1.30.2011

respostas a perguntas inexistentes (122)

O Amor e o Capitalismo
dos pequenos aos grandes prazeres

Não aceito que se fale dos pequenos prazeres da vida quando se fala de Amor. O adjectivo "pequeno" devia estar proibido por lei, nesse contexto, de qualificar a palavra "prazer". É por causa dele que todos achamos que um passeio ao domingo junto ao mar com quem mais amamos, um jantar na sua companhia ou um copo de vinho ao fim da noite são pequenos prazeres. Não são. São grandes prazeres, talvez os maiores. Mas, por causa dessa mania de lhes chamar pequenos, acabamos por não lhes dar o devido valor. Sorrimos um pouco, como quem sorri porque está aproveitar um pouco do que a vida lhe pode dar, e nem percebemos que estamos a aproveitar muito.
Chamar pequeno a um prazer de Amor é chamar pequenos a nós mesmos. É estar lá sem de facto estar, como se o Amor não fosse mais do que uma boleia que apanhamos de alguém. Talvez a culpa seja do capitalismo, esse monstro chantagista que passa os dias a ameaçar-nos de fome e sede, e nos faz pensar apenas num emprego, numa fonte de rendimento que nos permita aguentar a sôfrega maratona da vida. Mas a vida não devia ser só essa maratona que percorremos desde o nascimento até à morte. Devia ser um imenso prazer.
Se não acabarmos com o capitalismo será ele a acabar connosco. Qualquer dia só nos podemos apaixonar se tivermos crédito no banco para isso, porque é para aí que esta merda tende. Sem nos apercebermos já temos que pagar por recursos naturais que deviam ser de todos, e ainda por cima achamos isso normal. Pagamos pela água, por exemplo, que quem não pode pagar também não pode ter. Qualquer dia é assim com o Amor, e só nos poderemos apaixonar mediante comprovativo do banco. Até lá, ou até invertermos esta forma legal de roubar a vida de cada um, que se chama capitalismo, chamemos aos prazeres isso mesmo: Prazeres. Sem o "pequeno" atrás.

38 comentários:

Sofia disse...

Tem toda a lógica este texto.
Adorei!

Ivar C disse...

sofia, :)

M&M Girls disse...

Cada vez que escreves assim recordo-me da razão pelo qual venho cá todos os dias, tens toda a razão! vou-te referir no meu blog se me dás licença ;)

Lilith disse...

Não concordo com essa da água (nós não pagamos a água, pagamos o serviço de levar a água através da canalização, até nossa casa, limpa e tratada, mas qualquer pessoa pode ir a uma nascente encher garrafões, embora nem toda a gente tenha esses recursos por perto), mas compreendo-te nisso do capitalismo.

De vez em quando tenho discussões acesas com a minha mãe porque quero fazer da minha carreira a realização de um sonho, porque quero fazer aquilo que me faz feliz. Estou a tirar um curso superior que nada tem a ver com o que quero fazer, como plano B, e para trabalhar pouco tempo nesta área, ganhar uns trocos enquanto invisto naquilo que realmente quero fazer. O objectivo é deixar essa área assim que encontrar um emprego que me faça feliz e com o qual consiga sobreviver, mesmo não ganhando muito dinheiro. Ela acha que eu terei uma vida medíocre. Acha bem que eu siga o meu sonho mas ao mesmo tempo quer que eu ganhe muito dinheiro, coisa que não acredita que vá acontecer com o tipo de emprego que me faria feliz.

É desconcertante, ter de acreditar e batalhar e lutar sozinha, sem ninguém para me apoiar, quando até a minha mãe parece querer apontar-me na direcção errada.

Malena disse...

Absolutamente de acordo! Ou é prazer ou não é! :))

Sérgio Fangueiro disse...

Concordo.
Mas podemos sempre ter prazeres, sem o nosso amor-alguém que o seja-como por exemplo um amigo ou uma amiga.
São sempre prazeres de vida......

Ivar C disse...

M&M girls, obrigado. eu agradeço... :)

lilith, ainda bem que tocas nesse assunto. assim posso clarificar esse erro, que provavelmente foi alguém do PSD que te disse.
tu pagas a água, e a distribuição dela, ou seja a rede de água em Portugal, foi construída tostão a tostão com o dinheiro dos contribuintes, por isso é que devia continuar a ser pública. E sim, acho que o dinheiro dos contribuintes devia servir para a sua manutenção, mas o que aconteceu em Portugal foi que se privatizou ou semi privatizou a rede de água, e agora há privados a ganhar dinheiro a vender-te água (vê bem a factura e vem lá o que tu consomes) através duma logística que nós próprios pagámos. :)

malena, mainada! :)

sérgio, tens toda a razão. :)

Ed disse...

