2.03.2011

respostas a perguntas inexistentes (125)

das urgências do estar só

A dependência do café não é apenas a dependência do café. É a dependência de fazer qualquer coisinha. Quando somos apanhados sem estar a fazer nada, ficamos desarmados. Não sabemos onde colocar as mãos nem sequer o olhar. Por isso é que quando queremos estar sem fazer nada em público tomamos um cafezinho. É uma forma de fazer qualquer coisa enquanto não fazemos nada. E chamamos-lhe assim, cafezinho, para ver se ninguém lhe dá essa importância.
Aliás, é mais ou menos por esse motivo que caminhamos depressa na rua quando não temos para onde ir, ou nos pomos a ler panfletos publicitários que não nos interessam nada no autocarro de manhã. Não nos damos bem quando somos apanhados sem um objectivo imediato, e por isso arranjamos um. É uma urgência.
Essa urgência desaparece quando estamos acompanhados. Com alguém ao lado podemo-nos sentar ao balcão de um café sem pedir nada, enquanto esse alguém lancha a meio da tarde. Com alguém ao lado passeamo-nos nas ruas à lenta velocidade das sombras e seguimos no autocarro ou no comboio envoltos num cobertor de quietude. Ter alguém ao lado acaba com as falsas urgências do estar só.
É que ter alguém ao lado é como mudar de mundo. Deixámos de nos preocupar com o primeiro, aquele em que estranhos nos olham enquanto não fazemos nada e por isso ficamos desajeitados, e aterrámos noutro, aquele alguém ao nosso lado. Só isso. E é para aí que tende o Amor, querer aterrar em alguém definitivamente para não nos preocuparmos com o resto.

33 comentários:

Espiral disse...

Concordo em absoluto. É por isso que é muito confortável fumar. É uma bengala social fantástica. (Eu que não fumo já senti isso em muitas situações).


Fora isso, já aprendi a andar na rua com calma a apreciar e a estar num café só porque sim. É bom, é libertador. =) E sou feliz assim.

Ivar C disse...

espiral, exacto... isso é um progresso na nossa vida. :)

Helena disse...

A urgência do café (para quem gosta) é igual à urgência do AMOR! :)

Carla R. disse...

Ora, ora, ora, eu a dizer que sim quase durante o tempo todo e depois cataplaz, a conclusão que mata !
Porquê ? Porquê ?
Porquê não ficar apenas pelo que é, porque extrapolar tudo e meter o amor à baila ?
Não entendo os humanos.

Eli disse...

Olá!

Olha, até certo ponto concordo, mas não sou assim. Eu passeio-me sozinha, ou seja, com a minha companhia, lentamente e aprecio isso mesmo. Não tomo café.

:)

Unknown disse...

É mesmo verdade :)

É caso para dizer que quem bebe uns 6 ou 7 cafés por dia, é capaz de ter uma vida um bocadito parada... ou então só gosta muito de café!

Ivar C disse...

maria, exacto, :)

a mãe que capotou, não sofras por causa disto. a mim é porque me apetece. :)

eli, eu também. mas admito que foi uma conquista. :)

mia, é mais ou menos isso. :)

Anónimo disse...

Eu também gosto de passar tempo comigo mesma e sim, foi uma conquista. Mas se calhar também é esse Amor de que falas. Uma oportunidade de nos perdermos no nosso mundo interior em vez de estarmos constantemente a responder a estímulos externos.

Estudante disse...

É um belo ponto de vista! Já o tinha sentido mas nunca o tinha verbalizado (escrito neste caso) como tu... E hoje em dia os telemóveis também vão servindo para ocupar as mãos... às vezes pergunto-me se todas aquelas pessoas que vejo sozinhas a "teclar" estarão de facto a falar com alguém...

Claudia Martins disse...

Belo texto.. acontece-me isto muitas vezes deve quer dizer alguma coisa, que não apenas o gosto pelo café mas a necessidade de fazer alguma coisa quando não há nada para fazer.
Boa observação.

Já agora, parabéns pelo Blog!

Cláudia
(apetecia-me fazer aspas e colocar no meu blogue)

Anónimo disse...

