crónicas da cidade que sopra | cantando à chuva
Amanhã, por ser quinta, é publicada no Diário de Aveiro mais uma crónica da cidade que sopra: "cantando à chuva". A crónica da semana passada, "a quietude é um gesto consciente", foi publicada na edição de hoje, quarta-feira.
Alguém soprou no céu como num dente de leão, desenhando-o com os farrapos daquilo que já foram nuvens. Um homem tenta vender guarda-chuvas num dia de Sol. Fechou os olhos depois de os erguer ao céu e agora petrifica as pálpebras com a força duma barragem, sustendo um rio violento prestes a chorar. E se dum lado sustém lágrimas, do outro estende-se um deserto apenas povoado por sons espaçados no tempo: um automóvel que respira sofregamente num semáforo vermelho, uma mulher que caminha apressadamente nuns sapatos de salto alto, os manípulos duma máquina de café ecoando os seus próprios gestos, um homem embriagado que canta na madrugada ainda o cadáver da noite anterior.
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