5.11.2010

eu amo-te

Há um primeiro dia em que falamos de amor. Antes desse dia somos sempre felizes, a partir desse dia somos felizes às vezes e outras nem por isso. Esse dia tem uma enorme importância no nosso crescimento, principalmente nos nossos processos cognitivos. Até esse dia achamos que o Sol nasce todos os dias para acordarmos e põe-se todos os dias para podermos dormir. A partir desse dia achamos estanho que ele continue a nascer e a pôr-se apesar de nós falarmos de amor. É que de repente deixámos de ter vontade de acordar e de adormecer. O amor é, portanto, o primeiro passo que nos afasta do egocentrismo.

Depois há uma escola, aquela em aprendemos tudo à nossa própria custa ou então, se calhar, nunca chegamos a aprender quase nada. Vamos aprendendo o que conseguimos e pronto. Primeiro a dar as mãos, depois a tocar os lábios no que um dia virá a ser um beijo, depois a trocar de pele no que um dia virá a ser sexo. Por fim, depois desses dias todos e de o termos dito já várias vezes, aprendemos finalmente a dizer "eu amo-te". A dizê-lo mesmo, sem ser só da boca para fora. É o primeiro dia em que dizemos realmente "eu amo-te". Antes desse dia somos felizes às vezes e outras nem por isso, a partir desse dia somos muito felizes às vezes e muito tristes outras.

Dizer "eu amo-te" é assim muitas vezes uma falácia. Eu, pelo menos, já o disse mentindo muitas vezes. Não mentindo a mais ninguém do que a mim mesmo, e que me lembre só não menti duas vezes. Estava aqui a pensar que talvez seja esse mais um degrau importante na nossa aprendizagem: aprender a não dizer "eu amo-te". É que há um dia em que aprendemos a não dizer "eu amo-te". Antes desse dia somos muito felizes às vezes e muito tristes outras, depois desse dias somos mais vezes felizes e menos vezes tristes. Acho eu...

25 comentários:

Ana, Dona do Café disse...

de derreter.
nem consigo dizer mais nada, ia estragar esse efeito todo.
A*

Ivar C disse...

ana, dona do café, :)

Miss Kin disse...

Será que nesse dia somos mais vezes felizes e menos vezes tristes, porque é dito sem se dizer?

Anónimo disse...

Já aompanho o teu blog a algum tempo, nunca comentei.
Hoje sim. :)
Gostei. Muito.
Um beijo.

Anónimo disse...

Cheguei agora, tenho que ler isto com mais calma, assim a 1.parece me interessante.
Beijo x
P.S.

Anónimo disse...

quanto ao texto é lindo, fiquei mais feliz depois de o ler.
Só tenho pena que em algumas relações actuais se inverta a ordem em: "dar as mãos, depois a tocar os lábios no que um dia virá a ser um beijo, depois a trocar de pele no que um dia virá a ser sexo."
obg:)

D.T.

Su m disse...

... como é óbvio menti em cima... já o disse milhentas vezes... mas só uma pessoa ou ouviu.

Su m disse...

Sabes, não sei se é por ser mulher e uma romântica incurável, mas desde cedo aprendi,ou melhor interiorizei a importância de dizer "eu amo-te" só quando realmente isso significasse tudo para mim... até hoje só o disse uma vez...

Tanyloving disse...

;D Não mudava nada

Ela que veio da espuma do mar... disse...

O problema começa quando o feitiço se vira contra o feiticeiro e a pessoa fica com pânico de pronunciar essa palavra.

Anónimo disse...

Já li com muita atencão.
São as letras de alguém que já chegou.

Beijo x
P.S.

Olga disse...

Devia era ter ficado a dormir no meu "primeiro dia"! ;)

Paula Raposo disse...

Também me parece...

Fatyly disse...

também eu e mais palavras perderia o encanto do teu pensamento! Parabéns!

Ivar C disse...

miss kin, é uma das formas de o fazer, sim. :)

anónimo, obrigado. :)

anónima, :)

d.t., esse trocar da ordem não tem ser obrigatoriamente mau... obrigado. :)

su (Glamour In Stiletttos), eu percebi, esse só uma vez é o meu também. :)

tanyloving, :)

ela que veio da espuma do mar... isso não pode acontecer, pois não? :)

paula raposo, :)

olga, :)

fatyly, obrigado. :)

Anónimo disse...

É lindo saber dizer "eu amo-te" com o coração!

Malena disse...

Vou fazer uam afirmação muito importante: Eu amo o teu blogue!

Pazotolamic disse...

http://www.youtube.com/watch?v=Bfx7izBNHeI

Malena disse...

Como é difícil dizer alguma coisa depois de ler este texto tão bonito e verdadeiro, "linkei-o" no meu canto para que outros possam vir espreitá-lo! :)))

Ivar C disse...

amoreca, :)

joão, lembro-me. :)

malena, ena... obrigado. a sério. :)

Anónimo disse...

De facto o Amor verdadeiro (não bipolar) afasta-nos do egocentrismo, não por nos egocentrarmos na outra pessoa mas sim porque em prol do crescimento, tomamos uma maior consciência de nós próprios (depois do efeito eufórico egoico-emocional inicial)e em consequência, uma capacidade mais realista de aceitar o outro como é.
Se o barómetro da Felicidade varia é porque há uma distorção entre o momento que se vive e o outro momento imaginário, que paira na nossa mente e que é parte do nosso passado não resolvido ou que questionamos acerca do que poderá ou não ser o futuro. E é por isto talvez, creio eu, que a conclusão desta crónica faça todo o sentido, quando deixamos de sentir necessidade de nos justificarmos, quando a Felicidade já não a(varia) e permanece no viver este exacto momento, onde o Amor existe sempre, mesmo no silêncio do "Eu amo-te".
Tenho acompanhado este blog, hoje também decidi dar a minha primeira participação. Agradeço a partilha dos escritos, que nos faz ter uma viagem mais consciente do nosso quotidiano.

Pintas disse...

completamente...

Ivar C disse...

feiticeiro, obrigado. pelas palavras e pela presença. um blogue é sempre a visão duma única pessoa, por isso deve ser visto numa perspectiva probabilista e não determinista. e sim... eu entendo-te... :)

pintas, :)

BETE DO INTERCAMBIANDO disse...

HÁ MUITO TEMPO NÃO LEIO UM TEXTO TÃO IMPRESSIONANTEMENTE BEM ESCRITO E PROFUNDO. FELIZMENTE JÁ ESTOU VIVENDO A PARTE FINAL DELE: JÁ NÃO DIGO EU TE AMO, MAS SINTO-ME PLENAMENTE FELIZ.
PARABÉNS PELO ENTENDIMENTO DA ALMA HUMANA

Ivar C disse...

bete do intercambiando, obrigado. :)