Olá B!
Li o teu post e ainda antes de chegar ao fim já me tinha lembrado de um mito grego que dizia que os Homens tinham sido criados com duas cabeças, quatro pés e quatro pernas, e eram assim tão poderosos que para lhes limitar esse poder Zeus os separou em dois e os condenou a passarem a vida à procura da sua outra metade.
Gostei da conclusão. Sem amar andamos à deriva, a marcar o passo dos segundos na urgência se sentirmos que existimos.
:)
Beijos
M

Ivar C disse...

anónimo, muito bem concluído. :)

estudante, isso mesmo. por acaso também falei disso há dias. :)

claudia martins, por mim estás à vontade. e obrigado. :)

Ivar C disse...

m, :)

L.H. disse...

Não bebo café, detesto! Também não bebo bebidas alcoólicas e não fumo. Resumindo e concluindo: sou uma ET! "ET phone home"... ;)

eueuemaiseu disse...

"prontos", lá vou eu roubar-te outra frase... quando te irritar este meu vicio avisa-me q eu páro!

Ivar C disse...

stôra lu, lol. :)

eueuemaiseu, isso é mesmo daquelas coisas que nunca me irritarão. muito pelo contrário. :)

sophie disse...

"E é para aí que tende o Amor, querer aterrar em alguém defintivamente para não nos preocuparmos com o resto."

Muito bom...
Como sempre!

:)

Ivar C disse...

sophie, obrigado. é o que é. não inventei nada. :)

Hildmel disse...

Há uns dias que ando a namorar este blog e penso que acabei por me apaixonar por ele não pela recorrência à palavra amor mas pela verdade que existe em cada frase. Agora o comentário ao post... Sou viciada em liberdade e na independencia. Gosto de viajar sozinha e de me aventurar em jardins numa completa solidão e um profundo diálogo interior sem nunca me sintir só. Mas, a partir do momento que me sento na mesa de um café sozinha sinto o penso da singularidade. Invento o que ler, mexo no telemóvel, leio toda a publicidade que está a mão, engulo o café e não sinto o conforto de estar acompanhada por muito bom que saiba o café. Neste momento penso que para alguém que já atravessou o equador e já morrou em 3 paises diferentes essa sensação é patética. Mas lá no fundo penso que todos sabemos que não é o estar só que incomoda mas muitas vezes a falta de alguém para partilhar o momento ou comentar a frase mais patética do dia ou simplesmente falar do tempo, porque para quem encontrou o amor, mesmo que esteja sentado só numa mesa de café, nunca está verdadeiramente só. Esta apenas a acumular informações para partilhar. A mesa do café é uma analogia de nós mesmos. Tem sempre uma cadeira vazia... Aí está um longo discurso para revelar como apreciei este post e devido as novas tecnologias na próxima vez que estiver num café sozinha vou estar a ler este blog no meu telemóvel, seguramente será uma óptima companhia :)

Ivar C disse...

hildmel, em viagens já me lembrei muitas vezes de quem gosto, por querer partilhar o que via ou ouvia. e tens razão, há uma diferença entre estar só e sentir-se só. :)

AMarguinha disse...

todos nos identificamos, mas reconhecer no momento, parar e olhar nos olhos quem nos olha com ar de aliens, poucos o fazem, também aprendi, também conquistei, o estar sozinha, é uma batalha dificil, mas que também é muito libertadora, hoje em dia já não me constrange, e é com um sorriso que me liberto por vezes sozinha a passear, ou apenas ali a vibrar com o dia e sem receio de encarar os outros ou que me encarem...se quiserem juntar-se e partilhar o momento porque não? mas são poucos os corajosos que conseguem quebrar esse elo da estranheza:)

Ivar C disse...

marguinha, ainda bem que o fizeste. na verdade acho que quem não sabe estar sozinho, só muito dificilmente saberá estar com alguém. :)

Briseis disse...

