite numa teta seca. Não só por ser evidente que o pacote está vazio mas também porque as pernas frágeis lhe tremem. Depois desiste e começa a cantar. Ainda não sei para onde vou mas continuo o meu passo apressado.

O café da manhã conforta-me. Não só pelo sabor mas porque enquanto o bebo não tenho que fingir que me dirijo convictamente para um lugar qualquer. Pergunto-me quantas pessoas andam na rua a fingir que têm um destino sem de facto o ter, pergunto-me se esse fingimento é sinal se alguma solidão e se estas pessoas que falam sozinhas na rua não são apenas pessoas que deixaram de fingir. Quando dou por mim estou a falar sozinho numa mesa de café...

5.11.2009

general tito

A madeirense Maria Teresinha Gomes entrou para a História por ter simulado ser homem durante 18 anos, período em que se fez passar por general do exército, advogado, funcionário da embaixada dos EUA e agente da CIA. Para ganhar a vida, utilizava essa falsa identidade para pedir dinheiro emprestado que dizia ser para investir no estrangeiro.
Teresinha, que morreu em 2007, era também conhecida como general Tito e dividiu durante quinze anos a casa com uma enfermeira que, apesar de ser sua companheira, admite ter passado anos sem perceber que estava a viver com uma mulher.

conversas 1228

Ela - Entre irmãs há sempre competição para ver quem é a mais bonita...
Eu - Achas?
Ela - Sei que é assim...
Eu - E tu tens esse tipo de competição com as tuas irmãs?
Ela - Felizmente sou filha única. É por isso que não tenho espírito competitivo...

pensamentos catatónicos (178)

Parece que o Porto é outra vez o novo campeão nacional de futebol. Pelo menos é o que deduzo pelos gritos de alegria que ouço lá fora enquanto dou mais um gole numa cerveja cansada. E por falar em alegria, por um lado tenho alguma inveja das pessoas que conseguem ficar tão felizes com o facto de uma equipa ser campeã nacional de futebol (é que eu não consigo); por outro, se gritam tanto por causa duma coisa destas, não tenho bem a certeza que saibam o que é realmente felicidade...

5.08.2009

pensamentos catatónicos (177)

Uma música qualquer que noutro dia me saberia bem ouvir. Hoje não e, depois de um dia verdadeiramente estafante, desliguei o auto-rádio e conduzi alguns quilómetros mergulhado no silêncio. Pensei como é estranho que aquilo que nos costuma fazer companhia de repente passe a ser apenas um ruído de fundo.
Acho que no amor também é assim e, uma vez por outra, devíamos todos poder desligar a nossa companhia. Nem que seja para matar as saudades de estar só.
Bom fim de semana!

jantar europeu

Terça feira, dia 12 às 20:00, a distrital de Aveiro do Bloco de Esquerda organiza um jantar com a presença do Miguel Portas e da Marisa Matias, candidatos ao parlamento europeu. Se algum leitor deste blogue quiser também estar presente, é só mandar-me um email até ao fim da tarde de amanhã, sábado, com o número de telefone. O jantar é no restaurante O Garfo e o preço é de cinco euros...

5.07.2009

conversas 1227

Ele - Estive a falar com a minha mulher...
Eu - E então?
Ele - Ela queixa-se que já não ligo nada à família e que tenho pouco tempo para ela...
Eu - Trabalhas muito, não é?
Ele - Sim... e não só... ela quer que eu deixe de jogar computador...
Eu - E vais deixar?
Ele - Cheguei a um acordo com ela. Jogo uma hora por dia e depois dou atenção aos miúdos.

como ele e ela decidem onde vão de férias...

ele:
1] Escolhe, com ela, o destino. Por exemplo: sul de Espanha.
2] Faz uma busca na internet e escolhe a melhor relação qualidade/preço dentro das suas possibilidades.

ela:
1] Escolhe, com ele, o destino. Por exemplo: sul de Espanha.
2] Faz uma busca na internet e, quando está quase a escolher a melhor relação qualidade/preço, decide que afinal quer sair do país.
3] Telefona às melhores amigas e diz que este ano vai fazer umas férias maravilhosas mas o sítio ainda é segredo.
4] Ele ouve o telefonema, pergunta-lhe porque é que o sul de Espanha é segredo e ela manda-o calar.
5] Sai e vai comprar um biquíni porque sabe que, vá para onde for, tem que ser um sítio com praia.
6] Volta e diz-lhe que já não vão para o sul de Espanha mas sim para Cabo Verde.
7] Ele diz que não têm dinheiro para ir a Cabo Verde e ela manda-o calar.
8] Faz uma pré-reserva na internet para Cabo Verde e uma simulação de crédito.
9] Ele não diz nada e ela manda-o calar.
10] Experimenta o biquíni e chora porque engordou desde o Verão passado.
11] Desmarca a pré-reserva de Cabo Verde e tenta convencê-lo a ir para um sítio em que não haja praia.
12] Ele propõe Paris porque há voos lowcost para lá e ela manda-o calar.
13] Ela propõe Paris porque há voos lowcost para lá.
14] Telefona às amigas a dizer que vai para Paris porque encontrou um programa de férias fantástico.
15] Ele pergunta-lhe porque é que ela comprou um biquíni se queria ir para um sítio sem praia e ela manda-o calar.
16] Ela decide que ele a tem que ajudar a emagrecer e que já podem escolher um sítio com praia.
17] Ele diz que então pode ser o sul de Espanha.
18] Ela chora emocionada, telefona às amigas a dizer que vai para o sul de Espanha e pede-lhe a ele para tratar das reservas.

