respostas a perguntas inexistentes (29)
A minha visão desviou-se dos olhos dela num salto de gafanhoto. Talvez por medo, talvez por vergonha. Só não sabiam onde cair, e quando o fizeram já eram abelhas sobrevoando um campo primaveril, tantas as cores que os atraíam naquelas meias de lã. Adivinhava os seus olhos na minha face, talvez reprovando a minha impulsiva invasão óptica, e transformei os meus na hesitação duma borboleta. As borboletas têm voos irregulares e curtos. Percorri-lhe as pernas cruzadas que evitavam o meu desejo, depois as mãos brancas e trémulas. Depois os seios, dois morros lentamente beijados pela nortada. Ainda uns lábios que guardavam silêncio, um silêncio tão grande que me vestiu de palavras por dizer. Palavras por dizer: abraço, edredão, café, toque, amor, mulher, beijo, sempre e olhos. Repeti olhos três vezes: olhos, olhos, olhos. E os seus olhos eram figos verdes em cujo ramo os meus, já pássaros, pousaram brandamente. Ela levantou-se quando o comboio parou num apeadeiro sem nome, engolida pelo escuro como um pequeno insecto noctívago. Se os meus olhos fossem um animal qualquer eu escolhia um morcego, daqueles que caçam à noite. Não consigo.
10 comentários:
Senhor Bagaço, (venia) espero que nos dê a honra de continuarmos a ler textos como este. Não que não goste das conversas ou dos pensamentos catatónicos, mas isto...
Lindo, parabéns. :)
Que prazer de leitura:)
fátima e elisa, obrigado. :)
Gostei muito do texto. :)
joana :)
Este texto proporciona orgasmos múltiplos cerrebrais :)...muito obrigado Sr Bagaço, foi um prazer lê-lo!!!
Abreijos
P.S. - Um viva para as branquinhas VIVAAAAA!!! eehhehe
Só me ocorre o desejo egoísta de que te cruzes todos os dias com inspirações semelhantes. Bela prosa *
afrodite, abreijos ;)
mariana, obrigado. :)
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adli, :)
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