é assim mesmo... no amor querem-se revolucionários, sonhadores, idealistas e utópicos. Para o amor não há fronteiras nem limitações, menos do que tudo é pouco... e se ao cabo não resultou, resta-nos o consolo de ter lutado por algo em que acreditamos sinceramente e a experiência e ambição para que da próxima nos possamos superar

Ivar C disse...

ed, eu recuso-me a chamar utopia ao fim do capitalismo e um mundo melhor. Sonhador e idealista talvez, sim. Utópico não. :)

Ed disse...

sim claro, e eu também... acho é que só não nos entendemos no sentido da palavra utopia. Para mim os ideais têm que ser inevitavelmente utópicos, no sentido em que por muito que se avance nessa direcção haverá sempre margem para melhorar e progredir um bocadinho mais. Quando adjectivo algo como utópico não estou a tentar pôr-lhe limites, antes pelo contrário. Nas relações é o mesmo, há sempre margem, e tem de haver sempre vontade, em progredir... e isto é tudo muito bonito, mas com elas, que é o que importa, este peixe não vende :D

Ivar C disse...

ed, nessa perspectiva eu já compro. :)

Helena disse...

É um prazer (grande) lê-lo. :)

Obrigada por nos proporcionar este prazer, de nos fazer reflectir sobre os pequenos grandes momentos da vida.

Anónimo disse...

Meu querido bagaco.
O Amor paga se sim.
Há muita gente que não pode amar por falta de fundos.
Tantos casamentos coexistem apenas por razões financeiras e tanta gente vive na solidão por não poder pagar pela companhia.
Ainda ontem a varanda da minha casa enquanto fumava um cigarro ( sim eu fumo!!!) ouvia duas senhoras na seguinte conversa:

-" Sinto me muito sozinha, mas não podíamos ficar juntos, perdeu o emprego e eu não estou em condicões para pagar tudo sozinha..."
-" sim...entendo..."
-"É a vida..."

Beijo x
P.S.

Ivar C disse...

maria, eu é que agradeço. mesmo... :)

anónima, isso não é a vida. é o sistema económico em que vivemos. a vida é outra coisa. :)

Anónimo disse...

Vou ter que arranjar tempo para pensar sobre isto, aparentemente este Amor está muito à esquerda ;)

Ivar C disse...

anónimo, não te preocupes. a esquerda é a normalidade de quem ama. :)

Rana disse...

Sem dúvida que são "Grandes Prazeres". Se lhe chamamos pequenos, onde estão os grandes?!
No dinheiro? Só no dinheiro? Será que para sentirmos a real grandeza de um grande prazer,tem de nos acontecer algo de mal,ou de mau,na nossa vida? Ou talvez, por sermos portugueses e o nosso país ser pequeno,pensamos pequeno? Ou porque também, ao longo da nossa vida,fomos ouvindo as palavras "pouco,pequeno",será que temos de nos conformar com pouco?Somos o que a vida fez de nós ou somos responsáveis pela vida que temos? O AMOR sim, esse é grande; é uma das coisas mais importantes da vida, pelo menos para mim.Viva o
amor,viva a vida!Viver é o que nos realiza,o que nos faz continuar a querer mais e melhor.

Ivar C disse...

rana, pensamos pequeno, sim. por isso é que votamos pequeno. :)

Fatyly disse...

Uma comparação um pouco, como direi...radical demais, ou seja o capitalismo como todas as outras vertentes políticas têm o lado bom e mau, grande e pequeno, tal como o Amor que é construido por pequenas coisas e grandes coisas, que cada um dá o valor que merece.

Como sou de um país de "vistas largas" sempre valorizei em alta os grandes prazeres do Amor.

Quanto ao capitalismo, pois é meu amigo o que todos os dias ouvimos é a maior corrupção/erro de contas/prejuízo nas empresas público-privadas, onde o Estado é o maior accionista e para onde vai o nosso dinheiro? O capitalismo é feito de empresas privadas e se abrires uma empresa é para dar lucro ou prejuízo?
Culpar o capitalismo de todo o estado actual da Nação...não vou por aí, mas o político és tu e não eu...e faço minhas as tuas palavras " até votamos pequeno" porque temos medo da mudança!!!! Temos? Pois...jamais votaria em Cavaco e muito menos em Alegre e quais foram os partidos que os apoiaram? até nisso tudo foi pequeno demais...

Não sei se me fiz entender!