Beeeeeemm... isto roça o filosófico!
Muito bem! Escrevem-se coisas bonitas por aqui... =) É inegavelmente verdade! Como um simples cafezinho vem sanar um desconforto esmagador...! Será tambem por isso que, quando a ideia é mesmo só apanhar um bocado de ar sem fazer nenhum, o pessoal (mesmo o não-fumador) diz "vou só ali fumar um cigarro e já venho"... =)

Ivar C disse...

b, como eu costumo dizer, é filosofia de pacotilha. mas eu gosto. obrigado. :)

Fatyly disse...

"Quando somos apanhados sem estar a fazer nada, ficamos desarmados. Não sabemos onde colocar as mãos nem sequer o olhar.(...)E é para aí que tende o Amor, querer aterrar em alguém definitivamente para não nos preocuparmos com o resto."
...................
Pois é o mal de muitos(as) que ao sentirem-se desarmados não ocupam nem sequer o pensamento, olhando em redor onde encontrarão "vida" que nos enchem a alma. Raramente me sinto desarmada e acção imediata (não café como desculpa) mas, se for em casa fazer o que está feito:) e na rua...olhar a postura dos outros.

Quanto à "aterragem" pois é...e cadê o aeroporto? loll é que não aterro em aterros nem em locais abandalhados ou garanhões:) percebes? Claro que sim:)

Ivar C disse...

fatyly, percebo. :)

estórias disse...

Acho que consigo perceber o que dizes, mas tive que ler duas vezes :) (burra, pah!)

bem, não sei se concordo com tudo o que escreves e sinto-me bem com isso porque venho aqui colocar uma larachas. eheh

É que apesar de perceber o sentido romântico que queres dar, numa primeira instância pareceu-me "Oh raio! Então parece que tentamos <> um par para não termos que lidar connosco, com as nossas fragilidades..."

a frase "querer aterrar em alguém definitivamente para não nos preocuparmos com o resto." ainda me soa pior... porque parece que acabamos por nos refugir no outro, no tempo que despendemos ao outro e nos esquecemos que também temos que saber lidar connosco..

Será que me faço entender?

No final acho que estou a dizer que muitas vezes nos anulamos, nos colocamos de lado e somos, não o outro, mas algo diferente...


E depois, no final de contas, nem sabemos bem o que somos sem o outro...

Sim, isto até pode parecer muito bonito, mas a meu ver há coisas que não podem ser esquecidas, principalmente o que sentimos sem o outro.

E o que sentimos é o que somos. Para mim.

Mesmo que queiras dizer que com o outro não nos centramos só no nosso mundo, tudo ok, mas acho que devíamos aprender a lidar com os momentos de solidão, em que estamos só nós.

Gostei da forma como falas do café.E do andar rápido. Mas achas que de facto nos importamos assim tanto com o que os outros pensam sobre o que estamos a fazer em determinado local?

Quando não tenho nada que fazer até ando mais devagar..eheh E só peço algo porque não gosto muito de estar num sitio sem consumir. Fica mal :)


Espero comentário :D

Ivar C disse...

estórias, fazes-te entender muito bem. é preciso é não ver isto num espírito tão determinista. :)

Rana disse...

Quando saio é sempre com um objectivo (senão ando à toa e para mim não dá). Mesmo que seja para tomar um café, faço-o com muito prazer, sózinha ou acompanhada. Não me preocupo com o olhar dos outros e o que eles possam pensar. Como gosto muito de ler, tenho sempre companhia (os meus livros). Embora aprecie uma boa companhia, por vezes gosto muito de estar só. É nesses momentos que possso refletir um pouco sobre a minha vida e a dos meus. O aterrar em alguém não me soa lá muito bem, porque estar com alguém, só por estar, não!

Ivar C disse...

rana, nunca se está com alguém só por estar... :)

Miss B-Beautiful disse...

No local de trabalho tb acontece muito isso: não apetece trabalhar? Bora tomar um cafezinho! ;) Eu sei bem. É que o meu gabinete é pegado com a copa!!

Malena disse...

Eu gosto de "aterrar"! Até porque aterrar faz-me querer levantar voo! :))

Ivar C disse...

miss b beautifull, pois... eu tomava uns cinco cafés por dia por causa duma situação parecida. :)

malena, ena! :)