respostas a perguntas inexistentes (162)
a insustentável palavra Amor
Márcia não gosta da insustentável palavra Amor, por isso foge dela abanando os ombros. Foi a vida que lhe ensinou que um abanar de ombros enxota a palavra Amor da mesma forma que o rabo duma vaca enxota as moscas. Elas afastam-se num voo errante, mas mal o rabo do ruminante acalma voltam a pousar nele como se não fosse nada. É o que faz António quando os ombros dela param. Torna-lhe a dizer que a Ama.
Márcia não gosta da insustentável palavra Amor por ser uma ilha, e enquanto António insiste no verbo Amar ela sente-se cada vez mais só, como se um mar imenso a cercasse até à linha do horizonte. Preferia que ele lhe sorrisse, a convidasse para sair daquele bar inundado de pessoas que apenas parecem felizes, a levasse a um lugar só deles e arriscasse dar-lhe a mão, depois um beijo e por fim um abraço. Podia ser na praia, por exemplo, mas António não sabe isso. Insiste que a Ama sem um contacto físico que sustente a palavra Amor.
A impaciência bate na desesperança dela como uma bola de ping pong. Desde que se conheceram, há mais ou menos duas semanas, que tem sido assim. Ele quer levá-la para a cama e não consegue porque pensa que precisa de um bilhete de entrada. Pior, pensa que a palavra Amor é essa entrada. Não é. Nunca é. Ela queria que ele fosse entrando devagar, como quem chega a uma casa estranha, limpasse os pés no tapete, pedisse licença para entrar e depois se sentasse no sofá da sala. Talvez ela lhe servisse uma bebida.
Márcia não gosta da insustentável palavra Amor, por isso foge dela abanando os ombros. Foi a vida que lhe ensinou que um abanar de ombros enxota a palavra Amor da mesma forma que o rabo duma vaca enxota as moscas. Elas afastam-se num voo errante, mas mal o rabo do ruminante acalma voltam a pousar nele como se não fosse nada. É o que faz António quando os ombros dela param. Torna-lhe a dizer que a Ama.
Márcia não gosta da insustentável palavra Amor por ser uma ilha, e enquanto António insiste no verbo Amar ela sente-se cada vez mais só, como se um mar imenso a cercasse até à linha do horizonte. Preferia que ele lhe sorrisse, a convidasse para sair daquele bar inundado de pessoas que apenas parecem felizes, a levasse a um lugar só deles e arriscasse dar-lhe a mão, depois um beijo e por fim um abraço. Podia ser na praia, por exemplo, mas António não sabe isso. Insiste que a Ama sem um contacto físico que sustente a palavra Amor.
A impaciência bate na desesperança dela como uma bola de ping pong. Desde que se conheceram, há mais ou menos duas semanas, que tem sido assim. Ele quer levá-la para a cama e não consegue porque pensa que precisa de um bilhete de entrada. Pior, pensa que a palavra Amor é essa entrada. Não é. Nunca é. Ela queria que ele fosse entrando devagar, como quem chega a uma casa estranha, limpasse os pés no tapete, pedisse licença para entrar e depois se sentasse no sofá da sala. Talvez ela lhe servisse uma bebida.
28 comentários:
Ás vezes é tão simples, nós é que complicamos...
Mais um dos textos que gostei bastante. Parabéns:)
DM
dm, obrigado. :)
...estás cada vez mais perto de realmente compreender as mulheres...
sendyourlove, até me assustei. :)
Tanta Márcia e tanto António que por aí andam tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Falta de comunicação ou de coragem...sei lá.
olga, acho que é falta de conforto... acho... :)
Pronto, todos os gajos (e muita gaja também, admito) deviam ler este texto! É isto mesmo! Há 20 anos atrás eu derretia-me quando me diziam "amo-te", depois a vida foi-me ensinando que a palavra por si só não vale nada, é inclusivamente traiçoeira e dita a, maioria das vezes, da boca para fora e com segundas intenções. Contam os gestos de afecto. Contam as pequeninas coisas que nos vão conquistando a pouco e pouco...
O meu nome é Carla mas podia muito bem ser Márcia :)
(Carla de Sever do Vouga)
é horrivel, e frustrante sabermos que tantas vezes algo de muito bom nos escapa assim com essa facilidade ridicula... so porque nao soubemos corresponder ou adivinhar...
Gostei muito, Bagaco!
carla, é isso mesmo sim. a palavra, só por si, não vale nada. :)
briseis, yep... crescer é bom. :)
É genialmente fantástico como já por várias vezes li textos aqui e pensei: "este tipo consegue escrever aquilo que tantas vezes pensamos e raramente conseguimos por em palavras"
Gosto especialmente deste... ando há algum tempo a tentar explicar ao meu namorado que dizer "Amo-te" não resolve tudo.. que muitas vezes não resolve mesmo nada! Ele pensa que faz uma grande coisa ao dizer isso e não entende que coisas muito mais pequenas e simples, são de facto muito mais importantes. Vou ler-lhe o teu texto...
keep on writing;)
pode-se amar sem contacto físico, é verdade, e é muito enriquecedor e muito belo!
Mas é só para alguns.
acho que o problema é mesmo não nos conseguirmos compreender uns aos outros e pensarmos que uma palavra muda tudo.
mais uma vez, gostei muito :)
houten, obrigado. :)
anónimo, o contacto físico é enriquecedor e bonito também. obrigado. :)
c, obrigado. :)
Adorei, é tão bonito saber que existem homens que querem ficar perto, segurar na mão, adivinhar o que queremos, a mulher pode dar uma ajudinha, né...
Abraços, escreves muito bem. Visita-me também, sou Mry do Rio de Janeiro.
mery, obrigado. vou visitar, sim... :)
É muito romântica esta Márcia.
CR
cr, :)
É devagar, devagar, devagar , devagar devagarinho...já dizia o Martinho da Vila! Achas que ela lhe serviria um bagaço ;)?
Poquê que ela não lhe diz isso!!? Porque que guarda isso para ela!!?
As vezes basta um click.
O meu ex-namorado também achava que resolvia discussões apenas dizendo "amo-te" e fazendo cara de cachorrinho abandonado. E por muito que me apetecesse ceder nesse momento (e cedi, muitas vezes)nunca o consegui fazer entender que devia dizer isso na altura certa, que "amo-te" não é um passe para fora da discussão. Pelos vistos, parece que é recorrente nos homens banalizar essa palavra, não sei bem porquê...
Mais um texto que adorei!
helena, lol. :)
cota, acho que há coisas que têm que ser por iniciativa própria, senão perdem valor. deve ser isso. :)
turtle, porque se convencem que ela resolve tudo. :)
ana luisa, obrigado. :)
gi, obrigado. :)
porque é que ela não o leva para a cama a ele?
Daniela
a minha pergunta anterior, talvés seja a mesma de "cota", feita de outra forma. lendo a tua resposta a "cota" surge-me outra pergunta: têm mesmo de ser os homens a tomar este tipo de iniciativas?
Daniela
daniela, não têm, não... ou pelo menos não devia. :)
Eu já aprendi e agora costumo dizer para mim mesmo "Não é por eu dizer que tu o sentes, tens de o sentir mesmo."
Contacto físico é muito importante e leva-me a pensar no velho mote "Um gesto vale mais que mil palavras"
Abraços
joão f, yep... aprende-se com a vida. :)
Tal e qual! Gostei muito!
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