Ivar C disse...

fatyly, a palavra "radical" usa-se de forma inadequada ao socialismo, apenas porque este não é o poder vigente. e não, o capitalismo não tem nada de positivo, nem socialmente (porque só é sustentável através da exploração do Homem pelo Homem), nem ambientalmente (está à vista, aliás) nem em nenhum outro aspecto. Diz-me só um lado positivo do capitalismo, na tua opinião, e eu garanto-te que te consigo contradizer. Aliás, as parcerias público-privadas foram inventadas pelos capitalistas e não são mais do que um forma mais rápida do capitalismo conseguir os seus intentos, já que nelas, o lucro é para o privado e o prejuízo para a parte pública. :)

Fio d'Ouro disse...

"Qualquer dia é assim com o Amor, e só nos poderemos apaixonar mediante comprovativo do banco."

Qualquer dia, dou por mim a falsificar papeis do banco, a amar fora da lei!

Ivar C disse...

blueblood, boa ideia. :)

Anónimo disse...

E será que não é mesmo assim? Sem dinheiro não há amor que aguente. Infelizmente essa é a mais pura das verdades. Não existe "amor e uma cabana".

Ivar C disse...

firehead, é um pouco assim, sim. principalmente porque há cisas essenciais da vida que não podes ter sem dinheiro, e isso aniquila a tua vida. :)

Pompi disse...

É um prazer espreitar-te diariamente (salvo seja!) :)

Ivar C disse...

pompi, obrigado. :)

Alexandra disse...

Acho que não conseguia acrescentar nada de inteligente por mais que tentasse. O texto está brilhante, e concordo com todos os comentários que aqui fizeste. É um pouco a minha luta diária - tentar abstrair-me daquilo que a sociedade me tenta "vender" (em termos abstractos e concretos) e aproveitar todos os prazeres da vida:)
Partilho da tua utopia, no sentido em que o Ed a descreveu.

Ivar C disse...

alexandra, obrigado por seres alguém que percebe isto. :)

Alexandra disse...

Bagaço, obrigada eu por seres alguém capaz de expressar o isto que eu penso e sinto;)

Ivar C disse...

alexandra, :)

Anónimo disse...

Pegando no que disse ali o Ed... pode afirmar-se então que tudo o que não tem a margem de progresso e melhoria pode chamar-se de utópico, certo? Parece-me a mim que isso é que é utópico, dizer que algo não tem margem de melhoria e progresso. Ou então pode-se apontar que, desse modo, só a merda é que não é utópica; se não pode melhorar, ou é porque é perfeito ou é porque não presta; sendo que nada é perfeito...

Ivar C disse...

cármen, não foi essa a minha interpretação do que disse o ed. :)

Anónimo disse...

Indiquem-me, então outra interpretação daquela definição.

Ivar C disse...

cármen, ele diz precisamente o contrário: "os ideais têm que ser inevitavelmente utópicos, no sentido em que por muito que se avance nessa direcção haverá sempre margem para melhorar e progredir um bocadinho mais" :)

Anónimo disse...

Eu isso entendi. O que quero dizer é que tudo o que não tem margem de progresso e melhoria não presta, dado que é impossível alcançar a perfeição. Há sempre alguma coisa a melhorar. Quando não há, é porque não presta.

Ivar C disse...

cármen, exacto. :)

Anónimo disse...

Então... alguma coisa está mal, porque não bate certo. Se tudo o que não tem margem de progresso e melhoria não presta e o que é utópico é tudo o que tem margem de progresso e melhoria... podemos dizer que tudo o que não é utópico não presta? Não, pá. Não na minha opinião. É que, pelo menos para mim, utópico é aquilo que deseja alcançar o máximo de perfeição e acredita mesmo que isto seja possível. É um paradoxo meu, curioso. Eu defendo o bem e a justiça e acho que deveria ser maravilhoso alcançar o bem e a justiça no auge da perfeição... isso é pensar utopicamente. Mas se me perguntarem se acredito que é possível fazê-lo, digo prontamente que não. Então, para que continuo a lutar por um ideal tão utópico? Porque a margem de progresso é tão mais inferior quanto mais inferior é o ideal. Não desespero por não ser possível atingir a perfeição, mas admiro algo tanto mais quanto melhor for. Porque o que interessa, acima de tudo, é, dentro dos possíveis, ser e dar o melhor de nós próprios. E a única forma, a meu ver, de conseguir fazê-lo é lutar como se não houvessem impossíveis.

Ivar C disse...

cármen, não acho. o que eu acho é que a utopia, só por si, não existe porque não a podemos provar, mas há quem chame utopia à evolução em que não acredita. :)