conversas 1226

Ela - Queres vir comigo ver roupa?
Eu - Ver roupa?! Que roupa?
Ela - Ver roupa nas lojas...
Eu - Só isso?! Ver roupa nas lojas?!
Ela - Sim. Achas pouco?
Eu - Não me apetece andar a ver roupa...
Ela - Então vou sozinha. Tchau!
Eu - Mas estás chateada?
Ela - Tchau, já disse... quando quiseres companhia para alguma coisa não me venhas pedir...
Eu (só em pensamento) - Foda-se!

tapetes



Tenho pena de não estar nos anos 70, senão comprava umas calças destas só para ter um tapete destes. Pelo menos é o que a publicidade da Mr Leggs sugere:

"Embora ela seja uma mulher tigre, o nosso herói não teve que disparar para a deitar no chão. Depois de um olhar para as suas calças Mr Leggs, estava pronta a deixá-lo andar sobre ela. Esse estilo nobre e seguro acalma o coração selvagem. Se gostava de ter uma carpete com uma boneca destas, cace um par destas calças de macho Mr. Leggs"

Claro que se eu tivesse um tapete destes não ia pisar a cabeça da mulher tigre. Talvez fosse com o tapete para a praia, para o campo e, quem sabe, talvez até para a cama. Deve ser uma óptima companhia...

5.06.2009

conversas 1225

Ela - Não gosto que ponhas leite no chá.
Eu - É só um bocadinho...
Ela - Mas não gosto.
Eu - Não te preocupes, só ponho no meu. No teu não ponho...
Ela - Não quero saber. Lembras-me o meu ex-marido, que também fazia isso, o que já é suficientemente mau.

5.05.2009

conversas 1224

(com ela a chegar a minha casa para jantar)

Eu - Ena! Trouxeste uma garrafa de Duas Quintas. Grande vinho.
Ela - Olha... enganei-me. Era para trazer uma mais fraquinha que tenho no carro mas enganei-me e trouxe esta.
Eu - Vai lá abaixo trocar...
Ela - Com esse entusiasmo todo que mostraste pela Duas Quintas não posso fazer isso.
Eu - De repente perdi o entusiasmo.
Ela - Porquê? Amuaste?
Eu - Não... mas eu até tenho aí vinho razoável...
Ela - E o que é que estás a fazer para jantar?
Eu - Polvo à Lagareiro. Enganei-me, ia fazer esparguete com ovos escalfados mas enganei-me...
Ela - Noto alguma ironia na tua voz.
Eu - Não, não... nenhuma.

decisões

Decidi que tudo o que decidisse ia acontecer, e se teoricamente podia ser verdade por ser essa mesma a primeira das decisões, passei a realmente acreditar nela quando a empregada mais simpática do café me veio atender e sorriu. Essa tinha sido sido a minha segunda decisão: ela sorrir para mim.
Decidi depois que, para além de me sorrir, quando me trouxesse a bica quente ia também pedir-me para procurar no jornal o horário das exibições dum filme qualquer. Depois decidi que ficaríamos a conversar sobre cinema e que combinaríamos ir ver esse filme juntos. Decidi que antes jantaríamos num restaurante pequenino na zona histórica onde depois voltaríamos para beber uma cerveja.
Dei um gole no café e decidi que o corpo dela também seria assim quente. Por isso decidi que depois da cerveja as nossas mãos se dariam. Depois os braços, depois o corpo e depois os lábios. Decidi ainda que depois do sexo adormeceríamos abraçados até de manhã.
Nada disso aconteceu mas, na verdade, ainda hoje acho que nunca na vida tomei decisões tão acertadas.

5.04.2009

respostas a perguntas inexistentes (57)

Alguém me perguntou se eu sei o que é que um homem procura numa mulher...

