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a volta dos tristes
Quando eu era criança chamavam a "volta dos tristes" àquela que as famílias davam ao domingo à tarde, calcorreando a cidade em pacientes automóveis que nunca ultrapassavam a velocidade média de um caracol. Normalmente, num só carro, viajava uma família inteira e ainda um cão de plástico que abanava hipnoticamente a cabeça de um lado para o outro.
Nunca percebi porque é se chamava triste ao único dia da semana em que as pessoas me pareciam calmas, primeiro porque era nesse dia que os meu pais me compravam invariavelmente um pastel de nata ou uma bola de berlim, mas também porque me parecia que era o único dia em que se tinha tempo e disponibilidade para olhar para as coisas tal como elas eram, fosse uma árvore, uma nuvem, um filme na televisão ou outra coisa qualquer.
Hoje de manhã quase fui atropelado por um carro que se recusou a parar numa das passadeiras da cidade. Fez uma travagem brusca e só parou depois de passar por cima de mim, caso eu não tivesse dado um salto para trás. Olhei para dentro do carro e ia um homem sozinho, com um ar um pouco perdido mas que não me pareceu nada feliz. Triste, pensei eu, é um país que chama triste aos poucos momentos que tem para viver a sério.
32 comentários:
Nunca tinha ouvido essa expressão, por acaso.
Mas realmente, está mal aplicada.
Boa tarde,
tenho seguido o seu blog com alguma atenção, porque acho surpreendente como é que consegue ter tanta conversa "esquisita" com mulheres que dá vontade de rir, pela positiva.
Mas neste post, não podia deixar de comentar. Eu costumo chamar a essas famílias, "os empatas", isto porque nota-se bem que são condutores que só pegam no carro ao fim de semana e por isso não sabem nem conduzir nem desempatar o trânsito que estão a causar. Se querem passear, podem andar a pé ou de bicicleta, não gastam combustível e não empatam ninguém :)
sofia, :)
nelson freitas, eu quase não ando de carro actualmente, por causa do preço da gasolina, do ambiente e da minha saúde. nem sei se há muitos "tristes" a conduzir actualmente... mas continuo a achar que, empatas ou não, tristes mesmo é que não são. :)
concordo parcialmente com o teu post.
tens razão quando dizes que é ao domingo que temos tempo para olhar para as coisas como elas são, e sabe bem pararmos para observar.
o problema é que muitas dessas famílias não observam na volta dos tristes. e quanto a mim ganhou essa denominação porque as pessoas o fazem por obrigação e pelo simples facto de nada mais terem a fazer. o objectivo não é ver as coisas simples da vida, é cumprir uma obrigação para não terem que conviver todos em casa.
isso é que é triste.
du, sim, nessa perspectiva é triste. aliás, é mais triste ainda. :)
Quando eu era criança...além da "volta dos tristes", também era hábito ouvir ao Domingo à tarde o relato futebolistico, diga-se de passagem que era um tédio :(
Hoje em dia...sinto falta desses momentos pq ainda assim, era muito mais Feliz. :)
Essa frase é tão velha e realmente nunca deu para entender, excepto se a volta for sempre a mesma.
Nego-me a sair de carro ao domingo, mas a minha mãe, hoje mais convencida, volta e meia...pimba..."ainda sou da velha guarda, que passear só ao domingo, portanto vem-me buscar às tantas horas".
Numa passadeira só avanço quando o condutor(a) pára mesmo, porque como ando muito a pé já apanhei vários sustos. Como condutora verifico que há peões e peões, fazem-se à passadeira e nem olham, quando não a fazem a correr ou de bicicleta!!!!
A tua última frase é fabulosa, porque este país é cinzentão demais com tantos tristes...
Nossa que narrativa a tua.
Uma aventura no dia!
Mas os domingos tem um jeitinho de calmaria boa para mim.
Abraço.
bonito. :D
maria, quando era puto também ouvia relatos na rádio. agora não consigo... mas a felicidade depende também de nós, não é? :)
fatyly, este país anda cinzentão, sim. :)
isis, se eu dissesse "hoje quase que era atropelado mas acabei por não ser", não tinha piada. :)
celeste, obrigado. :)
gostei gostei
iplagiator, obrigado. :)
Triste, pensei eu também, depois de te ler, é um país que chama triste aos poucos momentos que tem para viver a sério.
Muito bom!
Às vezes, esses carros que andam devagar ao domingo, não são empatas. Os outros, que até podemos ser nós, é que estão sempre cheios de pressa para chegar não sabem onde!
