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Parar
Aprender a parar quando se está andar depressa demais para lugar nenhum é uma coisa que vem com o tempo. A mim, para além do tempo, foi uma mulher que mo ensinou. Foi por isso que nunca mais me esqueci dela.
Um dia pôs a mão dela no meu peito e disse-me para parar.
- Pára!
Estava simplesmente a fazer o jantar para os dois, depois de um dia em casa a ver filmes ao lado dela. Tinha descascado umas batatas para cozer e descongelado umas postas de pescada. Estava a cortar cebola e salsa para fazer o molho verde quando ela me perguntou o que é que eu estava a fazer.
- O jantar, claro.
- Eu não tenho fome. Tu tens? - disse ela.
- Não tenho, mas são horas de jantar.
Senti imediatamente o quão ridículo era o que eu tinha acabado de dizer. Estava escravo do relógio e fazia o jantar da mesma forma que andava apressadamente nas ruas sem ter para onde ir, para fingir que tinha tudo quando não tinha nada. Neste caso não a tinha a ela.
Nunca a tive, de facto, mas foi ela que me ensinou a parar.
12 comentários:
Parar é preciso e todo o ser humano tem essa necessidade e quando não atingimos "o quão é necessário" o corpo dá sinais de paragem obrigatória.
Gostei...mas inclinei-me mais para a "escravatura de rotinas".
fatyly, a escravatura das rotinas é transversal à sociedade, de facto, e é tão difícil escapar-lhe... :)
Mais um texto que gostei.
este "tocou cá dentro!.
é mesmo isso... apressados para não sentir o vazio!
obrigada :)
M.
Realmente nós mulheres temos mesmo o poder de marcar com apenas gestos. Os homens também, mas regra geral sao sempre mais parcos em afectos o que nos leva a procurar insistentemente aquele q nao o será e normalmente da sempre coco.
gosto:) e não que é verdade? tudo tem que ter regra e hora...até que um dia paramos...e começamos a viver...
Com toda a minha retórica é extremamente curioso o quão sou ritualístico, ano após ano acordo à mesma hora, fumo a mesma marca da tabaco, na mesma ordem ao longo do dia, tomo café nos mesmos sítios dependendo da hora do dia, leio o mesmo jornal, almoço no mesmo sitio, e janto à mesma hora,
curioso,
se não o faço pareço um cão com raiva com o humor de uma javalina prenha,
tão curioso,
cumprimentos,
JD
Parece que nunca temos ninguém de verdade
M, eu é que agradeço a presença. :)
eva maria, lol!sempre coco... :)
dm, é por aí, sim. :)
james dillon, mas é mesmo isso. acabamos por ser escravos e precisar daquilo de que nos queremos soltar. :)
anónimo, às vezes. :)
muito bom como sempre. :)
anónimo, obrigado. :)
Saber parar é tão necessário quanto é andar e correr. Às vezes (cada vez mais) apetece-me tirar a pilha ao relógio e deixar-me reger apenas por mim, pelas vontades mais básicas do meu ser. Não sou psiquiatra, mas se fosse, culparia o relógio de grande parte das doenças mentais que existem! :)
storm, se calhar é mesmo... a forma como medimos o tempo. :)
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