crónicas da cidade que sopra | ontem houve um acidente qualquer
Amanhã, no Diário de Aveiro.
Ontem houve um acidente qualquer. O autocarro que a trazia a casa, depois de mais um dia a transformar oxigénio em dióxido de carbono num escritório silencioso, parou e desligou o motor. Helena manteve a cabeça encostada ao vidro da janela, onde um autocolante pede que o partam em caso de emergência, sem se importar minimamente com os vãos protestos de alguns passageiros. A verdade é que, naquele constante estado de solidão e de ausência de si mesma em que se encontra, tanto faz estar em casa como num transporte público estagnado pela hora de ponta da cidade. Não se importa.
8 comentários:
Às vezes é muito boa esta ausência de nós mesmos, deixa-nos flutuar e transporta-nos para mundos de sonho.
O pior é mesmo essa aliança de solidão e ausência...deixa um forte sabor a vazio!
Carla
Pensamentos e atitudes quase metódicos, monótonos e indiferentes no cruzar de vidas-no-dia-a-dia! Gostei muito! Parabéns e obrigado:)
fatyly, eu é que agradeço. ;)
carla, às vezes nem sabemos o que é bom ou mau...
Eu ia dizer que o texto é lindo, mas agora não acho que lindo descreva exactamente o que senti ao lê-lo. É verdadeiro. O pedaço que aqui pões é como um buraco de fechadura dá para espreitar, mas não para ver tudo. Tudo, faz um sentido diferente.
elora, o defeito dos bocadinhos de texto é mesmo esse: só dão para espreitar. :)
Pior do que a Helena era o António Variações que só queria estar onde não estava. Volta e meia, entendo-o. Mas também entendo a Helena de que falas... é tudo uma questão de ausência.
Gostei:))
obrigado, tangerininha. :)
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