:)
Lá para os meus lados também se usa essa expressão... um almocinho fora e o passeio domingueiro fazem parte da minha infância!! Mas o que guardo verdadeiramente dos Domingos à tarde é a lembrança de um vizinho que ouvia o Bola Branca... era relato de futebol a tarde inteira... aquilo tinha um sem fim de edições!! ;)
(ainda hoje me irritam relatos radiofónicos de futebol!!)
Não sei porque mas tenho,desde sempre, uma relação amor/ódio com as tarde de Domingo... coitado 'ele' que não tem culpa nenhuma!! ;)
Ainda hoje se chama o "passeio dos tristes". Eu acho que as pessoas ficam tristes nos domingos à tarde porque começam a pensar que no outro dia já é segunda-feira, dia de trabalho. Ás vezes também fico melancólica mas já percebi que não vale a pena sofrer por antecipação e o melhor mesmo é aproveitar o que ainda resta do fim de semana.
Sem dúvida que a Felicidade depende de nós :)
Mas há uns pózinhos que não...
sophie, mesmo que sejam empatas pata alguns, isso não é obrigatoriamente mau. :)
blue eyes, eu gosto de dias em que não é suposto fazer nada, embora eu até trabalhe bastantes domingos... :)
olga, nem mais. :)
maria, sim... há uns pozinhos que não. até há uns pozões, às vezes... mas no que toca a nós, há que fazer por isso. :)
Para mim era "a volta dos tristes" quando se ia para o centro do Porto ver montras de lojas fechadas :)
(nessa altura eu não gostava de ver montras nem de lojas abertas :)
triste é a mania de ver tristeza no homem sozinho no carro, que ficou chateado por não ter atropelado o cliente do dia
ah e o passeio dos tristes em Lisboa era a costa da caparica ou outra .....o estoril
no porto provavelmente o castelo do queijo
se o passeio e o pastel de nata por semana continuassem
90% dos alegres portugueses estavam mais magritos
redonda, acabei de me lembrar que vi muitos jogos de futebol em montras de lojas de electrodomésticos. :)
Chamava-se volta dos tristes, porque a volta era sempre igual. Penso que hoje já não é assim. Aprendemos a ver a vida numa perspectiva diferente, para melhor. Saímos de manhã,e regressamos quando os outros vão sair. Assim, vemo-nos livres dos condutores de fim-de–semana.
Na passadeira só avanço quando o carro pára.Fora da passadeira o cuidado é redobrado.
As pessoas são mais pessimistas do que tristes. Não vêm o lado positivo e assim não tiram partido daquilo que a vida tem de bom.
raisuna adimar, lol. :)
rana, eu tento passear o mais possível com o mínimo possível de carro. mesmo assim vario bastante de destino. :)
por aqui também existe esse termo da volta dos tristes, nuca soube ao certo o como do seu surgimento, mas imagino que tenha sido por mal de inveja de alguém.
no entanto faço uma consideração aquelas alturas em que se dava a volta dos tristes eram bem melhores que as que se fazem hoje pois hoje poucas são as famílias que conseguem ter tempo de qualidade passado junto. eu cresci com essa volta dos tristes também as pratiquei com os meus pais e as recordações que me trazem ´´a memoria são sempre boas, gostava de poder dar a volta dos tristes todos os fins de semana com o meu filho e os meus entes queridos mas isso ´´e coisa que talvez nunca se realize muito por culpa da vida que levamos e das opções que tomamos.
salsa, eu também gostava... eu também gostava... :)
:)
maria, :)
Concordo com o segundo parágrafo da Salsa. E acho que se mesmo chamando-se triste, essas voltas fazem falta. Hoje ou saiem uns para cada lado, às vezes nem saiem, fica-se a ver televisão e os putos a jogar no computador ou a ver sabe Deus que sítios... Quando era miúda, a voltinha dos tristes era pela Costa Nova, Vagueira, e depois íamos lanchar a um café que havia ali prós lados da praça do peixe. Era o café do sr. Vasco. Já não deve existir. No dia de Natal, síamos até mais tarde para ver os enfeites. Embora ache que hoje quase tudo mudou para melhor, este convívio familiar faz falta.
dulce, fazem falta, sim. aí estamos de acordo.
A nossa volta dos tristes não era muito diferente, embora a minha bola de berlim fosse mais no Trianon ou no Tangará :)
Duvido que hoje em dia alguém ainda chame 'triste' a um momento precioso desses. Agora chamam-se momentos de qualidade (e como são caros, é um luxo que só alguns podem...)
=)
memyselfandi, deves ter razão. :)
Ouvia essa expressão em PT, e aqui em Moçambique continuo a ouvir!
Engraçado, mas concordo contigo, esses passeios deviam-se chamar a volta dos alegres, pois proporcionam-nos momentos unicos...
;o)))***
pearl, isso mesmo. no fundo é o que eu lhes chamo. :)
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