2.01.2011

coisas que fascinam (114)

O verbo Amar utiliza-se mais como afirmação do que como negação. Tenho a certeza que todos os dias há mais pessoas a dizer que amam alguém do que pessoas a dizer que não amam. Aliás, quando queremos responder que não a alguém que nos declarou Amor, normalmente arranjamos estratégias complexas para não termos que utilizar o verbo Amar na negativa. Ou não estamos preparados para assumir uma relação, ou apanhou-nos numa má fase, ou gostamos muito da amizade do outro e não queremos estragar isso, etc, etc. Tudo mecanismos para não termos que dizer: "Eu não te amo".
Isso dá uma importância enorme ao verbo Amar. Ao contrário, por exemplo, do verbo gostar, que como utilizamos para tudo e mais alguma coisa não nos importamos de usar na negativa. Podemos não gostar duma cor, dum objecto, duma história ou mesmo duma pessoa, que o dizemos abertamente e sem problema nenhum.
Podemos dizer que não gostamos do amarelo mas nunca dizemos que não amamos o amarelo. É que o verbo Amar é tão importante que nem sequer é suposto amarmos uma cor. Sendo assim, não gostar é uma coisa trivial. Não Amar, por sua vez, tem um poder destruidor. Na negativa, o verbo amar pode até transformar a vida em morte, e por isso fugimos dele quando é para o conjugar assim.

20 comentários:

Helena disse...

:)
Como é possível "Não amar o amarelo" do sol...?

O verbo Amar é muito importante sim!!!

Bom Dia cheio de sol!!! :)

Ana P. disse...

Eu não sei como você faz isso, mas você diz as coisas mais simples e mais verdadeiras, e a gente não tem nem como dizer "ah, isso é bobagem".

Não é bobagem. É realmente fascinante!

sophie disse...

Bagaço tens toda a razão. O verbo Amar tem esse poder todo...
É realmente uma coisa que fascina!

:)

Celeste disse...

É por isso que há pessoas que levam o tempo todo a dizer "eu gosto de ti" é mais leve depois dizer já não gosto. o efeito psicologisto de uma palavra é deveras devastador...não há pachorra!

Ivar C disse...

maria, eu acho que o amarelo é do Beira-Mar. :)

ana p. obrigado. podem sempre dizer. :)

sophie, tive dúvidas entre ser uma coisa que fascina ou um pensamento catatónico, para ser sincero. :)

celeste, é por isso, sim. mas pachorra lá terá que haver. :)

Vitamina C. disse...

Dizer amo-te é de uma tal responsabilidade que nos impele a temer uma utilização banal. A 1.ª vez que disse amo-te e já lá vai algum tempo, recordo-me de me ter sentido uma revolucionária em tempo de luta...Uma libertação! No dia seguinte, ponderei se esse acto de libertação em que resultará o meu amo-te, não me responsabilizava duplamente, por mim e pela pessoa que amava à data. Com o tempo, passei a utilizar a palavra adoro-te e por fim a frase: Claro que gosto de ti (sempre nesta ordem). Até que chegou uma nova revolução e passei a adoptar: para já, não gosto o suficiente para dizer que te amo. É complicado. :/ Mas é fascinante...e afinal deveria ter ficado no PREC. :)

Ivar C disse...

vitamina c, percebo bem isso. durante o PREC, mesmo que a maior parte das pessoas nem soubesse bem o que estava a fazer, sentia-se viva. :)

CurlyGirl disse...

É por textos como este que eu gosto deste blog. Fez-me pensar por um prisma diferente... Nunca tinha reparado nisso, mas é verdade.
Eu sou daquelas pessoas que usa esse verbo com precaução, como se possuísse a capacidade de transformar o mundo (e possui realmente a capacidade de transformar muitos mundos).
Nisso a nossa língua é privilegiada. Em inglês, por exemplo, diz-se "I love it!" para tudo e mais alguma coisa. Espero que consigamos preservar o poder que um "amo-te" ainda tem...

Ivar C disse...

curlygirl, tens razão, e a palavra amor é mais bonita em português. :)

Eli disse...

Tu já sabes que eu leio tudinho, não sabes?!

E olha que pelos vistos vou continuar.

É que, desta vez, escreveste algo que eu já verbalizei!

Quando me convidam para sair e eu tenho tarefas domésticas planeadas (ui ui) eu nunca as ponho em primeiro lugar!

Haverá sempre tempo para passar a ferro e limpar a casa, quando não houver nada mais interessante, ou quando tiver mesmo que ser!

Enfim! Coisas mais interessantes pode ser passar a tarde no sofá a ver um filme!

:))

Muitos parabéns por escreveres tão bem!

:)

Rana disse...

Amar...Eu ligo esta palavra a alguém e não a coisas, por isso é tão importante. Muitas vezes as pessoas amam,mas não sabem como demonstrá-lo (por vergonha, medo). Amar é tão natural e torna-se tão complicado. Estranho,não é?

Ivar C disse...

eli, é que é isso mesmo. :)

rana, é estranho, sim. os clã têm uma música gira sobre isto. :)

pois disse...

Meu caro,
As estratégias que arranjamos para não utilizar o verbo amar, derivam mesmo disso, não podemos utilizar amar. Podemos sentir, amar e demonstrar. Nunca utilizar.

Ivar C disse...

pois, :)

memyselfandi disse...

Nunca tinha reflectido sobre o verbo amar dessa forma, mas tem toda a razão. Não se conjuga na negativa. Acho que a Celeste tocou num ponto fundamental, gosto de ti é tão mais fácil de negativar! E, ao mesmo tempo, tão menos do resto todo!

Ivar C disse...

memyselfandi, pois é. ainda bem que também existe o verbo gostar. :)

Jeevika Dasi/CL disse...

Gostava que as pessoas não tivessem tanto medo de usar o verbo Amar...Amar é bom..liberta...porque ficam algumas pessoas presas ao peso virtual que esta palavra pode ter...Não há que ter medo de Amar...há que ter medo em não Amar...isso leva ao vazio... e sim o poder do Amar..é infinito...assim acredito!

Ivar C disse...

mikashi, é mesmo isso. há quem tenha medo. :)

Fatyly disse...

Subscrevo inteiramente. Acrescento apenas que o latino tem imensa dificuldade em conjugar/verbalizar o verbo "Amar" ao contrário dos brasileiros que conjugam-no de forma brilhante roçando também o verbo "gostar".

Gostei imenso!

Ivar C disse...

fatyly, imagina um sueco. :)