9.16.2008

portuguesa bonita

Esta capa do single vinil do José Cid, Portuguesa Bonita, faz parte da minha infância. Fartei-me de ouvir esta música que dizia que as portuguesas eram as mulheres mais bonitas no mundo e, na minha inocência de criança, acreditei nela. Durante alguns anos foi assim. Para mim as mulheres portuguesas eram as mais bonitas do mundo e pronto.
A primeira vez que desconfiei que alguma coisa estava errada, foi quando fui comprar dez escudos de chicletes a uma taberna relativamente perto da minha casa. Do outro lado do balcão, uma mulher que se assoava a um lenço que já estava tingido pelo ranho duma húmida constipação com mais de uma semana, trilhou-o numa saia apertada para me atender. Olhei para cima e, para além dum bigode de fazer roer de inveja o Hitler, coçava constantemente os cabelos sebosos com umas unhas da cor das batatas que vendia. Nesses sacos de batatas semi-abertos, sentavam-se sempre alguns homens que às três da tarde já estavam podres de bêbados e lhe iam pedindo para se despir. Sempre sem efeito, felizmente, pelo menos comigo dentro do estabelecimento. Nesse dia, enquanto desembrulhava a primeira chiclete Pirata, fiz a primeira ligação mental à música do Cid. Ei! Esta mulher não pode ser portuguesa, pensei eu.
Pior foi uns dias depois, quando vi uma loira na televisão a cantar com mais uns tipos e me apaixonei imediatamente por ela. Claro que uma mulher bonita assim só podia ser portuguesa, pelo menos segundo a música que eu ouvi tantas vezes. Perguntei ao meu tio, que estava sentado no sofá também concentrado no ecrã da televisão, porque é que uma portuguesa estava a cantar em estrangeiro. Que não era portuguesa, disse-me ele. Era sueca e fazia parte dum grupo que se chamava Abba. Foi a decepção total.
De qualquer maneira a desilusão maior ainda estava para vir. Um dia, na Feira de Março em Aveiro, fui visitar uma daquelas barracas que exibiam coisas como "o homem mais peludo do mundo", "a mulher com barba" ou "a mulher girafa". Essa barraca, aliás, exibia a mulher-aranha. Era uma aranha enorme e peluda, com umas garras ameaçadoras e com cabeça de mulher. Claro que aquilo não passava de um fato carnavalesco mas, uma criança que acredita que as portuguesas são as mulheres mais bonitas do mundo, acredita também numa mulher-aranha destas. Para meu espanto, quando um senhor com um fato vermelho e uma gravata amarela começou a apontar um microfone para o público poder fazer perguntas, descobri que ela falava... português. Ainda levantei o braço, como na escola, para pedir a palavra, e perguntei-lhe se ela era mesmo deste país. As pessoas riram-se quando ouviram a pergunta mas eu, desiludido com a resposta, limitei-me a pensar num dos factos da minha infância: o José Cid enganou-me.

9 comentários:

SP disse...

Como eu me lembro das chicletes pirata...:)

E nem me fales do José Cid que só me vèm à cabeça a imagem dele todo nu com o disco à frente... (Essa foto é mesmo ele?)

Olga disse...

A minha mãe proibiu-me de ver o José Cid quando ele apareceu nas revistas todo nu só com um disco a tapar a zona central!! ;)

Calor Humano disse...

Muito bom, muito muito bom. Parabéns.

redonda disse...

Como é que é mesmo? A Agneta não é portuguesa e a mulher da taberna e a do circo são?!!!!
Talvez o José Cid estivesse a pensar na beleza interior.

Ivar C disse...

deusaminervae, essa foto é mesmo dele, sim... foi em protesto com as "boys band" que a tirou.:)

olga, nessa fase já eu tinha tirado um mestrado em José Cid.

o homem da terra, obrigado. :)

redonda, só não fiquei traumatizado para avida toda porque conheço mais portuguesas. Não acredito é que ele estivesse a falar de beleza interior. :)

IMP disse...

"Como o macaco gosta de banana" o amigo bagaco gosta de mulheres do Porto (facto observado em post anterior) :D :D!

Ivar C disse...

imp, bam dito, até porque é verdade. :)

Lu Pisarro disse...

Beleza realmente é uma coisa que falta aos portugueses... homens e mulheres (com exceções é claro)
Sou filha de pai portugues e mãe brasileira e percebi mais este pormenor quando demorei mais aqui...
A propósito ! Namoro um querido portugues...

Ivar C disse...

lu pisarro, lol. Somos todos feios e feias... e eu passo a vida a apaixonar-me por feias. :)