A resposta é fácil: nada. Nunca comecei uma relação de uma forma calculista, procurando ver se ela tinha estas ou aquelas características. Ou me apaixonei ou não me apaixonei e pronto, acho que o exame à pessoa ficou por aí.
Também acredito que posso andar anos sem me apaixonar por uma amiga de quem gosto muito e com quem estou quase todos os dias. Ao mesmo tempo até me posso apaixonar pela mulher que passa as minhas compras na caixa dum hipermercado e que não conheço de lado nenhum. Sei lá... se calhar é por isso que tantas vezes chegamos à conclusão que nos apaixonámos pela mulher errada... e tantas vezes alguém chega à conclusão que se apaixonou erradamente por nós.
Os amores têm a mania de ser esquisitos e egoístas. Ao mesmo tempo, sempre que o coração e o cérebro entram em competição por causa dum amor, tipo dois diabinhos em que um diz: "vai lá, vai lá..." e o outro diz: "não vás...", bem... o coração ganha sempre. É por isso que as paixões são uma forma prioritária de nos aleijarmos.
Sei muito pouco sobre isto. Sei que fiz várias tentativas nos últimos dois anos e meio de começar uma relação e houve sempre alguma coisa que falhou... até que encontrei uma pessoa por quem estive apaixonado quando era miúdo e que já não via há vinte e um anos. Talvez ter um passado em comum tenha alguma importância... talvez...

desculpem lá ser lambe botas

Não sei ou não se o Vital Moreira levou mesmo na cara durante o 1º de Maio. Sei é que, se ele quer que o PCP ou alguém lhe peça desculpa, deve pedir primeiro desculpa aos portugueses por ser um lambe botas e um vira casacas de todo o tamanho. A ingenuidade está em acreditar que isso não faz vítimas...

pentes


Comecei a sair à noite quando tinha doze ou treze anos. A tvi ainda não existia e por isso os meus pais sentiam que Aveiro era uma cidade segura o suficiente para eu poder chegar a casa à meia-noite. Dividia esse meu tempo de lazer entre o café Convívio, o café Ramona e o Maravilhas e, mais tarde, vim também a frequentar o café Palácio.
Acho que é desse tempo que vem a minha primeira confusão com as mulheres, pois o meu primeiro contacto com homens mais velhos que pareciam ser um caso de sucesso junto delas, foi com uns tipos que exibiam umas camisas abertas no peito com os pêlos cuidadosamente esticados. Além disso, traziam sempre um pente acastanhado a espreitar no bolso dessas camisas, que usavam frequentemente para se pentearem no espelho retrovisor duma motorizada de 49 centímetros cúbicos (normalmente uma macal minarelli). Ora eu costumava ir a pé ou na minha bicicleta para esses sítios, nunca me penteava e, como uma desgraça nunca vem só, nunca fui homem de muita pelugem. O meu caminho com as mulheres estava traçado e era o fracasso.
Mea culpa. Os tipos tratavam-me com alguma condescendência própria de quem por ser mais velho quer ensinar o mais novo e eu, encolhido entre algumas partidas de bilhar e algumas cervejas normalmente pagas por eles, ia tentando perceber o mais possível sobre as técnicas de engate infalíveis que eles me transmitiam. Tempo perdido. Nunca me serviram para nada e hoje sei que devia ter perguntado a mim mesmo porque é eles, apesar de tanto paleio, nunca apareciam com miúdas. Talvez eu achasse que aquela forma exuberante de acelerar as motorizadas antes de irem embora, era um indício de que iam nessa altura ter com elas. Uma espécie de dança do acasalamento à distância. Ou talvez não, talvez apenas fossem para casa dormir. Como eu...
Hoje ainda não me penteio, ainda não ando de motorizada e... bem... ainda não tenho assim muito pêlos no peito. Esses pentes ficaram para mim como uma marca de alguma inócua virilidade portuguesa dos anos 80, e deve ser por isso que ainda não me penteio...

5.03.2009

conversas 1223

Ela - Os homens às vezes...
Eu - Lá estás tu. Os homens às vezes o quê?
Ela - Olha, entre outras coisas, às vezes deviam cortar as unhas dos pés. Estou aqui toda arranhada.
Eu (risos) - Eu não fui. Por isso...
Ela - Mas há coisas em que os homens são todos iguais...

aviso pequenino à população - the final cut

E pronto, afinal demorei menos do que o esperado. Encontrei um portátil razoável à medida do meu bolso (e acreditem que tenho um bolso pequenino) enquanto comprava flores para dar à minha mãe. Processador AMD Athlon 2650e a 1600 Ghz, 1 G de memória RAM (expansível a 4 G), placa gráfica ATI Radeon X1250 e um teclado com muitas letrinhas e números para carregar com os dedos. Agora, um dia destes substituo o Vista pelo Safari ou pelo XP e pronto, está feito. Preço no Jumbo de Aveiro: 254,15€. Pareceu-me uma boa compra porque está mais ou menos a 400 € em todo o lado [ver aqui]. Vale a pena procurar...